27.09


“O Assassino do Rei”(A Saga do Assassino #2)
Robin Hobb
Tradução: Jorge Candeias
Arte de capa: Alceu Chiesorin Nunes
Seguinte – 2022 – 608 páginas

Filho bastardo de um príncipe, Fitz cresceu desprezado pelos nobres da corte de Torre do Cervo, mas era considerado importante demais para ser dispensado pelo rei. Por isso, ainda muito jovem, ele é convocado e treinado para se tornar um espião e assassino a serviço da realeza.

Em O assassino do rei, Fitz acabou de sobreviver à sua primeira missão, mas foi por pouco. Fraco e doente, ele está prestes a quebrar seus votos de fidelidade ao rei e fugir da vida que o aguarda na corte, mas tramas sombrias o atraem de volta à Torre do Cervo.

O rei está doente e o príncipe-herdeiro precisa assumir a responsabilidade de proteger os Seis Ducados dos constantes ataques dos Salteadores dos Navios Vermelhos, um povo brutal que incendeia vilas e destrói a mente de qualquer aldeão capturado. Apenas Fitz está atento às perigosas armações políticas se espalhando na corte; por isso, o destino do reino pode estar em suas mãos. No entanto, salvá-lo requer o maior sacrifício de todos.

Minha segunda resenha de um livro sequência em um mês, agora com o livro “O Assassino do Rei”, segundo volume da série “A Saga do Assassino”, da consagrada autora Robin Hobb. Lembrando novamente, como vocês podem imaginar, será impossível falar da trama sem mencionar alguns pontos chaves do primeiro livro (e você pode ler nossa resenha SEM spoilers clicando AQUI) de uma trilogia que já está encerrada – foi publicada entre os anos 1995 à 1997 em inglês, e já tinham sido publicados aqui pela Editora Leya, mas agora tem uma casa nova: a Suma, que está publicando os livros com nova tradução e novas capas.

Em uma frase só, eu diria que “O Assassino do Rei” é majestoso. É uma continuação, um livro que fica entre o livro introdutor e o final, que sempre traz uma trama com bastante sofrimento para levantar a bola para o último livro terminar em um tom mais feliz/esperançoso, mas, nessa alta fantasia aqui, eu não consigo imaginar de jeito nenhum um mundo feliz, seja como for. Fitz parece estar destinado à tragedia, então podemos entender que o desastre se abate sobre ele de uma forma intensa neste livro – e não só sobre ele porque temos morte, corações partidos e muita, muita intriga aqui, nesta trama contada em flashback por um Fitz mais velho, em algum ponto de sua vida.

Por que é proibido registrar conhecimentos específicos de artes mágicas? Talvez porque todos tenhamos medo de que esse tipo de conhecimento caia nas mãos de alguém que não seja digno de usá-lo. É fato que sempre houve um sistema de aprendizado que assegurasse a transmissão do conhecimento específico de magia somente àqueles que fossem treinados e julgados merecedores dele. Embora essa pareça uma tentativa louvável para nos proteger de praticantes que não sejam dignos das artes arcanas, ela ignora o fato de que as artes mágicas não são derivadas desse conhecimento específico. A predileção por certo tipo de magia ou é inata ou é ausente. Por exemplo, a capacidade para a magia conhecida como Talento está intimamente ligada a laços sanguíneos com a linhagem real dos Farseers, embora também possa ocorrer como uma “tendência selvagem” em pessoas cujos ances-trais provenham tanto das tribos do interior como dos ilhéus. Alguém treinado no Talento é capaz de sondar a mente de outra pessoa, por mais distante que esteja, e de saber o que ela está pensando, ou de ter conversas com ela sem dizer uma palavra. Para conduzir uma batalha, ou para obter informações, é um instrumento de grande utilidade.

Diferente um pouco do primeiro livro, “O Assassino do Rei é um livro que não tem tanta ação quanto o primeiro, já como é maior em quantidade de páginas e tem uma primeira parte quase inteira com Fitz se recuperando do envenenamento sofrido, o que termina destoando um tanto da forma como o primeiro volume começa: basicamente um inverso de tom na trama caso se compare os 2 livros, fazendo um pequeno resumo em seu começo da trama do livro anterior – mas não se engane com o que falo aqui: a ação chega forte neste livro também, com direito a cenas intensas. Aqui temos um Fitz quebrado tanto psicologicamente quanto fisicamente, com bastante ênfase no físico, chegando até mesmo a assustar quem o encontra, mostrando bem o quão afetado o rapaz ficou.

Depois de um tempo, retornando a Torre do Cervo, Fitz tem em mente que não pode confiar em seu tio Regal, se aproximando e confiando plenamente em tio Verity, ao mesmo passo que se assusta ao entender que o seu avô e Rei Shrewd está definhando fisicamente. Doente e abatido, o Rei agora parece mais influenciado por seu filho mais novo, Regal, que continua odiando o bastardo do seu irmão falecido e mais do que disposto a continuar a sua trama para agora tomar a coroa de seu irmão do meio, que ascendeu à herdeiro depois da morte do pai de Fitz, Chivalry. Eu sei que muito está acontecendo ao redor de todos, mas o centro de todas as questões ainda continua o núcleo familiar real – e, dessa vez, somado a figura romântica de Fitz, na presença de Molly. Sim, o romance entre eles realmente acontece neste livro e confesso que me surpreendi com a calma e delicadeza com que aconteceu, porque desta trilogia só espero tiro, porrada e bomba sem parar.

Mas Verity não nos protegeria? — perguntei debilmente.
Você é um homem do rei, e Verity é príncipe herdeiro — disse Burrich, curto e grosso. — É você quem protege seu rei, Fitz, e não o contrário. Não que ele não tenha consideração por você e não faça tudo o que pode para protegê-lo. Mas tem assuntos mais pesados a tratar. Navios Vermelhos. Uma nova noiva. E um irmão mais novo que pensa que a coroa ficaria melhor na própria cabeça. Não. Não espere que o príncipe herdeiro cuide de você. Cuide você mesmo disso.

Molly e Fitz funcionam muito bem como casal: duas pessoas rejeitadas que encontraram sentimentos que não acreditavam que seriam para eles. Inseguros, cada um a sua forma e motivação, os dois quase perdem a chance de viverem o que claramente sentem, seja ainda pela própria incapacidade de confiar no que seu par sente pelo outro, seja por pequenas intrigas na forma de “ajuda”. Molly tenta, implora e tenta se aproximar do “segredo” do que é realmente o trabalho de Fitz, mas ele acredita que ela não saberá lidar com a verdade, e sabemos bem que segredos são capazes de destruir relacionamentos. As cenas dos dois trouxeram bem mais levezas a trama e ao próprio Fitz, até… bem, o final, porque a gente sabe que o amor não basta para salvar o dia.

Enquanto nos outros livros eu desejei saber mais sobre Verity, tendo sido atendida neste volume, para o próximo desejo bem mais de Kettricken porque a personagem está se tornando mais e mais complexa: em uma corte estranha, prometida ao príncipe herdeiro, sem querer mudar sua personalidade, Kettricken definitivamente é uma das minhas personagens favoritas da trama, conseguindo se sair bem com a ajuda de Fitz de todas intrigas e ruídos que a corte lhe trazem. Mas, além de todas essas intrigas e desencontros, temos também um grande desenvolvimento na história de Burrich, que sempre foi um personagem que me deixava curiosa, já como ele parecia ter apego a Fitz, mas, ao mesmo tempo, sabe ser duro como sua posição requer. Não quero dar nenhum detalhe sobre o que acontece e o que é revelado sobre o personagem neste volume, mas confesso que tenho uma teoria do que acontecerá com ele no último volume, e confesso que desejo que isto aconteça. Já outro personagem que apareceu com destaque, foi Bobo – que de bobo não tem nada e foi capaz de carregar uma grande trama que me surpreendeu.

Se Regal vir uma oportunidade para nos matar, haverá de aproveitá-la. Não se importará com quem suspeitar, desde que ninguém o possa provar. Verity é nosso príncipe herdeiro, e não nosso rei. Ainda não. Enquanto o rei Shrewd estiver vivo e no trono, Regal arranjará maneiras de rodear o pai. Ele vai se safar de muitas coisas. Até de assassinato.

E claro que grande parte do enredo envolve as habilidades de Fitz com a Manha e o Talento, e aqui temos um relacionamento inteiro e complexo entre o jovem, que está começando a se tornar um adulto, com um lobo e que vem a se tornar muito mais importante do que imaginavamos. O lobo em questão, Lobinho, tem uma conexão forte com Fitz, desde que foi resgatado pelo rapaz, e é algo que vai crescendo a ponto do animal querer que Fitz fique entre seus pares – e aqui quero deixar claro que gosto muito desse tipo de magia, desejando ler bem mais de como tudo acontece neste universo tão bem construído. Ainda bem que temos mais um livro que promete mais pontos de vistos sobre. É interessante ver que as habilidades de Fitz estão se tornando cada vez mais parte de quem ele é, o ajudando em diversas situações e também o jogando para o perigo, já como seus antigos companheiros estudantes não estão muito felizes com Fitz e estão mais do que dispostos a invadirem a mente dele para descobrirem todos os segredos que este guarda. Parece que todos, de todos os lugares, estão atacando Fitz, que encontra consolo em seus aliados já esperados: Burrich, Molly e seu tio Verity. Mas, talvez, haja algumas surpresas nesse sentido neste livro.

Confesso que também me surpreendi com o tamanho que a trama dos Navios Vermelho foi tomando até o final do livro, e, por mais que eu deseje que determinados personagens morram porque são péssimas pessoas, eu também me peguei pensando que está tudo tão bem amarrado que o próximo livro (a conclusão da trilogia) será, definitivamente, muito, muito boa – sim, as expectativas estão nas alturas, ainda mais depois do final que tivemos tão cheio de… hm… infelicidade. E não, eu não procurei nenhum spoiler sobre porque estou esperando o livro final ser publicado pela Suma.

As palavras incharam-me na garganta, deixando-me quase sufocado. “Regal”, quis dizer-lhe. “Seu filho que tentou me matar, que tentou matar seu neto bastardo. Também conversou longamente com ele? E isso foi antes ou depois de ter me posto em seu poder?” Mas, tão claramente como se Chade ou Verity tivessem falado comigo, soube de súbito que não tinha o direito de questionar meu rei. Nem mesmo de lhe perguntar se ele entregara minha vida ao filho mais novo. Apertei os maxilares e mantive as palavras por proferir.

Consigo entender perfeitamente porque “A Saga do Assassino” é tida como uma das grandes sagas de alta fantasia. O primeiro volume já mostra a que veio, mas este segundo volume quase não tem defeitos – talvez peca um pouco pelo tamanho em descrições que às vezes se tornam repetitivas, mas, em momentos importantes, como o final, termina apressando as coisas e resumindo passagens que eu, como leitura, definitivamente queria saber mais e é este único fato que me incomodou na leitura. Enfim, se você está querendo entrar no mundo da alta fantasia, pode se dar a chance e começar esta saga, que não se prende aos assassinatos em si apesar de ter a palavra “Assassino” em seu título, apresentando um universo no qual a honra é testada diariamente e a forma como resolver as tramas de uma corte são tão importantes quanto as habilidades de empunhar uma espada.

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