26.11


“O domínio das sombras” (A Era da Escuridão #2)
Katy Rose Pool
Suma – 2021 – 376 páginas
Tradução: Natalie Gerhardt

A trilogia que se iniciou com A Era da Escuridão toma um rumo ainda mais sombrio. Enquanto cinco jovens lutam para adiar o fim do mundo, forças poderosas se unem para derrubá-los.

Ephyra passou grande parte da vida com um único objetivo: manter sua irmã, Beru, a salvo. Para isso, ela enganou, roubou e matou, e no fim Beru partiu, preferindo a morte a uma vida amaldiçoada.

Jude dedicou anos a encontrar o Último Profeta, sacrificando os desejos de seu coração em nome da honra e de seus juramentos à Ordem da Última Luz. Agora o Profeta foi encontrado… mas Anton é diferente de tudo que ele imaginou, uma luz e uma tentação.

Hector perdeu tudo: sua família, seu reino, seu exército. Mas ainda não perdeu as esperanças. Enquanto Nazirah é arrasada por um grupo extremista que persegue Agraciados, ele se vê fazendo pactos cada vez mais sombrios na esperança de recuperar o trono.

Forças obscuras surgem, um grande poder sagrado está prestes a se libertar, a Era da Escuridão espreita… e, quando a luz e a escuridão se chocam, tem início o fim do mundo.

“O que eu acabei de ler aqui?”, foi a pergunta que eu me fiz assim que terminei de ler “O domínio das sombras”, o 2º livro da trilogia “A Era da Escuridão”, que foi a minha fantasia favorita do ano passado. Mas calma que eu vou tentar explicar porque pensei isso sem dar qualquer spoiler da trama – e vai ser difícil porque sinto que quase toda e qualquer coisa que eu mencionar será um grande de um spoiler, mas, vamos lá: se você não leu minha resenha do 1º livro, pode clicar AQUI e ler sem medo porque não dei spoiler algum.

Vamos começar a falar da trama pela mitologia que a autora já vem pavimentando desde o 1º livro, que aqui continua em expansão, mas de forma coesa e que faz total sentido para continuar guiando os personagens para seus papéis na chegada da fatídica era da escuridão, e preciso deixar claro algo que já falei na minha resenha anterior: não temos narradores confiáveis aqui, e justamente por termos isso e estabelecermos como verdade, já estamos esperando reviravoltas – mas, sinceramente, eu nunca tinha visto uma reviravolta na mitologia como foi criado aqui. E fez total, mas total sentido. Absoluto sentido. Mas ok, vou dar um passo para trás antes de chegar a falar sobre a surpresa desse livro (sem spoilers, prometo!).

Ninguém no salão de apostas enfumaçado sabia que uma assassina caminhava entre eles. Ephyra observava a multidão agitada composta de marinheiros e golpistas gritando e brigando nas mesas de jogos com dados, moedas e cartas espalhadas na superfície, enquanto dentes e joias brilhavam na luz difusa. Ninguém prestava atenção nela e, se estivesse ali para matar alguém, teria sido fácil demais.
Mas Ephyra não estava em busca de uma vítima naquela noite. Estava em busca de respostas.

Novamente estamos acompanhando Hassan, Ephyra, Jude, Anton e Beru, quase todos separados, com seus pontos de vistas completamente distintos e complexos. Por mais que o grande trunfo desta trilogia seja sim, a ambientação e a mitologia que trazem um grande frescor ao gênero fantasia, há ainda que se dar os créditos aos personagens que são sim, falhos, confusos, desesperados para alcançarem seus objetivos – tão desesperados que farão de tudo para conquistar o que querem. E, algumas vezes, eles só querem um ao outro, como é caso das irmãs Ephyra e Beru, que são, de longe, minhas personagens favoritas pela construção do relacionamento delas.

Mesmo fisicamente distantes, as duas ainda pensam uma na outra, e por mais que Beru esteja magoada com Ephyra, ela entende que a irmã tentou lhe proteger a vida inteira mesmo a um custo altíssimo até mesmo para si própria. A garota está tentando viver o que pode com o tempo que lhe resta, acreditando realmente está destinada a morrer, enquanto Ephyra novamente volta a tentar salvar Beru, se envolvendo com novas personagens que se tornaram meu núcleo favorito da leitura (Hadiza, estou olhando para você e, claro, mulheres sendo badass e chutando bundas: é pra isso que estou aqui). Como todo leitor pode presumir, é obvio que em algum ponto a narrativa das duas irá se cruzar novamente e você fica torcendo para acontecer logo porque elas duas valem a pena se resolverem. Sério, você quer torcer por essas personagens sim.

Talvez… talvez de alguma forma o pai soubesse que a Graça de Ephyra fosse maligna. Errada. Talvez ele soubesse do que ela era capaz, e talvez achasse que o Cálice podia curá-la.
Você precisa terminar o que seu pai começou. Foi isso que a sra. Tappan lhe disse em Medea. Se tinha alguma esperança de salvar Beru, precisava encontrar o Cálice.

Jude e Anton são os únicos personagens do núcleo principal que estão fisicamente juntos, mas, apesar de estarem juntos fisicamente, os dois prefeririam não estar e aqui temos a melhor construção de relacionamento durante a série: enquanto as irmãs Ephyra e Beru obviamente já se conhecem e se amam, Jude e Anton estão aprendendo mais sobre quem são, sobre o que esperam daquela guerra que estão entrando, e, principalmente o que esperam um do outro. E você shippa os dois. Ah, você shippa os dois, pode acreditar que você shippa e shippa muito e shippa forte. E eu não vou dar spoiler nenhum sobre o atual status do relacionamento dos dois, só vou ficar aqui, querendo logo ler o terceiro livro e poder shippar mais ainda.

E, para completar, temos Hassan, que foi, de longe, o pior núcleo dessa leitura, o que foi meio decepcionante para mim. Eu gosto do personagens, mas, ao mesmo tempo que ele parece que já descobriu quem é, ele fica procurando motivos para duvidar justamente de quem é, atrasando a sua vingança que eu quero que venha pra ontem porque a pessoa que o traiu foi demais para minha cabeça – e, principalmente, como o traiu. A trama dele no 1º livro até a conclusão foi uma grande e dolorosa construção para se ler, então aqui parece que o personagem ficou mais estagnado envolvido em seus desejos e pouca execução. Vamos ver no próximo livro.

Você sabe o que acontece na minha visão. Uma sombra vai encobrir o sol. As Seis Cidades vão ruir. Uma praga, uma tempestade de fogo, um rio de sangue, a terra se abrindo…
Sim, eu sei — retrucou Penrose com severidade.
E nada — continuou Anton depois de um segundo — que diga como impedir que essas coisas aconteçam.
Há um jeito — disse Penrose. — Tem que haver um jeito.


É assim como você sabe que as irmãs Ephyra e Beru vão se encontrar, você entende que todos personagens vão terminar se encontrando provavelmente antes do final da narrativa porque os destinos deles estão entrelaçados. A crescente e a procura deles por descobrir como evitar o que está vindo para eles é gigantesca, mas, ao mesmo tempo, parece que eles estão longe demais para simplesmente se esbarrarem, o que não faria sentido nenhum (também temos um mapa no livro guiando o leitor para entender as distâncias entre os núcleos dos personagens). Claro que toda jornada aqui é para chegar nesse ponto, e, se lembrem, este é um livro de transição entre a apresentação do enredo (1ª livro) e a conclusão (3º livro, chamado “Into the Dying Light”, já publicado lá fora). Como isso, eu te afirmo com todas letras que a narrativa não decepciona e entrega tudo que você já espera depois de “A Era da Escuridão”: você sabe que o perigo está ali e você sabe que esses personagens têm um papel naquela escuridão crescente, o que é realmente bom de se apresentar.

E lembra que eu comecei esta resenha com uma pergunta? Pois bem, eu a fiz porque esse livro me perdeu um pouco no começo da narrativa porque temos, de cara, uma grande surpresa em um dos núcleos, e foi uma surpresa que eu confesso que não gostei a princípio porque eu gosto da ideia do perigo e da possibilidade de que todos personagens estão em perigo, prestes a morrerem. Essa surpresa me tirou um tanto de ânimo de leitura por uma parte do livro, e quando eu enfim “aceitei” o que estava acontecendo ali (e acreditei que aquilo estava acontecendo por motivos de romance), veio a grande reviravolta no final que fez todo, mas todo sentido do motivo pelo qual está “surpresa” estava acontecendo – e que está ligada diretamente a reviravolta da mitologia que eu falei no começo desta resenha. É tão simples e brilhante ao mesmo tempo que fica difícil comentar sem entregar alguma coisa da trama, então eu só peço que você que me lê, confie em mim e dê uma chance a essa trilogia porque ela merece, merece muito mesmo, ser lida e adorada, porque por mais que a escuridão esteja chegando, você a quer presenciar em uma história de fantasia tão bem construída e ambientada que lhe dá vontade de participar daquela aventura. Mais uma vez, pode confiar em mim – mas não nos personagens desta série.

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