28.01

Sinopse: Tierney James vive no Condado de Garner, uma sociedade patriarcal onde as garotas aprendem desde cedo que sua existência é uma ameaça.

Lá, acredita-se que jovens mulheres detêm poderes obscuros e, por isso, ao completarem dezesseis anos, são enviadas a uma espécie de campo de trabalho, no qual devem permanecer durante um ano para se “purificar”.

Mas nem todas retornam vivas e as que voltam parecem diferentes. No Condado de Garner, é proibido falar sobre o Ano da Graça. Mas Tierney está pronta para subverter as regras.

O Ano da Graça é uma história brilhante, assustadora e atual sobre os complexos laços formados entre mulheres e a resistência delas em uma sociedade misógina, patriarcal e desigual. O livro será adaptado para o cinema pela Universal Pictures com produção e direção de Elizabeth Banks.

No condado de Garner todas as mulheres são consideradas “bruxas”. Quando elas atingem uma certa idade, elas são obrigadas a saírem de dentro do Condado onde moram para ir até um campo onde elas tem que se purificar de todas as impurezas das bruxarias e dos poderes que elas tem – e que graças a esses poderes elas seriam capazes de fazer mal aos homens e a patriarcado deles rs -, para serem as esposas submissas, belas, recatadas e do lar como elas deviam ser desde o inicio, o que é conhecido como o “Ano da Graça”, que realmente me lembrou muito a arena dos Jogos Vorazes, com a diferença que as meninas tem que ficar lá por um ano e não só aproveitar e voltar depois de um ano, mas lutar para sobreviver, visto que nem todas as garotas voltam vivas do ano da graça – e mesmo as que voltam vivas, podem acabar voltando com alguma parte do corpo faltando.

A maior regra sobre “O Ano da Graça” é que nenhuma mulher que já foi diz o que aconteceu lá. É tudo envolto em um grande segredo que as meninas que nunca participaram não apenas tem curiosidade, como também tem muito medo, afinal como você vai lutar contra algo que pode causar a sua morte, sem ao menos saber como é e o que está esperando por você do lado de fora? Junte isso ao fato de que, nem todas as meninas que voltam tem um casamento garantido: entre as mais de 30 meninas que vão, apenas algumas poucas são escolhidas pelos jovens cavalheiros de boas famílias para serem as esposas perfeitinhas que eles esperam que elas sejam: como já era de se esperar em um momento desses, meu sangue estava borbulhando de ódio esperando que viesse alguém que acabasse logo com isso. E é aqui que entra Tierney James.

“Casar não significa privilégio algum para mim. Não há liberdade no conforto. As algemas podem ser acolchoadas, mas não deixam de ser algemas.”

Tierney James é uma garota que acabou de fazer 16 anos e com isso conseguiu a sua passagem de ida para o tal Ano da Graça para ser purificada e é do ponto de vista dela que nós temos a história contada desde um dia antes ao dia que ela teria que sair: nós vemos o quanto ela tenta convencer não só sua mãe, mas suas duas irmãs mais velhas a contarem a ela o que acontece lá – além de descobrirmos que ela, junto com seu melhor amigo de infância, tentam descobrir tem anos já o que acontece nesse ritual de purificação.

No dia anterior, ela troca o laço branco e virginal que usa no cabelo, como simbolo da inocência dela, por um laço vermelho, que indica que ela já entrou naquela idade em que as moças podem ter certos poderes pelos rapazes e eu não tenho palavras para expressar o tamanho asco que eu sentia enquanto lia a cena em que ela caminha pelo mercado e os homens, de todas as idades, achavam por bem olhar para ela como se fosse um pedaço de carne – e pior ainda, que aquilo ali era culpa dela.

“— Era o nosso Dia do Véu. Ela estava andando pela cidade e um homem simplesmente a capturou, a jogou sobre o cavalo e se enfiou na mata. Nunca mais a vimos.
Estranho. O que mais me lembro dessa história é que, apesar de Anna ter berrado e chorado por toda a cidade, os homens declararam que ela não tinha tentado resistir o suficiente, então puniram a irmã mais nova dela em seu lugar, mandando-a para a zona de prostituição nas margens. Essa é a parte da história que ninguém conta.”

Claro que, como toda boa distopia, era de se esperar que essa fosse a sensação que a autora queria nos causar realmente, mas é impossível ler “O Ano da Graça” e não pensar em como as coisas funcionam para nós mulheres até hoje em dia. Sempre sendo assediadas e culpadas por esse assedio, como se nossas roupas, nosso caminhar, nosso falar, fosse algo que estivesse dando abertura para sermos tratadas com qualquer coisa diferente de respeito, mas isso é todo um outro tópico que eu não vou ficar abordando aqui na resenha, prometo!

Tierney logo é levada para o campo onde acontece a purificação e nota pequenas coisas: como tem uma árvore lá com pequenos pedaços de pessoas: dedos, línguas e afins. Além disso, todas as coisas que sobraram do ano anterior foram queimadas pelas meninas que deixaram o campo, como se elas não fizessem a menor questão de se ajudar, sem um pingo de sororidade, mas não demora muito para ela descobrir que as coisas são diferentes do que todo mundo realmente acha que é, e é aí que a luta pela sobrevivência dela começa.

“Em vez disso, continuamos isoladas e mesquinhas, nos comparando umas às outras, com inveja do que não temos, consumidas por desejos vazios. E quem se beneficia de toda essa competição? Os homens. Somos mais numerosas do que eles, duas mulheres para cada homem, mas aqui estamos, trancadas em uma capela, esperando que eles decidam nosso destino.”

Não demora muito para, no meio de tudo que está acontecendo nesse campo (nada de detalhes porque é spoiler demais!) as outras meninas, que realmente não sabem muito além de ficarem umas contra as outras, colocarem Tierney para fora, deixando ela a mercê dos predadores, que são pessoas que caçam as meninas que estão lá para vender a carne delas. Sim. Mas tudo isso tem uma treta ainda maior do que pode ser imaginado, mas novamente, não posso dar detalhes para não dar spoiler, apenas achei arrepiante isso tudo, de verdade.

Enfim, Tierney está lutando pela própria vida quando ela conhece um dos predadores, o Ryker. Ele a salva, porque ele tem seus próprios motivos para fazer isso e logo eles dois se envolvem de uma forma que foi irresistível para mim shippar e torcer por eles todos os minutos a partir dali.

“— Você tem medo de mim? — sussurro. — Da minha magia?
— Não tenho medo de você — ele diz, observando meus lábios. — Tenho medo do que você me faz sentir.”

Desde o inicio do livro, ele me lembrou um tantinho de “Jogos Vorazes”. Não sei se pelo fato de ser um livro distópico ou mais pela Tierney realmente que me lembra muito Katniss em vários aspectos. Eu realmente amei Tierney e a mente dela que não queria aceitar ficar naquela situação sem tentar reverter isso e sem tentar lutar para que as meninas passassem a aceitar umas as outras e se ajudarem como tinha que ser, sem ficarem lutando umas com as outras como os homens queriam que elas fizessem.

Tierney é uma pessoa que não se conforma com a situação que tem em frente a ela, e ainda que não tenha como mudar isso completamente, ela tenta fazer o que está ao alcance dela e isso realmente coloca ela num patamar bem alto de heroína pra mim. Esses são os meus tipos favoritos de meninas protagonistas, de coração. Aquelas que vão lá e tentam algo para acabar com a situação ferrada que estão vivendo.

“— No condado, não há nada mais perigoso do que uma mulher que fala o que pensa. Foi o que aconteceu com Eva, sabia? Por isso fomos expulsas do paraíso. Somos criaturas perigosas. Cheias de feitiços demoníacos. Se tivermos a oportunidade, usaremos nossa magia para seduzir homens, para o pecado, a crueldade, a destruição. — Meus olhos estão pesados, pesados demais para eu revirá-los de forma dramática. — É por isso que nos mandam para cá.
— Para que vocês se livrem da magia — ele diz.
— Não — sussurro, pegando no sono. — Para nos destruir.”

Junto a Tierney tem algumas outras mulheres que, por motivos de spoiler, também não posso falar muito, mas tem algo que a mãe de Tierney diz a ela que resume bem o que acontece: que ela tem os olhos bem abertos para tudo, mas não enxerga realmente o que tem em frente a ela e eu também, assim como Tierney, fiquei tentando entender o que a mulher quis dizer com aquilo, até que em um certo ponto do livro tudo fez o mais absoluto sentido.

Outras coisas que requerem atenção conforme o livro passa é que se uma mulher causa qualquer coisa que não seja forte o bastante para mandar para a forca, ela é mandada para fora da comunidade em que vivem e lá a maioria delas passa a se prostituir para os guardas – e até para alguns predadores – para conseguir sobreviver lá fora. Além disso tem outros personagens que requerem atenção: Michael, o melhor amigo de Tierney. Hans, um dos guardas que leva as meninas até o acampamento e a história da tal usurpadora que tem deixado os homens de cabelo em pé.

“Pode parecer fútil, uma causa perdida, detalhes que os homens nunca notarão, mas não fazemos isso por eles. Fazemos por nós… pelas mulheres das margens, do condado, as jovens e as mais velhas, as esposas e as trabalhadoras. Quando formos vistas marchando para casa, saberão que há mudança no ar.”

Quando eu terminei de ler esse livro, eu disse para a Virna que eu não sabia exatamente como me sentia sobre o final dele e até agora enquanto escrevo essa resenha, eu ainda não sei. Eu entendo o que a autora quis passar com ele: a esperança. Mas ao mesmo tempo eu fico com aquela sensação agridoce no peito de não ter a conclusão certeira, só que isso também deixou uma abertura para uma continuação que eu não sei se virá. Não sei se a autora pretende mesmo dar uma continuidade ao livro (nas palavras dela, pelo que eu vi no Goodsread, ela disse que pode pensar em fazer uma continuação) ou se aquele é o final definitivo do livro.

O que eu posso garantir com toda certeza: se você gosta de livros distópicos, se gosta de livros com personagens femininas fortes, se gosta de livros com mocinhas que não se conformam, se gosta de livros com muito girl power: esse livro é perfeito pra você. Mesmo que você não goste do final, ou goste, ou fique como eu, com o coração balançado e sem saber o que pensar, toda a jornada do livro vai te encantar e você vai ver que valeu a pena ler ele sim.

Vale lembrar que esse livro já teve os direitos comprados pela Universal para ser adaptado em um filme. O roteiro será feito por Ashleigh Powell (que também escreveu o roteiro de “O Quebra-Nozes e Os Quatro Reinos”) e será dirigido por Elizabeth Banks (sim, a nossa própria Effie Trinket) e ainda não entrou nem na pré-produção ao que parece.

Para comprar “O Ano da Graça”, basta clicar no nome da livraria:
Amazon, por R$ 23,99.
Saraiva, por R$ 35,90.
Submarino, por R$ 23,51.
Cultura, por R$ 23,90, o livro digital.
Martins Fontes, por R$ 37,90 com 5% de desconto com o cupom AFILIADOSRAKUTEN5.
Travessa, por R$ 32,32.

Arquivado nas categorias: Blog , Livros com as tags:
Postado por:
Você pode gostar de ler também
18.03
“Água turva” Morgana Kretzmann Arte de Capa: Tereza Bettinardi Companhia das Letras – 20...
15.03
“The Gathering” C. J. Tudor ARC recebido em formato digital gentilmente cedido pela Penguin ...
12.03
Sinopse:Nesta coletânea de contos, Rainbow Rowell nos presenteia com nove histórias de amor chei...
11.03
Começou hoje, 11/03, às 09 horas, mais a Semana do Consumidor Amazon, que irá até 18 de março d...
08.03
Sinopse:Elsie Hannaway é uma física teórica que passou anos de sua vida moldando diferentes ver...
05.03
Março chegou aí e com ele veio novos livros pra gente ler e amar! Antes vem aqueles anúncios d...

Deixe seu comentário

1 comentário em “Resenha: O Ano da Graça – Kim Liggett”



  1. Ana disse:

    Já estou louca para assistir esse filme. Livro maravilhoso.



Os comentários estão desativados.





Siga @idrisbr no Instagram e não perca as novidades
Facebook