“Está Tudo Bem”
Mike Birchall
Tradução: Érico Assis
SumaHQ – 2023 – 272 páginas
Inspirada em 1984, de George Orwell, e indicada ao prêmio Harvey, Está Tudo Bem é a série mais popular do Webtoon na categoria horror. Com ilustração em tons suaves e aparente ternura nos traços dos personagens, Mike Birchall cria um mundo distópico aterrorizante e desesperador, onde a ordem se mantém a um custo muito alto.
Sam e Maggie são um casal perfeitamente normal, que mora em um bairro perfeitamente normal, com um cachorro, chamado Winston, perfeitamente normal. Todas as casas da vizinhança são iguais. As pessoas são parecidas e falam de maneira similar. Olhando de fora, está tudo bem. Mas… será que está mesmo?
Já faz algum tempo que o adorável Winston está morto. Sam e Maggie começam a ter dificuldades para manter a imagem da vida suburbana perfeita. O mistério continua e, apesar de estarem tão “bem” quanto possível, eles são vigiados por câmeras e passam a questionar as próprias decisões. Reprimindo sentimentos, ocultando lembranças e vivendo estranhamente desconectados, os dois estão a apenas um equívoco de algo muito mais sinistro.
Em uma sociedade controladora que pune rigorosamente os que questionam e se rebelam, o que acontece quando, na realidade, não está tudo bem?
O volume 1 de Está Tudo Bem reúne os episódios 1 a 16 do Webtoon Everything is Fine e inclui conteúdo extra inédito.
Estou obcecada e nem estou brincando. Fantasia Urbana e Distopia são absolutamente meus gêneros literários favoritos (não que não goste de todos outros gêneros. Vocês sabe como é, bookstan) e ler algo como esta HQ aqui fez a minha felicidade de um jeito que nem posso explicar. Então sim, esta é uma resenha do jeitinho que mais adoro escrever: só amor por uma história, pela edição, pela ideia e, principalmente, grata pelo tempo que passei lendo – e que foi rápido demais, confesso, porque simplesmente porque não larguei desde o momento que abri. Só quando a terminei. Mas vocês entenderam.
Temos aqui uma graphic novel do autor Mike Birchall que começou como um webtoon. Com leve inspiração no clássico “1984”, temos aqui um casal comum, que vive uma vida comum, em um bairro comum, com vizinhos comuns e em um regime absolutamente comum – ou é a ideia que querem nos passar no começo da trama, já como estamos em uma distopia. Para o que não estão cientes ou não lembram, distopia é um “lugar ou estado imaginário em que se vive em condições de extrema opressão, desespero ou privação” (Wikipedia), ou seja, um regime totalitário está comandando a vida do casal Maggie e Sam. De cara percebemos algo bem estranho, já como Sam está animado para mais um dia e Maggie parece, de alguma forma, bastante abalada por algo que Sam deseja que ela esqueça e deixa isso claro para sua esposa.
Tentando esquecer aquele fato que mantém escondido do leitor, Maggie encontra seu vizinho Charlie ao ir ao mercado e, logo depois, é convidada para jantar com o marido na casa dos também vizinhos Bob e Linda, assim como Charlie. Cada pequeno ato da HQ vai deixando claro que há algo acontecendo e a tensão entre os personagens é quase palpável.
O jantar entre os 5 personagens é estranho, o humor que todos apresentam é deslocado e o leitor já tem certeza absoluta que de todos ali estão vivendo na mais simples e direta opressão de todas. Em determinado momento, Charlie convida Maggie para ir até sua casa no dia seguinte, e o leitor se dá conta de que realmente todos estão sendo observados. Maggie demonstra estar tendo dificuldades de esquecer o que Sam quer que ela esqueça e por mais que o leitor vá juntando pequenos pedaços de pistas aqui e ali, todas as repostas são, definitivamente, desconsertantes.
E me permita ser bastante clara aqui: não há nada, absolutamente nada, nesta história que não seja desconsertante. Logo no começo, temos o aviso de esta história contem temas adultos, representações de comportamento suicida e de violência explicita, por isso o leitor já espera que cenas desconfortáveis e de violência aconteçam, mas não achei nada exacerbado para o tema que claramente está sendo proposto nestas páginas.
Existe tanto que desejo falar e conversar sobre, mas obviamente não posso porque seria spoiler e não os darei aqui, mas quero muito conversar com pessoas que leram esta trama e se começam a questionar pequenas coisas a medida que iam lendo as páginas e observando as artes. Um olho vermelho aqui, mãos humanas aqui que obviamente são das pessoas que usam as máscaras o tempo inteiro, moscas que entregam que algo está apodrecendo – e tudo é muito bem colocados, mostrando o que devemos esperar de uma narrativa que vai crescendo cada vez mais até explodir em um final que foi apoteótico, comigo gritando de felicidade pelas decisões que Maggie toma, deixando uma profunda vontade de ler os próximos volumes. Saiba, dona Suma, que se você demorar para publicar os outros volumes, terá de arcar com minha terapia.
Claro que vou falar pra vocês da edição da SumaHQ, o selo da minha Editora favorita da vida, a Suma, dedicado a publicação de HQs. Até aqui, foram 3 títulos e os 3 são HINOS, assim mesmo, em caps: a série “Lore Olympus” (leia nossa resenha dos 3 volumes já publicados clicando AQUI), “M de Monstra” (leia nossa resenha do volume único clicando AQUI)) e “Está tudo bem”. Eu sou fã das outras duas, mas confesso que essa aqui realmente ganhou todo meu coração: com páginas não foscas e cores certas em lugares certos, com traços que te fazem questionar o que está acontecendo e uma história permeada por insegurança, medo e paranoia, “Está Tudo bem” é o tipo de graphic novel que pode e deve ser considerada essencial para qualquer leitor. Venha conhecer a história de Maggie e compreender que por mais que ela afirme que está tudo bem, não tem nada bem – e descobrir os segredos desse casal nada normal, que vive uma vida nada comum, em um bairro nada comum, com vizinhos nada comuns e em um regime absolutamente nada comum.
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