18.10


“As nove vidas de Rose Napolitano”
Donna Freitas
Tradutora: Lígia Azevedo
Paralela – 2021 – 344 páginas

Quais são as consequências das nossas maiores decisões? Acompanhando Rose Napolitano descobrimos como nossa história pode ser reinventada a cada escolha e, às vezes, seguir rumos que não imaginávamos. Um romance profundo sobre uma mulher que nunca quis ser mãe e as diversas formas com que a vida pode nos surpreender.

Rose Napolitano e Luke estão brigando. Ele prometeu, antes do casamento, que não queria ter filhos, mas mudou de ideia. Ela prometeu tomar as vitaminas para engravidar, mas não o fez. De repente, o casamento dos dois passa a depender de uma única resposta: Rose consegue encontrar dentro de si o desejo de ser mãe?

Ao narrar uma escolha de vida decisiva em nove versões diferentes, Donna Freitas nos leva por todos os caminhos que moldam a vida de uma pessoa, refletindo sobre trajetórias que ressignificam o que é ser mulher. Um romance sobre amor, maternidade, traição, divórcio, morte e sobre como o destino pode interferir em nossos planos quando menos esperamos.

Todas as pessoas do mundo já tiveram aquele momento da vida em que tomamos uma decisão que gostaríamos de ter feito diferente – ou falamos algo e imediatamente nos arrependemos ou ainda vamos embora de um lugar e desejamos voltar no tempo e ficar – e é o que temos aqui em “As nove vidas de Rose Napolitano”, um livro que trata muito, muito bem das possibilidades que temos ao lidar com uma situação que é, por regra, decisiva em nossa vida e que muitas vezes nem sequer sabemos disso. Não é o famoso “E se” no seu mais famoso estado puro, mas um “E se…” com diversos formatos, então nenhuma surpresa que eu me animei tanto para ler o livro. E não me arrependi.

Aqui temos uma mulher simplesmente não quer ter filhos e que acredita não ter instinto materno. É isto. Bem simples assim. Não pense que Rose que teve uma família má que a traumatizou porque não, os pais dela são boas pessoas que criaram a filha da melhor forma como podia. Algumas mulheres simplesmente não tem aquela vontade de ter filhos, não se imaginam naquele lugar e não querem deixar de lado suas ambições de lado para focar na vida de uma criança. E elas estão erradas? Claro que não! Não há uma regra que obriga qualquer mulher a ter um filho, e por mais que a sociedade acredite que todas mulheres precisam ter filhos, principalmente para as que casam, nós, mulheres, sabemos que não há nenhum contrato assinado por nós assim que nascemos. Devemos ter filhos quando queremos, quando nossa vida está no lugar que queremos, ou podemos ter um filho em um golpe do destino da melhor forma – mas precisamos QUERER. E Rose não quer. Simples assim.

Quem é esse homem à minha frente, esse homem que eu amo, esse homem com quem me casei? Mal consigo ver a semelhança entre esse homem e aquele que costumava me olhar como se eu fosse a única mulher no Universo, como se eu fosse o sentido de sua própria existência. Eu adorava ser isso para Luke. Adorava ser tudo para ele. Luke sempre foi tudo para mim, esse homem com olhos brandos, pensativos, com o sorriso mais simpático e aberto do mundo, esse homem que eu tinha certeza de que ia amar pelo resto dos meus dias.

E quando Rose conheceu Luke, seu marido que beira a perfeição (tá…), ela deixa isso bem claro para ele enquanto ainda namoram: ela não quer ter filhos. Ela quer se tornar a Dra. Rose Napolitano, com seu mestrado em dia, sendo uma grande professora e ótima profissional. Luke é um fotografo e aceita a ideia de nunca ter filhos, o que parece perfeito. O relacionamento evolui e eles se casam, mas a pressão dos pais de Luke, Joe e Nancy, além de ver os amigos todos começarem a terem filhos, começa a mudar a ideia de Luke de não ter filhos e a pressão dele em cima da esposa vai escalando, e é isto que não consigo compreender no personagem: Rose não o enganou em momento nenhum, e tudo bem ele mudar (como alega em certa altura da narrativa), que agora ele quer ter filhos, que ele vê o mundo diferente – mas ele mudou, não Rose. Ele não deveria querer obrigar a esposa a mudar sua visão sobre a maternidade, mas é exatamente o que ele fez e por esse motivo eu, leitora que vos escreve, o desprezo (junto com alguns outros motivos que falarei adiante). Medalha de prata na competição de boy lixo do ano para você, Luke.

O relacionamento do casal chega a um ponto no qual Luke insiste para Rose tomar vitaminas para ajudar na concepção e ela, simplesmente para fazer o marido parar de lhe pressionar, aceita. E é aqui é o livro começa também nos dá as 9 possibilidades de vidas para Rose: Luke descobrindo que Rose não está tomando as vitaminas e a reação dela é a cena inicial do livro, dividido exatamente por 9 Roses que reagem a raiva com o marido lhe cobra até ceder e aceitar ter um bebê com ele para salvar seu casamento, cedendo a pressão do marido e dos sogros.

Se. Se.
Se amor fosse tudo que importa. Tontos. Fomos tão tontos. Ou só eu fui tonta? Por que Luke acreditaria no que eu dizia que queria quando ninguém mais acreditava? Por que seria a única exceção?

Um dos grandes trunfos da narrativa é não iniciar a narrativa das 9 vidas ao mesmo tempo porque isso seria, sem sombras de dúvidas, caótico: imagine acompanhar 9 diferentes ações de personagens? Primeiro somos apresentados a Rose 1, 2 e 3, e somente quando a Rose 1 encontra paz em suas escolhas, somos apresentados a rose 4, 5 e 6, para, depois que há um final para elas, encontrarmos a Rose 7, 8 e 9. Entre essas hipóteses, vocês podem imaginar, temos todas as respostas: A Rose que briga com Luke quando ele vai conferir seus remédios, temos a Rose que se desespera para salvar o casamento, temos a Rose pragmática – temos aqui 9 hipóteses para a situação que parecia partir o coração da personagem, já como, vocês podem imaginar, ela amava o marido profundamente.

Mas se você pensa que a narrativa se encerra ai, não: também aprendemos que não importa realmente o caminho que você vá tomar, de alguma forma, o destino irá agir. Rose, em alguns desses universos, cede a pressão e tem um bebê: uma linda menina chamada Addie. Mas será que Luke (sendo o boy lixo que é), iria ser o pai que ele acreditava que poderia ser? Será que dentro de Rose ela encontraria realmente a paciência e dedicação que se faz necessária para ser mãe? Será que ser mãe se faz necessário parir alguém ou criar e participar da vida da pessoa te dá o direito de ser mãe dela? E será que Luke realmente é a pessoa certa para ela? São tantas perguntas que vão sendo respondidas ao longo das hipóteses de “Roses” que me fazia cada segundo mais e mais adorar a narrativa, e Rose descobre muito mais sobre si mesma do que pensávamos a princípio, até mesmo em uma conversa maravilhosa com sua própria mãe.

Eu gostaria muito que o mundo fosse diferente”, continuo, interrompendo‑a. Sinto lágrimas se acumulando nos meus olhos. “Que as pessoas achassem tão normal uma mulher não querer ter filhos quanto querer. A pressão que eu sinto para ser alguém que não sou às vezes é forte demais. Eu sei que poderia fazer isso, se precisasse. Poderia dar um bebê a Luke. Mas tenho certeza de que não é o que quero. Eu gostaria de não sentir que essas são as escolhas que tenho à minha frente: fazer algo que não desejo para ficar com meu marido ou… deixar que meu casamento chegue ao fim.

A narrativa também não se prende a Rose e cobre o periodo de vida da personagem de 1998, quando ela conheceu Luke, passando pelo fatidico ano de 2006 na qual aquela briga pelas vitaminas acontece até o ano de 2025. Claro que ela é a personagem principal e temos uma visão completa da personagem, mas também entendemos que o destino é realmente um agente poderoso e que ele vai encontrar um jeito de se fazer de presente, não importa como as coisas parecem estar fora do lugar em determinados momentos. Alguns personagens são terríveis de se apegar (sim, estou olhando para toda família do marido, com Luke, Nancy e Joe, insuportáveis na minha opinião), e alguns outros deixam um gostinho de “queria saber mais” (e aqui estou olhando para Thomas), mas o livro não se arrasta mais do que deveria contar e isso também fez a leitura se tornar mais agradável ainda.

Claro que não aprovei todas as escolhas que as “Roses” fizeram durante a narrativa e confesso que tenho uma Rose favorita e ela definitivamente é a 9, mas terminei o livro com uma sensação leve justamente por mais que não pareça pela sinopse, “As nove vidas de Rose Napolitano” é um romance que também fala sobre acreditar em quem você é e esperar o melhor de situações difíceis e ruins. O destino vai chegar aonde ele precisa em sua vida, e você, por mais que se questione sobre aquela decisão tomada que tanto lhe assombra até hoje, pode ficar com o coração tranquilo porque você chegar exatamente aonde deveria estar. E isso é bom de se acreditar.

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