A garota como o centro da história
danceon827 disse: Eu e meus amigos muitas vezes discutimos sua série juntos e muitas vezes ficamos no meio de uma discursão por causa disso. Então: Clary é egoísta e estúpida. Ela causou a Guerra Mortal trazendo Jace de volta [quando ela deveria ter] “apenas desejado para o anjo voltar a tempo de fazer Valentine um bom rapaz”. Você pensou em fazer a Clary boa no lance de Caçadora de Sombras de imediato (como Percy ou Harry) & [tê-la] tendo alguma decisão certa (ela teve alguma)?
Seus amigos estão jogando esse jogo velho de tentar serem mais espertos do que a forma como as regras de magia funciona. Quando eu era criança eu não entendia por que pessoas que tem três desejos não quis imediatamente por um milhão de desejos.
Eventualmente, me dei conta de que, se você pudesse fazer isso, toda a questão da coisa três desejos era discutível, e também que o jogo de “três desejos” – que em histórias que as pessoas muitas vezes estragam e falham, seja em uma menor ou maior comparação à moda de A Pata do Macaco – é um teste de caráter. Você pode usar seus desejos de forma inteligente, ou você vai tentar burlar o sistema para tornar-se Rei do Universo? E o que isso significa o que você fez? Porque alguém que quer poder e teme as consequências bastantes para tentar dar a si mesmo desejos infinitos não é uma boa pessoa. Eu não ia desfrutar da vida sob essa horrível distopia!
O que seus amigos gostariam é que Clary tivesse perguntado para o Anjo algo que iria destruir a sua vida como ela sabia disso e a vida de todos que ela conhece. Isso nunca é se afirmou: “Não há tempo para viagem” nas Crônicas de Caçadores de Sombras, mas dado que ninguém nunca usou na história registrada da magia, essa é uma boa aposta intuitiva. O Anjo não é uma grande máquina de fazer desejo. O Anjo é um mensageiro de Deus. O Anjo tem o poder sobre os Caçadores de Sombras, e não o poder do tempo e do espaço. Clary sabe disso porque (como uma boa Caçadora de Sombras) ela está prestando atenção. Valentine chamou Raziel porque precisava do poder relacionados aos Caçadores de Sombras. Não porque Raziel concede desejos, ou quaisquer subsídios de desejos, ou porque Raziel é o anjo mais poderoso. Ele convocou Raziel porque Raziel criou os Caçadores de Sombras. O melhor resultado absoluto de Clary desejando para o Anjo, voltar no tempo e “fazer Valentine um bom rapaz” (assim prejudicando toda a ideia de livre-arbítrio, vai expressamente contra comandos declarados de Deus, e, possivelmente, começando uma guerra no céu, Parte dois) o Anjo teria rindo de Clary e indo embora.
Mas vamos imaginar por um segundo que ela poderia desejar para o Anjo, voltar no tempo e fazer Valentine um bom rapaz. Ok. Digamos que este é um jogo diferente dos livros e o anjo poderia fazer isso. Parabéns, você matou Clary, Jace, Alec, Isabelle, e Max (de novo!). Veja, se Valentine não era mau, Stephen nunca teria deixado Amatis por Celine: Sem Jace. É possível V ainda poderia ter se reunido com Jocelyn, mas que teria sido em circunstâncias diferentes em momentos diferentes e se eles tinham filhos, elas teriam sido crianças diferentes. Certamente não haveria Clary com seu poder do anjo, então você também está apagando todo o bem que ela faz em se reunir aos Caçadores de Sombras e Seres do Submundo, e tudo de bom que o seu poder pode potencialmente fazer. Maryse e Robert sem entrar para o Círculo provavelmente nunca teriam chegado a ficar juntos e assim nenhum de seus filhos teria nascido.
E então? Você poderia dizer. Estas são todas as consequências pessoais. Quero dizer, claro, não muito de um final para a série, todos os seus heróis acabam inexistente, exceto Simon que é um cara andando no Brooklyn, em busca de um melhor amigo. Mas o que é um ato altruísta! Certamente, a única coisa que poderia ter surgido a partir dele é paz total! Exceto que não há nenhuma maneira de saber isso também. Eu acho que parte do que os seus amigos estão tendo um momento difícil com a idéia de que coisas boas pode vir do mal, e mal do bem. Sem o mal de Valentina, não há Clary e Jace, não há Alec e Izzy. E nós não sabemos o que mais seria afetado. Sem Clary e Jace, é inteiramente possível que alguma outra ameaça mal teria surgido e prejudicado os Caçadores de Sombras, porque eles não estavam lá para ajudar. Ótimo! Valentine poderia ter deixado de matar algum demônio ou bruxo que iria incendiar o mundo de qualquer maneira. Ao fazer o “desejo” de viajar no tempo, imaginária! Clary está dando um salto selvagem em um abismo que vai certamente destruir sua própria vida, e destruir outras pessoas de maneira que ela não pode sequer imaginar — ela está tomando decisões para os outros, não para ela mesma, de uma forma que absolutamente a marcaria como egoísta e horrível.
Além disso, se houver uma viagem no tempo e o anjo tivesse o poder de mudar as pessoas de “mau” para “boas” como se fossem abóboras (ao contrário do que eles são, na verdade, seres complicados que fazem algumas boas e outras ruins escolhas) porque é que Clary estaria pedindo-lhe apenas para mudar Valentine? Será que ela só se preocupa com os Caçadores de Sombras? Que tal pedir-lhe para voltar no tempo e corrigir Hitler? Stalin? Qualquer um da dúzia de genocidas assassinos em massa? Por que ela não desfaz as Cruzadas e a Inquisição Espanhola? Por que ela não pedir-lhe para curar o câncer?
Eu quero dizer, meu Deus, quando você olha desse jeito, certamente parece uma péssima ideia colocar tanto poder assim nas mãos de uma garota. Claramente elas vão inevitavelmente estragar tudo, e isso devia ser deixado para os experts, que são bons Caçadores de Sombra (homens). Percy e Harry saberiam exatamente o que pedir, e nós agora estaríamos vivendo em um mundo totalmente perfeito — mesmo que Percy e Harry tenham um histórico de ter feito decisões idiotas eles mesmos.
Você pensou em fazer a Clary boa no lance de Caçadora de Sombras de imediato (como Percy ou Harry) & [tê-la] tendo alguma decisão certa (ela teve alguma)?
Clary é boa em ser uma Caçadora imediatamente. Ela mata um demônio Ravener na primeira vez que ele ataca ela, mesmo sem saber que demônios existem ou que aquilo é um demônio, ou como matar eles. Ela usa inteligência e uma habilidade física inata para fazer isso. Sim, ela precisa de uma runa de cura depois, mas Jace teve seu traseiro tirado do inferno por runas de cura mais vezes do que qualquer um pode contar: é por isso que Caçadores não trabalham sozinhos. O trabalho dela ao matar o Ravener foi tão impressionante que os habitantes do Instituto que não são o Jace, literalmente não conseguem acreditar que ela o fez.
Ela precisa aprender as regras dos Caçadores de Sombra e treinar depois: tem livros onde as pessoas aparecem com poderes mágicos e brilhosos do nada e não tem que trabalhar por eles, mas esses não são livros que eu goste, e eu não escreveria um assim. Não é também uma descrição de Harry Potter ou Percy Jackson, o que é parte do que torna eles personagens tão bons e recompensadores para se ler sobre. Harry não é “bom em magia” diretamente — Harry é na melhor das hipóteses um aluno médio. Harry é bom no Quadribol, e também é corajoso. Percy também não é tão bom em ser um semideus diretamente quanto é corajoso e leal. No geral, habilidade não é o que faz um herói: o coração faz um herói. Habilidade sem coração é o que faz um vilão.
Nem Percy ou Harry só fazem boas decisões. Algumas vezes eles fazem a decisão errada. Algumas vezes eles fazem decisões erradas epicamente. Como Lupin diz ao Harry, depois que ele arrisca a própria vida para sair escondido de Hogsmeade para se divertir: “Uma péssima maneira de retribuir (seus pais)– trocando seu sacrifício por uma bolsa de truques mágicos.” Percy sobe no St. Louis Arch contra todo o bom senso e prontamente despenca para a sua (quase) morte. Você corre riscos, você comete erros, você aprende com eles: é isso que heróis fazem.
Personagem masculino: eu cometi um erro
Fandom: Oh, pobre coitado, incompreendido
Personagem feminina: eu cometi um erro
Fandom: SUA LASCIVA DAMA DA NOITE, RETORNE PARA AS SOMBRAS DE ONDE VOCÊ VEIO, AQUI NÃO É LUGAR PARA O SEU EGOÍSMO, POR FAVOR, VOLTE PARA A SUA CASA NA ILHA DAS VADIASEntão, Clary faz algumas decisões certas, e algumas erradas. O problema é que quando o personagem é um menino, nós temos a tendência de perdoar os erros deles e perdoar eles. (Algumas vezes nós até atribuímos coisas boas para garotos que eles não possuem, ou atribuímos a eles características que são atualmente de personagens femininas — não é que Harry não é tão bom em mágica, é que a pessoa que é boa, é Hermione.) Com garotas, os erros são tudo que nós vemos. Porque garotas não deviam ser heroínas ou tomarem o lugar de garotos heróis nas narrativas, nós vemos elas como se estivessem usurpando aquele lugar: elas são impostoras! Elas não pertencem aqui! E toda a vez que elas cometem um erro (e claro que Clary comete erros, mas Percy e Harry também) tem o duplo, triplo, quádruplo peso do erro de que um garoto teria porque elas não deviam estar aqui em primeiro lugar, como se atrevem a tentar?
Garotas que pegam o papel de heroínas no centro da história continuam a ser tratadas como usurpadoras. O que é uma coisa muito perturbadora e que entristece. Jace, em Cidade dos Ossos, tem uma espada no peito de Valentine. Poderia ter matado ele. Ele não o fez. Ainda, de algum jeito, não é culpa do Jace que Valentine não foi apagado da face da terra. A responsabilidade de toda a guerra não está sendo jogada nele. Nós entendemos que pedir a um garoto que mate seu próprio pai a sangue frio é muito a se pedir e perdoamos ele. Mas Clary, porque ela não pediu algo que não é só impossível, mas teria sido completamente estúpido e mataria todo mundo que ela conhece se ela tivesse feito, é responsável pela guerra inteira.
Sem mencionar que nos livros de Harry Potter, tem magica para voltar no tempo. Porque Harry não usou para voltar e salvar os pais dele? Porque Dumbledore não usou para voltar e matar o bebê Tom Riddle no seu berço? E porque não são os dois responsáveis por tudo de ruim que aconteceu por causa do Senhor das Trevas? (Sim, tem coisas naquele mundo que previnem isso de ser fácil. Tem também coisas naquele mundo que previnem que Clary peça ao Anjo para voltar no tempo e transformar alguém em “bom”. Mas só no caso de eu ver esses limites e aplicar eles.)
Eu não posso culpar garotas que crescem em uma sociedade que diz “é culpa da garota que o homem deu em cima dela, porque ela usou uma saia curta” por decidir que é culpa de uma garota que o pai dela iniciou uma guerra e matou muitas pessoas mesmo que não tenha nada que ela pudesse ter feito sobre isso e ela é, de fato, a pessoa que termina a guerra. Nós somos programados para culpar as mulheres pelo que os homens fazem. Nós temos sido por centenas de anos. Mas é completamente depressivo.
A mensagem subliminar, é claro, é que a culpa da Clary realmente é por colocar ela em uma posição onde ela teve que lidar com um grande poder. Porque com grande poder, vem grande responsabilidade, e nós ficamos profundamente inconfortáveis com mulheres e garotas tendo esse tanto de responsabilidade: ser dotada de algo que nós automaticamente damos aos homens, que é a oportunidade de ter poder o bastante para cometer erros e aprender com eles, assumir riscos — arriscar muitas vidas, ás vezes — cair e falhar e levantar novamente, a lutar em circunstâncias extraordinárias sem ser chamadas de estúpidas e egoístas por isso.
A coisa é, autor da pergunta, que o jogo que seus amigos estão jogando – jogo de desejos – é bastante inofensivo! E eu fico tocada que eles pensem bastante sobre os livros e as situações para virem com soluções. 🙂 A solução que eles tem não funciona, e outra que, se Clary tivesse tentado, teria todos leitores dizendo que ela é estúpida e egoísta. Mas isso não é porque seus amigos são estúpidos ou egoístas: é porque mulheres, principalmente garotas adolescentes, em livros, são julgadas por um conjunto de expectativas, forçada a um padrão, que nenhum personagem pode sobreviver. É obviamente antigo que nenhum livro sobrevive a uma leitura hostil. Se você pega um livro querendo odiar ele, você vai encontrar coisas para odiar. Se você pega um livro sobre uma garota heroína pensando que garotas não deviam ser heroínas, nós vamos encontrar coisas sobre ela para julgar e julgar fortemente.
Então eu acho que, em resposta à sua pergunta sobre se eu pensei em fazer Clary tomar muitas decisões certas, a resposta é sim. E eu escrevi os livros para que ela fizesse muitas decisões certas. Ela está certa de ir atrás de Simon e tentar salvá-lo no Dumort, apesar de todo mundo lhe dizer para não fazê-lo. Eles (Jace, Magnus) estão errados, embora nunca ninguém diga isso. Ela está fazendo o que os heróis fazem: arriscar-se para salvar uma vida, e funciona. Mas eu não a vi ganhar crédito por isso.
Eu não posso dizer “Você está errado sobre Clary!” Ou “você não está lendo os livros direito!”, Porque cada leitor lê os livros de acordo com suas próprias interpretações. Eu não acredito em leitores errados, por si só. Mas nossas leituras de livros são influenciados por nossas crenças e medos e preconceitos – como eles poderiam não ser? Nossa escrita, também é. E como uma escritora de YA, com um monte de amigos escritores de YA, eu não posso deixar de ver os padrões de resposta. A ânsia de condenar as mulheres sob qualquer pretexto frágil é um deles. Muitas vezes, quando eu escrevo sobre isso eu sempre recebo a mesma resposta que é “Não é sempre sobre o sexismo! Às vezes você apenas não gosta da personagem.”
E eu não nego isso. A última vez que fiz isso foi sobre Maia e Jordan, e eu estava falando sobre o desejo de condenar as mulheres de cor e defender os homens brancos tristes, e, claro, (você pode olhar para os reblogs) tem muitas pessoas dizendo que não era sobre sexismo ou racismo, que eles não gostavam de Maia porque não gostavam dela, não porque ela era negra ou uma mulher. A coisa é, você nunca vai levar as pessoas (especialmente no tumblr) à escreverem para você e dizer: “Eu não gosto de Clary, porque ela é uma menina, eu não gosto e não me simpatizo com a Maia, porque ela é uma mulher de cor. “Eles sempre vão dizer” Minhas razões para eu não gostar da Clary não estão relacionados por ela ser uma menina, eu não gostaria dela do mesmo jeito se ela fosse um menino, eu apenas não gosto dela, é tudo, eu não queria que você culpasse o sexismo e o racismo o tempo todo “.
O fato é, especialmente como um escritor, você não pode deixar de ver padrões do leitor e as respostas dos fãs, não apenas para seus personagens, mas para todos os personagens. Eu vejo as pessoas chamando Katniss de egoísta e estúpida. Eu vejo as pessoas dizendo que Abby em Sleepy Hollow não deve ser envolvida romanticamente com Ichabod, que Braedon em Teen Wolf não deveria está envolvida com Derek e isso provavelmente é ruim. Há tanta resposta lá fora, e você não pode deixar de notar que há padrões. E eu acho que ninguém discorda da afirmação de que um monte destas respostas são formadas por racismo inconsciente e sexismo. Então, quando você começa a dizer essas coisas, talvez os seus motivos e opiniões são impecavelmente puras – mas você está junto com um monte de pessoas cujos motivos e opiniões não são. E quando a sua opinião coincide com a deles, talvez seja a hora de parar um momento e perguntar a si mesmo, porquê?
Eu não me excluo disso. Eu sofro com tudo o que as minhas personagens fazem, porque eu sei como elas serão julgadas, e porque eu sei que eu tenho uma responsabilidade de escrevê-las fiéis a si mesmas sem pensar sobre como elas serão julgadas. Todo personagem tem um pouco de você nele, e é sempre difícil ver Clary sendo chamada de uma vadia estúpida e Tessa de vagabunda. Eu aceito isso como parte do meu trabalho. Eu sei que Emma será chamada de piranha (por ter dormido com um cara que ela não amava), e eu sei que Cordelia será chamada de patética (por estar apaixonada por alguém que não a corresponde) e eu já recebi centenas de mensagens de ódio sobre Anna mesmo que ninguém tenha lido uma cena com ela , porque uma garota que desafia as normas de gênero desbloqueia uma espécie de raiva que você raramente vê. Você tem que aceitar essas coisas e seguir em frente, sabendo que nenhuma personagem feminina vai escapar. E sabendo que o demônio que você tem que lutar é a sua própria misoginia internalizada, a partir da qual nenhum de nós está livre – como poderíamos ser? Nós respiramos rejeições pelas mulheres em nosso próprio ar, todos os dias. Tudo o que podemos fazer, todos nós, é esculpir aqueles momentos em que analisamos o que estamos pensando, fazendo, dizendo. No qual tentamos ler e escrever generosamente. Em que nós prendemos a respiração.