14.04

Estava navegando pela Amazon esses dias e me deparei com a sinopse de um livro que me chamou bastante a atenção. Fiquei encantada pelas possibilidades, pelo potencial que aquela sinopse carregava. Fiquei ainda mais encantada quando olhei para a capa e prestei atenção ao nome do autor: Matt Haig. Um alarme soou na minha cabeça: OS HUMANOS!!!!!!!!!! “Os Humanos”, que aliás, já resenhei aqui no Idris há alguns anos (você pode encontrar essa resenha clicando AQUI), foi um dos melhores livros que já li na vida. Estava decidido. A temporada de Matt Haig estaria aberta.

Em um dos comentários de avaliação da Amazon, um leitor disse que quase abandonou a leitura pois já nas primeiras páginas acreditou que nada aconteceria e achou tudo muito lento e chato. Vou discordar dele, porque a escrita de Matt é bem diferente do habitual. Ele não é o tipo de autor que sai entregando o jogo nas primeiras páginas. Se você espera isso, decifrar a história sem esforço, esse livro não é para você. Dito isso, a cronologia desse livro é sim, um pouco confusa, conforme o autor avança e volta no tempo para contar histórias do protagonista, Tom. E somos obrigados a ir montando sua história como um quebra-cabeças.

No começo do livro, somos apresentados a Tom. Um ser que, devido a uma condição genética interessante, envelhece 1 ano à cada 15 anos. O que quer dizer que ele leva 15 anos para envelhecer um ano. Já no começo do livro, descobrimos que existem outros como ele, e que ele está em busca de alguém.

Ocorreu-me que seres humanos não vivem além dos cem anos porque simplesmente não aguentavam. Psicologicamente, quero dizer. Você se acaba. Não há você o suficiente para seguir em frente. Você fica muito entediado com a própria mente. Com o modo como a vida se repete. Como, depois de um tempo, não há mais sorriso ou gesto inédito. Não há mudança na ordem do mundo que não ecoe outras mudanças na ordem do mundo. E as notícias param de ser novidade. A palavra “novidade” torna-se uma piada. É tudo um ciclo. Um ciclo rodando lentamente para baixo. E sua tolerância pelos seres humanos, fazendo os mesmos erros de novo e de novo e de novo e de novo outra vez, começa a desaparecer. É como ficar preso na mesma canção, com um refrão que já foi do seu gosto, mas que agora lhe dá vontade de furar os tímpanos.

Tom, entretanto, é recrutado por um humano de mais de 1000 anos, para participar da Sociedade dos Albatrozes, uma sociedade focada em proteger os humanos que não envelhecem. A escolha é simples: ou você participa, ou você é morto por alguém da sociedade. Não há muito como fugir, ou se esconder. Se escolher participar, pode morar no lugar em que quiser, com a profissão que quiser, financiado pela sociedade. E a cada 8 anos deve cumprir uma tarefa para a Sociedade. Geralmente a tarefa é recrutas novos Albas, como são chamados os humanos que não envelhecem.

Matt Haig, através de Tom, descreve com maestria a funcionalidade da raça humana. Como funcionamos, e, acredito eu, seja um dos autores que mais se aproxima de descobrir, quem sabe, nosso propósito.

E eu senti o terror do terror dela. Isto é, suponho, o preço que pagamos
pelo amor: absorver a dor do outro como se fosse a nossa.

Sua escrita, em muitos momentos, não é nada menos do que poética. O autor é capaz de avançar e regredir na linha do tempo do livro (com um propósito, é claro, de contar a história de Tom), sem confundir o leitor, ou tornar a história entediante. Tom conhece pessoas como Shakespeare, Fitzgerald, Chaplin. Nós temos a oportunidade de conhecer os anos 1600, 1800, os anos 1920, através de sua escrita. Sem falar que o livro é preenchido de conhecimentos e curiosidades, sobre a humanidade, sobre descobertas, sobre a ciência em si.

Procuro por algo para ler, mas à primeira vista vejo apenas livros sobre negócios. Encaro a capa de um. O autor está nela. Ele usa terno e um sorriso artificial pseudopresidencial. Os dentes são brancos como o Ártico. Ele se chama Dave Sanderson. O livro: A riqueza dentro de você — Como domar o bilionário dentro de si.
Encaro por um bom tempo, sob hipnose. É uma ideia popular moderna.
Que o eu dentro de nós é diferente do eu externo. Que há uma versão mais real, melhor e mais valiosa dentro de nós, a qual podemos acessar apenas se comprarmos a solução. A ideia de que somos separados de nossa natureza, como um frasco de perfume Dior é separado das plantas na floresta.
Até onde posso ver, esse é um problema de viver no século XXI. Muitos de nós possuem todas as coisas materiais necessárias, então o trabalho do marketing é ligar a economia às nossas emoções, nos fazer sentir que precisamos de mais nos fazendo sentir necessidade de coisas que nunca
precisamos. Nos sentimos pobres com salários de trinta mil libras ao ano. Nos sentimos pouco viajados se conhecemos apenas dez países. Nos sentimos velhos se temos uma ruga. Nos sentimos feios sem Photoshop e filtros.
Ninguém que eu conheci no século XVII queria encontrar seu bilionário interno. Queriam apenas viver até a adolescência e evitar piolhos.

Falando sobre o livro físico, em si, eu achei que a Harper Collins foi extremamente caprichosa. O livro é lindo, tem uma capa linda, com cores vibrantes, como a história, e uma lombada que chama atenção na prateleira. A contra capa do livro também é linda e caprichada.

“Como parar o tempo”, é claro, é uma obra-prima. Sobre amor, felicidade, sobre propósito, sobre o tempo. Em muitos momentos Matt Haig é melancólico. Nos presenteia com a sensação de ter 500 anos. Quase somos capazes de sentir, através de suas páginas, como seria ser quase imortal. Não vou dar cinco estrelas, somente porque, para mim, ainda não bateu a genialidade de “Os Humanos”. E sinto que o final foi um pouco mirabolante. Mas sigo crente na escrita de Matt Haig, ansiosa por me aventurar em outro de seus livros.

Para comprar “Como Parar o Tempo“:

Amazon.

 

 

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