06.09


“Carrie Soto está de volta”
Taylor Jenkins Reid
Tradução: Alexandre Boide
Arte de Capa: Joana Figueiredo
Paralela – 2022 – 352 páginas

A tenista Carrie Soto se aposentou no auge, com a tranquilidade de ter atingido um recorde imbatível: foram vinte títulos Grand Slam conquistados ao longo de sua carreira. Mas apenas cinco anos depois de seu retiro das quadras, ela assiste Nicki Chan igualar sua marca, trazendo a sensação de que seu legado está comprometido.

Disposta a chegar aos seus limites, Carrie tem o apoio de seu pai, Javier, ex-tenista que a treina desde os dois anos de idade. Ele parece ter seus próprios motivos para incentivar a filha nesta última temporada que promete desafiar ambos num jogo que exige tanto física quanto mentalmente.

Em uma inesquecível história sobre segundas chances e determinação, Taylor Jenkins Reid nos cativa com uma protagonista forte como sempre e um romance emocionante como poucos.

De quando li este livro, há 2 meses, (porque a Companhia das Letras generosamente me conseguiu um eARC, então agradeço a confiança da Editora que mora em meu coração!) tudo que consegui falar sobre foi: O mundo não está preparado para Carrie Soto. Reli o livro semana passada, agora em português, para escrever essa resenha, e me permita dizer de novo, com força: O mundo não está preparado para Carrie Soto. Eu realmente sinto que isto é um fato e que, infelizmente, não há nada que ninguém possa fazer sobre isto porque precisamos de mulheres como Carrie Soto em nossas vidas e na sociedade, mas também entendo que a mulher que ela é foge de todas as expectativas que podem colocar em uma figura feminina e isto assusta. Simples assim.

Para os que não lembram, Carrie Soto foi mencionada em “Malibu Renasce” como a mulher que teve um caso com Brandon Randall, marido de Nina Riva, a personagem principal do livro. O caso foi tão sério que o casamento da personagem acabou – não só pelo caso, mas por todo um conjunto de coisas –, então quando a noticia de que a Taylor estava escrevendo um livro sobre a amante, eu tenho certeza que muitos tiveram a reação que tive: “Como que vou gostar desta mulher?”. E, meus amigos, me permita ser bem clara: Taylor Jenkins Reid fez de novo. E fez tão bem feito, mas tão maravilhosamente bem feito, que Carrie Soto se tornou uma das melhores, mais fortes e mais bem construídas personagens que já tive o prazer de ler em minha vida. E por mais que a sinopse te leve a acreditar que o centro do livro é o retorno de Carrie as quadras de tênis, vou te mostrar nesta resenha que o centro deste livro não é o esporte, não é a vida amorosa de Carrie, mas sim a figura que ela presenta e as expectativas que a sociedade impõe as mulheres. “Carrie Soto está de volta” é um hino de livro, com o poder feminino em seu mais puro estado em cada página, e eu sou bem feliz de ter lido este livro, e você deve ficar também.

Depois dessa partida, uma repórter me perguntou diante das câmeras que conselho eu daria para as adversárias que estavam sofrendo quando me enfrentavam.
Eu respondi: “Sinceramente? Melhorem o nível do seu jogo”.
Essa entrevista foi exibida em todos os programas esportivos do país. Meu pai balançava a cabeça toda vez que ouvia. “Isso foi bem desnecessário, Carolina”.
Mas foi isso o que eu fiz”, lembrei a ele. “Por que todo mundo fica tão mal quando escuta a verdade?

A narrativa começa no ano de 1995 com Carrie e seu pai assistindo o jogo da tenista Nicki Chan no Aberto dos Estados unidos, que está prestes a empatar com seu record de vitórias, até ali o maior de todos os tempos. Levando quase que como um desafio, Carrie não está disposta a perder seu titulo de maior tenista de todos os tempos, e o leitor se questiona o que a levou até ali. Claro que quem já leu qualquer livro da Taylor, já está familiarizado com a autora mostrar diversas passagens do passado das personagens em diversas décadas de suas vidas (aqui temos uma narrativa que vai de 1955 até 1996), explicando bastante sobre como suas personalidades se formaram, e neste livro não é diferente: A história de Carolina “Carrie” Soto começa com seu pai, Javier “el Jaguar” Soto, indo da Argentina para os Estados Unidos para jogar tênis – mas então ele conhece Alicia, uma professa de dança que logo lhe rouba o coração. Alicia parecia ser uma mulher com os pés no chão, afirmando que não precisava de muito além de ter Javier com ela para ser feliz, mas ele tinha grandes sonhos para a família que estava formando com sua esposa. Entretanto, o destino termina tirando Alicia de seu marido e sua filha ainda bebê em um atropelamento, deixando a casa sempre com a sensação de que estava mais vazia do que deveria, como a própria Carrie deixa claro em determinadas passagens do livro. Crescendo só com o pai que amava o esporte, Carrie logo começa a acreditar que um dia será a melhor tenista do mundo, se dedicando duro para isto, treinando com Javier em qualquer momento livre que tinha, se privando de viver diversas experiências para conseguir chegar ao jogo que acredita ser perfeito.

À medida que vai crescendo, Carrie já vai mostrando a personalidade forte que ela mesma carrega consigo, um traço que é presente nas pequenas coisas e decisões da garotinha, como quando, na escola, ela faz uma coleguinha chorar depois de ser provocada e é punida por assumir o que falou, enquanto a outra nega que provocou Carrie. Claro que sua personalidade também é afetada pela criação solo do seu pai, que sempre via um potencial imenso em sua filha para se tornar uma grande tenista. A medida que foi crescendo e se tornando uma jovem adulta, Carrie colocava uma pressão em si para sempre ser a melhor porque era isso que via que o pai queria e Javier demonstrava isso bastante. Mas, ao mesmo tempo, fica claro para o leitor, que por mais que o pai de Carrie a levasse ao extremo em treinos e competições, ele a amava acima do tênis, o que vai causando uma certa aflição porque fica claro que eventualmente aquele relacionamento pode ruir devido a pressão do meio atlético.

Por melhor que eu fosse na quadra, isso nunca bastava para a opinião pública.
Não bastava eu jogar um tênis quase perfeito. Eu precisava fazer isso e támbém ser simpática. E meu carisma teria que parecer uma coisa natural e sem esforço.
Não poderia parecer que eu estava tentando fazer as pessoas gostarem de mim. Ninguém poderia desconfiar de que eu queria a aprovação do público. Eu via o que a imprensa escrevia sobre jogadoras como Tanya McLeod, o desprezo que mostravam por ela porque tentava parecer fofinha. E eu sentia esse mesmo desprezo.
Mas pelo amor. Isso já era pedir demais.

Estreando no circuito profissional, Carrie não muda sua personalidade em nada, e é aqui que o livro se torna a perfeição que ele é, porque há diversas e diversas passagens de Carrie questionando o fato dela ser uma das melhores em sua profissão, mas, ainda assim, não ter tantos patrocinadores e nem sequer fazer publicidade como as outras tenistas. A narrativa esta na década de 1980 e apesar do mundo ser outro, nós, mulheres, ainda sofremos com a mesma pressão imposta para todas nós: como assim uma mulher pode ser direta e falar o que pensa livremente, sem pudor? Como pode uma mulher colocar a carreira profissional acima do desejo de construir uma família e ter um marido para chamar de seu? Como alguém pode amar uma mulher que só pensa em trabalho? – e eu te desafio a me responder se estas perguntas também recaem sobre qualquer homem porque sabemos a resposta: não. Não há uma pressão sobre os atletas masculinos sobre quando eles formarão família ou por qual motivo eles não sorriem mais (sim), enquanto Carrie, dentro da trama, passa por tudo isso – e sabemos que na vida é assim também.

Não tiro da equação o fato da personalidade forte de Carrie afastar as pessoas dela. Há muita coisa que ela diz e fala que beira a grosseira, mas, ao mesmo tempo, é quem ela é e ela não deveria mudar porque os outros querem que ela mude. Claro que ninguém é obrigado a conviver com alguém assim, mas ela também não deveria mudar. Meu medo da personagem perder a personalidade forte crescia a medida que ia lendo a história de Carrie, e após uma aposentadoria forçada depois de ganhar 20 Grand Slams (que são títulos dos quatro eventos anuais mais importantes do tênis, que acontecem na ordem: o Aberto da Austrália, Roland Garros, Wimbledon e o Aberto dos Estados Unidos), ela resolve voltar a ativa depois da vitória de Nicki Chan que abre o livro, disposta a desempatar a conta das vitórias para seu lado. Carrie volta a treinar com seu pai e um tenista que também está prestes a se aposentar, chamado Bowe Huntley (que vem a ser um ex-alguma-coisa que Carrie teve anos atrás) e ai estava meu medo: algumas pessoas mudam quando se apaixonam, e deixo claro que está tudo bem ser assim, mas Carrie, até ali, já tinha provado quem era e o que queria da vida. Eu, leitora, torcia por ela continuar sendo quem era, evoluindo e aprendendo, se tornando uma pessoa melhor, mas não se dobrando ao que esperavam dela. Ela, assim como toda mulher do mundo, tem o direito de ser quem é sem ser tachada de “bitch” ou “sem coração”, e Carrie bate o pé e mostra que quem quer estar na vida dela precisa aceitar quem ela é porque ela está acostumada (mesmo que com dificuldade) a ficar sozinha. Sempre acreditei nisso, para qualquer pessoa, mas especialmente para mulheres, principalmente por ter crescido em uma casa só com figuras femininas. Que alívio que é ler sobre Carrie, sério.

E ficava cada vez mais difícil à medida que eu ia acumulando vitórias.
Tudo bem se eu ganhasse, desde que parecesse surpresa quando isso acontecesse e atribuísse tudo à sorte. Eu nunca deveria mostrar o quanto queria vencer, ou, o que era ainda pior, que acreditava que merecia ganhar. E jamais deveria, em circunstância nenhuma, admitir que não achava que as minhas adversárias eram tão boas quanto eu.
A maior parte dos comentaristas… eles queriam uma mulher com lágrimas de gratidão nos olhos, como se devesse seu sucesso a eles, como se devesse tudo o que tinha a eles.

Seguindo a trama, avançamos para o Aberto dos Estados Unidos de 1995, um retorno que pode significar tudo para Carrie, mas também pode mostrar que ela não deveria ter voltado a ativa, opinião que muitos jornalistas parecem ter. Carrie está mudada, mas não porque estão esperando que ela seja diferente de quem sempre foi: ela está mudada porque está amadurecendo, entendendo coisas sobre si e seu relacionamento com seu pai, que é o relacionamento central do livro. Na verdade, Carrie preenche cada página do livro: Carrie é o centro da história, é o coração e é a dona de todos erros e acertos nesta jornada. A medida que os jogos de tênis vão acontecendo, o leitor vão torcendo pela tenista, e se você se pergunta como você vai torcer por uma personagem em um esporte que você não entende nada (como foi meu caso porque entendo zero sobre tênis), eu digo para você não se preocupar porque é Taylor Jenkins Reid fazendo o que ela faz de melhor: transmitindo emoção, te fazendo ter raiva de personagens, te fazendo torcer por eles e te fazendo sofrer porque é assim que autora funciona em todos seus livros, e aqui não seria diferente. Carrie Soto é a personagem principal em cada pagina deste livro, assim como Evenlyn Hugo era a personagem principal do seu livro mesmo que os 7 maridos fossem mencionados. Carrie está em cada página deste livro de uma forma tão forte que ela se torna maior a cada passagem, trazendo todas as emoções reais de uma pessoa que convive conosco: amamos, odiamos, aprendemos com a personagem, bem como aconteceu com a nossa velha amiga Evelyn – e porque é assim que tem que ser quando lemos algo que nos impacta.

A medida que a história de Carrie vai chegando ao fim, você está esperando e torcendo muito para ela conquistar tudo que ela merece porque Carrie foi dona de sua história e merece tudo que ela quer – e, principalmente, ela merece tudo que ela precisa, mesmo que nem ela mesma entenda ainda o que seria esse “tudo”. Confesso que estava preocupada porque não parecia haver um final que honrasse a jornada da protagonista, mas minha fé na autora continua intacta, e quando o livro termina, você entende bem que Carrie realmente teve o final mais perfeito que poderia ter, deixando meu coração de leitora aliviado e repleto de orgulho depois de uma história que me fez ter raiva, pena e bastante amor por uma mulher que decidiu arriscar sem nunca deixar de ser quem era.

Ele sai andando em direção à porta. “Tudo o que nós conseguimos é efêmero. Em um segundo está na nossa mão, em seguida não está mais. Você tinha esse recorde, e podia acabar perdendo. Ou pode conseguir manter agora e perder de novo em dois anos. Eu queria que você aceitasse isso.
Balanço a cabeça enquanto tento encará-lo. “Eu não consigo.
Pois é”, ele diz. “Não conseguir colocar isso na sua cabeça é uma coisa que acaba comigo, hija. Mas eu não tenho como. Ninguém tem, só você.

E sim, “Carrie Soto está de volta” se passa no mesmo universo dos livros “Os Sete maridos de Evelyn Hugo”, “Daisy Jones and The Six”, “Malibu Renasce” e da novela “Evidências de uma traição”. Como já mencionei, Carrie vem de uma participação (apesar de não realmente aparecer) em “Malibu Renasce”, então é claro que a história dela está inserida neste universo da autora. Já resenhei 3 dos títulos acima de você pode encontrar as resenhas aqui no site ou você ainda pode vir na tag da autora aqui no site e ler tudo que já falamos e resenhamos sobre ela, inclusive temos um post sobre todas as adaptações que estão sendo feitas dos livros dela, tanto em formato de filme quanto de série.

Talvez Carrie Soto não caia nas graças dos leitores e isso me deixa um tanto quanto triste. Talvez ela te lembre um pouco Evelyn Hugo na determinação em seu trabalho, mas o fato é que Evelyn seria capaz lidar com a imprensa de um jeito que Carrie nunca aprendeu – ou quis. Como já falei acima, essa é a história de uma mulher que tem metas, sonhos, uma personalidade forte e que não cede mesmo quando está quebrada, nem mesmo por amor, que erra e que nunca parece ser capaz de desistir, que tem medo e não se deixa parar, e por isso, merece uma chance de ser amada por todos nós, leitores, por ser quem é. A própria Taylor Jenkins Reid já falou que está curiosa para saber como os leitores reagirão a personagem (clique AQUI para ler). Mas eu, como mulher, sendo cobrada para seguir sempre um script que muitos esperam de todas as mulheres, admirei Carrie por quem ela é e sua jornada de reencontro com quem ela quer ser e o que ela queria, além de sua evolução. Carrie Soto está de volta, mas não só isso: ela chegou em nossas vidas. Ainda bem.

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