05.04

Essa resenha será feita de toda a série de seis livros “Bloodlines”, então a estrutura dela será um pouco diferente: colocarei aqui no início somente a sinopse do 1º livro, “Laços de Sangue”, deixando as outras sinopses de fora por conterem grandes spoilers da trama e também deixando claro que essa resenha NÃO CONTEM SPOILERS. As quotes usadas durante a resenha foram pegas aleatoriamente de todos livros, sem mencionar contexto.

“Laços de Sangue”(Bloodlines #1)
Richelle Mead
Seguinte – 2013 – 432 páginas

O trabalho de Sydney Sage não é nada fácil: ela e seus colegas alquimistas são os únicos no mundo todo que sabem que vampiros existem para além das telas de cinema – e são uma ameaça real à humanidade. Para manter a ordem, eles devem impedir, a qualquer custo, que esse segredo vaze e que os reles mortais se aproximem desses seres perigosíssimos.

Mas agora a paz que os alquimistas vêm garantindo há tempos está prestes a desabar, e Sydney, para o bem de todos os humanos, terá de passar a proteger vinte e quatro horas por dia a princesa vampira Jill Dragomir, ou uma guerra pelo trono eclodirá no mundo dos vampiros, trazendo consequências avassaladoras para os homens. E defender alguém que até então era alvo de seu desprezo será mais difícil do que Sydney imaginava…

Confesso que, pela primeira vez, eu estou nervosa para resenhar algo. Talvez por “Bloodlines” ser uma das minhas séries favoritas de todos os tempos, misturado com o nervoso de apresentar esse universo a algumas pessoas. Mas, vamos partir do começo: o que me motivou a resenhar essa série já encerrada há algum tempo foi uma foto que postamos em nosso Instagram: nos comentários, diversas pessoas falaram que não sabiam que a conhecida série “Academia de Vampiros” tinha uma série derivada, que é justamente “Bloodlines” (veja a foto clicando AQUI).

Para poder começar a falar da série, vamos situar o seu enredo dentro do universo dos vampiros, dampiros e humanos de “Academia de Vampiros” e falar um pouco de sua mitologia: na série original, existem 3 tipos sobrenaturais de seres: os Dampiros (filhos de humanos normais, como eu e você, com os Moroi, que são basicamente humanos com mais força e agilidade, sem necessidade de se alimentar de sangue); os Morais (vampiros que precisam de sangue, conseguem sair a luz do sol por pouco tempo e ainda possuem magia elementar com controle de fogo, água, ar e terra – e espírito, guarda essa informação ai!) e os Strigoi (os vampiros vilões: com sede de sangue, que não podem sair ao sol, olhos vermelhos e grandes violões da série original). Pra se situar melhor, você pode ler a resenha de “Academia de Vampiros” feita pela Ju semana passada clicando AQUI.

Soltei um pequeno suspiro de alívio. Melhor os Moroi do que os Strigoi. Qualquer “problema” que os alquimistas enfrentavam sempre envolvia uma das raças de vampiro, e eu sempre preferia os vivos, que não matam. Às vezes, eles quase pareciam humanos (mas eu nunca diria isso a ninguém presente ali), e viviam e morriam como nós. Os Strigoi, no entanto, eram aberrações da natureza. Vampiros assassinos, que nunca morrem, criados ou quando um Strigoi forçava uma vítima a beber seu sangue ou quando um Moroi tirava a vida de outro de propósito, ao beber seu sangue. Problemas com os Strigoi costumavam terminar com alguém morto.

Antes de tudo, preciso assinalar que “Bloodlines” é como “Os Artifícios das trevas”: Você pode ler sem ter lido qualquer outro livro da série anterior que você será apresentado ao universo com detalhes e entenderá tudo perfeitamente, sem ficar perdido, mas você saberá o final dos personagens principais da primeira série, já como os eventos aqui se passam após a conclusão de “O Último Sacrifício”, o livro que encerra a série de 6 livros que é“Academia de Vampiros”. Mas, se você decidir começar por aqui, não fará qualquer diferença e você entendera todos os motivos que levaram os personagens a se juntarem na missão que eles entrarão. Entendo que a ideia de começar uma série de 6 livros parece demorada e algo que requer muito compromisso, mas eu te prometo (prometo mesmo!), que você não vai se arrepender: a trama, os personagens, o romance, os perigos, o preconceito, a mudança que o universo pode sofrer… tudo isso faz dessa série algo que todas as pessoas deveriam ler.

Mas vamos voltar a história porque já situei demais a série de livros: a trama de “Laços de Sangue” começa com diversos personagens secundários de “Academia de Vampiros” (que nem ao menos chegaram a se conhecer!), tendo de se reunir para proteger Jill, uma moroi da atual família real. Sdyney Sage é uma dessas personagens: ela é uma alquimista que apareceu na série original para ajudar a mocinha Rose Hathaway e ficou com seu destino em aberto: e é por isso que ela está aqui, tendo de se afastar de sua família e de sua sociedade alquimista para se juntar a dampiros e morois. Os alquimistas, no universo criado, são humanos comuns que estudam para “limpar” tudo que acontece quando strogois, morois e dampiros se enfrentam e deixam a mostra que eles existem. Pensem nos alquimistas como “o pessoal da limpeza”: mas eles são, de longe, os mais preconceituosos. Vivendo segregados dos vampiros por acreditarem que são serem anormais e que magia é algo não-natural, acreditam que são melhores do que os humanos por terem um conhecimento maior sobre o oculto. Sydney é a típica filha de um alquimista renomado, vinda de uma família com alguns problemas e muito, muito certinha, o tipo pessoa que quer ter uma vida dentro das regras, mas que foi levada a tomar determinadas atitudes e se juntar a Rose na série passada, tudo devidamente explicado agora em sua própria série – e prometo, você entende absolutamente tudo sim.

Não, você vai ouvir. De uma vez por todas, você vai ouvir alguma coisa que não se encaixa no seu mundinho organizado e compartimentalizado, feito de ordem, lógica e razão. Porque isso não é racional. Se você está com medo, acredite em mim: isso também me deixa apavorado. Você perguntou sobre ela? Eu tentei ser uma pessoa melhor por causa dela, mas era para deixá-la impressionada, para fazer com que ela me desejasse. Mas quando eu estou com você, eu quero ser uma pessoa melhor porque… bem, porque parece certo. Porque eu quero. Você me faz querer ser uma pessoa melhor. Eu quero me superar. Você me inspira em todas as ações, todas as palavras, todos os olhares. Eu olho para você e você parece… luz transformada em carne e osso. Eu disse isto a você no Dia das Bruxas e estava falando sério: você é a criatura mais linda que já caminhou sobre a terra. E você nem sabe. Você nem tem ideia da própria beleza ou do brilho da sua luz.

Junto com Sydney e Jill, Adrian Ivashkov, um personagem que entrou somente no 2º livro da primeira série, se junta nessa pequena missão por gostar bastante de Jill e alguns outros motivos que também são explicados no livro. Adrian é o típico vampiro Moroi da realeza que tem o espírito em si: inconsequente, charmoso, cheio de si, rico e quebrado, muito quebrado. Quebrado pelo espírito e por tudo que aconteceu com ele ainda na série anterior, Adrian acredita que pode pelo menos ajudar na segurança de Jill enquanto se perde entre um drink e outro, tudo embalado em carteiras de cigarros. Para completar o pequeno grupo, temos Eddie Castile, um dampiro que está aqui para a parte da proteção física de Jill, também resgatando contas. Todos eles vão se passar por irmãos em um colégio na Califórnia – nem todos porque Adrian já não passa por estudante de colegial. Se lembra que os Morois não aguentam muito sol? Por isso eles vão pra Califórnia, já como é um estado com bastante sol: se imagina que um vampiro não vai tentar se esconder por lá.

Pronto. É esse o ponto de partida de uma série que vai falar muito, mas muito mesmo, sobre preconceito. Acredito que esse é um dos maiores atrativos da série: fazer diversos paralelos sobre como você pode ser criado para ter medo e odiar outra raça, mas a medida que você vai convivendo com os outros, você vai entendendo que, no final, o que determina se alguém é bom ou ruim são suas escolhas. Quando tudo começa, o pequeno grupo é completamente disfuncional e não há qualquer simbiose entre eles: cada um sofrendo com as consequências de suas escolhas que levaram ao desfecho dos acontecimentos na série original, Sydney é a mais afetada por estar perto “daquelas criaturas” tão diferentes dela e com poderes que ela nem ao menos quer entender. Ela é o ponto de vista inicial da série, e nós podemos entender o que se passa pela cabeça dela. Sydney não tem a força de uma dampira, mas tem uma inteligência absolutamente encantadora: enquanto a primeira protagonista batia e depois falava, Sydney pensa e depois age, mostrando que o girl power nem sempre está nos punhos. Poderia fazer um TCC sobre a complexidade e desenvolvimento de Sydney Sage, mas vou evitar falar demais porque essa é uma resenha livres de spoilers, então somente afirmo, com todo amor no coração: vocês precisam conhecer essa personagem que mostra que somos capazes de evoluir, aprender sobre os outros e compreender que a vida é mais do que somente branco e preto, com muitos tons de cinza no meio.

— Você pode achar o que quiser, fazer o que quiser — Continuou, sem desconfiar dos pensamentos que me traíam. Havia uma calma extraordinária em sua voz. — Simplesmente continuarei amando você, mesmo sendo um caso perdido.

Ainda sobre a trama central do livro, muito do que aconteceu em “Academia de Vampiros” acaba ressoando aqui, até porque Sydney, com toda sua inteligência, envereda por um caminho que pode ser capaz de acabar de vez com os strigoi, tudo misturado com a construção de relacionamentos inesperados e, posso afirmar, um dos melhores romances que você poderá ler, serpenteado por grandes vilões. “Bloodlines” é uma série aonde a trama é tão importante quanto o romance, e isso não atrapalha em nada porque a trama principal foi construída assim: o perigo de se apaixonar pela “pessoa errada” contrabalanceando com suas obrigações, faz Sydney ir por caminhos que, enquanto lemos, sabemos que a levará a perdição. E leva. E leva parte de nosso coração junto, acredite.

No primeiro livro, “Laços de Sangue”, há a introdução de todas tramas, algo envolvendo Adrian e Jill que aconteceu fora dos livros e que entendemos bem o quão envolvido com a trama ele está. Vemos o preconceito de Syd de estar ali, junto com Eddie, que é um dos melhores amigos de Rose, levando muito a sério sua missão, e é um um dos melhores livros de introdução a uma série que eu já li: é leve, mas, ao mesmo tempo, é repleto de consequências, mostrando as motivações dos personagens e, principalmente, aonde podemos chegar nessa série. O segundo livro, “O Lírio Dourado”, é quando o romance principal começa a se desenrolar – sim, nada é apressado nessa série e tudo é muito bem construído. As ameaças se tornam maiores, e no terceiro livro, “O Feitiço Azul”, essas ameaças se tornam concretas, se aproximando dos moroi que possuem o espírito, o que faz a pesquisa de Sydney, sempre tão focada, se tornar mais próxima da magia do que ela gostaria. Mas nada, absolutamente nada, te prepara para os livros 4 e 5: “Coração Ardente” introduz dois pontos de vistas que continuam até o final da série, fazendo o leitor enxergar tudo pelos olhos de Sydney e Adrian enquanto você vai se apaixonando mais ainda pelos personagens, levando a um final que arranca seu coração do peito. “Sombras Prateadas” continua a agonia e termina com um caminho promissor para o sexto e último livro, “O Circulo Rubi”, que termina com a participação de diversos personagens da série original. E ah, todos os nomes dos livros tem uma ligação direta a sua trama.

Você está se subestimando. É tão forte quanto eu. Se não fosse, eu não estaria com você. Somos iguais, aconteça o que acontecer.

Justamente por ser uma série com 6 livros, o romance central é construído com o tempo necessário para você entender que uma das partes, tão magoada e destruída, foi se recuperando lentamente justamente por estar se apaixonando, e se tornando uma pessoa melhor enquanto isso. O amor que vai surgindo entre os dois personagens (note que eu não estou falando quem, mas me dói fisicamente porque eu amo esses dois e eles estão no meu top 3 de casais da vida) vai dando forças para eles passarem por tudo que está acontecendo ao redor deles, se apoiando e desenvolvendo um relacionamento que vai contra regras que eles terão de enfrentar, tudo enquanto ao redor de ambos, mortes e tramas com magias vão acontecendo. A desconstrução do mundo da realeza já começou com o livro final de “Academia de Vampiros”, mas ainda há muito que os personagens precisam fazer para trazerem novidades no universo geral deles. E aqui tem uma vantagem de ser uma série já encerrada: você não precisa esperar nada para ler as continuações, basta terminar um livro e já emendar com o próximo volume.

Mas… infelizmente, sim, tem um grande “mas” aqui. O final da série se torna bastante frustrante porque a autora, Richelle Mead, deixou de lado coisas que os personagens estavam lutando nos livros para trazer de volta a tona um grande porém dos livros originais: dampiros não podem ter filhos – ou será que existe uma “brecha” capaz de dar a um determinado casal um filho biológico? Confesso que isso me frustrou demais porque eu realmente não me importava com isso, mas entendo que para os fãs do casal Romitri (Rose Hathaway + Dimitri Belikov) teve um peso gigantesco. O final poderia ser muito melhor se fosse mais focado nos personagens de “Bloodlines” e acredito que um dia a autora ainda volte a esse universo (ela mesma já falou sobre a intenção de voltar, mas não sabe quando), já como toda pesquisa de Sydney foi colocava em “stand by” no final do livro e determinadas perguntas da série original são respondidas aqui, como, por exemplo, o pai de Dimitri (que não faz a menor diferença pra quem não leu a série original). Somente podemos esperar para saber o que acontecerá, mas, com toda certeza do mundo, independente da minha idade, eu lerei esses livros porque saber do meu casal favorito e como eles estão em um futuro próximo é algo que aquece meu coração.

— Quando você volta?
Centrum remanebit.
Balancei a cabeça e virei as costas.
— Não importa.

Apesar disso, “Bloodlines” é uma série que eu indico sem pensar duas vezes porque ela traz tudo que amamos: um amor impossível, sofrimento, lutas, girl power, vilões que amamos odiar, mais sofrimento (o volume 4 da série é um dos maiores sofrimentos que já passei lendo na vida inteira), volta de antigos personagens que muitos amam da série original e todo o pacote completo de uma grande série. Ainda comparando com outras séries derivadas, “Bloodlines” se torna melhor do que a série inicial, mais madura e mais desenvolvida, e essa é minha opinião pessoal. Não se intimide e comece a ler essa série que mostra que os vampiros nunca vão sair de moda, assim como bruxas e um grande amor, que sempre, sempre aguentará todas as provações.

Ah, ainda quero assinalar algo curioso: “Bloodlines” é uma das poucas séries que a capa nacional difere das capas originais e, confesso, prefiro a capa nacional, acho que elas focam mais no título do livro e ficaram melhores do que as capas com atores (que não postarei aqui porque se postar, ficará bem claro quem é o casal central – mesmo que muitos de vocês já desconfiem ou saibam quem sejam). A Edição da Seguinte tem aquela qualidade que todo mundo já conhece: Não encontrei, em nenhum dos 6 volumes, nenhum erro, além das páginas amareladas ajudarem e muito a leitura. Edições nada menos do que ótimas, que aquecem nossos corações com lombadas perfeitas e simétricas. Lindas <3

Os alquimistas prestavam muita atenção aos trâmites políticos dos Moroi. Saber o que os vampiros estavam fazendo era fundamental para mantê-los em segredo do resto da humanidade — e o resto da humanidade a salvo deles. Essa era a nossa razão de ser: proteger nossos semelhantes. Conheça bem seu inimigo era um ditado que nós levávamos muito a sério.

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