Resenha: Imagens estranhas – Uketsu
“Imagens estranhas”
Uketsu
Tradução: Maria Luísa Vanik
Arte de Capa: Ale Kalko e Amanda Miranda
Suma – 2025 – 184 páginas
As ilustrações feitas por uma gestante e publicadas por seu marido em um blog escondem um alerta temeroso. O desenho que uma criança faz da própria casa carrega uma mensagem sombria. O retrato feito por uma vítima de assassinato em seus momentos finais conduz um detetive amador em uma caçada eletrizante.
Com uma história estruturada por desenhos com aspecto infantil ― todos com sua própria pista perturbadora ―, Uketsu convida os leitores a montar o quebra-cabeça por trás de cada imagem e o grande arco que as conecta.
Best-seller internacional com mais de três milhões de exemplares vendidos no Japão e direitos de publicação adquiridos em mais de trinta territórios, Imagens estranhas é um livro inquietante, em que elementos triviais assumem um sentido macabro e desenhos ingênuos escondem realidades aterrorizantes.
Quando terminei de ler “Imagens Estranhas”, comecei com a Ju que eu sequer sabia como eu iria falar sobre este livro e ela me respondeu: “Diga que: estou traumatizada, leiam” e acho que vou seguir o conselho dela, abrindo esta resenha com essa frase bastante singela – mas calma ai que meu trauma não é nem remotamente ruim e sim surpresa com a genialidade deste livro e a forma como ele foi construído. Preciso antes só situar um pouco quem o autor desta obra é: Uketsu é um youtuber japonês que nunca revelou sua identidade porque grava sempre usando roupas pretas, que escondem todo seu corpo, e usa uma mascara branca em todos os vídeos. O canal é voltado para mistério e horror e é atualmente um dos maiores do mundo, e como Uketsu consegue o feito de se manter anônimo nos tempos atuais é realmente um mistério.
Sua transição para a literatura foi também um sucesso e seus livros estão tendo bastante repercussão no seu pais de origem e suas obras teve seus direitos vendidos para diversos países, entre eles o Brasil, onde o livro foi traduzido diretamente do japonês pela minha Editora favorita da vida, a Suma, que agora nos apresenta um livro que vai mexer com sua cabeça do melhor jeito possível. Com uma linguagem direta e trazendo a leitura pelo olhar de quem também está investigando e descobrindo a trama com as imagens que são apresentadas, o trunfo desse livro é fazer com que você se sinta parte de uma investigação e busca por entender uma trama que não parece se entrelaçar, fazendo com que você invista seu tempo para acompanhar – e tentar superar as descobertas que são apresentadas a medida que páginas vão sendo lidas.
Para tentar desvendar o enigma, Sasaki começou a ler os registros mais antigos. A primeira postagem era de 13 de outubro de 2008.
13/10/2008
Muito prazer!
Hoje decidi criar um blog. Vou começar me apresentando. Meu nome é Shin. Eu queria postar uma foto do meu rosto, mas como me disseram que é perigoso compartilhar informações pessoais na internet, vou colocar um retrato meu desenhado. Quem fez foi a minha esposa. Ela se chama Yuki e tem seis anos a mais que eu, às vezes sinto que ela cuida de mim meio que como uma irmã mais velha.
Quando contei que ia criar esta página, pedi que me desenhasse e em menos de cinco minutos estava pronto. Só podia ser uma ex-ilustradora mesmo. A Yuki é incrível!
Mas será que ela não me fez bonitão demais?
Enfim, pensei em registrar nosso cotidiano imprevisível em forma de diário. Pretendo publicar algo novo todo dia, então me acompanhem se puderem!
Shin
O livro abre com um prologo bastante incomum onde uma psiquiatra fala sobre uma paciente que teve muitos anos atrás, mas que a garota, chamada somente como A, se recuperou, teve um filho e vive feliz apesar de ter estado sob custodia policial por um determinado período de tempo. Depois disso, somos apresentados ao que parece 4 contos ou 4 fases da narrativa, intitulados como: “O desenho da mulher ao vento”, “O desenho do quarto encoberto de névoa”, “O desenho final do professor de artes” e “O desenho da árvore que protege o passarinho” e agora está aqui a minha explicação para o trauma que disse sentir: você não faz a menor ideia do que te espera quando começa a ler porque quando você lê sobre o desenho do quarto encoberto na névoa, parece que será somente este aquela parte da história – mas então você entende que não, que tudo está conectado, por mais que não faça sentido a principio.
“O desenho da mulher ao vento” apresenta de cara um desenho de uma mulher em pé, com o cabelo esvoaçante, uma imagem quase infantil, e passa em 2014. Logo somos presentado a Shūhei Sasaki, um universitário de 21 anos, que Kurihara, um amigo, lhe falara sobre: intitulado “Shin Okekonta: Diário da Mente”, o blog tinha entradas triviais contando a vida de Shin, falando sobre sua esposa Yuki era 6 anos mais velha, e de como ela engravidou. Ainda grávida, Yuki fez 5 desenhos que aparentemente só retratam a felicidade pela chegada e o desenvolver do bebe que estavam aguardando. Em um evento inesperado e depois de eventos devastadores, Shin decide deixar uma mensagem enigmática encerrando suas postagens no blog, deixando um mistério que foi sendo passado de leitor a leitor, inclusive aos dois jovens estudantes. O que vem a partir dai é uma pesquisa que leva o leitor a se sentir quase um detetive, já como a narrativa se desenvolve assim, e o mérito é todo do autor.
Passou a manhã toda focada em cuidar do resto da turma e se deu conta de que estava se esquecendo do problema. Não tinha recebido mais nenhum telefonema de Naomi. Ela ainda não devia tê-lo encontrado. Lembrou-se de súbito do desenho do dia anterior.
Passou um bom tempo examinando a folha que tirou da pasta de Yūta. O apartamento que havia sido manchado de cinza. O desenho e o desaparecimento — será que havia alguma relação entre as duas coisas?
Qual seria a explicação psicológica daquele borrão encobrindo o lugar onde ele morava?
“O desenho do quarto encoberto de névoa” começa apresentando o pequeno Yūta Konno e sua mãe Naomi, vivendo sozinhos em Tóquio depois que o pai do garotinho, Takeshi morrera. Mesmo pequeno, Yūta entende que seu pai se foi, mas apresenta um comportamento estranho na escola, desenhando o prédio no qual mora com sua mãe com uma mancha escura sobre o apartamento deles. Claro que a professora faz o esperado e conversa com a mãe do garotinho quando ela veio buscá-lo na escola naquele dia, mas a cabeça de Naomi está em outro lugar porque ela tem certeza absoluta que ela está sendo seguida por uma pessoa em um carro há dias, a levando ao limite. Só que tudo piora quando, no dia seguinte, ao acordar, Naomi vê que seu filho sumiu. Procurando as câmeras do prédio, vê que o garotinho aparentemente fugiu sozinho e é aqui que a coisa começa a ficar completamente sinistra porque Naomi não chama a policia, como esperado: ela começa a investigar onde o filho teria ido e se teria qualquer ligação com o desenho feito na escola. E é só o que posso falar sobre porque quando esta parte do livro termina, o leitor começa a juntar os pontos e sua cabeça explode.
Já ciente dos acontecimentos das outras duas histórias anteriores, quando “O desenho final do professor de artes” começa, você já quer respostas concretas, mas, novamente, você é jogado em mais uma parte da narrativa na qual terá de ser o investigador junto com o pretendente a repórter Shunsuke Iwata e o veterano jornalista Isamu Kumai. O que os dois não imagem é que tem em comum o assassinato do professor de artes Yoshiharu Miura que aconteceu 3 anos antes. Iwata foi aluno de Miura e encontrou na bondade e ajuda do professor uma força para continuar depois de perder os pais, enquanto Kumai, já sendo um repórter de nome, começou investigando o caso que era simplesmente bizarro: Miura subiu no Monte K para desenhar a vista e só foi encontrado na manhã seguinte, já sem vida e tendo sido submetido a uma barbárie sem fim, com mais de 200 pontos de ferimento pelo corpo e somente uma nota fiscal com um desenho feito por ele no bolso. Miura subirá o monte com um amigo que não parecia realmente amar o amigo e que o deixou na metade do caminho, voltando sozinho. O professor ainda deixou uma esposa e um filho ainda criança, além de uma estudante apaixonada por ele, mas o que mais surpreendente era que Kumai descobriu que Miura não era tão amado como a principio parecia. O desenho encontrado com o corpo parece não se encaixar em nada com o resto do crime e com os 3 suspeitos (a esposa, o amigo e a aluna) que a policia acreditava ter – e a partir daqui, não há absolutamente nada que eu possa comentar que não seja um grande SPOILER.
Depois que assumiu o cargo de professor, Yoshiharu Miura quase não tinha tempo para si. Fora a correria das aulas que dava pela manhã durante a semana, ele se ocupava com o aconselhamento de carreira ou com a coordenação das atividades extracurriculares. Com isso resolvido, tinha ainda que se dedicar à parte burocrática do trabalho, o que seguia até tarde da noite.
Nos dias de folga, Miura lutava contra a sonolência e levava a família para passear, costumavam ir a parques para montar a barraca, acender o fogo e colocar carne para assar.
E não era só isso. Quando um amigo estava passando por algum momento difícil, ele não poupava tempo ou esforços para oferecer conselhos e auxílio — ajudava a encontrar emprego e até contribuía financeiramente, algumas vezes.
Alunos, familiares, amigos… A felicidade deles era o propósito de vida de Miura. Ele não desejava mais nada em troca. Apesar de tudo, até alguém como ele precisava reservar alguns poucos dias do ano para si.
Miura gostava de subir uma montanha perto de casa e registrar em desenhos a paisagem única que via lá de cima. Para ele, esse era o maior dos luxos.
E aquele havia sido justamente um desses dias.
No entanto, diante dele, um inferno se desvelava.
Era uma cena desesperadora, que ia contra tudo aquilo por que vivera até então.
Miura sacou a caneta do bolso.
Precisava desenhar.
Precisava desenhar o que estava vendo.
Por ele.
E quando você começa a ler “O desenho da árvore que protege o passarinho”, você já conseguiu juntar quase todas as peças deste quebra-cabeças literário tão bem construído, mas a forma como tudo é colocado, como você vê o ponto de vista de alguém bastante importante na trama, como tudo se liga desde o primeiro momento, tudo isso junto transforma a narrativa simplesmente impacavel, exemplar. Se você prestar atenção nesta resenha e ler a sinopse do livro, você verá que esta parte 4 é a que não é mencionada, e há um motivo para tal. Se você quer ler este livro, vá sem saber nada mais, exatamente como fiz, e tenha uma das melhores surpresas dos últimos anos.
Sei que já falei como o livro nos faz sentir que estamos dentro da narrativa descobrindo o que os personagens também estão, mas preciso enfatizar porque é realmente isso, fazendo o leitor quase um detetive em uma busca por um crime que sequer entendemos no começo, uma verdadeira brincadeira de true crime na qual o leitor pode se deparar com a verdade chocante que cercou muitas pessoas por anos. Fiquei tão impactada por esse livro, que definitivamente entre no meu top 3 de livros do ano, que pretendo ler tudo do autor e talvez até me aventurar por seu canal no youtube, então fica aqui a dica para você que nos acompanha e esta lendo esta resenha: se você, como eu, adora um suspense/mistério/true crime, se você sempre descobre a trama dos livros/filmes que assiste, pode se aventurar em “Imagens estranhas” que você não irá se arrepender e será surpreendido, e você também descobrirá que algumas imagens podem carregar muito, muito mais do que aparentam, mas outras esperadas – porque aposto que este livro se tornará um filme. Pode anotar.
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