23.10


“A Era da Escuridão” (A Era da Escuridão #1)
Katy Rose Pool
Suma – 2020 – 376 páginas

A Era da Escuridão se aproxima. Cinco almas se põem no caminho. Qual delas vai impedi-la? Qual delas vai causá-la?

Por muitas gerações, os Sete Profetas guiaram a humanidade. Suas visões do futuro ajudaram a construir reinos, desarmar guerras e unir nações ― até o dia, cem anos atrás, em que eles desapareceram.

Agora resta apenas uma última profecia, que prevê a Era da Escuridão e o nascimento de um novo Profeta destinado a salvar o mundo. Quando, verso a verso, a profecia começa a se realizar, cinco almas colidem rumo ao mesmo destino:

Um príncipe exilado de seu reino.
Uma assassina brutal conhecida como a Mão Pálida.
Um líder dividido entre sua honra e seu coração.
Um jogador com o poder de encontrar qualquer coisa, qualquer pessoa.
E uma garota à beira da morte, cansada de lutar.

Um deles pode salvar o mundo. Um deles está destinado a destruí-lo.

Chegou aquele momento. O momento de escrever uma resenha assim que acabei de ler um livro e estou completamente e absolutamente apaixonada e encantada por ele. Escrever resenhas assim sempre são os momentos que mais espero e mais temo: estou tão encantada com o livro que só penso nele, mas também tenho medo de terminar não soando coerente em minha resenha de tanto que estou surtando e panfletando o livro. Vou tentar ser bem objetiva e te falar tudo que eu gostei desse livro, mas já digo que entrou (com bastante facilidade) para minha lista de melhores do ano pelo simples fato de ser muito, muito bem escrito. Muito mesmo.

A Era da Escuridão” é uma alta fantasia que tem 5 personagens centrais, como assinalado na sinopse: Hassan (O príncipe exilado), Ephyra (a assassina Mão Pálida), Jude (O líder dividido), Anton (um hábil jogador de cartas com um grande poder) e Beru (a garota à beira da morte), os 5 representados na capa do livro. Cada um deles tem ponto de vistas na trama, e assim que o livro começa, você se questiona se vai conseguir acompanhar porque eles estão quase todos separados – ou seja, além dos personagens principais com seus pontos de vistas, ainda temos de conhecer os personagens do seu pequeno núcleo, gravar seus nomes e entender o papel de cada um no começo da trama. Me peguei bastante preocupada com isso, mas confesso que antes da 1º parte do livro terminar (ele é dividido em 3 partes: “Arauto”, “Juramento” e “A Torre”) eu já estava completamente ambientada em um mundo completamente novo, com nova mitologia e aqueles personagens também. Agora calma que precisamos muito falar sobre a construção do lugar aonde tudo se passa.

Quando a Era dos Profetas desvanecer
E a sombra encobrir o destino do mundo,
Apenas a última profecia há de permanecer
Entregue ao defensor, o Guardião da Palavra.

O enganador enreda o mundo em mentiras
E os ímpios caem sob a mão pálida da morte
Quem jaz no pó se reerguerá
E em seu encalço vem a escuridão.

Mas nascido sob um céu iluminado,
Um herdeiro com a Visão abençoada,
Uma promessa quebrada do passado
O futuro obscuro é clareado.

A peça final da nossa profecia revelada
Em visão de Graça e fogo
Para derrotar a Era da Escuridão
Ou destruir o mundo de todo.

Assim que você abre a primeira página do livro, você já dá de cara com um mapa do mundo aonde tudo acontece. Isso me ajudou bastante para entender porque os personagens viajam pelos lugares que estão assinalados. Mas, além disso, preciso explicar que o mundo no qual estamos não é o que conhecemos: agora a humanidade possui os Agraciados, que são pessoas que receberam a graça de um poder, que são: A graça do coração (que aumenta a força, a agilidade, a velocidade e os sentidos), a graça do sangue (que é capaz de extrair energia para curar ou ferir), a graça da mente (capaz de criar objetos) e a graça da visão (capaz de sentir e localizar seres vivos). Esses agraciados receberam esses dons depois que os Sete profetas sumiram, o que aconteceu há 100 anos na narrativa. Mas, antes de sumirem, eles deixaram uma última grande profecia guardada por todos esses anos pela Ordem da Última Luz e seus paladinos, os quais juraram que iriam cuidar do profeta que surgiria segundo a profecia (que você pode ler na quote acima). O “problema” dessa profecia é que ela previa algo que era simplesmente chamada por “A Era da Escuridão”, que levaria ao fim do mundo.

Eu sei que você pode pensar: “Mas nossa, outro livro prometendo o fim do mundo?” e eu teria de te responder que sim, mas, ao contrário do que estamos esperando, aqui os papéis das pessoas não estão em evitar o fim do mundo e sim na própria Era da Escuridão, que levará ao fim do mundo. O mundo não vai acabar rapidamente e ainda temos 3 arautos que a profecia deixa claro: um enganador, a mão pálida e “quem jaz no pó”. A grande sacada do livro é justamente não fazer acompanhar quem vai EVITAR o mundo de explodir ou irromper em chamas, e sim em quem acredita que pode salvar o mundo e justamente levar ele a destruição. Não é algo que nunca vimos antes também, mas é algo construído em um mundo que fica subentendido acontecer daqui há 2 mil anos no futuro e com forte influência romana (sério, eu quase morri de amor).

— Vocês chamam este lugar de Cidade da Fé — respondeu Ephyra. — Mas a corrupção e o mal se proliferam por trás destas paredes brancas. Vou marcá-las do mesmo jeito que marco as minhas vítimas, para que o resto do mundo veja que a Cidade da Fé é a cidade dos decaídos.

Aquilo era mentira. Ephyra não viera para a Cidade da Fé para marcá-la com sangue. Mas apenas duas outras pessoas no mundo sabiam o verdadeiro motivo, e uma delas a esperava.

Cada um dos personagens está sendo guiado por um motivo diferente, e não temos aqui ninguém tentando ser um herói ou tentando salvar o mundo no começo da narrativa, e sim fugindo de seus próprios demônios ou tentando salvar alguém que ama. A medida que o enredo vai se desenrolando, vamos tentando entender qual o papel de cada personagem dentro daquele jogo de sombras, enquanto somos apresentados ao grande vilão da trama: o Hierofante (grande influência romana, lembra?), que na verdade não se sabe muito sobre ele, somente que é alguém que basicamente criou e lidera uma seita de fanáticos que acreditam que os Agraciados são o problema do mundo deles e que todos precisam ser exterminados. Claro que muitos agraciados, por seus poderes, se tornaram cidadãos com grande peso e alguns fazem parte de elites de luta, como Jude, que será nomeado o Guardião da Palavra e capitão da Guarda Paladina – sim, o que é mencionado na profecia. Jude ainda precisará escolher sua guarda e lidar com a volta de um velho amigo que estava sumido há um ano, tudo isso enquanto questiona o seu próprio papel dentro da Ordem da Última Luz, a qual promete seguir o último profeta e ajudar como puder, ao contraposto do Hierofante e as Testemunhas, os quais querem purificar o mundo – e até já possuem uma grande arma contra os Agraciados, mas hey, esta é uma resenha sem spoilers, então é só isso que falarei.

Enquanto isso, Hassan está exilado de sua terra natal, Nazirah, que foi invadida justamente pelo Hierofante e seus seguidores, deixando os pais lá como prisioneiros e indo para a cidade de Pallas Athos, do outro lado do Mar de Pélagos, ficar com sua tia Lethia. A cidade de Pallas Athos é aonde maior parte da ação do livro se passa e também aonde há um campo de refugiados de Nazirah, o qual Hassan frequenta mesmo sem contar quem é realmente e contra a vontade de sua tia, que deseja somente preservar a vida de seu sobrinho. A medida que Hassan vai entendendo a gravidade e o desespero que seu povo está passando, além do seu próprio de não saber de seus pais, vamos descobrindo que ele é alguém que estudou bastante para continuar sendo um bom rei como seu pai e também porque ele, ao contrário dos pais, não é um agraciado. Sua tia, mais velha, também não era, e Hassan já encontrou paz nisso mesmo ainda só tendo 16 anos e ainda podendo apresentar alguma graça, mas ciente de que seus pais eram poderosos e apresentaram seus dons em tenra idade. O coração de Hassan está no lugar certo e ele quer fazer jus ao titulo que carrega e salvar seu povo, seus pais e todos Agraciados. Mas (todo bom livro tem um “mas”) qual o seu papel nisso tudo?

Tudo que Beru sabia sobre Pallas Athos eram histórias do que a cidade fora em outros tempos — a Cidade da Fé, o centro das Seis Cidades Proféticas. Quando chegaram, ela ficou chocada com o que encontraram. A Cidade Baixa era repleta de apostadores e ladrões, e a Cidade Alta era o lugar onde sacerdotes atacavam crianças e deixavam a cidade apodrecer. A Cidade da Fé acabou sendo o lugar perfeito para a Mão Pálida.

Temos ainda Ephyra, a Mão Pálida (Isso não é spoiler, juro, é o primeiro capítulo do livro), uma garota que está somente tentando sobreviver com sua irmã, Beru. Elas duas são as únicas que estão juntas no começo do livro que possuem ponto de vista, e não quero falar muito sobre elas porque estamos em um terreno bastante difícil aqui, já como a ideia é não dar absolutamente nenhum spoiler. Acho que só preciso assinalar que o relacionamento das duas é a coisa que eu mais amei dentro de um livro que já amei horrores, além de falar que uma das duas também trouxe uma coisa que eu amei: ter um ponto de vista normalmente significa estar dentro da cabeça dele e saber o que o personagem pensa, mas não aqui porque os personagens desse livro escondem até de si mesmo lembranças dolorosas e verdades que eles não estão prontos para lidarem e com as duas aqui não foi diferente.

Encerrando o quinteto principal temos Anton, que foi o personagem mais misterioso de todos. Com um passado também repleto de segredos, ele está claramente fugindo de algo e todos que o encontram são capaz de notar o medo que carrega dentro de si. Ao mesmo tempo que pensamos que o personagem não vai apresentar muito, também ficamos intrigado com ele, querendo entender o que exatamente está acontecendo. E então você vai tendo mais pistas sobre ele e seu passado, compreendendo do que ele tanto foge e o que tanto o apavora.

A Ordem da Última Luz estava monitorando as atividades do Hierofante e os boatos sobre ele. Um dos rumores dizia que o Hierofante fora um acólito que renunciara os Profetas e começara a pregar contra eles. Outro dizia que ele tinha convencido um esquadrão inteiro de soldados heratianos Agraciados a usar suas espadas uns contra os outros. De acordo com seus discípulos mais fervorosos, o Hierofante era tão íntegro e tão puro que os Agraciados perdiam todos os poderes simplesmente ao estar no mesmo aposento que ele.

Jude e o restante da Ordem duvidavam muito que tais boatos fossem verdadeiros, mas eles demonstravam a natureza poderosa dos seguidores do Hierofante. Ele não era simplesmente um homem com ideias perigosas — ele se transformara em uma ideia, uma nova imagem para ser cultuada e seguida agora que os Profetas haviam partido.

Tudo vai acontecendo porque temos uma mão invisível e inexorável aqui, determinado aonde estes personagens estão, que são juntos em algum ponto da narrativa. Mas não se engane: eu falei somente deles porque são os principais e com pontos de vistas, motor catalisador de seus núcleos, mas há diversos outros personagens – e aqui preciso assinalar as personagens femininas. Mais um livro maravilhoso aonde as personagens femininas roubam a cena com todas suas falhas e qualidades (destaque para Penrose e Khepri). Não sinta que nenhum personagem está a salvo nessa narrativa porque não está, a sensação de temer pela vida de quem você quer vivo é real e qualquer um pode realmente morrer. Se questione tudo enquanto lê, não acredite em tudo que os personagens falam e ainda tente formar o quebra-cabeças que é o lugar de cada um nesse jogo contra a Escuridão – e eu prometo uma das narrativas mais inteligentes dos últimos anos.

Eu sinto que nem ao menos comecei a falar sobre o universo de “A Era da Escuridão” e não estou fazendo jus a narrativa, mas quero muito, muito mesmo, dar o mínimo possível pra vocês sobre a trama, além de deixar mais do que claro que acredito que vocês precisam ler, também apontando todo ambiente, seja a construção das cidades e vilas que aparecem durante o ivro, sejam as vestimentas dos personagens, tudo belissimamente narrado. Mas também não quero chegar ao fim desta resenha sem assinalar a diversidade e representatividade desse livro: existem personagens de diversas cores e sexualidades, aonde a diversidade é aceita, mas, ainda assim, lidamos com o preconceito – aqui contra os Agraciados, que são os “culpados” pelo que há de errado no mundo. Há todo o paralelo que podemos fazer com a dificuldade que a sociedade sempre enfrenta com o que há de diferente. E também não posso deixar de mencionar a trama política e religiosa que temos aqui: em um mundo aonde a humanidade há ruiu e renasceu, qual o papel de lideres religiosos? É realmente celebrar a fé e mostrar um caminho aonde as pessoas precisam aprender a se aceitarem sem encontrar culpados para as mazelas das escolhas humanas ou serem os primeiros a apontarem caminhos de salvação que ninguém é capaz de comprovar que irão funcionar, tudo através do ódio e segregação? Sei que parece que estou falando dos tempos atuais, mas estou falando da narrativa. Mesmo.

Eu já tinha ciência de “A Era da Escuridão” desde que foi lançado originalmente lá fora em setembro do ano passado, mas, como sou enrolada, terminei não lendo em inglês. Qual foi a minha surpresa ao saber que minha Editora da vida (Suma, te amo) iria lançar o livro – e entre o anúncio e a pré-venda foi basicamente um mês, nem ao menos consegui colocar os links de pré-venda no post de Lançamentos Literários (mas a notícia está AQUI). Fui procurar e a sequência, “As the Shadow Rises”, foi publicada em setembro agora. Os dois livros estão sendo elogiados a exaustão fora, e dizem que o segundo eleva o patamar do jogo, o que me deixa bastante ansiosa porque se for realmente melhor do que o primeiro… sei nem o que esperar dele. Um terceiro livro é esperado para ano que vem, mas ainda não temos título. Agora faça um favor para você mesmo se você for fã de Fantasias e outros mundos como eu: feche este navegador e venha ler este livro. Depois conta pra gente o que você achou porque eu tenho a sensação de que iremos ouvir falar BASTANTE dele. Estou apostando nisso.

Para comprar “A Era da Escuridão” basta clicar no nome da livraria:

Amazon.
Submarino.
Magalu.

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