20.02


“A serpente e as asas feitas de noite”(Nascidos da Noite #1)
Carissa Broadbent
Tradução: Jana Bianchi
Suma – 2024 – 448 páginas

Oraya é a filha adotiva do rei dos vampiros Nascidos da Noite. Humana em meio a predadores naturais, ela passou a vida lutando em um mundo que desafia sua existência. A única chance que tem de sobreviver é vencendo o Kejari, um lendário torneio promovido pela própria deusa da morte. Mas derrotar seus adversários, vampiros das três casas do reino, não será um desafio simples e, para resistir à brutalidade das batalhas, Oraya será obrigada a se aliar a um rival misterioso.

Raihn é um vampiro atroz, inimigo do rei e o oponente mais poderoso que Oraya encontra. Ainda assim, o que mais a assusta é a inesperada afeição que sente por ele. Quando a Casa da Noite é ameaçada, Raihn parece ser o único capaz de entender e ajudá-la, mas, em um mundo em que nada é mais mortal que o amor, essa relação pode colocar tudo a perder.

Sempre falo que gosto mesmo é de escrever resenhas de livros que adorei e não estou mentindo – a vida é curta demais para não aproveitarmos com o que gostamos, então é com toda felicidade que chego aqui pra panfletar “A serpente e as asas feitas de noite” e seu universo. Antes de começar a gritar a plenos pulmões o quanto essa trama é maravilhosa e o quanto amei os personagens, preciso explicar um pouquinho a série de livros (calma!) e o universo, então vamos por partes: este é o livro 1 de uma duologia chamada “Nascidos da Noite“, sendo o livro que abre o universo. Já o segundo livro será lançado em breve pela Suma, minha editora favorita da vida, e se chamará “As Cinzas e o Rei maldito pelas estrelas“. Esses 2 primeiros livros contam a história de Oraya e Raihn. Depois desses dois livros, numerados 1 e 2 respectivamente, há 2 livros únicos dentro do universo: “Six Scorched Roses” (que na verdade é uma novela com 128 paginas) e “Slaying the Vampire Conqueror“, e estes tem por numeração 1.5 e 2.5. Esses 4 livros já foram publicados, e apesar desses 2 livros únicos complementarem a história, mostrarem mais do universo e apresentar personagens dos livros futuros (calma!), não são de leitura obrigatória. O que ainda não foi publicado no universo são as outras duas duologias, ou seja, 4 livros.

E se você se pergunta porque essa série será composta por 3 duologias, a resposta vem fácil a medida que você entra no universo de “Coroas de Nyaxia” (nome da série completa): Nyaxia é uma Deusa que criou os vampiros deste universo, que estão devidos em 3 casas: A Casa do Sangue, A Casa da Noite e A Casa das Sombras – ou seja, cada duologia se passará em uma das casas, que possuem territórios próprios. Ficou fácil assim, não foi? Essas 3 casas compõe o território de Obitraes, lugar onde nossa trama incrível se passa, mais precisamente na Casa da Noite, que tem Sivrinaj por capital e fique tranquilo que aqui temos uma edição maravilhosa com mapa interno e também um glossário no final, tudo para ajudar na compreensão da trama, bem no estilo da Editora Suma de ser, bem incrível. Pois bem, se prepare pra trama que começarei a falar agora porque sim, são vampiros, mas também temos Deuses (como a própria Nyaxia), demônios e outros seres, tudo do jeitinho que nós, fãs de fantasia, tanto amamos – afinal vampiros nunca saem de moda, não é mesmo?

Em casa. Ele a levaria para casa.
Porque o rei dos vampiros Hiaj — conquistador da Casa da Noite, abençoado pela Deusa Nyaxia e um dos mais poderosos homens a já terem caminhado por aquele ou por outros reinos — viu um fragmento de si na menina. E ali, logo abaixo do punhozinho cerrado, algo agridoce no peito do vampiro se agitava ao ver a criança. Algo mais perigoso que a fome.
Centenas de anos mais tarde, historiadores e acadêmicos se debruçariam sobre aquele momento. Sobre a decisão que, um dia, faria ruir um império.
Que decisão esquisita, diriam aos sussurros. Por que ele faria algo assim?
E realmente, por quê?
Afinal de contas, vampiros sabem melhor do que ninguém como é importante proteger o coração.
E o amor, entenda, é mais afiado do que qualquer estaca.

A serpente e as asas feitas de noite” começa nos mostrando como Rei dos Vampiros, Vicent, adotou uma garotinha humana sobrevivente do massacre de sua família. Desde o primeiro segundo que colocou os olhos nela, o poderoso vampiro soube que a pequena estava lutando por sua vida entre predadores muito mais fortes do que ela. O amor que o Rei iria ter pela garotinha, chamada Oraya, era poderoso, mas a trama também deixa claro que seria a ruína de todo o Reino da Casa da Noite, o que nos prepara para o que virá em seguida. Logo a trama tem um salto temporal de vários anos e Oraya agora é uma jovem de 23 anos que foi criada para ser uma guerreira forte e destinada, afinal, cresceu entre vampiros, como filha do Rei. Além de estar entre os vampiros predadores que claramente poderiam colocar sua vida em risco em um segundo, os vampiros da Casa da Noite não estão pacificados, divididos entre uma espécie de guerra civil entre seus dois tipos de vampiros.

Todos os vampiros aqui possuem asas, mas há uma diferença primordial entre eles: Há os vampiros do clã Hiaj, o qual Vicent faz parte, os quais as asas são somente pele, imensas e poderosas; e há os vampiros do cã Rishan, os quais suas asas possuem penas, com cores variadas. Os Hiaj, liderados por Vicent, há 200 anos, lutaram contra os Rishan e tomara o poder, com ele se tornando o Rei dos Nascidos da Noite, mas claro que os Rishan guardam a lembranças de tudo que aconteceu, do massacre que sofreram e ainda sofrem e ainda esperam o momento certo para tentar saírem do julgo do Rei. Além disso, estamos chegando no torneio Kejari – um torneio que acontece uma vez por século no qual qualquer vampiro, de todas 3 casas e de toda Obitraes, pode se inscrever e participar, e que basicamente consiste em lutarem desafios até somente restar um, que ganhará um desejo concedido pela própria Deusa Nyaxia. Todos que se inscreverem podem competir, e claro que Oraya quer competir por um motivo muito específico: ela deseja o vínculo Coriatis, uma ligação profunda que deseja fazer com Vicent, com o qual ela teria os mesmos poderes do vampiro, muito levada pela sede que tem de mostrar que era digna de viver entre os vampiros, mesmo não sendo uma.

Tomei um gole de água do cantil, virada de costas para ele. Meus olhos percorreram os afrescos na parede — pinturas belas e terríveis de vampiros com dentes afiados se regozijando num mar de sangue sob estrelas prateadas. O painel percorria o cômodo inteiro. Aquela área de treinamento particular era reservada a Vincent e seus guerreiros de alto escalão, e era mais asquerosamente ornamentada do que qualquer lugar destinado a cuspe, sangue e suor deveria ser. O chão era de areia fofa e branca trazida das dunas toda semana. O afresco cobria a parede circular e sem janelas — uma imagem panorâmica contínua de morte e conquista.
Os personagens representados ali eram vampiros Hiaj, com asas de morcego que iam de um branco leitoso ao preto da fuligem. Dois séculos antes, era provável que as asas nas pinturas fossem as plumadas dos Rishan, o clã rival dos Nascidos da Noite, que batalhava incessantemente pelo trono da Casa da Noite. Desde que Nyaxia criara os vampiros, mais de dois mil anos antes (ou antes ainda, alegavam alguns), as duas seitas travavam uma guerra eterna. E a cada virada da maré, a cada linhagem nova no trono, aquele afresco mudava — asas pintadas e apagadas, pintadas e apagadas dezenas de vezes ao longo de milhares de anos.

Claro que o torneio não demora a começar e logo Oraya se vê dentro do Palácio da Lua, lugar onde todos participantes devem ficar durante todo evento. As lutas são brutais e claramente há magia envolvendo o lugar e todos desafios, fazendo que ela tenha certeza que vencer aquele torneio será algo muito difícil, mas ainda acreditando está preparada – para vocês entenderem, de cara, no primeiro momento, a jovem já escuta gritos de humanos sendo atacados por vampiros dentro do lugar, a fazendo reconhecer a voz de alguém que conhece, uma das duas únicas pessoas que ama. Desesperada, começa a correr no escuro na direção doa gritos, mas é segurada por um homem, que, estranhamente, está tentando salvá-la. Claro que nossa protagonista não reage bem e o esfaqueia na perna para poder continuar sua tentativa de ajudar a amiga e acho que não preciso falar nada mais de concreto porque você que me lê, já entendeu quem a segurou foi Raihn, um vampiro que se tornará mais do que o interesse amoroso de Oraya: ele também tem uma trama gigantesca e é pivotal com muito que acontece, principalmente mais pro final – mas sem spoilers aqui, é claro.

Os vampiros aqui são ferozes, chegando ao ponto de matarem e mutilarem seus pais e filhos, tudo em uma luta eterna por poder. Como são imortais, não há morte para o chefe de uma família, então seu filho vampiro precisará matar o pai para assumir seu lugar e ainda todos na sucessão, seus irmãos, tios e familiares, e foi isso que Vicent fez. Se um vampiro tem um filho poderoso o suficiente com magia, parece ser uma ideia natural o mutilar para que ele não possa usar a plenitude de poderes. A violência é declarada desde o começo e entendemos que aqui a força física, magia e poder estão acima de todas as coisas, com segredos permeando toda trama até os momentos finais. A narrativa é construída de tal modo que fica claro que até de Oraya há coisas que o leitor não sabe ainda, mesmo acompanhando o ponto de vista da personagem durante a trama.

Ela. Mãe da noite, da sombra, do sangue — mãe de todos os vampiros. A Deusa Nyaxia.
A qualquer instante, ela daria início ao tributo que, uma vez por século, a Casa da Noite realizava em sua homenagem. Um torneio selvagem com cinco desafios espalhados ao longo de quatro meses que resultava em um único vencedor, que era agraciado com o presente mais valioso do mundo: um único desejo realizado pela própria Deusa.
Vampiros de toda Obitraes viajavam para participar do Kejari, atraídos pela promessa de riqueza ou honra. Dezenas dos mais poderosos guerreiros das três Casas — a Casa da Noite, a Casa da Sombra e a Casa do Sangue — morreriam na tentativa de obter tal título.
E, provavelmente, eu também.

Oraya é uma das melhores protagonistas que li em uma fantasia. Já mulher adulta, repleta de desejos e anseios, ela sabe o que quer e vai fazer o que precisa até o final, mesmo acreditando que pode morrer. Leal, ama ferozmente seu pai a ponto de acreditar nele de olhos fechados e não fazer perguntas que, para quem lê, parecem essenciais, e acredita que não deve se apegar a ninguém naquele torneio porque só está lá para vencer ou morrer, mas Riahn e Mische, a melhor amiga dele que também está no torneio, começaram a quebrar as barreiras tão bem construídas de nossa heroína ao formarem um trio bastante improvável e poderoso porque tanto Riahn quanto Mische possuem magia, algo não incomum para os vampiros deste universo.

E acho que foi justamente a personalidade de Oraya que me fez amar tanto esse livro. Não esperem uma mocinha fofinha, não esperem uma mocinha que precisa ser salva, não esperem alguém que não saiba o que quer – e justamente por isso a construção do relacionamento dela com Raihn e Mische foi tão poderosa e tão profunda a ponto de levar o leitor a querer mais deles só existindo naquelas páginas. Muitos colocam “A serpente e as asas feitas de noite” como um forte exemplo de Romantasia, o novo gênero dentro da Fantasia onde o romance dita a trama, mas sinceramente achei aqui o romance e a mitologia MUITO equilibrada. O romance é construído e forte, não acontece nas primeiras 100 páginas e demora sim (mas, aos que querem saber, há romance e há cenas de intimidade sim) para acontecer porque a autora não quis só jogar o amor e sim fazer o leitor TORCER pelo casal quando este acontecesse. E sim, Carissa Broadbant conseguiu com total sucesso.

— Vocês sobreviveram ao chamado inicial, ao abate inicial. Quando o sol se puser amanhã, o Kejari vai começar oficialmente. Vai continuar pelos próximos quatro meses. Ao jurarem, deram a vida para nossa Mãe Sombria. Deram a ela seu sangue. Deram a ela sua alma. E ela ficará com as três coisas. Mesmo que sobrevivam à competição, uma parte de vocês sempre pertencerá a ela. Aja saraeta.
Aja saraeta — repetimos em uníssono.
— Haverá cinco desafios, criados de forma a homenagear a história de como nossa Mãe escapou das garras do Panteão Branco e se alçou ao poder. O desafio da Lua Cheia. O desafio da Lua Minguante. O desafio da Meia-Lua. O desafio da Lua Crescente. O Desafio da Lua Nova. Cada um deles acontecerá três semanas após o anterior. Os detalhes de cada teste serão revelados assim que este começar, nunca antes. Ao longo de todo o Kejari, vocês deverão residir aqui, no Palácio da Lua. Podem deixar as muralhas entre o crepúsculo e a aurora, se essa for a vontade de Nyaxia, mas deverão necessariamente estar de volta antes do amanhecer. Inúmeros adoradores viveram aqui antes de vocês. Inúmeros outros virão muito tempo depois que seu sangue tiver secado no chão. Por meio do Palácio da Lua, Nyaxia os proverá com o que ela achar necessário.
O que ela achar necessário. Aquilo soava apropriadamente agourento. O Palácio da Lua fornecia abrigo, comida e água — até não fornecer mais. Fornecia segurança — até não fornecer mais. O Palácio da Lua não era um local de repouso. Era um desafio por si só.

Já falei sobre a violência do universo e ainda preciso apontar também que as transformações de humanos para vampiros são muito, muito difíceis de se completarem e por isso Oraya deseja vínculos Coriatis, porque sabe que há grandes chances de morrer caso o pai a transformasse. Enquanto a trama vai se desenvolvendo temos sempre vislumbres do passado através de flashbacks, com informações importantes para podermos juntar as peças do que está acontecendo no torneio e logo temos algumas reviravoltas inesperadas, junto com informações sobre o passado das personagens – e aqui deixo um grande ALERTA DE GATILHO: não posso entregar exatamente o que aconteceu, mas no começo do livro há esse alerta sobre violência sexual, com uma cena que pode causar desconforto em pessoas sensíveis a este tema. Por mais que tenha amado o livro e o indique para os fãs da fantasia, não posso deixar de pedir cautela e que realmente se atenham ao aviso porque ele é muito real.

Sei que muitos podem começar a ler o começo desta resenha e pensar: “Lá vem o esquema de pirâmide!“, mas eu realmente aposto no sucesso dessa trama porque ela tem tudo que queremos, absolutamente tudo: traições, mocinha chutando bundas, mocinho com passado tortuoso repleto de camadas que faz qualquer leitor se apaixonar por ele, vampiros em nova mitologia e um final não esperado mas que nos deixa desesperados pelo próximo volume. Não fique na dúvida: venha conhecer este universo e se apaixonar – inclusive a minha Editora favorita da vida, a Suma, está sorteando dois exemplares com brindes do livro e você pode participar clicando AQUI e AQUI. E quando você vai lendo, vai entendendo perfeitamente o título do livro: A Sepente é a própria Oraya e as Asas feitas de Noite é Raihn, o par que torcemos para ganhar o Kejari, mas que somente Uumpode e irá ganhar, mesmo que isso signifique a morte do outro: sem pegadinhas aqui, só um poderá vencer, mas, sendo sincera, quem venceu mesmo aqui fomos nós, bookstans, tendo um livro desses pra ler.

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