19.02


“É assim que se perde a guerra do tempo”
Amal El-Mohtar e Max Gladstone
Suma – 2021 – 192 páginas

Uma história que atravessa tempo e espaço para narrar o destino de duas viajantes do tempo rivais que se apaixonam e precisam mudar o passado para garantir um futuro juntas.

Entre as cinzas de um mundo em ruínas, uma soldada encontra uma carta que diz: Queime antes de ler.

E assim tem início uma correspondência improvável entre duas agentes de facções rivais travando uma guerra através do tempo e espaço para assegurar o melhor futuro para seus respectivos times. E então, o que começa como uma provocação se transforma em algo mais. Um romance épico que põe em jogo o passado e o futuro.

Se elas forem descobertas, o destino será a morte. Ainda há uma guerra sendo travada, afinal. E alguém precisa vencer.

Fazem alguns dias que terminei de ler “É assim que se perde a guerra do tempo”, livro que ganhou 3 dos maiores prêmios atuais de literatura (Nebula, Hugo e Loctus) e, sinceramente, ainda tenho muitos problemas de ordenar meus pensamentos sobre o livro – então imaginem como está sendo difícil colocar no papel minha opinião. Mas, assim como Red e Blue, eu tenho que tentar de tudo para conseguir o que quero, e aqui me encontro, chegando a um consenso de escrever uma resenha como nunca escrevi antes: vou analisar o livro sobre sua trama e o romance.

O livro é uma ficção científica clássica, com mundos ruindo e viajantes do tempo que se movem entre as linhas do tempo, indo ao passado ao futuro, percorrendo mundos em colapso e servindo de peões em uma guerra que elas sequer tem todas as informações sobre, e, para ser sincera, nem eu tive e nem você, quando for ler o livro, vai ter também, já te adianto isso, porque além de ser uma ficção científica muito original, o que temos aqui é uma grande história de amor. Aquele tipo de amor que a outra pessoa é capaz de perder uma guerra para poder sentir. Sim, eu coloco o livro nesta categoria, com toda certeza que tenho, e não desmereço isso de forma nenhuma porque o romance deste livro beira o impecável, além da grande representatividade que tem, já como é um romance sáfico. É lindo, é poético, é de fazer seu coração doer, é absurdamente muito bem escrito e é doloroso, tudo que uma grande história de amor precisa ser.

Eu aprecio a sua sutileza. Nem toda batalha é grandiosa, nem toda arma é violenta. Mesmo nós que lutamos guerras através do tempo esquecemos o valor de uma palavra no momento certo, um ruído no motor do carro certo, um prego na ferradura certa… É tão fácil esmagar um planeta que o valor de um sopro em um banco de neve pode passar despercebido.

Mas, começando do começo, eu tive problemas a leitura assim que a comecei porque tive a sensação de que não estava entendendo absolutamente nada. De cara somos apresentados a Red, que trabalha para a Agência, e a Blue, que trabalha para o Jardim, e entendemos que as duas agências estão, através do tempo e espaço, brigando e duelando, passando por cenários como Roma antiga até mesmo o espaço. Acho que esse foi o elemento que mais me frustrou na narrativa (e, normalmente, deixo para falar o que me incomodou no final de minha resenha, mas como esta resenha foge a todas outras que já escrevi, vamos lá): a falta de informações sobre esses dois personagens tão importantes porque não entendi aonde começou e nem mesmo qual é a real finalidade dos dois, já como simplesmente destruir o outro parece algo simples demais para o tamanho da guerra na qual estão metidos.

O livro tem uma edição com gravuras e capa dura pela Editora Suma, que é um dos meus selos favoritos da minha Editora favorita, além capítulos curtos e, claro, a narrativa segue as cartas trocadas entre as personagens, exatamente como a sinopse deixa claro desde começo. Esse foi um grande trunfo da narrativa porque a escrita dos dois autores é altamente poética e lírica (e confesso que nunca tinha tido uma leitura com esse tipo de escrita dentro da ficção científica, sempre mais voltada ao gráfico e descritiva), o que claramente não deixa a leitura entrar no marasmo, mas também provoca uma sensação de confusão. E eu entendo que foi justamente a intenção: estamos em uma guerra do tempo, com pessoas viajando por épocas do passado, presente e futuro. Não podemos esperar que a história seja contada em uma linha temporal linear e nem que tudo vá ser entregue facilmente para quem lê. E é nisso que o livro se torna genial e mereceu realmente todos os prêmios que recebeu.

E marcam as horas muito bem. Há uma de você, mas tantos de nós — peças sobrepostas em peças, cada uma com os próprios traços, desejos, propósitos. Uma pessoa pode usar rostos diferentes em salas diferentes. As mentes trocam de corpo por esporte. Todo mundo é o que quiser.

Então temos a parte que faz toda, absolutamente toda, leitura valer a pena: o romance entre Blue e Red. Duas personagens singulares, únicas, com personalidades bastante distintas e que faz seu coração doer e torcer pelas duas infinitamente. Em lados opostos nessa guerra infinita, as cartas entre as duas começam como uma troca leve de ofensas e provocações, se tornando mais e mais profundas ao ponto das duas entenderem que se amam e estão disposta a correrem o risco para sentirem este amor. E como a narrativa vai desenrolando através das cartas trocadas entre as personagens durante suas diversas vidas (já como, quando se movem pelo tempo, elas assumem “papeis” naquelas vidas) repletas de sentimentos. Você pode sentir como uma provoca na outra reações que nem elas mesmas entendem no começo, que vai se desenvolvendo mais e mais até um amor maior do que a própria vida que levam. Nesse aspecto, o livro alcança sua finalidade com maestria porque você se apega as pessoas, você sofre por e com elas, você sente, e por isso que dou mais pontos ainda ao livro.

A medida que o livro vai se passando, a certeza de que tudo está indo de mal a pior vai aumentando, e são nas cartas das personagens que encontramos consolo, por assim dizer. A forma como elas tem esperança através das cartas vai se acumulando dentro do leitor, e, por isso, quando você chega em uma certa altura da narrativa que entende o plano de uma delas e como tudo muito provavelmente vai ter errado é de doer. Precisei de um momento para poder respirar e voltar a leitura nessa parte simplesmente porque não queria ver tudo dar errado – esse foi meu nível de apego as personagens.

Eu gosto de escrever para você. Eu gosto de ler você. Quando termino suas cartas, eu passo horas desvairadas em segredo compondo respostas, ponderando maneiras de enviá-las. Eu consigo desencadear qualquer combinação química com uma frase cuidadosamente composta; uma fábrica dentro de mim produz qualquer droga que eu queira. Mas a sensação de ler e enviar não se compara a droga alguma.

Quando o livro chegou ao final, eu me perguntei simplesmente: “Por quê?”. Por qual motivo dois escritos terminariam a narrativa assim, tão abruptamente, tão sem todas as respostas que precisamos, sem todas os detalhes, sem preencher as lacunas, mas então voltei ao ponto de entender que é uma narrativa sobre o tempo e nossa percepção dele, e foi ai que o final cresceu em mim, me fazendo piamente acreditar que terminou exatamente como todo o livro se propôs: a contar uma história atemporal, um amor que transcendeu as páginas e uma forma de mostrar como se pode perguntar uma guerra, mas não se perde tempo lendo sobre esta guerra.

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