Sinopse: Da mesma autora de Vermelho, branco e sangue azul, uma história cheia de reviravoltas sobre o que acontece quando você se apaixona pela pessoa que menos espera.
Chloe Green está a um passo de terminar o ensino médio e deixar False Beach, a cidadezinha ultraconservadora onde vive, para trás. Mas, antes disso, ela tem um último objetivo a cumprir: ser eleita a melhor aluna do colégio e a oradora da turma. Seu único obstáculo? Shara Wheeler, a garota mais popular da cidade, que arranca suspiros por onde passa.
Só que, faltando pouco mais de um mês para a formatura, Shara simplesmente desaparece. Todos são pegos de surpresa, mas Chloe tem um motivo a mais para ficar chocada: um dia antes, Shara a tinha beijado na boca sem maiores explicações.
Decidida a encontrá-la para tirar a história a limpo, Chloe logo se vê em uma busca bastante inusitada: Shara espalhou vários cartões pela cidade, dando pistas sobre o seu paradeiro e revelando uma personalidade até então desconhecida — e que pode mudar completamente os planos de Chloe.
“Eu beijei Shara Wheeler” não é absolutamente nada do que eu pensei que fosse. Claro, eu tinha lido a sinopse, mas quando a li, a primeira coisa que pensei foi que me lembrava muito de “Cidades de Papel” do John Green e eu até comentei isso com a Vi na época que vi a sinopse, então eu confesso que estava com um pouco de medo de pegar o livro e ler e me decepcionar, porque quem me conhece sabe que eu sou uma verdadeira cadelinha da Casey.
Bom. Fico feliz por estar enganada. Primeiro porque não só me decepcionei, como eu estou completamente APAIXONADA por essa história. De verdade. Eu amo muito “Vermelho, Branco e Sangue Azul” e “Última Parada”, mas esse livro me pegou de uma forma que eu não conseguia parar de ler ele porque eu precisava terminar, tão obcecada quanto a própria Chloe Green.
E é aí que eu vou começar.
“ Ela pisca para a recepcionista, a sra. Bailey, assim que entra. A sra. Bailey balança a cabeça daquele jeito de sempre, como quem diz: Que pena que uma aluna tão brilhante não pode ser uma mocinha educada, boazinha e heterossexual.
De que adianta? Eles já têm a Shara para isso”
Chloe Green está no último ano do ensino médio de uma pequena cidade e é uma das poucas pessoas que moram lá que é assumidamente lgbt. Então as pessoas conservadoras da cidade já levam isso como um “motivo” para pegar no pé dela e por isso ela resolve ligar um dane-se bem grande e decide que, se é para incomodarem ela, ela vai dar motivos. Então Chloe, apesar de ser uma aluna com notas excelentes – o que ninguém pode usar contra ela, vive se metendo nas mais diversas confusões.
Do outro lado está Shara Wheeler, que é basicamente o oposto. Shara é um anjo, é uma garota que é absolutamente adorada por todos, a cidade inteira agindo como se ela fosse uma santa e a única pessoa que não acredita nesse ato de bondade nem por um segundo é Chloe. Chloe e ela vivem competindo pelo primeiro lugar da turma e, o que as duas mais querem, é serem as oradoras da formatura da turma delas.
“A Shara com que Chloe passou quatro anos sempre pareceu uma criatura passiva e quieta. Você ouvia histórias sobre os fins de semana que ela passou dando comida para pessoas em situação de rua, ou ajudando alunos do quinto ano com a matéria, ou como modelo de sobrancelha no Japão, mas nunca a via fazer nada disso a menos que ela postasse uma foto maravilhosamente bem composta para seus vinte e cinco mil seguidores no Instagram. Ela simplesmente flutua de um lado para outro, sem nunca ter um fio de cabelo fora do lugar, usando uma saia do uniforme que sabe-se lá como parece mais curta do que a dos outros, mas se encaixa exatamente na regulação de comprimento. Ela não desobedece às regras.”
O problema é que, justamente pouco tempo antes da formatura, Shara encontra com Chloe em um canto da escola, a beija na boca e simplesmente desaparece. Não só desaparece como deixa a cargo de Chloe juntar os pedaços de informações que ela deixou, que vão guiar direto até onde ela está. Assim Chloe, com a ajuda de Smith e Rory (que são: o namorado de Shara e um vizinho dela, que também foi beijado por ela antes dela desaparecer), começa a investigar para descobrir onde a garota foi parar.
No meio de um monte de pistas desconexas, que só serve para deixá-los mais confusos – e os dois garotos, aparentemente apaixonados por Shara, meio magoados, tudo que Chloe quer é encontrar a garota porque não quer ser uma oradora porque a outra desistiu e porque quer provar para todos que ela não é o anjo que diz ser e isso a deixa bem obcecada, a ponto de colocar em risco tudo que ela conseguiu até ali.
“Smith dá um passo à frente, tocando o ombro de Dixon.
— Dixon, cara, cala a boca.
— Qual é, ela sabe como é o corpo dela! É uma piada, cara!
— Você está sendo um cuzão…
— Não, não, tudo bem — Chloe diz. — Sei sim como é o meu corpo. E, um dia, quando o Dixon tiver cinquenta anos e a segunda mulher dele o tiver largado porque ele é um treinador careca de futebol americano infantil com a personalidade de um bolo de carne congelado, e os filhos o odiarem porque ele nunca expressou nenhuma emoção além de raiva e tesão, ele vai lembrar do último ano do ensino médio e se dar conta de que ser rei do baile de formatura foi a única conquista que ele já teve na vida, e que, mesmo no absoluto auge da vida dele, antes de tudo ficar uma merda, aquela menina de Los Angeles com os peitões nunca quis transar com ele. ”
Chloe definitivamente não é a mocinha que eu estava esperando. Ela não era, como em outras mídias, obcecada com Shara porque achava que ela era uma mulher linda por quem ela estava apaixonada ou porque achava que elas estavam destinadas a ficar juntas (esse é o papel de Rory, mas já chego lá). Tudo que ela queria era apenas desmascarar Shara e por isso estava atrás da outra, não por um amor não correspondido.
Assim como Shara também não era nada do que eu pensava primeiramente. Conforme o livro vai passando, nós vamos vendo mais dela – mas não vou falar como essa história entre as duas se conclui não, isso é algo que merece ser lido no livro mesmo.
“ Há aquela dorzinha inicial, e há o momento em que ela passa pela porta de casa e sente a dor passar, mas existe todo esse tempo entre as duas coisas, em que ela luta para manter a média lá no alto na base do ódio, em que marcha pelos corredores e viola pequenas regras para sentir que fez algo para merecer a maneira como as pessoas olham para ela. Ela tinha tanta certeza de que não deveria acreditar em nada disso, que isso não teria como fazer mal a ela. Será que Shara estava certa? Ela realmente passou esse tempo todo com medo? Aquela raiva em seu âmago, a coisa que agarrava seu coração — e se sempre tiver sido medo, esperando ali dentro dela, finalmente dando as caras no primeiro dia do ensino médio? E se Willowgrove a afetou sim, afinal?”
Smith e Rory também me impressionam bastante no decorrer do livro. Um porque, apesar de parecer, não é o “típico garoto jogador de futebol” que vemos sempre e que é um grande idiota. Ele tem uma personalidade maravilhosa e é um dos meus personagens favoritos. E aqui que Rory entra, sendo o contraponto dele em algumas partes: de início ele parece ser o carinha atrás da garota impossível, mas depois nós vemos que tem muito mais nessa história do que nossos olhos nos mostram primeiramente.
Todos os relacionamentos nesse livro me agradaram em todos os pontos: desde as amizades até os namoros, é tudo muito bem escrito pela Casey, como sempre – em VBSA, o relacionamento de Alex e Henry é o maior ponto e em Última Parada, isso se engrandece com o relacionamento de amizade que August cria com seus colegas de quarto, então em “Eu Beijei Shara Wheeler” parece que sobe um nível ainda maior. É tudo muito apaixonante.
“Aprendi que muitos de nós, muitos mais do que eu imaginava, estão fazendo o possível pra sobreviver num lugar que parece não nos querer. Aprendi que sobreviver é pesado pra muitos de nós. E, pessoalmente, descobri que eu tinha ficado tão acostumada com esse peso que parei de notar o quanto de mim dedicava a carregá-lo.”
E, com isso, eu não posso deixar de elogiar novamente, como em todas as outras resenhas da Casey, a tradução feita por Guilherme Miranda. Ele sempre manda muito bem nas traduções e é obvio que aqui não foi diferente, sabendo “abrasileirar” nas horas certas e usando piadas – e pronomes neutros também, quando necessários, fazendo a leitura ficar ainda mais recheada de coisas que nós adoramos.
Além disso tudo, não posso deixar de pontuar que, mais uma vez, Casey fez um livro MARAVILHOSO e cheinho de representatividade como ela sabe muito bem fazer.
“Ela disse a si mesma que isso não a afetava. Ela sabia quem era. Suas mães a amam, seus amigos a amam, ela sabe quem é, e nunca comprou a ideia de que pessoas como ela fossem erradas, nem por um segundo.
É uma dorzinha incômoda quando um professor pede para ela parar de tentar usar frases da Bíblia para provar que o amor entre suas mães não pode ser errado porque diz bem ali que Deus é amor e todo amor vem de Deus, mas… não. Não, desde que ela possa voltar para casa ao fim do dia e ver as duas mulheres que a criaram sentadas em volta da mesa da cozinha, ela sabe que não é verdade.”
Não tem absolutamente nada que eu não tenha gostado nesse livro, de verdade. O plot, os personagens, os relacionamentos, tudo é muito bem feito, nos entregando romance, drama, um pouco de clichê, alguns tropes românticos (não vou falar quais porque isso também entrega bastante do plot) e quando termina você sente aquela sensação gostosa de felicidade de ter lido algo tão bom e tristeza ao mesmo tempo, porque você queria bem mais daquele mundo, daquela história e daqueles personagens.
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Magazine Luiza.