25.07

padrao_cassie

Para quem gosta de saber sobre a técnica utilizada pelos autores quando escrevem seus livros, a Cassie fez um post em seu Tumblr explicando o porquê de sempre escolher a narrativa em terceira pessoa em seus livros, e como isso desenvolve o enredo. Confiram a tradução completa abaixo.

Oi, Cassie. Sou uma grande fã e amo seus livros e personagens, porque eles são muito reais e profundo, e também eu acho que você é uma ótima construtora de mundo (é difícil acreditar que o mundo dos Caçadores de Sombras não é real com o maravilhoso trabalho que você faz). Enfim, eu estava imaginando sobre o porquê de você ter decidido escrever seus livros na perspectiva de uma terceira pessoa, e não em primeira pessoa. Se não era para se limitar a escrever sobre a perspectiva de apenas um personagem, então você não poderia ter feito em primeira pessoa? Obrigado, e espero que tenha um ótimo dia! — booksarelife128

Essa é uma daquelas perguntas que talvez se traduzam a um equivalente de “Por que você colocou brócolis na fritadeira e não ervilhas congeladas?” “Bem, porque eu gosto de brócolis” “Hm.”

Quer dizer, eu realmente gosto de brócolis. Eu também não acho que a primeira pessoa é um ponto de vista padrão. Não é – é menos comum que a terceira pessoa. Muitos ótimos liros são escritos em primeira pessoa, mas muitos ótimos livros são escritos em todas as perspectivas. Não é razão nenhuma para usar a primeira pessoa, a não ser que você sinta que é especialmente certo para a história.

Eu escrevo sim história em primeira pessoa. Quase todos os meus contos são em primeira, mas a razão de eu fazer isso é qu eeu considero a primeira pessoa ser uma perspectiva mais distante, mas que pode ser útil, e porque a primeira pessoa ajuda quando você quer introduzir falta de realidade em uma narrativa. Quando lemos uma história escrita em primeira pessoa, sabemos que o “Eu” que está contando a história tem um objetivo. Ele não precisa ser verdadeiro. Ele não precisa ser livre de preconceitos. Nós esperamos que ele conte sua versão dos eventos, e não esperamos que seja objetivo.

Alternar a primeira pessoa pode ser interessante se o objetivo for constrastar diferentes pontos de vista dos personagens em um mesmo espaço. Esse nunca foi o objetivo das mudanças de pontos de vista em Os Instrumentos Mortais. Contos são uma coisa, mas uma série grande de livros é estruturalmente diferente.

Eu gosto de escrever em terceira pessoa por uma série de razões: Me faz sentir mais próxima do personagens, remove ambiguidade (se uma terceira pessoa conta que Clary viu ou sentiu algo, ela viu ou sentiu algo. Não é discutível) o que é útil, até mesmo necessário, com tantos personagens. (Ainda há limitações da terceira pessoa: os personagens podem estar errados sobre as coisas, não há um narrador onisciente que nos conta “verdades”. Mas esse não é um narrador não confiável com objetivos próprios). Isso me permite mover entre as cenas e diferentes lugares, e mudar para diferentes perspectivas.

Alternar a primeira pessoa não é realmente uma boa segunda opção se por algum motivo eu quisesse escrever em primeira pessoa. Quando você está usando terceira pessoa, você facilmente e imediatamente sabe quando mudou de perspectivas. “Will se perguntou por que seu cavalo era tão lento.” Ok, estamos na perspectiva do Will. “Eu me perguntava por que o meu cavalo era tão lento.” Na perspectiva de quem estamos? Não sabemos. A perspectiva tem de ser estabelecida em cena pela singularidade da voz e da situação, já que as pessoas não pensam em si mesmas como “Will Herondale.” Eles só pensam em si mesmos como “eu”. Obviamente, isso pode ser feito, mas é bem variável, e corre o risco confundir e alienar os leitores, pois eles constantemente se perguntam quem está falando, e isso significa que você deve se manter em um número limitado de vozes estabelecidas com características únicas.

Cenas como aquelas em Cidade do Fogo Celestial, do ponto de vista do Cônsul teriam sido impossíveis: não sabíamos o interior de sua cabeça bem o suficiente para saltar para ela de repente naquela data tardia. Na verdade, se você for alternar os pontos de vista da primeira pessoa, a melhor coisa que você pode fazer é limitá-los e estabelecer um quadro pelo qual nós sempre iremos saber quando uma voz diferente será usada e quem está falando: capítulos alternados, por exemplo. Livros como ‘Shiver’ e ‘Will e Will, Um nome, Um Destino’ alternam o ponto de vista por capítulo. Muitos livros que alternam o ponto de vista da primeira pessoa colocam o nome do personagem no topo das seções no qual eles estão narrando, então você sabe quem está falando. Mas eu mudo os pontos de vista muito rápido e muitas vezes, então fazer com primeira pessoa seria incrivelmente chato.

Há alguns comentários interessantes sobre como escrever alternando primeira pessoa aqui. Mas, basicamente, eu acho que se resume em parte a questão de brócolis vs ervilha. Você tem que escrever na perspectiva em que você fique confortável. Eu queria escrever os livros em terceira pessoa e manter a opção de escrever sobre o ponto de vista de quem eu quisesse a qualquer momento: Eu queria ficar perto dos meus personagens e não me sentir distanciada deles, e como os livros já são bastante complicados, eu não queria introduzir ambiguidades extras sobre o que estava realmente acontecendo.

Eu não teria gostado de escrever Os Instrumentos Mortais alternando a primeira pessoa, e eu acho que quando você está se forçando a fazer algo que parece errado, sua escrita sempre irá sofrer com isso. Se a primeira pessoa é o que você prefere, você deve escrever desse jeito! Só você pode decidir qual a perspectiva correta para você, para qualquer projeto individual.

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