18.08


“M de Monstra”
Talia Dutton
Tradução: Helen Pandolfi
SumaHQ – 2023 – 160 páginas

Depois de perder a irmã mais nova, Maura, em um trágico acidente de laboratório, a dra. Frances Ai promete trazê-la de volta à vida. Entretanto, quem reaparece nessa tentativa claramente não é Maura. A criatura, que decide se chamar M, não tem recordações da vida de Maura e só quer seguir seu próprio caminho.

Na esperança de retomar a rotina que tinham juntas, Frances quer que M seja como a irmã: uma cientista dedicada com quem dividia seus planos no laboratório. Buscando recuperar suas memórias, Frances cerca M de lembranças do passado de Maura ― porém, por mais que a doutora insista, M reluta em assumir uma identidade que não é a sua.

Sempre que tenho chance de ler uma história sobre Luto e saúde mental, eu simplesmente me jogo nela. Dois temas que me são extremamente caros, eu sabia que queria ler “M de Monstra” desde o anúncio da SumaHQ. Não é surpresa para ninguém que a Suma é minha Editora favorita e eu confio em toda e qualquer história publicada por eles, então era certo que iria ler essa graphic novel. Como quem acompanha também sabe, eu falo (e escrevo) demais, mas, por ser uma Graphic Novel, essa resenha será mais curta do que as minhas – não por falta de falar sobre a história, pode acreditar.

Com inspiração em “Frankenstein”, aqui temos a história de Francis Ai, uma brilhante cientista que acaba de perder sua irmã mais nova, Maura, em um acidente no laboratório de ambas, que fica dentro da casa delas. Criadas amando a ciência e de natureza extremamente inquisitiva, as irmãs Ai amavam suas experiências e a vida pacata que levavam, tudo mostrado em flashbacks.

Quando a narrativa começa, é através de Maura – ou melhor, de M. Acordando depois de sua morte, a pessoa naquele corpo não tem qualquer lembrança da vida de Maura ou de quem era, por mais que Francis a pressione. Desesperada, M então se depara com Maura em um espelho: como se fosse um fantasma, Maura vê seu corpo costurado habitado por outra pessoa.

O luto de Francis, que parecia ter sido interrompido pelo retorno de Maura, começa a aflorar cada vez mais com as dúvidas sobre a falta de lembrancas da jovem, que começa a demonstrar interesses em coisas que nunca sequer cogitou antes, como, por exemplo, a costura. Pragmática, a única certeza que Francis tem é que se aquela pessoa não for Maura, a desmontará para montar novamente, ate conseguir o resultado esperado: ter sua irmã novamente, exatamente como ela era. Gin, o marido de Francis, fica surpreso, mas está apoiando a esposa em todas as suas escolhas, mas não se furtará de dar sua opinião se achar que a esposa está passando dos limites.

O leitor pode começar a se questionar quem M seria, já como ela vê Maura, mas, talvez, fosse só a consciência dela lhe alertando e não real um fantasma. Assustada por ouvir a conversa de Francis e Gin, M decide embarcar fingir ser Maura, contando com a ajuda desta para lhe repassar todas memórias, gostos conhecimento científico, mesmo enquanto coloca no fundo de sua mente a sua vontade de descobrir quem realmente é e quais seus gostos.

Gostar de M e Maura vem com facilidade: enquanto M lida com o medo de ser despedaçada e remontada, Maura tenta ajudar sua irmã a viver, mesmo estando morta. Já Francis, carregada pelo luto, saudade e culpa, começa a se tornar mais e mais dura em suas atitudes. E é aqui que entra a dor da falta de estar com alguém que você ama.

Falar sobre Luto é algo muito pessoal proque cada pessoa lida como consegue e pode, mas a saudade visceral, que corrói nossas entranhas, é algo universal para todos que perderam alguém que amava, e o leitor consegue ver isso através das ações que parecem duras demais de Francis. M começa a entender que não é Maura e nunca será, enquanto a própria Maura começa a aceitar sua morte, o que, obviamente, começa a levar ao rumo final da história, e é aqui que paro de falar sobre para não entregar nada mais.

Em uma história delicada e forte sobre aceitação e luto, “M de Monstra” se tornou a minha Graphic Novel da vida (roubou o lugar de “Lore Olympus”, série ainda em publicação também pela SumaHQ) pela forma sutil como toca em assuntos que podem ser tão pesados. Descobrir quem você é depois de perder alguém ainda é um grande mistério, como também aceitar a mortalidade da vida, seja das pessoas que amamos, seja a nossa própria, e nisto não há nada de fácil – ou monstruoso.

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