Resenha: As cinzas e o rei maldito pelas estrelas (Nascidos da Noite #2) – Carissa Broadbent
“As cinzas e o rei maldito pelas estrelas” (Nascidos da Noite #2)
Carissa Broadbent
Tradução: Jana Bianchi
Suma – 2025 – 552 páginas
Tudo o que Oraya pensava ser verdade foi destruído. Depois do traumatizante torneio Kejari, a princesa Nascida da Noite se tornou prisioneira em seu próprio reino. Em luto pela única família que já teve e se recuperando de uma traição devastadora, ela sequer sabe a verdade sobre o próprio sangue. Só lhe resta uma certeza: não confiar em ninguém, muito menos em Raihn.
Quando Raihn oferece à princesa uma aliança secreta, ela vê a chance perfeita para recuperar o reino e se vingar de seu traidor. Para isso, precisará controlar um poder antigo, entrelaçado com os maiores segredos de seu pai. Mas, com inimigos se aproximando por toda parte, a tarefa se torna ainda mais desafiadora. À medida que desvenda o passado e enfrenta o futuro, Oraya se vê forçada a escolher entre a realidade sangrenta de tomar o poder e algo que pode ser sua ruína: um amor avassalador.
Vou começar fazendo uma recapitulação do universo criado por Carrisa Broadbent: é o 2º livro de uma duologia chamada “Nascidos da Noite“, sendo o 1º livro que abre o universo chamado “A Serpente e as Asas feitas de noite”. Esses 2 primeiros livros contam a história de Oraya e Raihn, e depois destes livros, numerados 1 e 2 respectivamente, há 2 livros únicos dentro do universo: “Six Scorched Roses” (que na verdade é uma novela com 128 páginas) e “Slaying the Vampire Conqueror“, e estes tem por numeração 1.5 e 2.5. Então temos o 3º livro, com outra protagonista (apesar de já conhecida!) chamado “The Songbird & the Heart of Stone”, que já foi publicado em inglês. O 4º livro na série formará com o 3º outra duologia e se chamará “The Fallen & the Kiss of Dusk”, e esta duologia se chama “The Shadowborn duet”. Então, no resumo, os livros 1.5 e 2.5 são livros únicos que complementam a história e mostram mais do universo, não são de leitura obrigatória. No final, todos esses livros juntos, as 3 duologias mais livros únicos formação a série chamada “Coroas de Nyaxia”. Na linha de números fechados, metade da série já foi publicada, mas confesso que não fico surpresa se a autora escrever mais porque o universo aqui é muito, muito vasto.
Como vocês já entenderam, esta resenha é o 2º livro e o que fecha a história de nossos protagonistas, então não continue esta leitura caso queira ler pontos essenciais do 1º livro, mas esta resenha não conterá spoiler algum deste volume. Avisados? Ok, então vamos lá conversar sobre a traição de Raihn no final de “A Serpente e as Asas feitas de noite” e como Oraya reagiu em um livro que é bom, sólido e consistente, mas peca por tentar fazer mistério em algo que qualquer um de nós já esperava. Caso esteja curioso e queria mais informações sobre o primeiro livro sem spoilers, basta ler nossa resenha clicando AQUI.
Senti um nó tão grande na garganta que não conseguia engolir – não conseguia respirar.
Ver a coroa na cabeça de Raihn me fez sentir uma pontada de dor nas costelas. As espirais de prata estavam acomodadas entre as ondas vermelho-escuras de Raihn; ○ contraste das duas coisas era chocante, considerando que eu só vira aquele objeto de metal sobre o cabelo loiro e lustroso de meu pai.
Da última vez que eu olhara para aquela coroa, ela estava encharcada de sangue, jogada nas areias do coliseu enquanto Vincent morria em meus braços.
Quando “A Serpente e as Asas feitas de noite” termina, Oraya ganhou o torneio Kejari, mas também tomou uma facada nas costas de Rihan, que matou seu pai, Vincent, o Rei da Casa da Noite, e assumiu o lugar que ele acreditava que seria seu de direito para acabar com todo sofrimento dos vampiros Rishan. Mas Raihn parece ter esquecido de um fator importante: ele é um antigo escravo, e claro que seu “passado” volta para lhe chutar à bunda, sem contar que a própria Oraya quer muito fazer isso. O relacionamento deles dois ainda é o mesmo: faíscas o tempo inteiro enquanto estão juntos, mas claro que há muito mais aqui entre eles para se resolver agora, e mesmo desfuncional, os dois funcionam juntos e entenderão que estão correndo muito mais riscos do que imaginavam e precisarão um do outro para resolverem toda confusão na qual se meteram.
O começo do livro é realmente todo de Oraya. A raiva que ela sente por ter confiado em alguém por quem terminou de se apaixonado e que lhe traiu é grande, ainda mais seu pai, a quem sempre amou e acreditava “dever” algo, já como era humana e vivia entre vampiros, sempre se sentindo menos. Presa, feita prisioneira por seu marido e agora Rei Raihn, trancada em um quarto, parece que Oraya está sem alternativas, mas não, ela sabe o que terá de fazer: fugir. E ela tenta. E como tenta. Mas a ajuda chega em mais uma tentativa de tentarem usar sua ligação com Vincent, o que pareceu repetitivo até por demais, ainda mais com a chegada do grande vilão já esperado: Septimus. Queria dizer que ele é um grande vilão neste livro, mas seria mentira, porque as intenções dele são as que sempre esperamos de vilões em tramas com cortes: poder.
Naquilo eu era bom. Achava muito agradável a sensação de dar a uma pessoa o que ela merecia.
Olhei por cima do ombro. Não sei muito bem o porquê – fiz sem pensar.
A expressão de Oraya me abalou.
Satisfação. Uma satisfação sedenta de sangue.
Pela primeira vez em semanas, eu via em seus olhos algo semelhante a enfrentamento. Pela Deusa, eu poderia ter chorado.
Essa é a minha garota, pensei.
E algo na forma como ela me encarou, bem nos olhos, atravessou minha máscara e minha atuação, Era como se eu pudesse ouvi-la respondendo: Esse é o meu garoto.
Voltando a ordem cronológica dos eventos, ao contrário do 1º volume, que já temos logo o começo do torneio Kejari, aqui temos mais tramas palacianas e uma verdadeira luta pelo poder acontecendo em uma intricada trama de traições. Mische, a melhor amiga de Raihn, que entrou no tornei com ele e tem essa longa amizade com ele dos tempos de escravidão, começa a ter um papel maior aqui, o que me pareceu uma dica para os próximos volumes (e acho que pra vocês também será). So que logo fica claro que Raihn está confiando demais no fato de ter matado Vincent e agora ter a marca em seu corpo, empunhar sua espada e ter se casado com sua filha, porque os vampiros de centenas de anos não aceitará alguém tão de baixo para unificar uma casa que está se despeçando há anos.
E foi nisso que esse livro me perdeu. Amo intrigas palacianas, pessoas tentando passar a perna umas nas outras, mas por quase 300 páginas (as iniciais) a sensação que eu tive foi que a autora rodou tanto que voltou para o mesmo lugar. A inserção de um mistério sobre o passado de Oraya e como ela pode existir foi o começo a abranger a trama e nos dar respostas concretas por quais caminhos ainda teríamos, afinal, este livro é grande e não dá pra dizer que faltava tempo para desenvolver tudo muito bem. E quando enfim a trama engata, ela realmente engata – pena que demora para isso. Falando assim, parece que não gostei do livro em geral, mas eu gostei tanto da metade final deste livro que tudo foi compensado.
– Nunca pedi desculpas como deveria, porque tudo ○ que você falou a meu respeito é verdade. Porque você sempre viu a maldita verdade, mesmo quando eu morria de vergonha dela. O que fiz com você foi… é imperdoável. – Ele cuspiu a última palavra, como se com nojo de si mesmo. Com a ponta dos dedos, roçou o meio do peito, bem onde minha lâmina o transpassara. Porque eu sabia exatamente onde o apunhalara. – Então não vou pedir seu perdão. Não vou ficar aqui falando como sinto muito. Que porra de utilidade isso teria? Não quero te pedir nada. Quero te dar o que já queria ter dado muito tempo atrás. Porque você…
O ar pareceu sumir do cômodo – sumir do meu corpo, me deixando ali congelada no lugar, sem respirar, sem falar, enquanto ele se aproximava um passo. Mais um. Mantive o queixo erguido, sustentando ○ contato visual.
Pela Mãe, aqueles olhos… Lembravam fogo, cintilando, úmidos por causa das lágrimas que não caíam.
– Você é tudo – continuou ele, com a voz rouca. – Todas as coisas do mundo. Então vá, Oraya. Só vá.
Carissa inova em não deixar para resolver o conflito amoroso para as páginas finais. Raihn sabe que ferrou tudo, sabe que perdeu a confiança de Oraya, mas também sabe que não há chances de perder Oraya, mesmo que no processo ele perca sua vida – e confesso que aqui tive realmente medo por ele e por Oraya, as ameaças foram reais porque estavam acima deles e de vilões mundanos, com Deuses (sim, no plural) decidindo sobre a vida e morte de pessoas. Sabendo que a morte pode chegar por não conseguir pacificar a Casa da Noite da forma como sempre acreditava que faria, Raihn se declara de um jeito tão perfeito, tão bom, tão simples e direto que não há como não torcer pelo casal, com a melhor parte é que a resposta de Oraya é sendo ela mesma, daquele jeitinho delicado (só que ao contrário) dela.
O saldo final é muito mais positivo do que negativo. A escrita da autora continua ótima, com ritmo, e o universo é complexo e bastante desenvolvido para uma romantasia que sim, tem o romance no centro, mas ainda assim não deixa de dar detalhes no universo, que continua se expandido. Não tenho a menor sombra de dúvida de que quero ler todos os livros do universo de “Coroas de Nyaxia”. Espero que a minha Editora favorita da Vida, a Suma, publique os livros 1.5 e 2.5 e também o volume 3 para voltar para este universo de vampiros com asas e muita treta – e repito: vampiros nunca saem de moda.
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