27.04

padrao_cassie

Cassandra Clare respondeu, em seu tumblr pessoal, uma pergunta bastante polêmica quanto aos preços de seus livros. A resposta na íntegra você confere no link abaixo. 😉

Sobre escritores serem pagos para escrever

Oi, Cassie, eu amo demais seus livros e estava ansioso pelas Crônicas de Bane. Tinha entendido, quando você postou sobre isso pela primeira vez, que seria uma série de ebooks gratuitos, entretanto, quando fui procurar na Amazon hoje, eles estavam 2,99 doláres. Não posso pagar isso. Especialmente se serão mais de um e apenas uma história pequena ou uma coletânea pequena de contos. Eu amo você e seu trabalho, especialmente o personagem Magnus Bane, mas estou muito desapontado por ser tão curto e tão caro quando pareceu que iam ser de graça.

Nossa. Bem, eu certamente entendo a situação de não ter o dinheiro para comprar os livros que você deseja comprar. Isso é muito ruim, sem dúvidas. Já passei por isso.
Voltei para ler tudo o que eu postei sobre As Crônicas de Bane em meu tumblr para tentar entender onde a confusão sobre os contos serem de graça possa ter surgido, mas não consegui encontrar nada. Em um post de dois meses atrás, escrevi a data de lançamento, os títulos e os preços. Quando a propaganda deles apareceu na Amazon, os preços estavam lá. No primeiro artigo que publiquei sobre As Crônicas de Bane, esclareço que são ebooks, mas não digo que serão de graça. A maioria dos ebooks não é.

Eu acho – só porque algo é publicado primeiramente na internet antes de ser publicado de maneira impressa, não quer dizer que seja de graça. Eu realmente escrevo bastante coisa para meus leitores de graça. Tudo que eu escrevi aqui é de graça. A Sarah escreveu extras de graça, e a Maureen também.

Mas a questão é que As Crônicas de Bane não é curto. Cada um deles tem mais ou menos 12 mil palavras, o que é mais comprido que um capítulo curto de um livro como um dos The Spiderwick Chronicles, que está à venda na Amazon por um preço duas vezes mais alto do que um de As Crônicas de Bane. E são dez contos em As Crônicas de Bane. Então você está sugerindo, basicamente, que eu distribua todo o meu trabalho e meu tempo dedicado a algo, o mesmo que eu pus em Princípe Mecânico – um ano e meio da minha vida – de graça.

Escritores geralmente não escrevem livros inteiros de graça. John Scalzi fez um post bastante enfático quanto a essa questão. Mauren, Sarah e eu escrevemos promocionalmente de graça – extras de nossas histórias já existentes, etc – para deixar nossos leitores felizes, para dar às pessoas um relance do nosso trabalho do qual não temos certeza, às vezes para nosso próprio divertimento. Em vários momentos, Cidade dos Ossos foi distríbuido na internet de graça de maneira promocional. Mas “trabalho ser dado de graça” não é o mesmo que “escritor não ser pago”, que é o que você está falando. Trabalho dado de graça é geralmente utilizado, pelo menos, como promoção – mas As Crônicas de Bane é um projeto de múltiplos escritores. Foi sonhado por mim e por Maureen e por Sarah, e pertence tanto a elas quanto a mim. Mesmo que eu tivesse tempo (que eu não tenho; a única razão para que ACB possa existir é pelo fato de não ter sido escrito só por mim), e pudesse não me importar de fazer uma série gratuita de ebooks para promover meus livros, não tenho ideia do que motivaria Sarah e Maureen a abrir mão de meses da vida delas, gratuitamente, para promover meus livros. Nós somos grandes amigas, mas isso é pedir demais de seus amigos.

Nós todas vivemos do dinheiro que fazemos escrevendo. Nós mesmas pagamos nossos planos de saúde e alimentamos nossas famílias e casas com o dinheiro que ganhamos escrevendo. Nós tomamos conta de familiares doentes com o dinheiro que ganhamos escrevendo. Não temos finais de semana ou dias de folga. Não estou reclamando – eu amo meu trabalho! – mas você não pode pedir à seus amigos que passem meses trabalhando de graça, meses que eles poderiam ocupar com outro trabalho que garantiria dinheiro para alimentar a família deles e manter um teto sobre a cabeça deles.
As Crônicas de Bane não é uma autopublicação. É publicado pela Simon and Schuster. Fazer livros, mesmo ebooks, não é de graça. As histórias precisam ser editadas, as capas precisam ser criadas, os arquivos digitais precisam ser gerenciados, o marketing precisa ser feito… há dúzias de pesssoas que trabalham nos bastidores de um projeto de livro, e se eles forem publicados de graça, essas pessoas também estariam trabalhando de graça. E, assim, não haveria motivação para a Simon and Schuster publicá-los, porque editoras não teriam escritores, editores, pessoas que lidam com tecnologia, designers, e artistas para trabalharem em projetos pelos quais nenhum deles seria recompensado. Se eles fossem de graça, a Simon and Schuster simplesmente não os publicaria. (Estou trabalhando na produção de um livro para caridade através deles por mais de um ano e é incrivelmente complicado e leva muito tempo para se produzir um pequeno ebook que não será rentável, porque o sistema não está configurado para isso. E eles estão fazendo isso para mim como um favor, e os livros não vão ser gratuitos – o dinheiro vai para caridade.) Eu teria que publicá-los sozinha, o que certamente pode ser feito, mas quando você publica algo sozinho (como muitas pessoas que eu conheço fazem) você não está trabalhando somente como escritor, mas também como editor, com todo o investimento de tempo e dinheiro que isso significa. Consome muito tempo e é, inicialmente, tão caro que eu simplesmente não poderia fazer isso: não poderia lidar com a perda de tempo, mais especificamente, mas as pessoas que eu conheço que autopublicam seus livros não dão seus livros de graça. Eles cobram por eles, e compensam o investimento do dinheiro dessa maneira. Dar o trabalho de graça quando você se autopublica é, basicamente, gastar uma grande quantidade de seu dinheiro em – bem, não sei no quê, exatamente. Mas eu sei que se As Crônicas de Bane não custassem dinheiro, não haveria As Crônicas de Bane.

Se você não tem dinheiro para comprá-lo, eu entendo. Felizmente, várias livrarias têm programas de empréstimo de ebooks e As Crônicas de Bane estão disponíveis. A alternativa é você esperar até ser publicado em livro impresso ano que vem, e pagar por ele o que você pagaria por qualquer outro livro, ou retirá-lo em uma biblioteca. (Quando eu não tinha dinheiro, eu vivia na biblioteca Brooklyn Public Library – por isso que ela aparece em Cidade dos Anjos Caídos).
As Crônicas de Bane custam o mínimo que elas podem custar e ainda permitir que o editor possa publicá-las, pagar o salário de seus funcionários que trabalharam nelas, e pagar os royalties aos escritores. Nós, escritores, não cobramos porque somos mesquinhos, mas porque vivemos disso, e trabalhamos bastante para produzir algo valioso que esperamos que agrade a vocês. (E isso acontece com qualquer artista – essas cartas de tarô da Cassandra Jean que eu venho postando? Eu paguei a ela para que as desenhasse. Claro que paguei. Ela é uma artista. É um grande projeto e o trabalho dela, o tempo dela, é valioso. Às vezes, ela desenha algo por diversão, assim como eu posto extras das cenas do ponto de vista de outros personagens por diversão, e isso é gratuito, mas isso é uma escolha dela, são ideias dela e o uso do tempo dela!)

Espero não ter soado rabugenta: não sou, mas eu realmente acredito que artistas precisam ser pagos pelo trabalho que eles fazem. A junção de comércio e trabalho é complicada, e há muitas paradas nessa junção, mas no fim das contas, eu acredito que se artistas não forem pagos, eles pararão de produzir arte, porque eles não podem se bancar dessa maneira, exceto os poucos privilegiados que podem fazer isso sem dinheiro ou que receber apoio financeiro de outra pessoa – o que seria, nesse caso, restringir enormemente a expressão artística àqueles que são bastante privilegiados e ninguém quer isso.

Maureen, Sarah e eu pesquisamos bastante e investimos muito tempo e trabalho em As Crônicas de Bane. Espero que as histórias sejam divertidas de ler, e espero que se você lê-las, você goste delas, e considere que foi uma quantia de $2,99 doláres bem gasta. Se você acha que é dinheiro demais, então você não precisa comprá-las. É seu direito como consumidor, não comprar algo que você pensa que não vale a pena. 🙂

O texto original em inglês, você encontra aqui.

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