05.07


“Enquanto eu não te encontro”
Pedro Rhuas
Seguinte – 2021 – 320 páginas

Nenhum encontro é por acaso.

A vida tem sido boa para Lucas. Ele passou no Enem para estudar publicidade; se mudou com Eric, seu melhor amigo, do interior do Rio Grande do Norte para a capital; e conseguiu sua tão aguardada liberdade. Mas, no amor, Lucas é um desastre. O maior fã de Katy Perry no Nordeste tem certeza de que nem toda a sorte do mundo poderia fazer com que ele finalmente se apaixonasse pela primeira vez.

Até que, em uma despretensiosa noite de sábado em 2015, tudo muda. Quando Lucas e Eric vão na inauguração do Titanic, a mais nova balada da cidade, Lucas esbarra (literalmente!) em Pierre, um lindo garoto francês que parece ter saído dos seus sonhos. Em meio a drinques, segredos e sonhos partilhados, Lucas e Pierre se conectam instantaneamente. Eles vivem o encontro mais especial de suas vidas, mas o Universo tem outros planos para o futuro… Até a noite acabar, o que será que vai acontecer com eles?

Com uma voz original e divertida, repleta de referências pop e à cultura do Rio Grande do Norte, o livro de estreia de Pedro Rhuas vai te fazer rir alto e se apaixonar.

Vamos do começo que eu aposto que vocês já sabem: eu não sou fã de livros romance. De comédia romântica, eu até acho que encaro melhor e sou mais aberta a gostar e me empolgar, o que já é o caso de “Enquanto eu não te encontro” – que sim, é uma comédia romântica leve, feliz e muito, muito gostosa de ler. Mas o livro tem muito, muito, muito mais a oferecer além de uma leitura leve e feliz: tem MUITA representatividade. Muita. De todos os tipos. Representatividade perfeitinha.

E calma que tem mais coisas pra assinalar pra vocês também: Tem um casal gay no centro de toda narrativa. Tem um casal de lésbicas que são maravilhosas. E se passa no nordeste. E tem menção aos “Instrumentos Mortais”. E tem menção à vários livros que amamos (vários MESMO). Tem muitas, muitas menções à Katy Perry. E tem menções à Taylor Swift também (eu amo as duas!). E também tem menções à cantoras indies que eu amo (Foxes!). Tem personagem chamando a mãe de “Mainha” e diversas expressões nordestinas. Sério, gente, eu não consigo nem parar de citar a quantidade de coisas que eu AMO que está nesse livro. Chegou uma hora que eu estava em uns 70% da leitura que eu só pensava que não tinha como esse livro melhorar. Mas melhora sim e eu vou te explicar muito sobre, tudo sem spoiler pra ninguém ter sua experiência de leitura estragada!

Alguém me disse que a infância guarda a maioria das respostas; que só encontramos paz de verdade dentro de nós ao curar a criança ferida que nos habita. Mas quando essa criança não consegue se ver representada em lugar nenhum, se entender se torna difícil.

Passei a adolescência buscando histórias de pessoas lgbtqiap+ como eu, mas logo percebi que haviam sido confinadas às entrelinhas: eternos papéis secundários, morrendo dramaticamente no final ou sequer existindo. Fiz uma promessa que, se um dia contasse a minha história, gritaria logo nas primeiras páginas sobre o viado orgulhoso e nordestino que sou. Reparação histórica.

Em 2015 somos apresentados à Lucas, que mora agora em Natal, capital do Rio Grande do Norte. Vindo de Luna do Norte, pequena cidade do interior, Lucas encarou a ida para a Universidade Federal estudar publicidade como sua emancipação, mesmo que ainda aceite ajuda de seus pais para alugar um apartamento com seu melhor amigo, Eric. Lucas já tinha assumido sua sexualidade para seus pais, mas uma coisa é viver em uma cidade pequena no interior do nordeste, outra é entrar no universo universitário e poder ser quem você é livremente, com todas suas cores, gostos e jeitos. Lucas e Eric tem uma longa história de amizade, mas que está sendo um tanto quanto abalada porque Eric agora está namorando um cara e parece ter deixado seu melhor amigo de lado para aproveitar aquele amor.

Lucas parece um pouco ressentido do amigo, que tenta fazer as pazes com ele o convidando para saírem naquela noite para aproveitarem, e é ai que Lucas se dá conta que aquela é a noite da abertura da grande boate que iria movimentar a noite potiguar: a Titanic. Já querendo demais conhecer o lugar e tentar aproveitar a noite, Lucas aceita ri com Eric e seu namorado Raul. E então tudo que o garoto acredita que não dá certo em sua vida começa a dar (mesmo que seja depois de um desastrado esbarrão) porque o destino coloca Pierre, um francês, em seu caminho. E em uma única noite, um coração que nunca tinha se aberto para o amor vai conhecer a magia de se estar apaixonado por um cara que é absurdamente bom – tão bom que me peguei fazendo teorias de que ele tinha de ter algum defeito, mas tá ai: não, “Enquanto eu não te encontro” não é esse tipo de comédia romântica aonde alguém vai ferir o coração de Lucas, e é sim, uma comédia romântica de erros.

Eu o assisto como a um espetáculo. Devo ter sido enfeitiçado (uma dose de Felix Felicis? Foi isso o que o francês me ofereceu?). Sinto como se estivéssemos unidos por uma linha magnética ou mágica, ou uma combinação poderosa de ambas.

Ouvir sobre sua vida me transporta para um mundo que não é o meu, mas que é, também. Descubro nele uma pessoa tão real quanto um personagem literário, confrontado com uma trajetória diferente de tudo que vivi em Luna do Norte, entre a linearidade das estações e minhas poucas viagens.

Me sinto fascinado por ele, deslumbrado pela névoa sutil que nos rodeia e pelo desejo atropelado de compartilhar mais, de saber mais.

A noite que Pierre e Lucas compartilham parece tão perfeita, mas tão absurdamente perfeita, que teve até uma pequena previsão de uma Drag Queen maravilhosa (alô, Holly, sua rainha!). A conexão dos dois é tão intensa que transcende as páginas e sim, você vai shippar os dois imediatamente. Fazia tempo que eu não lia um personagem como Pierre, alguém naturalmente bom, gentil, honesto, que procura por algo que ele entendeu que não tinha em sua vida na França. Ele realmente merece destaque porque foi muito, muito bem escrito a ponto de encantar até mesmo aquelas pessoas que não gostam de mocinhos e tem grandes quedas por vilões (e sabemos que muitas pessoas preferem os vilões e tá tudo bem!). Acho que foi uma surpresa entender que o grande desafio de Lucas e Pierre (por favor, qual o shipname?) seria algo bem maior: o destino.

Entrando em cena a vida desastrada que Lucas sempre afirma ter, vemos o destino realmente colocar obstáculos entre os dois, fazendo com que o leitor se contorça para que o reencontro aconteça logo. E isto acontece? Isto não acontece? Eu sinceramente não quero falar porque quero todo mundo lendo essa pequena obra-prima que daria um filme delicioso de se assistir (Alô, Netflix, corre!) enquanto vemos as desventuras de Lucas e como a vida está mostrando para ele que muitas vezes desejar algo não significa que acreditamos merecer aquilo. Em diversas passagens me identifiquei muito, mas muito mesmo, com Lucas, que não se encontra principalmente porque ainda não sabe exatamente o que quer – mas sabe muito bem o que quer.

Uma das minhas descobertas foi realmente chocante. A razão pela qual não conseguia me apaixonar era delicada: eu não gostava de mim.

Eu afastava as pessoas antes que me rejeitassem e sentissem o que eu mesmo sentia a meu respeito — nada. E como eu não tinha um bom relacionamento comigo, era difícil ter com os outros.

Ainda quero fazer todo aceno para a trama de Eric, que entrou no seu primeiro relacionamento e acredita que nós recebemos o amor que merecemos (Sim, você reconheceu a frase, eu sei. E sim, ela está no livro. Lembra que eu falei que vários livros que amamos são mencionados durante a trama? Então!), e me deixou com o coração apertadinho pelo personagem, com vontade de entrar na trama, ser amiga dele e o consolar. Mas, pra ser sincera, no final da leitura, eu queria entrar no livro e ser amiga de todos personagens, absolutamente todos.

No resumo, aqui temos uma trama que vai te fazer rir e ficar com o coração quentinho na medida certa, com problemas reais de pessoas jovens que estão tentando se encontrar no mundo e, claro, com uma grande trapalhada do destino para tentar separar os personagens. Há momentos altos para todos personagens, como há momentos com os quais queremos dar uns tapas neles, exatamente como acontece com nossos amigos – e como eles devem se sentir em relação a gente também –, tudo com naturalidade. Só posso dar todos os parabéns do mundo para o Pedro Rhuas que em seu 1º livro mostrou que comédias românticas são para todos, basta simplesmente ter a sensibilidade necessária para escrever personagens que nos importemos com eles. E, também, sendo sincera, por fazer meu coração de pedra derreter um pouquinho e shippar bastante os personagens juntos. Vá ler “Enquanto eu não te encontro” o quanto antes porque você precisa conhecer Lucas, Pierre, Eric, Thamy e Ana – e entender que vai ter comédia romântica com a representatividade necessária que a gente sempre mereceu.

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