17.04

Título: Aladim
Editora: das Letras, selo Zahar
Páginas: 123
Sinopse: Aladim finalmente ganha uma merecida edição individual que oferece ao leitor toda a riqueza deste conto de As mil e uma noites, como narrado por Sherazade. Habitualmente retratada como simples aventura infantil, a história do adolescente rebelde que luta pelo amor da princesa e pela lâmpada mágica mostra-se aqui muito mais rica e complexa. Esta nova versão, organizada pelo estudioso Paulo Lemos Horta e traduzida para o português a partir da aclamada versão inglesa de Yasmine Seale, recupera detalhes, sutilezas e a força narrativa do original. Podemos ouvir a voz feminina e única de Sherazade hipnotizando o Sultão que ameaça matá-la quando a história acabar – mantendo-o assim à espera do episódio seguinte, tal como nós. A versão impressa apresenta ainda capa dura e acabamento de luxo.

Queria falar para vocês sobre essas versões maravilhosas que a Zahar está lançando dos contos de fadas. Já tive o prazer de ler a versão original de Peter Pan, que também tem resenha aqui no site. E é tão incrível quanto qualquer adaptação de cinema. Além de terem capas que arrasam em qualquer prateleira (gente, sério, essas capas duras da Zahar ficam perfeitas na minha estante).

O legal dos contos da Zahar é que eles trazem a versão original das histórias.
Dessa vez, o conto de fada que eu escolhi foi o do Aladim, um dos meus filmes e histórias favoritas, que recentemente ganhou uma adaptação brilhante  de live action, estrelando Will Smith, e com uma trilha sonora de parar o coração.

Mas enfim, na versão de Aladim da Zahar, a editora nós traz a história original, a mais antiga mesmo, remetida de centenas de anos atrás. O legal dessas edições, aliás, é que antes de elas começarem, a editora sempre explica da onde surgiu a história, quem foi o autor, a alteração que ela sofreu com o tempo e ao longo de suas diversas adaptações, e até fala um pouco sobre a cultura ao redor do conto.

Logo nas primeiras páginas de Aladim, temos uma extensa explicação das origens da história e a Zahar nos revela que até hoje o autor de Aladim não foi descoberto. Eles também explicam algumas das diferenças entre versões e adaptações.

Vou citar só algumas diferenças da versão original publicada pela Zahar e a versão da Disney.

O nome do príncipe é Aladim, igualzinho ao desenho. Mas se no desenho ele nos é apresentado como vindo de alguma parte da Arábia, na história original Aladim é de um pequeno vilarejo Chinês.
No filme, Aladim é retratado como um órfão que vive sozinho pelas ruas da cidade, já no livro, ele vive com a mãe.
Também há diferença na própria personalidade de Aladim, que no livro é bem mais egoísta e preguiçoso do que no filme, mas não deixa de ser um personagem cativante, e que evolui bastante com o tempo.
No original, o modo como Aladim conhece o mago que o leva até a caverna é super diferente do filme, inclusive o primeiro objeto que torna possível o contato com o gênio também é outro, e há uma passagem de anos entre sua entrada na caverna e o momento em que ele conhece a princesa (que também atende por outro nome no livro).

Nada disso, entretanto, torna a história menos interessante. O conto é pequeno e pode ser lido em apenas algumas horas, e me prendeu do começo ao fim, porque todos os elementos que amamos tanto em Aladim e que tornam o filme tão adorável estão presentes no conto original. A narração é em terceira pessoa, e o curioso é que o narrador seria uma personagem da própria historia, que está narrando o conto para o Sultão.
Veja esse trecho do prefácio:

“De todo modo, se é uma narrativa cativante que você quer, esteja certo de que vai encontrá-la neste relato que foi levado da cultura de narração de histórias dos cafés de Alepo, na Síria, para os salões de Paris no início do século XVIII. Se é o prazer da narrativa e o deslumbramento do conto por trás do filme que você procura, reconhecerá cenas famosas aqui: a descida de Aladim à caverna das riquezas, a aparição do escravo da lâmpada, a primeira visão da filha do sultão, o desfile de Aladim feito príncipe.”

Podemos pensar na leitura do original de Aladim como uma inversão. Na maioria das vezes, lemos primeiro o livro e depois vem a adaptação. Nesse caso é o contrário, mas, de qualquer modo, o original ainda bate a adaptação ao meu ver. Por ter todos os elementos culturais que nos filmes são bem fantasiados e pouco explorados (Aladim, por exemplo, é bem religioso). Claro que as adaptações cinematográficas, ainda mais as da Disney, que sofrem um processo de infantilização, tem suas histórias alteradas. Mas do meu ponto de vista, é maravilhoso poder conhecer a história original que levou Aladim até o cinema e tornou-o parte da nossa infância.

Recomendo muito a leitura do original de Aladim! É maravilhoso poder me surpreender com novos desdobramentos de uma história que eu amei tanto quando criança e ainda amo, e ter aquela sensação gostosa de estar vivendo a entrada até a caverna, o encontro com a princesa e todas as cenas que nos levaram a paixão pela história, tudo pela primeira vez novamente, e sob um novo ponto de vista!

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