“Porto estelar”
George R.R. Martin
Ilustradora: Raya Golden
Tradução: Jana Bianchi e Diogo Ramos
SumaHQ – 2024 – 272 páginas

Há dez anos, representantes de um coletivo interestelar formado por 314 espécies alienígenas aterrissaram na Terra, convidando a raça humana a se tornar o membro número 315. Agora, depois de atrasos infinitos, o Espaçoporto de Chicago foi enfim inaugurado, servindo de destino tanto para diplomatas e comerciantes quanto para turistas. Do lado de dentro dele, visitantes são governados pelo tratado intergaláctico. Do lado de fora, as ruas pertencem ao que Chicago tem de melhor.

Charlie Baker, recém-promovido ao esquadrão que cuida do distrito do Espaçoporto, mal vê a hora de pôr em prática seu entusiasmo por tudo que é extraterreste; ele não esperava, porém, que logo na estreia chegaria à delegacia na parte de trás de um camburão. A tenente Bobbi Kelleher é viciada em trabalho, o que com frequência a deixa em conflito com Lyhanne Nhar-Lys, campeão da segurança do Espaçoporto e um dos guerreiros mais temidos da galáxia. Infiltrado numa gangue de extremistas antialienígenas, o investigador Aaron Stein não tem o menor problema em misturar negócios com prazer ― até que esbarra em evidências de um plano envolvendo uma provisão de armas roubadas para assassinar um enviado comercial. Agora, a polícia de Chicago precisa deter esses loucos antes que eles deixem o universo inteiro fora de controle.

Não preciso explicar para vocês quem é o autor dessa Graphic Novel, certo? George R. R. Martin chegou em um ponto de literatura que já deixou sem nome cravado como um dos maiores na atualidade da fantasia e ficção científica, também conhecida pela sigla scifi (science fiction) e que tem livros e filmes bastante conhecidos por todo mundo, como “Blade Runner, o caçador de androides”, que se baseia no livro “Androides sonham com ovelhas elétricas”, as franquias de filmes “Alien” e “O Exterminador do futuro”, e, mais recentemente, o livro “Devoradores de Estrelas”, que está ganhando um filme com Ryan Gosling. Atualmente mais ninchado, mas no final do seculo passado e inicio deste, o gênero estava muito, muito em alta, e existem pessoas, como eu, que se lembram do antigo seriado “Battlestar Gallactica”, que era um GRANDE sucesso e que fez milhares de fãs ao redor do mundo – na verdade, ainda faz e ainda há convenções do seriado.

Essa introdução foi necessária para explicar para vocês que foi neste cenário dos anos 90, de alta com um seriado de scifi, que George R. R. Martin escreveu o roteiro de um episodio piloto para oferecer para emissoras de TV (sim, na época ainda reinavam as emissoras e não streamings) com a esperança de que fosse comprado e transformado em um episódio para que se transformasse em uma série. Levando-se em conta que os direitos reverteram para o autor, a emissora que o comprou nunca o produziu (ou nunca foi vendido), fato que não importa, porque o que importa é que esta belíssima ideia se transformou em uma graphic novel pelas mãos de Raya Golden, uma das finalistas do premio Hugo. E ainda bem que foi, para os deleite de quem é cria dessa época ou simplesmente gosta deste gênero, então preciso deixar claro, muito claro: se você não curte a mais pura ficção cientifica, com formas de vidas diversas, nomes que soam estranhos e a certeza de que humanos são ferrados (em todos sentidos), esta graphic novel não é pra você. Mas, se você gostar, leia com atenção que estou prestes a te falar sobre uma história divertissima, com romance, traições, aliens que parecem baratas (sim) e ação, tudo bem do jeitinho que gostamos.

Indo bem do começo do tempo que começa a trama, há 10 anos, 3 naves extraterrestres chegaram simultaneamente ao planeta Terra e procuraram chamar bastante atenção, chegando em estádios ao redor do mundo que estavam tendo algum tipo de jogo. As 3 cidades contempladas foram Singapura, Dinamarca e a terceira em Chicago. Os extraterrestres faziam parte do chamado Harmonia dos Mundos, um tipo de federação que unia 314 espécies intergaláticas que trocavam tecnologias e experiências, fazendo do universo um lugar de interação pacifica entre estes povos. O motivo da vinda deles ate nosso planeta foi nos convidar para nos juntamos da Harmonia dos Mundos e sermos o 315º mundo participante. Não precisa pensar muito para saber que mesmo com as vantagens que participar de algo com povos muito mais avançados tecnologicamente do que nós, haveria parte de humanos que tem preconceito contra os outros povos, e o surgimento do Terra Pura, um grupo extremista contra a presença de aliens é criado.

No meio também houve bastante politicagem para fazer com que a Terra ingressasse na Harmonia dos mundo, e a criação de 3 portos espaciais livres foram construídos, inaugurados em tempos diferentes, mas quando a trama da graphic novel começa, temos o porto de Chicago em pleno vapor funcionando. Como é de esperar, o que acontece dentro do Porto é de jurisdição e proteção do próprio Porto, mas fora de lá, todos aliens estão subordinados a legislação humana da cidade. Aguardando a chegada de um representante comercial de um povo que nos deu a tecnologia capaz de criar celulas (pequenas baterias) capazes de alimentar um carro por 3 anos, a cidade está na tensão aguardando que tudo corra bem – e claro que não vai acontecer porque temos a trama pra acontecer.

É este cenário que somos apresentados a 3 policiais que são o fio condutor da trama: A tenente Bobbi Kelleher, mulher muito bonita que leva seu trabalho muito à sério até que se vê em um relacionamento que não seria visto com bons olhos e por isso o mantêm em segredo; o novato Charlie Baker, um idealista estudioso da vida alien, que acredita em podemos viver em paz e que se mete em uma grande confusão no seu primeiro dia em sua nova colocação no distrito que cuida do espaço ao redor do Espaçoporto e, por fim, o detetive Aaron Stein, que é a epitome dos personagens masculinos dos anos 90: bonito, ganharão, com humor duvidoso e bastante convencido, estava infiltrado entre os Terra Pura e é através deles que descobrem que estão roubando armas mortais a laser de cargas do Porto Especial. Não é difícil compreender que um atentado ao enviado comercial está sendo planejado e uma corrida contra o tempo para tentarem descobrir o que está acontecendo, e, principalmente, quem está tramando algo tão grande que pode colocar em risco a segurança intergalática. O contexto é bastante simples para acostumado a histórias scifi, e a construção de mundo e apresentação das outras especies é bastante exemplar, tudo com bastante informações (e dificuldade de aprender os nomes também!) e diretamente, fácil de chegar ao leitor. A trama é redonda e completa, então também fica a dica para quem procura uma porta de entrada para este gênero e sempre achou dificuldade.

Vou aproveitar para falar pra vocês da SumaHQ, o selo da minha Editora favorita da vida, a Suma, dedicado a publicação de HQs. Com este, já foram publicado 4 títulos (a série “Lore Olympus” – leia nossa resenha dos 4 volumes já publicados clicando AQUI; “M de Monstra” – leia nossa resenha do volume único clicando AQUI e “Está tudo bem” – leia nossa resenha do 1º volumeclicando AQUI) e todos com qualidade absurda. Os traços de Raya Golden e a forma como ela transcreveu este universo, tirando do papel para outro papel em outro formato merece ser enaltecido, as cenas de luta bastante diagramadas e, claro, tudo isso com a qualidade. Sua chance de ler algo scifi com tanta qualidade não pode ser perdido, então agora é só aproveitar essas 270 páginas repletas de ação e intriga, bem no estilo que sabemos que George é capaz de escrever.

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