16.04

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Cassie Clare respondeu mais uma pergunta dos fãs sobre o último livro da saga As Peças Infernais, Princesa Mecânica. A resposta contém spoilers. Cuidado! 😉

Princesa Mecânica: perguntas e respostas, com spoilers.

Tessa e gerações seguintes

A resposta contém spoilers. E deixo um lembrete, como postei anteriormente, de que minha caixa de perguntas está fechada e que meu email para fãs também estará fechado pelo futuro próximo. Estou trabalhando nas perguntas recebidas na minha caixa de perguntas, e depois disso, não haverá mais perguntas. Foi meu marido, na verdade, que configurou isso, então eu não poderei acessar meus emails mesmo que eu queira. 😉

Essa é sobre Tessa e crianças, então, cuidado com spoilers.

“Eu ainda não entendo como Tessa pode abandonar a família dela depois da morte de Will. Eu sei que faz sentido (se a Tessa estivesse cuidando deles, as tragédias que aconteceram com Stephen/Imogen/Jace pequeno nunca deveriam ter acontecido) para a história de Os Instrumentos Mortais, mas fugir das pessoas que ela ama – isso não é algo que Tessa faria. Eu não acredito que a Tessa cortaria contato com os filhos e netos dela simplesmente porque a dor de perder as pessoas que ela ama fosse demais para ela suportar. Afinal, “você agüenta o que é insuportável. E você o suporta.”. Tessa sempre me pareceu o tipo de personagem que aguentaria o insuportável pelas pessoas que ama, não alguém que abandonaria seus próprios descendentes.

Como acabei de terminar meu primeiro semestre de estudo de gêneros, eu realmente aprecio o que você está fazendo para desafiar os estereótipos em sua escrita belíssima e envolvente. Eu tenho uma pergunta, no entanto, e por mais estranho que possa parecer, sobre um papel mais tradicional da mulher: maternidade. Como a Tessa descobriu sobre a morte dos filhos dela, e ela se arrependeu de não estar ao lado deles? Eu sei que, no epílogo, é dito que ela não poderia ficar para vê-los morrer, mas ao mesmo tempo, se eu tivesse que morrer antes da minha mãe, eu iria querê-la comigo. E por mais que eu saiba que Tessa não é perfeita, parece absurdamente egoísta sair da vida dos filhos e netos dela porque ela, de repente, percebeu como é custoso para imortais o ato de amar mortais. Um amigo meu argumentou que se Tessa fosse mortal, ela provavelmente morreria mais ou menos naquela época, de qualquer modo. Por mais que isso possa ser verdade, Tessa NÃO é mortal. Essa é a questão central. E mesmo mortais precisam ver seus filhos morrerem, de vez em quando. Então o que justificaria ela simplesmente ir embora? – ruthiemaye”

Catreadbooks postou algo interessante sobre como seria terrível para Tessa, pessoalmente, ter crianças, uma vez que ela é imortal. Ela escreveu antes de Princesa Mecânica ser lançado.

Então, o que penso: é interessante que eu sempre veja esses termos sobre Tessa ter “abandonados seus filhos”. Quando a Tessa vai embora, mais ou menos em 1937, seus filhos já estão na casa dos 50 anos e já têm seus próprios filhos, que também já são adultos. Não há, na verdade, nenhuma “criança” no cenário, exceto possíveis bisnetos (ver a árvore genealógica dos Blackthorn completa?)

Também sempre vejo delimitações tipo “Tessa pode estar com o Jem e vê-lo envelhecer e morrer, mas não com os filhos dela? Que hipócrita!” (Embora eu precise admitir que nunca vi isso de ninguém que torça por Tessa e Jem. E me pergunto se isso tem a ver com algumas das questões discutidas em outro post.) Mas – chegarei lá.

De novo, não estou tentando dizer a vocês o que pensar, ou o que sentir. Qualquer maneira que você se sinta sobre isso é válida. Todos trazemos nossas experiências pessoas para o que lemos e há poucos tópicos mais sensíveis que a maternidade – especialmente, quando se trata de feminismo, onde narrativas de maternidade, independência, e responsabilidade se entrelaçam de uma maneira complexa.

Então, minha opinião honesta: tudo isso é baseado no parágrafo, no epílogo, onde diz que Tessa saiu da Inglaterra depois que Will morreu porque ela não conseguia suportar ficar em apenas um lugar e assistir a seus filhos envelhecerem e morrerem. Não revisitamos o relacionamento de Tessa com seus descendentes depois disso, mas nós também não revisitamos boa parte da vida dela. Nunca quis dizer, para mim, que ela tenha cortado relações com eles completamente. Mas falarei mais sobre isso depois.

Deixando tudo isso de lado, não devemos nossas vidas inteiras aos nossos filhos. Certamente, não devemos nossas vidas inteiras aos nossos netos. Essa é uma ideia sufocante e assustadora sobre o que a maternidade significa. Maturidade, hoje, geralmente significa viver longe dos nossos pais e longe de nossos avós. Não podemos sempre estar lá quando as pessoas morrem. Mesmo hoje, com toda a tecnologia médica do mundo, não é possível saber quando alguém vai morrer. Se você mora longe dos seus pais e avós, você precisa saber que pode perder o momento em que eles morrerem. Se você se muda para longe de seus filhos, eles também podem morrer antes de você conseguir chegar lá e sentar ao lado da cama deles. Isso é especialmente verdade para Caçadores de Sombras. Poucos morrem como Will morreu, em uma cama, sabendo que a morte está chegando. A maioria é morta em batalhas. A Tessa estará fazendo um grande favor aos filhos dela ficando plantada em um lugar para que ela possa receber as notícias que eles morreram em uma batalha próxima do que em um lugar mais longe?

(E esse pode ser um viés geográfico de minha parte, também: eu vivo em um país muito grande e literalmente nenhum dos meus amigos que vive no mesmo local tem um pai/mãe que more perto. O que mora mais perto está a uma viagem de sete horas de distância. Eu não penso que meus pais são terríveis por não se mudarem para perto de mim e não penso isso de meus amigos, também.)

Quanto a Tessa aceitando a ideia de encarar a morte de Jem, mas não ser capaz de suportar o envelhecimento e a morte de seus filhos e netos – uma das muitas, muitas coisas que faz com que perder um filho seja tão devastador é o sentimento, por parte dos pais, que não é natural para seus filhos morrer antes deles. No final (SPOILER) de The Adoration of Jenna Fox, se bem me lembro, a heroína (SPOILER) decide morrer (ela poderia viver para sempre) antes de seus filhos, porque a ideia de vê-los morrer é muito terrível. Estar presente na morte de Will foi horrível para Tessa. A morte eventual de Jem será horrível. Mas é algo natural. Quando nos apaixonamos e nos casamos, é até que a morte nos separe porque é esperado que a morte separe as duas pessoas. As duas fazem parte da mesma geração. As duas provavelmente morrerão na mesma época, com uma delas morrendo antes. Sobreviver a morte de um parceiro que já está em idade avançada é terrível, mas é natural. Não gera o sentimento doentio, maléfico de que algo contra as leis da natureza e contra as leis de Deus aconteceu.

Quando a Tessa foge, o Will acabou de morrer e ela está arrasada com o luto e não consegue suportar a ideia de ver seus filhos morrer diante dela. Isso não quer dizer que ela nunca mais falou com eles, ou que os abandonou sem nenhuma maneira de contatá-la em uma emergência. A Tessa realmente é muito corajosa, e provavelmente se forçaria a estar lá, se seus filhos a quisessem lá, quando morressem.

E acredito que eles provavelmente gostariam que ela estivesse. Mas seus netos? Seus bisnetos? Nós conhecemos a árvore genealógica dos Herondale homens, mas não sabemos o que aconteceu com os descendentes da filha de Tessa. Não sabemos se sua filha teve filhos, ou quantos ela pode ter tido, ou quantos filhos esses possíveis filhos podem ter tido. Tessa pode ter, literalmente, dois mil descendentes na época de Os Instrumentos Mortais, e todos eles poderiam clamar por sua afeição, como Jace poderia clamar pela afeição do nome Herondale. Em qual descendência ela deveria se instalar, presumindo que ela quisesse fazer isso?

E eu realmente acho que a questão de ela ser querida lá chega ao coração da partida de Tessa, e sobre isso, eu nunca vi nada em discussões. (Possivelmente porque é tão difícil lembrar que a Tessa de 135 anos não é como nós ou como ninguém que conhecemos: o que consideramos como certo para um comportamento de um mortal em personagens imortais não é exatamente o mesmo).

Caçadores de sombras são especialmente apegados a sua mortalidade. É uma parte integral e importante de quem eles são. Na página 98 de Princesa Mecânica, Jem diz: “E além disso, eu não desejo viver para sempre… Eu acredito que é um fardo que nenhum de nós deveria suportar”. Ele recua da ideia de se tornar um vampiro, e está relutante até mesmo para se tornar um Irmão do Silêncio (os quais não são imortais), uma vez que isso o revolta profundamente em um nível moral. Alec, também, não está interessado em perseguir a imortalidade, mesmo que seja para ficar com Magnus.

Caçadores de sombras são bastante envolvidos no que são: Nephilim, metade anjos e metade humanos. O Anjo os fez guerreiros humanos, não imortais e invulneráveis. Eles sangram, eles envelhecem e morrem. Eles são humanos porque eles precisam ser humanos para protegerem humanos. Eles são humanos e vêem isso como sagrado. A mortalidade deles não é apenas significativa, é sacrossanta. Um caçador de sombras imortal é uma abominação.

Eles já têm relações bastante estremecidas com as Criaturas do Submundo. A exceção que fez com que Tessa pudesse casar com Will é única. E então temos Tessa, 60 anos depois, 100 anos depois, sendo tão imortal como – uma criatura do submundo. Conforme os anos vão passando, ela se encaixa cada vez menos no mundo dos caçadores de sombras. Conforme os anos se passam, fica mais desconfortável e aterrorizante para os descendentes dela tê-la em eventos familiares, não parecendo ter mais que dezenove anos. Era uma coisa para seus filhos, que cresceram com ela, mas é outra para seus bisnetos e tataranetos. A ideia de que ela deveria ficar por perto, ou ficar em torno deles… é um pensamento adorável, mas… essa não é uma sociedade onde um ser mágico é gracioso ou aceito ou considerado comum. É ativamente rejeitado e odiado. (Alec, em Cidade dos Ossos: “NÓS NÃO FAZEMOS MAGIA.”) É o que separa os caçadores de sombras das criaturas do submundo. O que me leva a…

Na época em que chegamos aos tataranetos de Tessa, estamos com Stephen, que pertence a uma sociedade dedicada a erradicar as criaturas do submundo e que provavelmente seriam mandados, por Valentim, a matar Tessa. Eu sempre vejo essa posição de “Tessa não tem um pingo de amor por seus descendentes?” Eu tenho certeza que ela tem – e considerando isso, é certamente uma boa ideia da parte dela ficar longe e não relembrar ao mundo do caçador de sombras na época do Círculo de Valentim que os Herondale possuem ancestrais que são criaturas do submundo.

“(se Tessa estivesse cuidando deles, as tragédias que recaíram sobre Stephen/Imogen/Jace criança nunca teriam acontecido)”

Eu, na verdade, acredito que teriam. O que Tessa poderia ter feito para impedi-las? E por que nenhuma culpa recai sobre Magnus por não ter prevenido essas tragédias enquanto ele também tinha interesse nos Herondale e, na verdade, é muito mais poderoso?

Os caçadores de sombras são muitas coisas, mas fofinhos e acolhedores não estão entre elas. Tessa é Tessa para para nós; ela é alguém que conhecemos e amamos, e ela o é para Will e Jem e seus filhos. Mas quando chegamos aos tempos modernos, ela é uma criatura aterrorizante para os caçadores de sombras de agora, mesmo que eles carreguem um pouquinho de seu sangue. Ela é uma criatura do submundo que foi um dia casada com um caçador de sombras do qual nenhum deles se lembra. (Ouch, mas é verdade). Ela se afasta para proteger seu próprio coração, sim, mas também para proteger a segurança dela mesma e de quem está próximo dela.

*Para lembrar: Obviamente, Jace pertence a uma geração que começou a pensar de maneira diferente sobre criaturas do submundo e caçadores de sombras estarem aptos a “fazer magia” – então há uma possibilidade de Tessa vir a conhecê-los, embora, como todos os outros, ela tenha descoberto apenas recentemente que a geração Herondale não foi extinta com as horríveis mortes de Stephen e Celine. Os Herondale não seriam os únicos descendentes de seu sangue que ela estaria curiosa em conhecer.

“Como a Tessa ficou sabendo da morte de seus fihos, e ela se arrependeu de não estar lá?”

Não sei se foi decretado que Tessa não estava presente na morte dos filhos dela, mesmo que ela não quisesse ter permanecido durante o envelhecimento e morte deles. Eu acho que se ela não esteve lá, claro que ela se arrependeu, mesmo que eles tenham morrido em uma batalha e que não houvesse jeito de que ela pudesse estar lá. Possivelmente, isso é tudo que eu tenho a dizer sobre isso, mas eu tenho a tendência em escrever muito. De novo, uma visão sobre isso pode variar muito. Eu perguntei a minha mãe sobre isso antes de escrever o epílogo, e ela discursou fervorosamente sobre como sumiria antes de ficar assistindo a mim e a meus filhos envelhecerem e morrerem, mas que ela estaria comigo no meu leito de morte (como Jem) se eu estivesse morrendo sozinha. Então, talvez, essa visão esteja apenas em meu sangue. 😉

Há um grande peso posto nas mulheres quanto se trata de maternidade. É uma questão incrivelmente complicada, principalmente porque a maternidade e suas responsabilidades são, há muito, utilizadas para controlar as mulheres e ditar seus comportamentos de uma maneira que a paternidade e suas responsabilidades nunca foram usadas para controlar homens. Há algo a se pensar quando se discute que uma mulher ‘abandona’ seu filho de 50 anos, ou imaginar que se ela fosse uma “boa mãe” para seus descendentes, ela teria tido a chance de parar uma guerra. Você, é claro, não precisa concordar comigo: é só algo a se pensar.

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