04.05

“O pior dos Crimes”
Rogério Pagnan
Record – 2018 – 336 páginas

A história completa do assassinato que chocou o Brasil.

Construído em ritmo de thriller, O pior dos crimes esmiúça o trágico caso que conseguiu estarrecer a opinião pública de um país rotineiramente violento. Em 29 de março de 2008, Isabella, de 5 anos, foi atirada ainda com vida pela janela do sexto andar do apartamento do pai, Alexandre Nardoni, e da madrasta, Anna Carolina Jatobá, na zona norte da capital paulista, e morreu pouco depois de chegar ao hospital. O que se seguiu foi uma investigação e um processo repletos de pistas mal perseguidas, depoimentos de suspeitos com “pegadinhas”, uso de informações falsas, pressões indevidas para a obtenção de confissões, perícias criminais deficientes e um Ministério Público empolgado com os holofotes. Se o caso Nardoni representou ou não um erro judicial, se houve elementos suficientes para uma condenação “acima de qualquer dúvida razoável”, o leitor será capaz de dizer a partir da leitura deste instigante livro-reportagem.

Entre os crimes brasileiros das últimas décadas, definitivamente o caso de Isabella Nardoni se encontra entre os mais emblemáticos: uma criança de 5 anos jogada do 6º andar de um prédio. Só essa premissa já choca qualquer pessoa já como, quem, em suas faculdades mentais, faria isso com uma criança inocente?

Desde que esse livro foi divulgado, eu me interessei por ele. Gosto de crimes reais, livro-reportagem e documentários, gosto que me acompanha desde a faculdade de direito aonde sempre amei as aulas de medicina legal. Todo esse universo da psique humana que leva a cometer esse tipo de crime sempre me intrigou e é algo que eu tenho bastante curiosidade até hoje, por isso não era surpresa eu querer colocar minhas mãos em um exemplar desse livro que prometia trazer novos ângulos sobre um caso que tomou horas e horas em nossos noticiários.

Para situar um pouco o caso e para quem não se lembra ou não o conhece: Isabella era filha de Ana Carolina Oliveira e Alexandre Nardoni, o qual era casado com Anna Carolina Jatobá e com quem já tinha dois outros filhos. A garotinha estava passando o final de semana com o pai, como fazia de 15 em 15 dias, no apartamento do edifício London aonde tinha até mesmo um quarto só para ela. Ao chegarem ao prédio já no final da noite de 29 de março de 2008, o pai a carregou primeiro para seu quarto no apartamento, voltando em seguida para ajudar a esposa e carregar um dos filhos nos braços, enquanto ela levaria o outro. Chegando ao apartamento, viram que o lugar estava com as luzes acesas, e ao procurarem por Isabella, entraram um corte na grade de proteção na janela do quarto dos garotos. Ao olharem para baixo, viram com a garotinha estava caída lá embaixo. O crime supostamente se daria nesse intervalo de tempo, sendo que o apartamento não havia sido arrombado e não havia sido roubado nada do lugar. Com o tempo, o crime tomou um rumo mais aterrorizante ainda: a madrasta teria batido e acreditado que a garota estava muito machucada, então o pai a jogou lá de cima para acobertar os maus-tratos e matá-la, simulando um possível assalto ou invasão. Os dois foram presos no decorrer da investigação, julgados presos e condenados em um júri em 2010: 26 anos e 8 meses para Jabotá e 30 anos, 2 meses e 20 dias para Nardoni.

Como se pode imaginar, o caso parece um filme de terror e por mais que racionalmente tenham sido criadas diversas teorias da motivação, o pai e a madrasta de Isabella nunca assumiram a autoria do crime ou derem qualquer explicação para o que aconteceu – não que algo possa explicar um horror desses. Havia problemas de relacionamento entre a mãe e a madrasta, havia problemas de relacionamento entre a mãe e os avós paternos de Isabella, mas será que seriam tão horríveis assim a ponto de culminar em uma violência dessas?

O livro traz diversas perguntas que nunca foram respondidas nesses 10 anos desde que o crime aconteceu, nos fazendo pensar se teria sido realmente os condenados que cometeram tal ato tão abominável, entre elas uma amostra de “sangue” que não era sangue e também um suposto caso de arrombamento do prédio dos fundos que nunca foi devidamente investigado. Também soube de diversos pontos sobre a vida de Alexandre Nardoni que não sabia, informações sobre seus relacionamentos anteriores e também sobre o papel de seu pai em sua vida e na formação de seu caráter, além de informações novas sobre seu núcleo familiar. Anna Carolina Jatobá, por sua vez, também não teve uma vida fácil, todas informações que a mídia, há época, não divulgou ou sequer sabia.

Confesso que achei o livro mais inclinado a trazer perguntas e apontar falhas na investigação do que mostrar pontos que reforçassem a tese vencedora de que o crime fora praticado sem premeditação, mas sendo um ato violento vindo de relacionamentos frustrados e errados, descontados na única inocente no meio de toda aquela confusão. Mas nada disso mudou realmente minha convicção sobre o que aconteceu naquela noite: ainda acredito que foi o casal que matou e tentou acobertar o que aconteceu, apesar de ser possível que falhas tenham existido, tanto na condução do inquérito quanto no tribunal do júri, mas esse “julgamento” é bastante subjetivo e precisa ser feito individualmente após o termino da leitura. Para os estudantes do direito, esse livro lhe mostra mais dos bastidores de algo que não vemos na faculdade: os erros, a dificuldade de se acessar algumas provas, egos de advogados, a pressão da imprensa em um caso tão hediondo e a espera por uma resolução para determinados casos que talvez nunca aconteçam, o que o torna uma leitura indispensável.

Atualmente, Anna Carolina Jatobá já está em progressão de pena e está no regime semi-aberto, enquanto Alexandre Nardoni continua cumprindo sua pena em regime fechado. Ana Carolina Oliverira se casou e tem um filho pequeno, enquanto todo o país ainda fica com a memória da pequena Isabella, em um caso aonde houve condenação, mas nunca confissão.

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