05.07

AVISO DE GATILHOS: Antes de começar a resenha, quero avisar que esse livro provavelmente seja indicado para maiores de 18 anos. Apesar de não entender como essa classificação funciona, existem cenas de sexo bastante explícitas, abusos físicos e emocionais, mutilação, pedofilia, e mais temas que podem pesar para quem for sensível. Fica aqui de antemão o aviso.


“Uma mulher no escuro”
Raphael Montes
Companhia das Letras – 2019 – 256 páginas

Um crime brutal cometido há vinte anos, uma única sobrevivente, o retorno calculado do assassino. Em quem Victoria deve confiar? Neste thriller psicológico, Raphael Montes une romance e suspense em uma narrativa intrincada e sedutora.

Victoria Bravo tinha quatro anos quando um homem invadiu sua casa e matou sua família a facadas, pichando seus rostos com tinta preta. Única sobrevivente, ela agora é uma jovem solitária e tímida, com pesadelos frequentes e sérias dificuldades para se relacionar. Seu refúgio é ficar em casa e observar a vida alheia pelas janelas do apartamento onde mora, na Lapa, Rio de Janeiro.

Mas o passado bate à sua porta, e ela não sabe mais em quem pode confiar. Obrigada a enfrentar sua própria tragédia, Victoria embarca em uma jornada de amadurecimento e descoberta que a levará a zonas obscuras, mas também revelará as possibilidades do amor. Um psiquiatra, um amigo feito pela internet e um possível namorado ― qual dos três homens está usando tudo o que sabe para aterrorizar a vida de Vic? E o que afinal ele quer com ela?

Na literatura nacional, Raphael Montes é unanimidade quando se trata de livros de suspense. Uma mulher no escuro traz sua primeira protagonista feminina e confirma o autor como um dos mais originais da atualidade ― além de deixar o leitor intrigado do começo ao fim.


Você leu o aviso acima, certo? Você tem em mente que esse livro é de fazer seu estômago revirar e sua mente ficar perturbada, certo? E ainda assim, você está aceitando embarcar? Ótimo, porque você vai ser recompensado por um livro que é inesquecível – por todos os motivos que você puder imaginar.

Eu já falei do autor, Raphael Montes, aqui, na minha coluna de lançamentos literários nacionais do mês de Abril de 2019. Jovem, com ainda 29 anos, Raphael tem uma mente que me deixa simplesmente paralisada de tanta criatividade: ele é, sem sombras de dúvidas, o melhor autor nacional de suspense. Falou sobre canibais, sobre amor obsessivo, falou sobre os assassinatos mais vis que você puder imaginar, tudo isso sem apelar para sensacionalismo e sem te fazer ter a sensação de que lia algo que não precisava ler pra trama, que aquela cena só estava ali “para chocar”. Cada livro dele eu me dou conta mais e mais que ele é realmente um autor que merece ganhar o mundo, sem sombras de dúvidas.

Mas a vida não tinha nada a ver com justiça,
e ela aprendera aquilo bem cedo.


Mas ok, vamos começar a falar do livro, apesar de que posso realmente falar muito pouco, já como qualquer dica que eu dê pode te levar a criar teorias e, acredite, você quer ler esse livro sem saber nada além da sinopse. Victoria, uma criança de 4 anos, está em casa quando algo de muito errado está acontecendo: seu irmão diz que há um invasor na casa. Ela obedece o mais velho e vai se esconder, agarrando seu ursinho o tempo inteiro, mas o assassino, depois já ceifou a vida dos pais e do seu irmão, termina pegando a pequena e a machucando ferozmente. Ela sobrevive, não sem as sequelas físicas e emocionais que o caso obviamente lhe trazem.

Vinte anos depois, Victoria sobrevive com um emprego simples, um apartamento pequeno e sem se apegar a ninguém, salvo sua tia-avó que a criou depois da tragédia que aconteceu com sua família. Não há como gostar realmente da personagem de cara, mesmo você entendendo que ela é traumatizada por tudo que lhe aconteceu (quem não seria? Não tem como!), mas sim porque ela parece escolher sempre o caminho mais difícil e tortuoso para ela. Então, para dar inicio a trama nos tempos atuais, alguém invade seu apartamento e é ai que Victoria começa a se tornar uma personagem que você começa a gostar: ela luta. Mas ela luta e luta muito. Não espere uma mocinha que fique sentada, esperando alguém lhe mandar fazer alguma coisa porque ela provavelmente vai fazer o inverso, mas ela faz. Só que calma, estou avançando na trama sobre uma característica (um mega ponto positivo) sobre a personagem principal.

Victoria foi invadida pela sensação de que estava fazendo algo muito errado. O passado era uma ferida profunda, mas cicatrizada, cuja casca ela havia aprendido a não cutucar. Ali, diante do pai do assassino de sua família, estava prestes a arruinar tudo, expondo o machucado em carne viva.


A trama ainda vai se dividido entre os crimes do presente (os quais Victoria começa a correr atrás para tentar solucionar com a ajuda das três pessoas próximas a ela, mesmo contra a vontade de sua querida tia-avó) com flashbacks que mostram 3 amigos pré-adolescentes e como a amizade entre eles se formou: Santiago, Igor e Gabriel. Um deles foi condenado pelos assassinatos dos pais e irmão da protagonista e isso é dito logo no começo do livro, o que faz o leitor se prender nos pontos de vista do personagem para tentar descobrir fragmentos de informações sobre seu passado.

Disposta a tentar entender por qual motivo essas coisas continuam a acontecer com ela, Vic pede a ajuda a seu amigo da internet, Arroz, além de se apoiar em seu psiquiatra, o Dr. Max, e um potencial namorado, Georges, coisa que ela nunca se permitiu ter em toda sua vida até então. Claro que as coisas que estão acontecendo ao redor dela mostram que é alguém próximo da garota, e o leitor começa a teorizar. Eu passei pelos 3 personagens com minha desconfiança, minhas dúvidas e a certeza absoluta, a cada capítulo, que “era obvio” que seria Arroz. Depois o Dr. Max. E ainda Georges. A dúvida vai passando de personagem pra personagem, sempre.

Ignorar o passado foi a maneira que você encontrou para seguir em frente, e funcionou até hoje. Mas, diante do que aconteceu, não dá para continuar assim. Não pode simplesmente suspender sua vida por causa dessa pichação na parede. Esse cara é perigoso. Se estiver de volta, você tem que se proteger.


E é ai que o livro me ganhou de vez: você não consegue realmente identificar quem é o responsável já como você toma um soco no meio da cara ao entender o que estava acontecendo no passado, porque enquanto o livro te mostra os acontecimentos e continua seguindo Victoria no presente, você precisa entender o passado e ligar tudo. E amigo, é UM PUTA DE UM SOCO NA SUA CARA. Minha reação foi LITERALMENTE fechar o livro e deixar de lado porque eu senti uma onda de enjoo FORTE. Eu entendi a trama central, mas não sabia ainda aonde o assassino estava porque eu estava chocada demais pensando: “Não é possível que o Raphael Montes vai ter coragem de fazer isso…”. Adivinha só? Ele teve.

Ainda no passado, com os 3 amigos pré-adolescentes descobrindo o próprio corpo e se apaixonando, existem cenas que eu me senti muito desconfortável lendo. Me peguei pensando o motivo daquilo, não via necessidade, tudo que eu falei que o autor não faz em seus livros: cenas que são somente “para chocar”. Por várias páginas, eu fiquei pensando que “ah, que pena, ele caiu nessa…”: Desculpa, Raphael Montes, desculpa, agora eu entendo o motivo. Quando eu entendi o enredo e o motivo daquelas cenas estarem ali, tudo ficou um milhão de vezes pior, porque tudo, absolutamente tudo nesse livro tem fundamento. As pequenas pistas, tudo, tudo tem um motivo que se encaixa em outros motivos e outras pistas.

“Você só precisa tomar cuidado para não ir de um extremo a outro”, o dr. Max disse. “O excesso de amor é tão perigoso quanto a falta.”


Por fim, quando terminei a leitura, eu me sentia suja. Eu me sentia mal, mesmo com o final em uma nota alta, e eu queria fazer de conta que eu não tinha lido aquilo, queria apagar de minha mente – mas… é isso que livros assim fazem com a gente: eles chocam pra te fazer ter uma reação forte contra um tema aterrorador e forte também. Me peguei pensando nos personagens, nas crianças que já foram, em tudo que aconteceu, e consegui entender que esse sempre foi o sentido do livro: te fazer entender o peso das ações que alguns personagens praticaram no livro, e o livro tem um sucesso absurdo nisso porque você sente. Você sente muito. Você sente nojo, enjoo, tontura, você odeia os personagens e você fica com raiva porque alguém escreveria algo assim, e então você mesmo se responde: porque isso existe! Porque é feio, é ruim, mas é a vida real e precisa ser falado e combatido, não escondido embaixo do pano. E o nojo que você sente vai se transformando naquela sensação de que você leu algo que vai ficar com você um bom tempo, mesmo que seja pela monstruosidade do tema. Olha, tem uma determinada cena que você só sente o tamanho do nojo que ela é quando a leitura termina e você começa a pensar sobre.

Enfim, “Uma mulher no escuro” é sim, uma pequena obra-prima e é também um dos livros mais pesados que já li em toda minha vida pelo tema tratado. O livro (ainda bem!) tem o tamanho certo: não se estende tanto depois que tudo é revelado, até mesmo porque não sei se o leitor aguentaria, e também não se perde demais em explicações ou afins. Algumas coisas ficam a cargo da sua imaginação, e é até melhor assim porque podemos imaginar um final mais feliz do que autor provavelmente daria (aposto nisso hahahaha). Não indico se você for do tipo de leitor que fica realmente chocado com cenas fortes (REALMENTE FORTES) e se for muito novo(a) por motivos óbvios. Mas, se você é como eu, que adora um bom suspense e não tem medo de sentir seu estômago revirar, leia. Por favor, leia esse livro, e venha entender que, algumas vezes, para sobreviver, é melhor estar no escuro.

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