“A Rainha Traidora”(A ponte entre reinos #2)
Danielle L. Jensen
Tradução: Guilherme Miranda
Seguinte – 2023 – 392 páginas
Na aguardada continuação de A ponte entre reinos, Lara terá de decidir entre lutar por seu reino, por seu grande amor, ou por si mesma.
Lara é uma rainha traidora. Ao compartilhar informações secretas sobre a defesa de Ithicana, a jovem não só quebrou a confiança de seu povo como possibilitou que a ponte fosse dominada pelo rei de Maridrina, seu pai. Em exílio, Lara se sente impotente diante de tanta morte e destruição, mas quando descobre que seu marido, Aren, foi capturado em batalha, ela decide fazer de tudo para se redimir ― e salvar o homem por quem se apaixonou perdidamente.
Arriscando a vida em mares revoltos, Lara volta para Ithicana com planos não só para libertar Aren, mas todo o Reino da Ponte. Para isso, ela pretende usar as armas mais letais que seu pai já criou: suas irmãs. Contudo, o palácio de Maridrina é praticamente impossível de invadir, e há peças demais nesse jogo em que inimigos e aliados trocam de lugar a todo momento. Para piorar, talvez seu maior adversário seja justamente o homem que ela está tentando libertar.
Como vocês podem imaginar, esta resenha conterá spoilers do livro 1 porque se torna impossível não falar de alguns acontecimentos que se seguem no livro 2. Além disso, aproveito para explicar novamente: “A ponte entre Reinos” será uma série de 6 livros, mas não do jeito que esperamos e vou explicar o motivo: os livros 1 e 2 (“A Ponte entre reinos” e “A Rainha Traidora”) tem Lara e Aren no centro, contando como eles se conheceram e se apaixonaram. O 3º livro, “The Inadequate Heir” (“O Herdeiro Inadequado”, em tradução livre), conta a história de Keris, o irmão de Lara, e como ele se apaixonou pela mulher que se apaixona. Então temos a novidade: A novela (um livro com 6 contos) “The Calm before the Storm” (“A Calmaria antes da Tempestade”, em tradução livre) que se passa depois dos eventos de “A Rainha Traidora” e antes de “The Inadequate Heir”. Dai sim, teremos os livros 4, 5 e 6, que a autora ainda não confirmou quem serão as protagonistas – mas possibilidades não faltam.
Aqui no Brasil ainda não temos informações se a série irá continuar a ser publicada ou não, mas, seja como for, a história de Lara e Aren tem um final satisfatório aqui e falarei sobre na sequência. Como vocês podem imaginar também, a resenha de “A ponte entre Reinos” está aqui no site e você pode lê-la sem medo de spoilers – basta clicar AQUI. E agora vamos a resenha em si.
Fazia treze dias que ele estava vendado.
Estava algemado também e, por vezes, até amordaçado, mas, apesar da queimação persistente das cordas que esfolavam a pele de seus punhos e do gosto ruim do tecido enfiado em sua boca, era a escuridão sem fim da venda que estava deixando Aren, o antigo rei de Ithicana, à beira da loucura.
Afinal, embora a dor fosse uma velha amiga, e o desconforto, quase um estilo de vida, ficar confinado às imagens que sua própria mente evocava era o pior tipo de tortura. Porque, embora seu desejo mais fervoroso fosse outro, tudo que sua mente queria mostrar eram visões dela.
Lara.
Sua esposa.A rainha traidora de Ithicana.
Claro que a “A Rainha Traidora” a qual o titulo se refere é Lara, que está tentando lidar com praticamente ter entregue Aren e Ithicana para seu pai, o malévolo Rei Silas, e agora está presa entre o povo que já foi rainha. Aren, que começa a narrativa, está há vários dias vendado, sem tomar banho, amarrado e preso, mantido prisioneiro do sogro. Entretanto, nem tudo está perdido porque Lara está mais do que determinada a salvar seu amado e, para isso, tem a brilhante ideia de juntar todas as suas irmãs que ainda estão vivas graças a sua pegadinha no livro 1 – fez o pai acreditar que todas estavam mortas por suas mãos, deixando Lara a única opção de mandar para se casar com Aren e o matar, mas, na verdade, Lara as drogou e “as libertou”, até que Marylyn, uma delas, a traiu e voltou para o pai, mais do que disposta a matar Lara.
Obvio que Ahnna, irmã de Aren, aceita a ideia de Lara porque estão desesperados para salvar o Rei (e, no caso dela, seu irmão) de Ithicana, que estava sendo atacada ferozmente e só conseguindo resistir pela disposição da ilha, enquanto a ponte já estava em poder de Silas. Até essa parte do livro, eu estava realmente investida porque queria conhecer as outras meias-irmãs de Lara e ver o quão mortais elas eram – e esse foi, de longe, o ponto alto do livro pra mim.
O vento soprava pelo jardim, farfalhando as roseiras bem cuidadas e as sebes esculpidas antes de sair sibilante pelas cornijas que adornavam a muralha, deixando para trás o rangido das cordas segurando os cadáveres. Eram dezoito agora. Dezoito ithicanianos mortos na tentativa de resgatar seu rei. Na tentativa de resgatar Aren.
Em sua jornada para conquistar a ajudar de suas meias-irmãs Sarhina, Cresta, Athena, Brenna, Tabitha, Katrine, Cierra, Maddy, Shae e Bronwyn, Lara precisa explicar a elas o que aconteceu e porque fez o que fez com elas no harém onde todos estavam, mas, claro, todas tem um ponto muito forte em comum: odeiam Silas e acreditam que a hora da vingança chegou. Enquanto isso, Aren continua padecendo preso, vendo os que tentavam salvá-lo serem mortos, e seu senso de honradez chega ao limite de levá-lo a crer que é melhor se matar do que continuar deixando seus conterrâneos morrerem assim, mas, para sua surpresa, o príncipe Keris lhe faz uma visita e se mostra um personagem muito, muito interessante (mesmo) a ponto de roubar a cena todas as vezes que aparece.
Oitavo filho de Silas, Keris não seria nem de longe o herdeiro, mas o destino interviu e seus sete irmãos mais velhos estão mortos e agora ele, considerado inadequado (olha a dica!) por gostar de estudar e ler, está para receber a coroa de um pai nada satisfeito – mas é aquela velha máxima: “é o que temos para hoje.” Keris também não parece amar o pai e, espantosamente, é irmão de mãe e pai de Lara, de quem se lembra. O príncipe herdeiro também parece ter toda uma agenda e motivos para derrubar o pai ou, pelo menos tentar fazê-lo. E também foi um ponto alto do livro aqui pra mim.
— Mas isso não é o pior! — ele gritou. — Você teve seus motivos para fazer o que fez. Qual é minha desculpa? Todos os detalhes que você aprendeu, todas as oportunidades que teve de espionar… foram erros meus. Levar você para Ithicana foi erro meu. Confiar em você foi erro meu. Amar você foi erro meu. — Ele pegou uma pedra e a atirou em uma árvore. — Ithicana caiu por culpa minha e, se você pensa que ela vai se reerguer sob meu comando, está muito enganada.
Naquele momento, Lara entendeu o que alimentava a raiva nos olhos dele. Não era ela. Não era o que ela tinha feito. Aren no fundo só culpava a si mesmo.
Mas o problema começa quando justamente as irmãs Veliant, já juntas, se unem a uma esposa de Silas para salvar Aren – porque dai o livro desanda para a aventura sem fim, e aqui preciso fazer um parenteses pessoal: não importa o autor, não importa a trama, não importa o que seja: se desandar para aventura e correria sem fim, vai perder minha atenção. Não tenho problema com ações mirabolantes e nem momentos de tensão em aventuras onde os heróis estão prestes a serem pegos, mas não me peça para ler 100 paginas seguidas de correria sem fim, sem um desenvolvimento de relacionamento entre as personagens ou de suas personalidades, que não vou me apegar. E, infelizmente, isso aconteceu aqui.
Já vi muitas pessoas reclamando justamente do contrário, de como existem livros que parecem que as personagens “só conversam” e nada mais acontece, mas, no meu entendimento (e isso é pessoal, cada um vai preferir uma coisa) é necessário que as personagens parem para resolverem seus problemas se não, tudo vai terminar abruptamente, com um “Tá perdoade!” e vida que segue. E, infelizmente, foi o que me fez mais desapontada na narrativa: a maior batalha de todas, o momento final que todo leitor de “A ponte entre reinos” e “A Rainha Traidora” mais desejava, terminou em menos de 10 páginas de uma luta que merecia muito, muito mais. Pra vocês terem uma ideia, chegou um ponto da leitura que eu tinha certeza que eu estava errada e que o livro 3 ainda continuaria aquela história porque tinham poucas páginas para o que precisava acontecer. Enfim, eu estava certa no começo: a trama se encerrou aqui com bastante pontas soltas.
— Eu não usei você como assassina antes, Lara. E me recuso a fazer isso agora. Me prometa que vai deixar isso para trás.
— Não. — Ela estava decidida.
E, naquele momento, ele soube que não havia por que discutir: ela nunca cederia. Era o que ele amava nela.
E o que odiava.
Isso significa que o livro é ruim? Não. Significa que não me diverti? Poderia ter aproveitado mais, é fato. Significa que quero continuar lendo os outros livros da série? Acho que sim. Mas me provou uma coisa: é melhor sacrificar a aventura para se focar em cenas que são essenciais ao ponto de vista do leitor. Falei que a passagem de tempo corrida do primeiro livro é um fator positivo e negativo na minha primeira resenha, e agora retifico e digo que aqui, no segundo volume, foi somente um fator negativo. Mas ah, me permita deixar um ponto positivo que é da tradução. Guilherme Miranda continua mandando muito, muito bem nas traduções dos livros YA da Seguinte e ri alto em diversos momentos, exatamente como no primeiro livro.
O que quero deixar claro é que Lara continua ótima, uma das melhores heroínas desse estilo medieval que se instalou na Fantasia YA. Destemida, forte, corajosa (em determinados pontos, pareceu uma exterminadora e falaria: “Hasta la vista, baby” – tá, piadinha pra pessoas idosas como eu) e apaixonada, o show é todo dela a ponto de me fazer ter raiva do Aren em diversos pontos, mas também não dá para culpar o coitado por ter sido traído. Já o final, não sei dizer ainda o que penso porque, pra mim, terminou parecendo no meio de um capitulo, com a trama dos dois encerrada (já falei isso a exaustão nesta resenha), mas, ao mesmo tempo, deixando as portas do Reino de Ithicana abertas (e de outros reinos também) para que a treta continue por mais alguns anos, o que deve ser retratado nos outros livros. No final das contas, se você gosta de livros rápidos, um romance forte e com cenas quentes, não pense duas vezes: Pode atravessar essa ponte.
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