23.08

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Cassandra Clare já está em São Paulo para a Bienal do Livro, e ontem ela deu entrevistas para várias revistas e sites brasileiros. A Folha conversou com a escritora sobre os seus livros, fãs, e o mundo literário atual. Confiram a entrevista abaixo:

Ler não é mais uma atividade solitária, diz autora Cassandra Clare

Para a escritora norte-americana Cassandra Clare, 41, escritores e leitores nunca estiveram tão próximos como nos dias de hoje. A autora da série infantojuvenil “Os Instrumentos Mortais”, que já vendeu mais de 25 milhões de livros no mundo todo, atribui esta nova cultura literária ao surgimento da internet e das redes sociais.

“Durante muito tempo, a não ser que você encontrasse alguém que gostasse dos mesmos livros que você, ler foi uma atividade bastante solitária. Agora não é mais.”

Clare, que está pela primeira vez no Brasil, é uma das presenças mais aguardadas na 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Neste sábado (23) e domingo (24), às 14 h, ela conversará com fãs e, em seguida, distribuirá autógrafos.

A escritora Cassandra Clare, autora de "Os Instrumentos Mortais", que está em SP para a Bienal
A escritora Cassandra Clare, autora de “Os Instrumentos Mortais”, que está em SP  para a Bienal

Em suas obras, a autora costuma tratar com naturalidade de temas como homossexualidade e diversidade étnica e cultural, e sua saga mais famosa tem uma garota como heroína.

A história de “Os Instrumentos Mortais” gira em torno de Clary Fray, uma adolescente nova-iorquina de 15 anos que descobre ser parte de uma linhagem de guerreiros míticos chamados de “caçadores de sombras”. Ao lado deles, a protagonista passa a vivenciar um lado até então desconhecido de sua realidade, repleto de seres fantásticos como bruxos, vampiros, lobisomens e demônios.

De sorriso fácil e tom jovial, a escritora conversou com a Folha no hotel onde está hospedada em São Paulo e falou sobre sua trajetória como escritora, sua relação com os fãs e o que eles devem aguardar dos próximos livros da saga dos  “Caçadores de Sombras”.

 

Folha – Você é parte de uma nova geração de autores de literatura fantástica infantojuvenil que já vendeu milhões de livros em todo o mundo. O que você acha que está ocasionando este retorno de histórias fantásticas e de personagens como vampiros, lobisomens e criaturas angelicais, mas desta vez entre jovens leitores?
Cassandra Clare – 
Por muito tempo, o gênero fantasia foi dominado por autores como J. R. R. Tolkien [autor de “O Senhor dos Anéis”], que escreviam para audiências adultas. Acho que a série “Harry Potter” teve um papel importante para introduzir muitas pessoas ao gênero fantasia. Depois dela, outras obras semelhantes foram publicadas, tendo em comum esses elementos fantásticos. O que esses livros fazem é mergulhar esses leitores em uma história onde eles são completamente livres e independentes. Os pais não estão os vigiando, não há nenhuma pessoa os impedindo de fazer o que querem nem evitando que eles se tornem os heróis que controlam a aventura. Agora, eles podem ler livros de fantasia sobre eles mesmos. 

Você acha que seus livros estão introduzindo uma nova geração de leitores à literatura em geral, inclusive clássica?
Eu espero que eles continuem lendo. Eu recebo muitas cartas de pessoas dizendo que não gostavam de ler até ler meus livros. Os meus personagens leem livros e falam sobre eles constantemente. E eu amo os clássicos, então sempre os incluo em minhas histórias.

O fato de seus personagens discutirem livros em suas obras é resultado de uma influência de Jane Austen?
Eu acho que ela é uma das autoras que mais me influenciaram. Os livros dela são sempre sobre pessoas interessantes e inteligentes que amam livros e são influenciadas por eles. Eu também busco mostrar às pessoas o que os livros podem significar para você. Crescer com livros para mim foi extremamente significativo, fazia com que eu não me sentisse sozinha. Isso é ler.

Quais outros autores influenciaram você?
É uma estranha combinação de pessoas, mas eu diria: Charles Dickens, Arthur Conan Doyle, J. R. R. Tolkien e J. K. Rowling.

Você ficou famosa inicialmente escrevendo fanfics [adaptações livres de enredos e personagens de escritores conhecidos] de “Harry Potter” e “Senhor dos Anéis”. Agora, como uma autora famosa, você já lançou livros somente com histórias escritas por fãs e obras escritas em parceria com outros escritores. Você acha que este tipo de escrita colaborativa é o futuro da literatura?
Eu acho que sim. Eu acho que, como muitas outras pessoas que agora também são escritoras profissionais, eu cresci quando a internet estava se desenvolvendo. Então, quando fui escrever e compartilhar meu trabalho, me voltei para a fanfic. Isso foi há 16 anos, quando eu era bem mais jovem e, agora, muito mais jovens adultos escrevem fanfics. Então, isso se tornou uma porta de entrada para um enorme número de pessoas que estão começando a escrever. Por causa desta cultura, eles pensam sobre o mundo que eles criam como uma coisa que eles podem compartilhar.

Então você acha que a internet teve um papel importante para o desenvolvimento desta escrita colaborativa?
Com certeza. Foi uma maneira de os escritores se conectarem entre eles. Eu, como muitas outras pessoas, cresci on-line e, para mim, a ideia de colaborar em um projeto era muito natural. Então, acho que vamos ver muito disso ainda.

Você já se inspirou em fanfics de obras suas para mudar suas histórias? 
Não. Eu acho que tenho uma ideia muito clara da história que quero contar. Eu, na verdade, me inspiro mais nas discussões com os fãs. Deixo meu Tumblr aberto para questões e sempre as respondo. Então, muitas vezes, eu penso, “as pessoas querem saber mais sobre esse personagem, acho que devo gastar mais tempo com ele em meus próximos livros”.

Nos seus livros, há personagens que representam vários grupos étnicos e diferentes opções sexuais, como Magnus Bane e Alec Lightwood, que são homossexuais assumidos. O que levou você a querer quebrar esses tabus em suas obras?
Uma das coisas mais importantes sobre livros para adolescentes é que eles funcionam como espelhos para as experiências que eles vivem. Não sei como é aqui no Brasil, mas nos Estados Unidos temos quase que uma epidemia de suicídio entre adolescentes gays em todo o país, pois muitos deles se sentem rejeitados pelos pais e se ressentem do fato de não poderem falar para as pessoas sobre quem eles realmente são. Eu pensei que ia gostar muito que esta parcela de meus leitores que não é composta por heterossexuais pudesse ler e se ver refletida na história. Já recebi vários e-mails de pais que não gostaram do fato de meus livros terem personagens gays e que não deixariam mais seus filhos lerem minhas obras. Mas eu também recebo muitas cartas de leitores gays dizendo que é a primeira vez que eles leem sobre alguém como eles em um livro. Além disso, meus personagens que são gays têm outras características importantes. O fato de eles serem gays é só mais uma delas. Tem muita gente que fala para mim em sessões de autógrafos que eu salvei a vida delas. Então, eu não me importo de perder as vendas para as pessoas que se ofendem com isso, pois é muito mais significativo para mim manter esses leitores que foram afetados de uma maneira positiva pelas minhas histórias.

A personagem principal da série “Os Instrumentos Mortais”, Clary, tem um conflito muito claro com a mãe. Na verdade, há vários personagens na série que têm relações difíceis com os pais. Esta decisão literária tem mais a ver com os fenômenos pelos quais seus público-alvo adolescente passa ou com sua história de vida pessoal?
Como todos adolescentes do mundo, quando eu tinha 16 ou 17 anos, eu odiava meus pais. Mas eu os amo agora [risos]. Eles me deixavam louca e nós brigávamos o tempo todo. Então, para mim, ao escrever livros sobre adolescentes, eu quis tornar essas histórias reais, por isso os personagens têm uma dificuldade muito grande com os pais. Mesmo que seja em um situação fantasiosa,  não importa, todo mundo tem esses sentimentos. E está tudo bem se você tem esses sentimentos, eventualmente você vai superar isso e vai ficar tudo bem.

A transformação de Clary, que é uma garota normal do Brooklyn, em uma “caçadora de sombras” é uma metáfora para a transformação de uma garota adolescente em uma mulher?
Eu acho que definitivamente o fato de ela se transformar, de uma garota normal e insegura, em uma guerreira confiante acontece ao longo dos seis livros da série. Para mim, é um microcosmo do que significa crescer. Em “Harry Potter” já existe isso, pois o protagonista enfrenta muitas situações difíceis sobre como tomar decisões, como decidir que tipo de homem ele quer ser etc. Eu senti que escrever dessa forma era uma maneira de dizer como é crescer como uma mulher, que tipo de mulher ser quando crescer. Quando eu comecei a escrever, lembrei das séries de fantasia que eu amo, como “Percy Jackson” e “Harry Potter”, nas quais um menino descobre que ele é o herói. Mas onde está o livro comparativo para uma menina? Eu teria gostado disso quando era adolescente. Eu pensei que seria legal criar uma história em que uma menina descobre que tem um destino especial e na qual todos os outros personagens têm suas próprias histórias, mas não tão importantes quanto a dela. “Crepúsculo”, “Jogos Vorazes”  e outras séries de livros com protagonistas femininas fizeram sucesso porque esse era um mercado que não estava sendo atendido.

Muitas pessoas disseram que a internet deixaria os jovens longe dos livros, mas aparentemente o contrário aconteceu. 
Acho maravilhoso que eles formem seus próprios grupos de leitores e se reúnam em redes sociais para falar sobre livros, ou criem blogs sobre eles. Durante muito tempo, a não ser que você encontrasse alguém que gostasse dos mesmos livros que você, ler foi uma atividade bastante solitária. Agora não é mais.

Você penso que a literatura ia transformar você em uma mulher rica e famosa?
Não, porque isso seria muito estúpido [risos]. Não que eu queria desencorajar jovens escritores, mas começar a escrever para conseguir riqueza e fama seria loucura. Tive sorte de meus livros ficarem tão populares. Sou muito agradecida, porque agora eu posso ser apenas escritora e não preciso ter outro trabalho paralelo. Nunca pensei que isso aconteceria de fato, tanto é que não saí do meu antigo emprego até depois de meu terceiro livro ser lançado. Minha contadora disse que eu estava perdendo dinheiro e que eu ia ganhar mais ficando em casa escrevendo meus livros. Então, foi o que fiz.

O que os fãs podem esperar para os próximos livros da série, “The Dark Artifices” [artifícios negro, em inglês] e “The Last Hours” [as últimas horas]?
Aqueles que leram os livros da série “Os Instrumentos Mortais” conhecerão melhor os personagens Emma Carstairs e Julian Blackthorn em “The Dark Artifices”. Eles aparecerão mais velhos, com 18 anos, e acho que os fãs vão gostar de ler sobre a vida adulta deles. Ainda mais por causa de Emma, que é uma personagem forte e corajosa. Para aqueles que amam “As Peças Infernais”, “The Last Hours” será bom para ler sobre o que acontece com os personagens 15 anos depois, na Inglaterra no início do século 20, que é uma época que eu adoro.

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