Sinopse: Uma das principais vozes da literatura contemporânea, Jarid Arraes traz um livro de contos sobre mulheres brasileiras que não se encaixam em padrões e desafiam expectativas.
Escritora conhecida por seus cordéis, Jarid Arraes estreia no gênero dos contos em Redemoinho em dia quente. Focando nas mulheres da região do Cariri, no Ceará, os contos de Jarid desafiam classificações e misturam realismo, fantasia, crítica social e uma capacidade ímpar de identificar e narrar o cotidiano público e privado das mulheres.
Uma senhora católica encontra uma sacola com pílulas suspeitas e decide experimentar um barato que a leva até o padre Cícero, uma lavadeira tenta entender os desejos da filha, uma mototáxi tenta começar um novo trabalho e enfrenta os desafios que seu gênero representa ― Jarid Arraes narra a vida de mulheres com exatidão, potência e uma voz única na literatura brasileira contemporânea.
O leitor se surpreenderá com a originalidade e a fluência da voz que aqui, nestes contos, enfrenta e revela o emaranhado de contradições que cada um de nós carrega. – Maria Valéria Rezende
Vencedor de melhor livro de contos pelo APCA 2019.
Avaliado como um dos melhores livros do ano pela revista Quatro Cinco Um e pelo Suplemento Pernambuco.
Confesso que eu não sabia muito bem o que esperar de “Redemoinho em dia quente”, assim como é com a maioria dos livros que são contos que eu pego para ler, então eu não esperava ter ficado tão presa nas histórias tão pequenas.
O livro todo tem como cenário principal o nordeste e são protagonizados por mulheres de todos os tipos: jovens, idosas, adultas, crianças. Mulheres fortes que estão passando por bons momentos, mulheres fortes que estão sofrendo, mulheres enfrentando de tudo pela vida e deixando alguma mensagem importante em todas aquelas histórias de suas vidas.
“Eu na reza da ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres. Pensando o que significava ser mulher na época de Maria, se era só engravidar do Espírito Santo e parir, ou se José também lhe puxava pelo braço e soltava xingamentos quando o dia estava num pé ruim.”
E quando eu digo que vemos de tudo em todos os contos, eu não estou exagerando. Nós temos contos que falam sobre relacionamentos abusivos, também temos um breve conto que fala sobre a loucura, conto até mesmo sobre a forma com que cachorros são tratados algumas vezes e todos eles me tocaram em algum ponto, mas eu gostaria de focar aqui nos que eu mais gostei.
Em “Cachorro de quintal”, o conto fala justamente sobre o que eu disse acima: sobre cachorros e como muitas vezes eles apenas são tratados como objetos para proteção das casas ao invés de um ser vivo que merece carinho e respeito como todos os outros. Esse particularmente me tocou bastante.
“Hoje percebo que se apegar ao seu eu destruído é mais comum do que os outros pensam.”
E tem “Got a flamin’ heart, can’t get my fill”, que fala sobre saúde mental e sobre tratamentos e auto destruição. Acho que foi também um dos contos que mais me pegou, que me fez ficar bem pensativa sobre algumas coisas e como muitas vezes nós não conseguimos realmente ver como nós gostamos de nos prender a coisas que não nos fazem bem exatamente.
Tem o “Telhado quebrado com gente morando dentro”, que tem certos gatilhos de assédio sexual, assim como “Gesso”, que tem gatilhos de relacionamento abusivo. Eu gostei bastante desses dois também, mas acho que devia deixar avisado sobre os gatilhos antes que leiam sem saber.
“Se por um só segundo eu acreditasse, poderia crer, por um só segundo, que minha missão é teimar. Teimar de todas as formas possíveis, dentro de todas as variedades, teimar e insistir, contrariar e contradizer.”
Mas, assim como tiveram contos bons, tem alguns contos que eu fiquei sem saber exatamente o que pensar. Foram contos que começaram bem, mas pareceram terminar meio… abruptamente. Eu simplesmente não vi o fim chegando, parecia que a história teria alguma continuidade, mas ela simplesmente acabava ali, me deixando sem saber o que fazer.
E, alguns que mesmo tendo um final fechadinho, como “As cores das fitas”, me deixaram com aquele gostinho de quero mais: eu definitivamente poderia ler mais e mais e mais sobre essa história, poderia ler um livro todinho de mais de 300 páginas sobre ela porque me apaixonei pela narrativa e pela condução de tudo.
“A vizinha da esquerda fazia questão de lhe chamar de “ele”, ainda que o único nome que todos conhecessem fosse “Janaína”. Era ridículo ouvir a mulher dizer “o Janaína” para os outros fofoqueiros da rua. A cabeça dessa gente não era boa mesmo. Só lhe magoava quando alguma criança lhe xingava ou fazia piadas de mau gosto. Sabia que os adultos ensinavam aquelas coisas. Se não diretamente, deixando-se escutar.”
Eu acho que, num resumo “Redemoinho em dia quente”, é um livro tão bom e tão fácil de ler que você nem vê o tempo passando, com vários contos e todos eles são bem curtinhos. Então se você precisa de um livro pra ler que vá te desafogar de toda uma ressaca de leitura, pegue esse livro. E mesmo se você não tiver com uma ressaca literária: pegue esse livro. Vamos dar mais foco e mais visibilidade para a literatura nacional, porque esse livro merece ser bem glorificado.
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