Sinopse: Séculos depois da destruição da civilização industrial em um apocalipse ecológico, a humanidade vive em cidades-bolha cercadas pela natureza selvagem. Lá, Tally Youngblood é feia. Não, isso não significa que ela é alguma aberração da natureza. Não. Ela simplesmente ainda não completou 16 anos.
Em Vila Feia, os adolescentes ficam presos em alojamentos até o aniversário de 16 anos, quando recebem um grande presente do governo: uma operação plástica como nunca vista antes na história da humanidade. Suas feições são corrigidas à perfeição, a pele é trocada por outra, sem imperfeições ou espinhas, seus ossos são substituídos por uma liga artificial, mais leve e resistente, os olhos se tornam grandes e os lábios, cheios e volumosos. Em suma, aos 16 anos todos ficam perfeitos.
Tally mal pode esperar pelo seu aniversário. Depois da operação, vai finalmente deixar Vila Feia e se mudar para Nova Perfeição, onde os perfeitos vivem, bebem, pulam de paraquedas, voam a bordo de suas pranchas magnéticas, e se divertem. Uma noite, ela conhece Shay, uma feia que não está nem um pouco ansiosa para completar 16 anos. Pelo contrário: Shay pretende fugir dos limites da cidade e se juntar à Fumaça, um grupo de foras-da-lei que sobrevive retirando seu sustento da natureza.
Para Tally, isso é uma maluquice. Mas, quando sua amiga desaparece, os Especiais, autoridade máxima deste novo mundo, propõem um acordo com Tally: unir-se a eles contra os enfumaçados ou ficar feia para sempre. Tally, porém, acaba se envolvendo em uma conspiração e descobrirá que, por trás de tanta perfeição, se esconde um terrível segredo. Sua escolha irá mudar o mundo para sempre.
Virna: O ano era 2005 e “Crepúsculo” estava começando sua jornada com a fantasia juvenil e a moda de distopias para jovens nem havia começado – “Jogos Vorazes” foi lançado em 2008 e “Divergente” em 2011. Scott Westerfeld pode e deve ser considerado um dos pioneiros no gênero quando, naquele ano, publicou “Feios“, o primeiro de uma trilogia (que depois se tornou série com 4 livros) que trazia o poder da beleza e a vontade de se encaixar no centro. Se hoje em dia a trama parece atual (e é), contextualize e a coloque em seu ano de publicação para entender que o livro, se lido atualmente, poderá parecer engessado, mas, à época, foi inovador e interessante.
Com uma protagonista que não queria salvar o mundo no centro, – ao contrário de Katniss, que se voluntariou para ir para os Jogos no lugar da irmã, ou de Clary, que nasceu com sangue de anjo a mais – Tally Youngblood só queria fazer sua cirurgia ao completar 16 anos ofertada pelo governo totalitário sob o qual viva e se tornar linda, se encaixar na sociedade e enfim ser vista como igual. Mas tudo muda com a escolha do Dr. Cable, o médico responsável pelas cirurgias, de a infiltrar em uma rebelião que ela já tinha recusado a fazer parte. Levada por seu amor por seu melhor amigo Peris e sua amiga Shay, Tally vai simplesmente embarcando naquela aventura até que se encontra no lugar de heroína que mudará a vida de todos, se descobrira mais forte do que imagina, salvará seus amigos e se apaixonara. Por grande parte do primeiro livro, tive raiva de Tally com sua determinação de querer ser comum, até que entendi que naquele lugar, provavelmente escolheria o mesmo. E, de novo, lembrem-se: o ano era 2005, mas a crítica a estética que nos impõe estava lá, presente e muito, muito forte.
A trama do livro pode não trazer nada absolutamente inovador, mas fazia a reflexão sobre o alto valor da beleza, aceitação sobre quem você realmente é com suas imperfeições e o lugar da pessoa no mundo, tudo manipulado por um governo que tira o livre árbitro de sua população durante a cirurgia que seria somente para trazer beleza. E aqui estamos porque este livro de 19 anos (!) ganhou sua adaptação. Se o roteiro fosse realmente bem escrito com uma adaptação dessa trama para os nossos tempos em que a beleza impera em redes sociais de imagens, seria uma ótima sacada, mas o trabalho dos roteiristas Jacob Forman, Vanessa Taylor e Whit Anderson se limitar a tentar demonstrar que sermos todos iguais não é bom com frases clichês, escolhas pobres e mudança radical de personalidades – o que pode ter acontecido na edição com cortes de cena e não ser culpa deles.
“- Meu nome é Tally Youngblood. E quero ser perfeita.”
A trama do livro cabia muito em 2005 e se você, que me lê, a colocar nos nossos tempos, ainda verá que faz diferença, mas por que e como a Netflix resolveu dar sinal verde para esta adaptação em pleno 2024 é algo que não consigo entender. A trama parece fora do lugar, a direção é péssima, os efeitos são sofríveis e ainda há mudanças na trama em nome da tentativa de atualizar a trama que terminam sendo só mudanças idiotas, principalmente na personalidade de Tally.
Dizer que eu odiei “Feios” seria mentira porque ri em diversas cenas. Ri de constrangimento, ri dos efeitos (não vou cansar de falar do quão ruins eles são), ri das piadas que eu e Julia fizemos enquanto assistíamos e ri da possibilidade de ter sido uma dívida de jogo que fez algum executivo da Netflix liberar o orçamento desse filme porque não faz o menor sentido estes filmes existir. Se é uma tentativa da Netflix de ter uma saga adolescente em formato de filmes para chamar de sua, preciso assinalar que a gigante do streaming falhou miseravelmente. Se você quer saber sobre a trama realmente, leia o livro – o tema de toda pessoa que ama os livros, não é mesmo?
Ju: Eu entrei completamente de intrometida nessa história. Eu não li os livros quando eles saíram e nem li agora antes de ver, entrei nessa de cabeça apenas como uma pessoa que não sabia nada além da sinopse (e porque eu gosto bastante do menino Chase também). Como a Virna falou ali em cima, realmente, a maior impressão que eu tive com tudo do filme é que eles estão apostando em fazer o “novo grande sucesso” entre os adolescentes, apesar dos efeitos toscos e cgi esquisito – que me levou até a comentar com a Vi que eu acho que aí que usaram o orçamento da finada Julie and the Phantoms (que não era quase nenhum, né).
A história em si tem um plot interessante mesmo, que eu imagino que seja muito melhor desenvolvido nos livros, porque aqui eu soube que tiveram mudanças que não fazem muito sentido (como Tally querendo ser uma heroína quando no livro ela só quer se encaixar na realidade que ela conhece), mas que absolutamente toda adaptação tem. E que a gente sabe que não funciona. Não funciona mesmo, porque se você tem algo que faz sucesso já da forma que é, você não muda a história a seu bel prazer.
“Tally se perguntou o que teria surgido antes: a operação ou a lesão? A transformação em perfeito seria apenas uma isca para que todos se submetessem à operação? Ou as lesões seriam meramente um toque final? Talvez a motivação lógica de todo mundo parecer igual fosse todo mundo pensar igual.”
Dito isso, eu realmente acho que foi uma dívida de jogo ou, como a Vi falou enquanto a gente assistia, que Chase assinou o contrato pra OBX e não leu nas entrelinhas que estava vendendo a alma pra Netflix e tendo que parar em um filme assim que transformou ele no boneco Ken. Sabe aquele efeito “topaz” do photoshop ou o aplicativo remini? É bem assim que ele está.
E tem a Joey que acho que em algum momento foi condenada a interpretar apenas adolescentes pelo resto da vida que em um momento me arrancou uma gostosa risada quando ela gritou e eu pensei que ela ia mandar um “PELO DIREITO DE SER FEIA! – ela não fez isso tá, pelo menos o filme não foi tão longe assim. Eu acho que o filme não foi de todo ruim e nem odiei ele – só acho que ele poderia ter sido muito melhor do que acabou acontecendo. E agora fica o questionamento: eles vão fazer a continuação?
Virna: Como Julia falou, aqui temos um filme Sobre o direito de ser feio, e não me entenda errado, sou a favor, já como faço parte desse grupo, e digo mais: se o filme não se levasse à sério, se ele desse risada de si mesmo e de sua pieguice, se não acreditasse em si mesmo a ponto de terminar exatamente como o primeiro livro deixando espaço para uma continuação que aposto não acontecerá, se os atores tivesse simplesmente se entregado e tivessem feitos caricaturas de seus próprios personagens (tá, tem exceção: a atriz Brianne Tju faz isso com a sua Shay nos momentos finais do filme), talvez pudéssemos nos entregar e aproveitar melhor. No final das contas, eu digo que o filme tem direito de lutar pelo que ele quiser, o que ele não tinha direito era de ser mais uma adaptação pavorosa que nós, pobres bookstans, somos obrigados a aceitar. Enfim, vou lançar uma campanha: pelo direito de não fazerem mais adaptações.
Para ver o trailer do filme:
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