07.04

Durante a madrugada, Cassie postou um longo texto falando sobre todo ódio que recebe nas redes sociais e seus “motivos” (Não que existam: Não existe motivo para cyberbulling ou ficar assediando alguém, mandando hate ou algo do tipo, simplesmente porque não se gosta daquela pessoa), falando sobre o rumor de que iria matar Alec, o seriado e falou algo que sempre fazemos questão de postar – não porque queremos separar em fandom dos livros/fandom do seriado, mas porque é simplesmente a verdade: o seriado existe porque ela escreveu os livros.

O texto abaixo é longo mas vale muito a pena, principalmente porque traz a reflexão sobre se dizer feminista e realmente ser uma – o feminismo é para todas mulheres, não somente as que você gosta. Sororidade existe para unir as mulheres, todas, inclusive as que você discorda.

O texto abaixo contem adaptações e também alerta de algumas palavras que podem não agradar à todos leitores. Contudo, indicamos para todos lerem completamente, sem pular trecho nenhum, e ver o tipo de hate e bullying que Cassandra Clare tem sofrido nas redes sociais.

rorochan92: Algumas pessoas estão enlouquecendo porque estão achando que você vai matar o Alec, e eu honestamente não aguento mais ler as besteiras deles… A frase linda de Schopenhauer significa que você vai matar Alec?

Sim, isso ainda está correndo por aí. Eu estava esperando que tivesse terminado, mas não, e ser chamada de vadia louca assassina incomoda quando é baseado em nada.

Olhem, conversar francamente sobre essas coisas no tumblr é realmente desencorajado – quando você tem um pequeno, mas ativo grupo de “odiadores” como acontece hoje em dia para criadores de sucesso, principalmente mulheres, a regra geral é não falar com ou sobre eles. Bloquear eles no twitter os anima: é atenção. Responder é sem sentido, explicar é devidamente mal interpretado, a verdade é uma mentira, mentiras são verdade, alto é baixo, ganhar é perder. Você não consegue ganhar numa situação dessas, na verdade: ninguém consegue ou vence, é uma perda pra todo mundo. Os criadores, o fandom, aqueles pegos no meio (atores, etc.) Todos.

Esse negocio sobre eu matar Alec não é um rumor. É uma mentira. Uma mentira falada propositalmente para apontar algo: que eu sou uma pessoa má, que não mereço minhas criações e que se eu sou uma pessoa má o bastante, é okay dizer que elas não pertencem a mim, que eu não criei eles, que tem essencialmente nenhum valor no ato da criação, especialmente quando é feito por uma mulher.

Como todos nós sabemos, mas não falamos sobre porque “se você fala sobre, eles vão vir”, tem um pequeno grupo de anti livros de TMI fãs que acreditam que os livros e o seriado estão em guerra. (Eles não são fãs da série. Eles são algo completamente diferente. Eu falo perfeitamente bem com fãs legais da série o tempo inteiro: tem menos pessoas que amam Shadowhunters do que pessoas dedicadas a ideia de que se eles gritarem sobre isso o bastante, a série vai parar de ser baseada nesses livros em particular: um objetivo realmente condenado que, no entanto, deixa para eles grandes oportunidades de incomodar o resto de nós.) Ao invés de serem capazes de aceitar que a arte é subjetiva, eles estão em uma batalha constante por um plano moral imaginário no qual eles são os guardiões de uma versão de Os Instrumentos Mortais que foi completamente purificada de todos os problemáticos elementos.

O problema nisso, é claro, é que não existe mídia perfeita e não problemática. Arte vem de humanos e humanos não são perfeitos. Se você espera perfeição, você vai ser amargamente desapontado toda vez: eu vi acontecer várias vezes, irem de “esse showrunner é um presente” para “esse showrunner é um pesadelo“, e muitos desses falaram maravilhosamente bem de Ed Decter, o “não problemático” herói deles (que me disse uma vez, maravilhado, “Você realmente fez um milagre com Malec, você sabe, pessoas se importam com eles, como se eles fossem um casal normal”), em rolos de algodão e meias macias, agora se referirem a Todd Slavkin como “Sapo” (um trocadilho com o nome dele: Toad = Todd)”* Muitos artigos sobre os elementos problemáticos de Shadowhunters foram escritos e muitos postados. (Se Ed não tivesse sido demitido, ele poderia ter ficado tempo o bastante para ser chamado de Ediot; essas coisas são, afinal, só uma questão de tempo. Eu sou chamada de Caçarola (mais um trocadilho: Casserole = Cassie), sério, não estou brincando com vocês, não tem como inventar uma merda dessas.)

Para esclarecer: eu definitivamente NÃO estou dizendo que um (potencialmente problemático) trabalho não deve ser criticado para poupar os sentimentos dos criadores, porque eles são humanos com defeitos como todos. Critica é valida, critica é útil, critica é importante. O que eu estou falando nesse post não é sobre critica. Dizer a uma criadora que suas criações deviam ser tiradas dela porque ela “não merece” elas: não é critica. Inventar nomes engraçados e hashtags maldosas para criadores que você não gosta: obviamente é engraçado para alguns, mas definitivamente não é critica. E até certo ponto todo mundo sabe disso – então, se é tão importante que seja negado para uma criadora o direito de reivindicar e se orgulhar do seu próprio trabalho, tem que ser porque ela não é só problemática, mas corrupta, má e cruel. Ela tem que ser moralmente arruinada, de modo que tirar ela da narração de sua própria criação é um bem moral.

Então a mentira de que eu estou planejando matar Alec é um desenvolvimento natural: porque não seria tão ruim e maldoso e os livros seriam tão moralmente ruins e errados e a criadora que faz coisas ruins, não deveria ter suas criações tiradas dela? O que seria só uma terça-feira misógina na internet, exceto pelo fato que está explorando os medos de um vulnerável grupo de pessoas (LGBT+ fãs para quem Alec significa muito, em qualquer formato – fãs que viram várias vezes personagens LGBT mortos por nada, por razões imbecis, por pessoas hetero, na tv e em filmes e em quadrinhos e livros e por isso estão em um lugar em que ficariam completamente machucados se isso acontecesse de novo), para marcar um ponto que é basicamente uma guerra de ships. E isso é realmente imbecil.

E sim, é uma guerra de ships.

Porque Diabos Cassandra Clare está tentando matar Alec. O que ela quer? Por que ela é tão amarga com Malec recebendo mais reconhecimento do que Clace?

Realmente havia uma piada sobre “caçarola amarga” aqui implorando para ser feita. Perdeu a oportunidade.
Então, por que eu estou amarga, você pode se perguntar? Há essa crença de que eu devo estar chateada com o seriado, porque as pessoas se preocupam mais com Malec do que Clace lá: meus amigos, a minha plantação de “não me importo” está cheia desse assunto. Eu criei os dois casais. Eu não me importo qual você shippa mais, especialmente em um formato onde a história deles não está sendo escrita por mim e por tudo que eu sei, os showrunners não querem mesmo que você shipe Clace no momento. Eles estão investindo em Climon e oh Deus, eu tenho me entediado com essa coisa.
Eu criei Clace E Malec. Eu estou escrevendo uma trilogia sobre Malec porque eu amo Malec e tenho uma história na minha cabeça sobre eles, apesar de terem me oferecido três vezes o valor para escrever uma história sobre Clace, como eles são “mais comerciais.” Eu não tenho um favorito. Talvez escrever funciona dessa forma para algumas pessoas, mas eu duvido. Eu sempre disse que eu não shippo em meus próprios livros, e isso é exatamente o que eu quis dizer.

Continuando: Há coisas que me perturbaram sobre o seriado e a maneira como está sendo desenvolvido? Sim – terem dito pra mim que minha maioria de público feminino não era desejável, porque elas são do sexo feminino; O fato de que a artista feminina de cor que criou as runas nunca foi paga ou creditada pelo seu uso; Terem dito pra mim que Isabelle era “peitos e bunda”, terem dito que Alec ser gay era “uma ação contra ele ser gostável”, merdas contratuais que vocês nunca saberão sobre porque essas coisas não são públicas – mas por alguma razão eu devo me importar com quem shippa um casal canon no seriado? Para os telespectadores, como deve ser, este é um programa de TV: para mim, isso faz parte da minha marca e tem consequências do mundo real para a minha vida. Sem surpresas, eu me importo com aqueles, não com alguma guerra de shipps imaginária.

Eu fiquei emocionada que “Shadowhunters” ganhou um prêmio GLAAD para Magnus e Alec. (Fiquei emocionada quando o filme “Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos” também recebeu uma indicação ao prêmio GLAAD para Magnus e Alec, embora houvesse tão pouco deles no filme, isso serviu para realmente sublinhar a escassez de histórias LGBT + no cinema e na TV.) Eu parabenizei Matt e Harry no twitter; Os comentários abaixo do meu tweet são algo de uma cartilha em porque as criadoras de conteúdo estão fugindo da internet em números cada vez maiores.

Ótimas noticias! Vai Malec e parabéns @HarryShumJr e Matthew @MatthewDaddario

A mensagem foi esmagadora: “Cale-se, cadela, como você se atreve a abrir a boca e nos lembrar que esse seriado existe porque seus livros existem, mesmo que você realmente não disse isso, mas você vê, nós gostamos de fingir que você está morta e é inconveniente quando você fala.” Eu imagino que cada um desses comentaristas diriam pra vocês que eles também são feministas. A ideia de que nada de bom vem de fazer mulheres se calarem ou negar que sua propriedade intelectual vale a pena ou tem valor é aparentemente uma ideia que parece boa no ideia, mas cai no primeiro obstáculo do “mas eu não gosto dela”.

O abstrato muitas vezes falha quando entra em conflito com o real. Ser uma feminista significa ser uma aliada, mesmo para as mulheres que você não gosta, porque ser uma aliada apenas para as pessoas que você gosta não requer nenhum esforço e menos pensamentos. Isso não significa nunca criticar as mulheres ou seu trabalho. Mas é preciso questionar o que está acontecendo em sua própria cabeça. Uma das mais desagradáveis haters que vejo no twitter, que me despreza violentamente apesar de nunca termos nos encontrado, leu todos os meus livros; Ela tem Malec em seu nome de usuário, e uma citação dos livros em sua biografia. Tem a arte de Cassandra Jean em sua página do twitter, e a runa de Valerie Freire em seu texto e no plano de fundo. Existe um monte de devoção mental e artista ao trabalho de três mulheres que ela se refere como “lixo”. (Embora eu ache que Cassandra Jean e Val são principalmente lixo porque elas são associadas a mim e deveria, em vez disso, ter esperado dez anos para o seriado vir para que elas pudessem desenhar ou algo assim. Eu realmente não entendo: a dissonância cognitiva que permite que você dedicar sua vida a “Malec” enquanto fala merda sobre a pessoa que criou os dois personagens e a relação deles é tão grande que eu só posso seguir até certo ponto. Eu entendo pensarem que a versão do seriado é melhor, mas não é qualquer fantasia deturpada que diz que se os livros nunca tivessem sido escritos o seriado (agora poderia ser chamado de “Caçadores do Mal”, talvez) teriam heroicamente encontrado uma maneira de inventarem a história de um guerreiro caçador de demônio gay e seu namorado feiticeiro birracial porque essa história é muito específica e estava flutuando em torno dos planos etéreos à espera de ser descoberta pelos poderes psíquicos da Disney e é só por grande desgraça que eu cheguei a ele primeiro. O ponto é: se o seu nome de usuário é “Bolinhas ama Malec” e seu twitter é dedicado a vomitar veneno para a pessoa sem a qual a coisa que você ama não existiria, talvez seja a hora de se fazer algumas perguntas sobre causa e efeito, e também, o que o ódio está fazendo com você, psicologicamente falando.

Olha, eu vou receber um monte de merda por causa deste post, mas tanto faz – a melhor parte de ter pessoas gritando constantemente com você por coisas que você não fez (Fazer Isabelle ser chamada de vagabunda por sua sexualidade, planejar assassinar Alec , “apunhalar os atores na costas”, promover incesto, envenenar o abastecimento de água do planeta) é que você já não se preocupa em ter gente gritado com você por coisas que você realmente fez. Não faço vistas ao set ou convenções desde que voltei da Comic Con de NY, por causa de coisas como essa:

“jezthemadficster: Mais da Maçã Rechonchuda (Crummy Crabapple = Cassandra Clare) da NYCC para meus amigos anti CC.

Não sei se vocês viram os vídeos completos do painel ainda, mas em um ponto, uma doce garota latina disse que ela estava feliz de ver pessoas hispânicas na série assim. Ela estava feliz que escolheram Emeraude como Izzy. Eu olhei para CC… ela não parecia feliz, na verdade, ela parecia que estava tentando não rolar os olhos.

Como ela disse que sua mãe estava feliz que eles escolheram Isaiah como Luke, eu estava tipo… Ok, então porque seus fãs odeiam que Luke é um cara negro? Hmmm?

Quando ela disse que ela estava orgulhosa de adicionar diversidade no mundo literário YA, eu estava tipo… onde, vadia? E como ela baseou Alec em um amigo dela que se matou (o que é realmente uma tragédia, então eu sinto muito por isso), mas ela disse que queria que Alec tivesse o final feliz que o amigo dela não pode ter e de novo eu fiquei… onde, vadia? Você ainda deixou o final de Malec no ar.

Quando ela ficava se metendo e seus fãs imbecis ficavam fazendo perguntas do livro e ela parecia tão animada, mas metade do elenco e McG estavam tipo “isso é sobre a série”. Era nítido que eles estavam cansados daquilo. Quando ela cortou Isaiah, eu literalmente enlouqueci… tipo? E ele foi um super cavalheiro mesmo que SEUS FÃS QUISESSEM OUVIR ELE FALAR MAIS! Eu estava chocada.

Eu tenho que dizer não importa a gente ficar pensando quem no elenco gosta dela ou não, eles no mínimo tem muita classe e bondade para tratar ela bem. Classe que ela não demonstra ter quando falando com seus bajuladores.

Exemplo: Harry é realmente um cavalheiro. CC desceu lá embaixo para dizer oi para os fãs e abraçar eles junto com o elenco e bem… ela meio que ficou presa e não conseguia subir. Vocês sabiam que Harry ofereceu a mão para ajudar ela? ELE É UM SANTO. A mãe dele o criou muito bem e a esposa sabe que ele é um homem maravilhoso.

Enfim, imaginei que vocês gostariam de saber isso.”

Eu não vou comentar sobre coisas especificas, só dizer que isso representa uma grande parte e quase hilária (embora provavelmente deliberada) interpretação errada de tudo que aconteceu no painel. (Se a emissora não queria os fãs dos livros ali, me fazendo perguntas, eles não teriam me levado junto. Eu estava lá para promover a série, falando da série e dos livros — eu sou a autora, o que diabos você acha que eles me levariam para falar sobre? A história do armário Belga? Eles não acham que atenção dada aos livros, tira atenção da série: apenas um pequeno grupo de imbecis pensa isso, e é estranho pensar que nunca pararam para pensar que se eles não me quisessem lá, falando sobe os livros, eles simplesmente NÃO IAM ME CONVIDAR. E também, sinceramente, nunca ocorreu que os palestrantes são chamados para falar em certas ocasiões ou em alguma questão ou gesticulam para que a gente fale, nós não simplesmente nos metemos? Deus.

Eu vou admitir que foi extremamente legal da parte de Harry não me deixar lá caída no chão ou talvez jogar uma cadeira na minha cabeça enquanto ninguém estava olhando. Ele devia reconsiderar suas escolhas.)

Mas é isso: posts como esse são a razão pela qual eu não voltei para o set, ou fui pra outra convenção, ou promovi o seriado. Você iria para uma convenção sabendo que tem pessoas como essa próximas de você na audiência? Eu sou uma adulta, eu lido bem em ser chamada de Maçã Rechonchuda (foi todo o jardim de infância que votou nesse ou foi uma decisão sozinha?), mas o ódio escondido na besteira do post, faz a ideia de estar próxima de pessoas assim muito assustadoras.

Eu separei alguns posts desse tipo para mostrar a emissora e eles nunca me culparam por não querer ir e fisicamente promover a série novamente. A triste parte disso é que eu na maioria das vezes finjo que a série não existe por que a desvantagem de falar sobre é ter idiotas gritando comigo por dias. (Me deixe ser especifica: o que eu quero dizer por idiotas é = pessoas que mandam ameaças, que usam linguagem me insultando, fazem insulto antissemíticos, e repetidamente me dizer que eu não devia possuir meu próprio trabalho — se isso não são coisas que você faz, eu não estou falando sobre você. Criticas dos livros são boas e irrelevantes.)

Nós todos sabemos que esses imbecis existem — e todos nós ficamos tristes com isso: eu, a emissora, os atores, os showrunners, porque o resultado deles existindo é que eu não falo sobre e não promovo a série, e isso é uma perda para um seriado que realmente precisa desse alcance. Me perdendo, minha audiência online, meus editores internacionais, como potenciais parceiros para promover é ruim, não bom, para uma série que essas pessoas teoricamente amam. Perder os fãs dos livros que a serie depende para audiência, mas que não aguentam ficar nessa atmosfera toxica, é ruim, não é bom, para os atores e escritores que eles afirmam apoiar. Gritar “LOUCA DO INCESTO!” a cada adolescente de 12 anos que vem online e timidamente pergunta quando vão ver Presidente Miau, não vai aumentar a audiência. Se alguém está mais interessado em mandar embora a potencial audiência da série porque preferem mais achar eles imorais do que uma renovação, é isso que eles devem seguir, mas a razão que eu estou mencionando essas pessoas é que 1) eu fico perturbada pela narrativa de que uma mulher não devia possuir seu trabalho e 2) muitos e muitos posts vem sendo feito sobre que lugar horrível o fandom de Shadowhunters/TMI é, e isso é ruim para todos. Infelizmente, não se precisa de muitas pessoas para arruinar um lugar online.

A ideia de que a fandom dos livros e a do seriado estão em guerra por pouca coisa é algo bobo (a maior parte das pessoas, incluindo minha editora, considera que séries de tv baseadas em livros são propaganda para os livros, porque de uma perspectiva de livros, elas são) parece vir do fato de que fãs discutem sobre o que eles gostam mais, algo que acontece desde o inicio das adaptações. Eu lembro de quando eu estava no fandom de Harry Potter: Alan Rickman entendeu Snape mais do que a JKR, o filme deu a Draco uma profundidade maior, etc, etc. Olhando para trás agora eu consigo ver a ironia de pessoas com o username Lupinfan falando sobre como Lupin foi deixado de lado nos livros, mas não nos filmes, mas distancia te dá uma perspectiva diferente, eu acho. Se você gosta mais de Malec na série: ótimo. Eles ainda existem na série porque eles foram criados nos livros. Essa declaração vai ser levada como arrogância, mas é apenas um fato. Eles importam nos dois formatos para muitas pessoas. Nunca vai existir uma mão divina que vai sair do céu e declarar um deles melhor. É sempre uma questão de gosto e opinião. O fato de que arte é subjetiva é algo que todos nós temos que conviver.

“Vad*a quer matar Alec e fazer de conta que isso também é dela. Sai daqui.”

@cassieclare: Ótimas noticias! Vai Malec e parabéns @HarryShumJr e Mathew @MatthewDaddario”

Isso é o que eu quero dizer com a mentira de “matar Alec”: tornou-se parte da justificativa da minha falta de valor alegar ter qualquer coisa a ver com meus próprios personagens. Matar Alec seria uma coisa ruim a fazer com Alec (e Magnus); Assim, eu teria maltratando Alec terrivelmente (e Magnus); Assim eu não mereço ter nada a ver com Alec (ou Magnus). Então é ok me dizer para sair daqui – como ouso abrir a boca de vadia para felicitar os atores que interpretam meus personagens se eu fizesse algo tão terrível para eles, afinal? E quem se importa se é uma mentira e ninguém pode mostrar a fonte? (Vamos lá, sejam sincero – ninguém tentou.)

Se eu mereço Alec e Magnus é um pouco fora de questão: Eu os inventei independentemente de qualquer coisa, e houve um grande e intenso fandom Malec antes do seriado ir ao ar, cuja existência é diretamente o único responsável pelo fato de que Malec estão no ar. (Inicialmente, nenhum dos dois aparecia ou eram sequer mencionados no piloto.) A realidade não interfere na fantasia de que Magnus e Alec, Isabelle e Jace descem, pré-criados, de uma nuvem de céu, embora: os fãs/a dicotomia de propriedade do criador existe desde de que Arthur Conan Doyle foi intimidado para trazer Sherlock de volta dos mortos. Fãs e escritores nem sempre concordam e os escritores nem sempre têm razão. O que são, no entanto, sempre, são os criadores.

Eu espero que você entenda que esse prêmio não tem nada a ver com você, Cassie, e é melhor você não levar crédito pelo trabalho duro de Matt e Harry.

(No caso de ter esquecido que eu não sou, na verdade, um ator gostoso. INFORMAÇÃO ESPANTOSA.) É misterioso como interpretar dar parabéns aos atores como “ser creditada pelo trabalho duro de Matt e Harry”; Eu não preciso nem quero isso de qualquer maneira porque eu não sou um ator; Eu já sou creditada no seriado como a autora do material de origem, que é o que eu sou. (Eu já ganhei muitos prêmios de livros, mas ficaria muito difícil ganhar, digamos, um prêmio Nobel de química.) Eu parabenizei os atores sabendo que eu iria receber um monte de merda fazendo ou não fazendo: eu escolhi fazer apesar do incômodo inevitável porque eu gosto de Matt e Harry; Eu queria que eles fossem contratados; Eu gosto de quanto eles amam os personagens, e eu sempre achei que eles são pessoas gentis que odiariam desprezariam o tipo de tweets que essas pessoas enviam nos nomes deles.

Irônico, isso.

Mas sim, eu também enviei porque estou orgulhosa de Malec. Lidem com isso. As mulheres devem se orgulhar de seu trabalho às vezes sem que sejam consideradas um mal terrível. Eu não acho que o Magnus e Alec que eu criei são perfeitos (o que eu quero dizer é a minha escrita, não as falhas cativantes deles ;), mas eles representam anos de trabalho e amor, e como qualquer autor estaria, estou emocionada de ver a versão das telas deles serem reconhecida duas vezes como algo especial. Isso é muito normal: por causa da vitória no GLAAD, eu recebo flores de meu editor, parabéns da rede de tv e de meus agentes na CAA, porque por qual motivo você não felicitaria um autor sobre algo bom que aconteceu com uma adaptação de seus livros? A ideia de que ao discutir uma adaptação de seu trabalho, um autor deveria sair rolar pelo chão em terror gritando “EU NÃO MEREÇO SER MENCIONADO NAS MESMAS SENTENÇAS COM OS PERSONAGENS QUE EU CRIEI!” é tão bizarra para a maioria das pessoas que se você tentasse explicar que algumas mulheres, não todas as mulheres hahaha, é claro, mas ALGUMAS MULHERES APENAS NÃO MERECEM PODER FALAR OU RECLAMAR QUE POSSAM “TER” COISAS QUE CHAMEM ATENÇÃO, eles iriam silenciosamente para longe murmurando que eles tinham um importante encontro para terem eu ouriço tingido de azul, porque eles literalmente achariam que você provavelmente é um assassino em série.

Esta situação não é única para esses livros, para mim, ou para este seriado: no entanto, há um ângulo especial para esta situação em particular. Muitos que comentam sobre tudo isso observaram que os livros são uma criação feminina, o seriado é uma criação masculino. Ed, Todd, Michael, Matt, McG e Darren são todos homens, e em muitos aspectos, as pessoas acham muito mais confortável, muito mais fácil e muito mais simples ter admiração sem críticas aos homens. Eles são homens, e, portanto, eles têm autoridade que eu não, e minha continuada existência como a autora do material fonte de “Shadowhunters” é vista como ainda mais horrível porque torna uma coisa de menina, e as “coisas de menina” são menos serias e valem menos a pena. Uma das coisas que eu costumo ver os haters dizerem é que o seriado é “para mais velhos”; Na verdade o público do programa é estatisticamente mais jovem do que o público do livro (eu vi os números), mas acho que é difícil não desprezar algo tão cheio de germes de garotas como sendo inerentemente inferior (e o que é mais inferior do que as jovens mulheres? É moda falar mal de livros juvenis, que é visto como sendo dominado por jovens e por mulheres – certamente preferindo o trabalho dos homens faz de você, você sabe, uma pessoa mais séria? E certamente se eu tivesse o juízo que Deus deu a uma doninha, eu iria parar de escrever, dar os direitos do livro a algum cara, e me aposentar envergonhada? VAI LOGO, PUTA, E NÃO ESCREVA INFANTO JUVENIL MAIS.)

Feminismo não significa que você não pode criticar obras de mulheres. Eu já disse isso antes, mas estou dizendo isso de novo porque é tão fácil descartar textos como esse dizendo: “Ela está se escondendo atrás do feminismo e alegando que não podemos criticada porque ela é uma mulher!” Não. (Embora isso signifique que você procura padrões. É meio interessante que este pequeno grupo de pessoas acredita que esses personagens/histórias realmente criaram vida quando o controle deles foi entregue a uma série de homens brancos de meia-idade. Quero dizer, coincidência talvez, mas…?) Eu não tenho abordado críticas aqui porque realmente não é o ponto: há uma enorme diferença entre escrever uma critica falando coisas ruins do livro de uma mulher e fazer uma cruzada com a ideia de que ela não deve ser autorizada a ser dona de sua própria propriedade intelectual. Homens literalmente fazendo dinheiro em cima de trabalho feminino é uma parte feia da história (“Colette e [seu marido] se separaram em 1906, embora não foi até 1910 que o divórcio se tornasse definitivo. Ela não tinha acesso aos consideráveis ganhos dos livros de Claudine [que ela escrevera] – os direitos autorais pertenciam a ele”) e é perturbador ver um grupo principalmente de mulheres argumentar que isso deveria se repetir.

Se a ideia de que uma mulher criou Magnus e Alec, ou qualquer personagem ou mundo, é tão horrível, tão terrivelmente incomoda que você tem que inventar mentiras que, na sua mente, justificam ela ser tão indigna de sua própria criação, que tudo bem “tirar isso dela” descontando seu papel como autora, sua propriedade intelectual, seu direito de viver como uma pessoa e de estar no mesmo palco como os “maravilhosamente santos” atores homens que interpretam seus personagens — talvez pense sobre o porque?* O que gritar que eu não devia pensar que Alec e Magnus tem algo a ver comigo te incomoda, sinceramente? Exceto reconhecer o fato de que se, um dia, você escrever ou criar ou desenhar algo que as pessoas amem, você ajudou a criar um ambiente em que é uma verdadeira certeza que você será tratada como um pedaço de bosta por ter criado isso?

*E “vadia” é “vadia”, amigos. Não importa as letras que você tire, ainda é misógino e ainda é uma merda. Você sabe o que você está dizendo, e todo mundo sabe também. Tente “imbecil”, de verdade. Eu recomendo isso.

Se você, assim como nós, leu todo esse texto e se indignou com todo esse ódio e bullying gratuito, vá até o twitter e mande amor para Cassie em seu twitter @cassieclare. Ela já postou uma bandeira do Brasil durante a madrugada agradecendo o apoio do Brasil, então vamos continuar fazendo diferente e mostrando que aqui a apoiamos completamente.

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