19.04


“A ponte entre reinos”(A ponte entre reinos #1)
Danielle L. Jensen
‎Seguinte – 2022 – 416 páginas
Tradução: Guilherme Miranda

No primeiro volume desta aguardada série de fantasia, uma princesa vive um romance ardente com aquele que jurou destruir.

Lara é uma princesa treinada para ser uma espiã letal. Ela tem duas certezas: 1) o rei Aren de Ithicana é seu maior inimigo; 2) ela será a responsável por destruí-lo.

Por ser a única rota possível num mundo assolado por tempestades, a ponte de Ithicana gera poder e riqueza ― e a miséria dos territórios vizinhos, entre eles a terra natal de Lara. Então, quando é enviada para cumprir um acordo de paz e se casar com Aren, Lara está decidida a descobrir todas as fraquezas desse reino impenetrável.

Mas, conforme se infiltra em seu novo lar e entende o preço que Ithicana paga para manter o controle da ponte, Lara começa a questionar suas convicções. E, quando seus sentimentos por Aren passam da hostilidade para uma paixão intensa, ela terá de escolher qual reino vai salvar ― e qual vai destruir.

Começando do começo: a série “A ponte entre reinos” é uma série de livros, mas não exatamente como estamos acostumados e entendemos por “série de livros” porque sim, será uma série de 6 livros, mas, ao mesmo tempo, não é porque os livros são independentes entre si, pelo menos é o que está dando entender entre os pares 1 e 2 contra o 3 e 4. Explicando melhor, todos os livros se passam no mesmo universo, mas os dois primeiros livros da série tem Lara e Aren como protagonistas, enquanto os livros 3 e 4 tem outro casal como protagonistas (um participante do casal é mencionado no livro 1, mas não falarei quem é por motivos óbvios de spoilers) e o livro 5 e 6 a autora não anunciou ainda quem serão os protagonistas. O livro 1, que chega agora aqui agora e que leva o nome da série, foi publicado em 2018 e sua continuação em 2020, tendo uma legião de fãs.

Essa primeira parte superada, vamos aos fatos: “A ponte entre reinos” é um livro realmente bom. Não é a melhor fantasia que você lerá em sua vida, mas ele tem uma velocidade e um ritmo tão intenso, mas tão intenso, que na página 100 você tem a sensação de que já leu o livro completo – mas ainda tem bem mais reviravoltas na trama. E isso, essa velocidade, passagem de tempo e explicações não detalhadas é o ponto positivo e o ponto negativo do livro, tudo ao mesmo tempo.

Um gongo foi tocado, e as reverberações ecoaram sobre o complexo. O instrumento a chamava para jantar todas as noites havia quinze anos, mas hoje reverberou pelo seu corpo como um tambor de guerra. Lara respirou fundo para se acalmar, depois virou, atravessando o pátio de treinamento na direção das palmeiras altas, a saia cor-de-rosa farfalhando em suas pernas. Todas as suas onze meias-irmãs seguiam para o mesmo lugar, cada uma usando um vestido diferente, a cor escolhida com capricho pela mestra de estética para valorizar seus traços.
Lara detestava rosa, mas ninguém pedira sua opinião.

Quando a trama do livro começou, eu tive a sensação de que estava em uma montanha-russa subindo velozmente. Eu amei com todo meu coração o 1º capítulo, tomei um choque com a introdução da trama, com a velocidade e com Lara, a personagem principal, que se apresenta de um jeito que faz seu queixo cair no chão de tão surpresa que você fica. Eu realmente pensei que estava diante de uma mocinha tão badass que venderia a alma pro capeta se fosse necessário, mas tudo que sobe, desce, certo? E foi assim que começou a acontecer no 2º capitulo. Logo de cara você entende que Lara não é uma narradora confiável e que nem todas informações que ela vai entregando ao leitor estão completas. Algumas coisas você sabe que são verdadeiras: ela foi treinada por seu pai, o Rei Silas, assim como suas outras 19 irmãs (sim, ele tinha um harém e levou todas filhas para esse lugar para treinar todas juntas, mas obviamente nem todas estão vivas depois de anos presas naquele lugar) e para escolher uma só entre todas para se casar com Aren e usar como espiã para destruir o outro.

A questão toda é que o país de Lara, Maridrina, precisa passar pela ponte do país de Aren, Ithicana. Aqui temos outro probleminha na história causado pela rapidez com que tudo é descrito e levado ao leitor: você entende que o país de Lara está separado dos outros países por um mar revolto e que essa ponte, a famosa ponte de Ithicana, é o que liga os continentes. Ithicana é formado basicamente por ilhas com essa ponte as cortando, mas só consegui entender isso porque pausei a leitura e me debrucei sobre o mapa que vem na edição da Editora Seguinte, que merece todos elogios possíveis porque é bastante difícil a visualização de tudo em nossa mente sem este mapa. Esse momento superado, você entende claramente que o Rei Silas é que venderia a alma facilmente para o capeta para dominar a ponte e ter o controle de todo comércio entre os países e ficar mais rico ainda. Enfim, a motivação é a boa e velha ganância que estamos acostumados tanto na literatura quando na vida real, o que faz do Rei Silas um bom vilão, com sua sede de poder.

— Desde que o tempo é tempo, Ithicana mantém domínio sobre o comércio, fazendo outros reinos prosperarem ou ruírem, como um deus sombrio. — Seu pai se dirigiu a elas, os olhos flamejantes. — Meu pai, o pai dele e o pai do pai dele buscaram destruir o Reino da Ponte. Com assassinos, guerras, bloqueios e todas as armas à disposição. Mas nenhum deles pensou em usar uma mulher.
Ele sorriu com astúcia.
— As mulheres maridrinianas são frágeis. Fracas. Não servem para nada além de cuidar da casa e criar os filhos. Exceto vocês doze.

Não demora em nada o Rei Silas levar Lara até Aren na Ilha da Guarda Sul, onde o casamento deles é celebrado. Em um lugar desconhecido, Lara é levada para outra ilha ainda, vendo que nem todos do povo de Aren achavam que aquele casamento iria realmente celebrar a paz entre os reinos e eram mais favoráveis a uma boa e velha guerra. Mas Aren está cansado de batalhas e ver seu povo morrer, um Rei idealista e com toda vontade de só fazer o bem – ou talvez não, já como Lara acredita que o marido é um mentiroso e que jamais fala a verdade. Aren tem uma irmã gêmea, Ahnna, que é absurdamente maravilhosa e que comanda toda uma tropa de uma das ilhas de Guarda Sul, porque, ao contrário do país natural de Lara, em Ithicana as mulheres podem lutar e terem lugares de destaque. Não é difícil para qualquer leitor de fantasia entender que mentiras foram contadas a Lara, e é ai que entra o POV de Aren (o livro tem dois pontos de vistas, sendo que há mais de Lara do que de Aren). Entendemos e sabemos a verdade sobre reino, tornando tudo bastante fácil de compreender a situação que os dois protagonistas se encontram.

Apesar de toda confusão em torno da ponte e tramas palacianas, fica claro que o pilar desses livros é mesmo o relacionamento entre Lara e Aren, e ele não decepciona: repleto de clichês, com momentos que fazem o leitor rir porque está óbvio e claro a atração que um sente pelo outro, o relacionamento de ambos esbarra no grande segredo de Lara, que está ali para destruir o marido e entregar os segredos da ponte, e se ela tiver que seduzir o marido para alcançar esse objetivo, ela irá. Ao mesmo tempo, Aren não é nenhum idiota e está ciente de que se casou com a filha de seu grande inimigo, então também é claro e óbvio que ela deseja saber mais do que aparenta para, talvez, entregar a seu pai. É um jogo que é delicioso de ler sobre e que tem informações jogadas aqui e ali para o leitor ir formando a sua aposta de quem cederá primeiro – ah, vamos lá, eu e você sabemos que eventualmente eles se apaixonarão! E quando isso acontece, o leitor gosta do casal porque eles funcionam bem. Muito bem mesmo.

Lara conhecia Ithicana tanto quanto a maioria dos maridrinianos, talvez um pouco mais. Era um reino tão envolto em mistério quanto em névoa: uma série de ilhas que se estendiam entre dois continentes, as massas de terra protegidas por mares bravios, que se tornaram ainda mais traiçoeiros após as defesas que os ithicanianos haviam instalado nas águas para evitar invasores. Mas não era isso que tornava Ithicana tão poderosa. Era a ponte que se estendia lá no alto entre as ilhas — a única forma segura de viajar entre os continentes durante dez meses do ano. E Ithicana usava seu trunfo para manter os reinos que dependiam do comércio famintos. Desesperados. E, acima de tudo, dispostos a pagar qualquer preço que o Reino da Ponte exigisse por seus serviços.

Confesso que eu shippei tanto a Lara e o Aren que chegou certo ponto da trama que eu só embarquei e parei de me preocupar quem ia apunhalar quem nas costas pra só querer os dois juntos porque a química deles é realmente boa, funcionam como casal e eu adoro quando eles estão tentando se manter nos papeis que esperam deles: Aren sendo um guerreiro, Lara sendo uma lady – mas calma ai e não se engane que Lara é treinada pra matar qualquer um com facilidade. Existem cenas que ela coloca tudo que aprendeu para fora, deixando um rastro de corpos atrás dela, bem do jeitinho que a gente ama nossas protagonistas. Aren, em contrapartida, está tentando lidar com seu exercito, com quem é próximo dele, até mesmo com sua avó, porque todos parecem não confiar em Lara. Seja como for, quando eles estão juntos, fica difícil negar o que cada um quer do outro e aqui deixo um aviso: há uma cena entre os personagens que vai acima do que eu esperava, e ok, não há nada absurdo, mas sinto que preciso deixar claro que a cena de sexo entre eles é mais detalhada do que esperava.

Mas não para ai, porque como já deixei claro, a velocidade desse livro é realmente acima da média: você está esperando uma reviravolta e sim, ela acontece, mas acontecem outras também – e depois mais outra e mais outra, tudo de acordo com a sensação de uma montanha-russa (eu realmente não vejo outra analogia tão boa para a leitura desse livro quanto uma corrida em uma). O leitor está sendo sempre jogado a uma nova trama, a uma nova situação, a uma nova personagem que está ali claramente para fazer uma coisa e quando aquela coisa que você está esperando enfim acontece, você perde até o impacto porque outro momento catártico do livro acontece em seguida. Eu sei que muitos de vocês preferem isso hoje em dia, por isso eu acredito realmente que esse livro vá cair nas graças dos bookstans brasileiros, mas eu não deixo de apontar aqui que preferiria que fosse talvez uma trilogia e houvessem mais explicações (principalmente sobre a construção do mundo) e sou completamente ciente que isso é uma questão pontual minha que pode incomodar ninguém mais.

Todas as descrições que ouvira durante seu treinamento não eram nada em comparação com a realidade. Não era uma ponte. Era A Ponte, pois não havia nada no mundo que se comparasse a ela.
Como uma grande cobra cinza, a ponte serpenteava até onde a vista alcançava, unindo os continentes. Ela se apoiava sobre torres cársticas naturais que pareciam ter sido colocadas pela mão de Deus com exatamente esse propósito, desafiando os mares Tempestuosos que golpeavam seus alicerces. De tempos em tempos, sua extensão cinza passava sobre as ilhas maiores, apoiada em colunas grossas de rocha construídas por mãos anciãs. A ponte era uma façanha arquitetônica que desafiava a razão. Que desafiava a lógica. Que, para todos os efeitos, nem deveria existir.
E exatamente por isso todos a queriam.

A trama do livro vai crescendo de uma forma bem rápida, e quando você termina as 400 páginas, parece que você leu uma trilogia quase inteira de tanta coisa que aconteceu. Mas, mesmo assim, confesso que não esperava aquele final, daquela forma como foi, sendo que nem ao menos pareceu um capítulo e sim mais um epilogo sobre o que irá acontecer no próximo livro (eu sei que espero muito tiro, porrada, bomba e gritaria, sem sombras de dúvidas). Novamente você tem uma informação bombástica de algo que aconteceu e você não vê acontecer, você só recebe a informação e quer saber o que vai acontecer a partir dali. Pode ser mais rápido, mas eu queria ter visto mais do que aconteceu ali.

Não vou terminar essa resenha sem falar sobre algo que tornou o livro mais especial ainda para mim: a tradução do Guilherme Miranda. Já conhecido por trazer as traduções que faz para o nosso português coloquial, eu gargalhei alto em certa cena que Lara está tentando arrancar informações de Aren porque há uma frase que foi tão simples e singela, resumindo tudo que a personagem queria falar para o marido. Quando se lê um livro com uma tradução dessas, tudo fica melhor.

Ela lutaria por ele.
Ela sangraria por ele.
Ela morreria por ele.
Porque ele era seu rei e, mesmo se fosse perseguida por assassinos pelo resto de seus dias, ela seria a rainha de Ithicana.

Vou ficando por aqui deixando a dica de “A ponte entre reinos” para você, que quer uma fantasia rápida (em informações e acontecimentos) e com 2 livros somente (você vai continuar lendo os outros se quiser e caso se apaixone pelo universo), protagonista badass que manda a real na lata, mocinho idealista mas não idiota, personagens secundários bons, uma trama que não te fará saltar da cadeira com reviravoltas (você espera muitas coisas que acontecem efetivamente acontecerem), algumas cenas picantes (indico você ter mais de 16 anos, hein) e com um final que te faz querer ler logo o segundo livro e saber o que acontecerá com aqueles personagens: tá aqui seu livro! Pode ler sem medo que você vai se apaixonar pelo Aren e a Lara. Sem dúvida alguma.

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