27.06

“Redemoinho em dia quente”
Jarid Arraes
Narração: Jarid Arraes
Duração: 03h52m26s
Editora: Editora Afaguara
Material de Apoio: Não
Data de Lançamento: 28/10/2022
Disponível: Compra

Escritora conhecida por seus cordéis, Jarid Arraes estreia no gênero dos contos em Redemoinho em dia quente. Focando nas mulheres da região do Cariri, no Ceará, os contos de Jarid desafiam classificações e misturam realismo, fantasia, crítica social e uma capacidade ímpar de identificar e narrar o cotidiano público e privado das mulheres.
Uma senhora católica encontra uma sacola com pílulas suspeitas e decide experimentar um barato que a leva até o padre Cícero, uma lavadeira tenta entender os desejos da filha, uma mototáxi tenta começar um novo trabalho e enfrenta os desafios que seu gênero representa ― Jarid Arraes narra a vida de mulheres com exatidão, potência e uma voz única na literatura brasileira contemporânea.

Sei que muitos falam que não conseguem gostar de audiolivros porque não conseguem manter a atenção, mas dou a dica para insistir. Antigamente também não conseguia me concentrar, mas, depois de tentar algumas vezes, me peguei escutando narrativas tanto no carro, quanto deitada no escuro do meu quarto, e adorei ouvir. Acreditem, você consegue até mesmo fazer exercícios físicos, arrumar o quarto ou cozinhar escutando um livro, e quando você se torna fã do formato, você realmente não consegue mais deixar de lado. É o meu caso. E o caso deste livro Sempre digo em todas minhas resenhas que prefiro muito mais resenhas livros que amo, e eis aqui um exemplo de um livro assim. Só que, no caso específico de “Redemoinho em dia quente” foi a versão em audiolivro – narrado pela própria autora, Jarid Arraes.

Quando a possibilidade de ouvir “Redemoinho em dia quente” surgiu, livro que já queria ler desde que a Ju daqui da equipe leu, (vocês podem ler a resenha sem spoilers clicando aqui) mas que eu, enrolada como sou, não tinha lido ainda, foi o momento certo: aceitei e embarquei na jornada de ouvir os 30 contos que, reunidos, formam este livro.

Sei que você, que me lê, pode ficar assustado ao saber que são 30 contos, mas são pequenos – e profundamente impactantes, todos, sem exceção. O tipo certo de audiolivro que você precisa para começar a gostar do formato: escute um conto hoje, outro amanhã, outro depois e por aí vai, até porque os contos não estão ligados entre si, apesar de terem obviamente o universo feminino nordestino no centro, então você pode aproveitar cada um individualmente.

Hoje percebo que se apegar ao seu eu destruído é muito mais comum do que os outros pensam. A maioria das pessoas, quando consegue desenvolver alguma empatia pelos loucos, imagina que mente doentes desejam cura absoluta, a felicidade, os sorrisos aos domingo e a vida comum de quem constrói uma sociedade produtiva. Pois o verdadeiro desafio em aceitar e amar os loucos está em enxergá-los amantes da vontade de ver tudo pegar fogo. E eu sempre fui incendiária.

Os contos serem narrados pela autora fazem toda diferença, pelo menos em minha opinião, justamente por quem melhor para conhecer as personagens e as entonações que elas colocariam em cada sentença, as emoções que sentiriam em cada acontecimento, a dor e o amor que cada uma sentiria? Já tinha visto e ouvido a Jarid falar, mas confesso que depois que ouvi sua narração, queria ouvir por muitas horas mais.

Falando sobre os contos em si, me faltaram sentimentos para externar sobre eles, e não estou brincando. Como mulher nordestina sertaneja, me vi em diversas passagens do livro, me despedindo de uma cidade que parece que corre em minhas veias ou em costumes das cidades pequenas da caatinga: crianças brincando na rua, vizinhos conversando às portas, costumes de rosário e novenas em bairros. É tão maravilhoso ver o nordeste em páginas de livros.

E, claro, sou mulher. E como sou mulher, o conto “Got a flamin’ heart, can’t get my fill” me pegou de uma forma impressionante por sua imensidão do amor que não estava no certo entre Luana e César. “Gesso” é um conto que muito me toca como mulher, em uma mistura de um relacionamento violento e abusivo com as tradições do nordeste – amei demais o fim, mas muito mesmo. Destaco ainda “Voz”, um conto com representatividade de uma forma delicada e triste na personagem Janaina, uma mulher trans. Ainda há “Telhado quebrado com gente morando dentro”, que qualquer mulher sente a dor da violência e descredito em diversas formas que o conto quer transmitir. Não vou deixar de mencionar ainda “Olhos de Cacimba” e como torci por Joselia e Fátima, e ainda queria eu ser a Nicole, escrevendo seus cordéis, em “Asas no pé”. Acho que vocês já entenderam que realmente adorei todos os contos, certo?

Todos os contos me tocaram de alguma forma, em algum detalhe, em algum momento, com algum personagem e tenho certeza absoluta que assim foi com todos que ouviram ou leram essa obra. Se você já sentiu o redemoinho em dia quente, você entende o que isso quer dizer: aquele calor tão vento tão forte que rompe o calor, trazendo um momento de espanto, e é assim que me sinto com esse audiolivro tão bem narrado em histórias tão esplendidas: atordoada, surpresa e tocada.

Para ouvir “Redemoinho em dia quente” basta vir na Companhia das Letras.


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