28.05


“Mais sombrio”
Stephen King
Tradução: Regiane Winarski
Suma – 2024 – 528 páginas

Nesta nova coletânea, Stephen King conduz o leitor por doze histórias inesquecíveis, cinco delas nunca antes publicadas ― incluindo “Cascavéis”, a sequência inédita do aclamado romance Cujo. Com lançamento mundial, os contos de Mais sombrio evidenciam a célebre capacidade do autor de surpreender, assustar e encantar leitores.

Cinquenta anos depois da publicação de seu primeiro romance, Carrie, Stephen King continua a surpreender e encantar a todos com versatilidade e talento impressionantes para contar histórias.

Cada texto desta coletânea nos oferece uma reflexão diferente acerca de temas como o destino, o luto, o sobrenatural e os limites ― frequentemente nebulosos ― entre o conhecido e o desconhecido. Em Mais sombrio , o autor mergulha nas profundezas obscuras da vida, conduzindo o leitor por doze contos inesquecíveis, cinco deles inéditos ― incluindo “Cascavéis”, sequência do romance Cujo.

Repletas de reviravoltas, as histórias de Mais sombrio continuarão marcadas na memória daqueles que se aventurarem por essas páginas, ecoando até muito tempo depois de fechar o livro.

Ele fez de novo – sim, estou falando dele, o Rei (eu sei, eu sei, essa piadoca de trocadilho com o nome é muito ruim, mas não resisto!) apresenta mais um livro com 12 contos de todos os mais variados tipos e tamanhos: alguns com poucas páginas, outros com muitas páginas, alguns inéditos, alguns já publicados, alguns aterrorizantes com o sobrenatural, outros mostrando que o ser humano sempre será o pior vilão de todos tempos. Ler contos do reconhecido mestre do Terror é um exercício de literatura, já como quase todos os contos são na dose certa para mexer com sua cabeça. Vou já dizer que não encontrei um único erro na edição nacional que tem a qualidade Suma de ser, com destaque para a tradução de Regiane Winarski, que, como sempre, consegue colocar expressões brasileiras em momentos que há espaço para isso, uma verdadeira Sherlock!

É interessante como alguns anos atrás, muitos reclamavam que King não sabia concluir seus livros, que sempre se enrolava com isso (ele mesmo chegou a brincar com isso uma vez) e entregava finais anticlimáticos. Nunca identifiquei isso e sempre adorei a escrita de King mesmo não sendo a fã que sou atualmente, mas em seus contos, nunca ninguém poderá falar isso porque quase todos contos são exatamente como deveriam ser, e os que não são, são justamente o que deveriam ter mais páginas ainda. Em “Mais Sombrio“, o Rei do terror entrega a sensação de superar (ou não) misturada com luzes (e trevas) presente em todos seres (até os alienígenas) e brinca em diversas ocasiões com a percepção do real e do que o medo é capaz de provocar – basta olhar a capa deste livro, que é a original norte americana. Olhou? Olhe bem! Olhe mais de perto. Vê aquela ilha? Mas você tem certeza de que é uma ilha? Ou será o formato de um…

O que aconteceu? Como foi que vocês deixaram de ser
homens de cidade de interior e passaram a ser homens do mundo? Ícones culturais?

Algo no rosto dele mudou, e me lembrei da ligação aflita da minha mãe quando eu estava na faculdade: Seu pai parece que viu um fantasma. Se tinha visto, achei que ele estava vendo de novo. Mas ele sorriu, e o fantasma sumiu.
Nós éramos só dois fio da mãe talentosos. Vamos deixar assim. Agora, eu preciso entrar e sair do sol forte – finalizou ele.

O livro abre com o conto “Dois fio da mãe talentosos“, que conta a história de Laird Carmody e como ele, do interior do Maine, publicou livros que entraram para as listas de mais vendidos. O título deixa claro que são dois personagens, e o segundo fio da mãe talentoso era o melhor amigo de Laird, Dave “Butch” LaVerdiere, que se tornou famoso e rico com seus desenhos e pinturas. Mas ainda há Mark, filho de Laird, que narra o conto depois da morte do pai e todos desdobramentos do que aconteceu em um verão de 1978 e o que aconteceu ali que mudou a vida do seu pai e do seu tio. Confesso que o que aconteceu foi algo que a princípio não imaginei (o que imaginei, o próprio King brinca no livro, dando uma hipótese que Mark imagina que seria algo que poderia ter acontecido com o pai em noites insones) e que termina de uma forma tão simples e tão apoteótica que fiquei surpresa. É um dos maiores contos em numeros de pagina e em grandiosidade do livro e definitivamente um para se começar muito bem. “O Quinto Passo” é um conto curto de um homem que está lendo um jornal no Central Park quando um estranho se senta ao seu lado e pede ajuda com seu segundo passo do AA. Em recuperação, o estranho precisa completar aquele passo – e mostrar pro leitor que nem sempre devemos ajudar as pessoas.

Willie Esquisitão” é o conto mais mitológico de todos, deixando ao leitor as hipóteses do que acontece com o garoto que é tão apegado a seu avô postiço que está prestes a morrer. O quarto conto, “O sonho ruim de Danny Coughlin” foi o ponto alto do livro pra mim: um homem comum que um dia sonha onde um corpo está enterrado em um posto de gasolina abandonado e faz a coisa certa, que é falar pra polícia. A mistura de incredulidade e encanto que vive dentro de todos nós com tudo que envolve videntes e esse tipo de fenômeno guiam as ações e decisões dos Detetives e todos ao redor do pobre Danny, personagem falho e carismático em altos níveis, como só um autor hábil como King é capaz de nos entregar. Já o quinto conto, “Finn“, sobre um rapaz azarento que é confundindo com algum criminoso e sequestrado em seu lugar, traz um tom lúdico com seu infeliz protagonista.

Acima da seleção principal há algumas outras opções: NOTÍCIAS, VÍDEOS, SHOPPING… e IMAGENS. Ele clica em imagens e encosta na cadeira, e o que aparece o deixa mais consternado do que nunca. Há várias fotos mostrando vários Hill-tops, inclusive quatro do Texaco. A primeira é uma duplicata da que havia na página principal, mas em outra o posto de gasolina está abandonado: sem as bombas, com as janelas quebradas e lixo espalhado. É o que visitou no sonho, mesmíssimo. Sem dúvida. A única pergunta é se tem ou não um corpo enterrado na terra encharcada de óleo atrás.
Puta que pariu.

Na estrada da Pousada Slide” traz uma família composta pelo pai, mãe, um casal de filhos crianças e um avô já idoso indo visitar a irmã do avô que está prestes a morrer e se perdendo na estrada do título. É o tipo de conto que lembra a todos que sim, os humanos são os piores seres vivos – e os mais decepcionantes também. Já “Tela Vermelha” me pegou desprevinida com a lembrança a “Invasores de Corpos“, também conhecido como o irmão mais velho maligno de “A Hospedeira” – pelo menos pra mim, e se você não conhece, clique AQUI para ler a sinopse – e me deixou com muita vontade de saber mais sobre aquele universo com um investigador Wilson entrevistando um homem que simplesmente mata a esposa e depois alega não ser ela. Pelo menos dentro do corpo.

Já “O Especialista em turbulência” não é um conto inédito, já tendo sido público em “Terror a Bordo“, livro que King e Bev Vicent editaram, e se é pra confessar algo, é que este conto não foi meu favorito lá – e nem aqui também. Vocês podem ler minha resenha de “Terror a Bordo” sem spoilers clicando AQUI. Então chega “Laurie“, o conto sobre como uma cachorrinha salvou a vida de um senhor viúvo é um conto que também já havia sido publicado, mostrando ao leitor como um animal pode salvar a vida de seu tutor de diversas formas.

Wilson finge pensar. O que realmente passa pela sua cabeça é que a entrevista vai ser inútil para o promotor. O caminho pela frente vai ser longo: alguns psiquiatras da acusação e o psicólogo de Crocker. Wilson não ficaria surpreso se o sujeito já tivesse um profissional desses nos contatos de emergência do celular.
Alienígenas?

E eis que chegamos na estrela desta seleção: “Cascavéis” é o conto (grande, por sinal) que continua a história do livro “Cujo“. Para os não familiarizados com a obra de King, “Cujo” é um livro sobre uma mãe e seu filho de 5 anos que ficam presos no carro da família na porta de uma fazenda onde havia uma oficina mecânica com um São Bernardo com raiva os atacando. É um livro claustrofóbico, nervoso e repleto de terror, o mais puro terror para uma mãe tentando salvar a vida do seu filho e você pode ler minha resenha sem spoilers clicando AQUI. O livro ganhou uma versão cinematográfica que não faz jus a seu material de origem (jura?), que também amenizou toda trama. Voltando a “Cascavéis“, o personagem principal é Victor “Vic” Treton, o pai de Tad e marido de Donna, os personagens principais da história antiga, publicada em 1981 e com filme de 1984. E aqui também temos o Kingverso funcionando com bastante vigor.

Quando a narrativa começa, nos encontramos nos tempos atuais, com um Vic cansado de uma vida repleta de saudade e outros sofrimentos que não contarei porque são spoilers. Passados 40 anos da trama de “Cujo“, já em 2020, primeiro ano da pandemia, Vic vai para a ilha de Rattlesnake Key, ficar na casa de seu amigo Greg Ackerman. O lugar parece ser paradisíaco, mas há uma peculiaridade por lá: uma mulher chamada Allie Bell empurra um carrinho para bebês gêmeos pela estrada da ilha, que também leva o mesmo nome. Só que a mulher leva os carrinho vazios, já como seus filhos gêmeos morreram há anos, basicamente na mesma época que os eventos de “Cujo“. Agora se você se perguntar como essas crianças morreram, aí sim, você terá grande parte da trama, que é, sem sombras de dúvidas, assustadora, sombria e muito, muito com assinatura do King, em todos sentidos. Espere saber mais sobre o que aconteceu depois do São Bernardo atacar aquele carro e sentir como se tivesse acontecido com velhos conhecidos, exatamente o efeito que sabemos que o autor queria nos causar. E ah, só mais um ponto: a ilha de Duma Key também é brilhantemente citada aqui (outro livro de King, e se você quiser ler a sinopse, basta clicar AQUI).

Tem certeza de que não fica incomodado? Considerando o que aconteceu com…
Não fico. Coisas ruins acontecem com crianças às vezes. Aconteceu comigo e com Donna e aconteceu com Allie Bell. Nosso filho foi muito tempo antes. Tad. Já superei.
Mentira. Algumas coisas nós não superamos nunca.

Os Sonhadores” traz um conto rápido sobre o poder dos sonhos – literalmente. E, encerrando, temos um belo exemplo do quão criativa a imaginação de King consegue ser em “O Homem das Respostas“, universo que realmente espero que ele revisite eventualmente porque queremos mais – mas bem, quando não queremos mais do senhor Stephen King, não é mesmo?

Como só mencionei acima, mas falando melhor, o Kingverso aparece em vários contos com menções ao condado de Castle, com direito a Derry, personagens de um conto aparecendo em outro e mais diversas pistas que sabemos que acontecem nos livros. Para encerrar, digo uma frase que King fala nos agradecimentos: Você prefere tudo mais sombrio? Tudo bem. Eu também, e isto me torna o seu irmão de alma.” – está tudo bem gostar de coisas tidas como macabras, ciente que tudo pode ser mais sombrio, do jeitinho que King gosta. Está tudo bem em ter interesse no terror. Você pode sentir o que quiser e, se gostar muito, como eu, pode até se tornar irmão de alma de um dos maiores escritores da atualidade. Bem sombrio, não é?

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