Resenha: The Ragpicker King [As Crônicas de Castellane #2] – Cassandra Clare
Sinopse: Kel Saren, duble de corpo de Conor, o príncipe regente da estonteante cidade de Castellane, é pego no meio de dois mundos. Em ordem de proteger seu amado príncipe, Kel precisa encontrar os responsáveis culpados pelo massacre no castelo real – e todas as pistas estão com O Rei dos Ladrões, o notório criminoso que governa o submundo de Castellane. A trilha que Kel segue o leva de volta para a Colina, onde entre nobres decadentes e festas brilhosas uma conspiração para destruir a família real tomou conta – uma conspiração liderada pelo monstruoso Artal Gremont, o homem noivo da mulher que Kel adora.
Enquanto isso, Lin Caster precisa lidar com as consequências do maior risco que ela já tomou. Para salvar a vida de uma amiga que está morrendo, Lin declarou falsamente ser a Deusa Renascida, a legendaria heroína destinada a salvar seu povo. Agora o assustador – mas estranhamente magnético – líder de seu povo chegou para testar seus poderes. O preço de falhar é o exilio e apenas com sua aliança com O Rei dos Ladrões ela consegue continuar acessando uma magia que pode salvá-la.
Então o Principe Conor reaparece em sua vida, exigindo que ela use seus poderes de cura para seu pai, o Rei, melhorar da loucura. Lin logo percebe que o Rei está preso por uma antiga e terrível magia, uma cuja atração ela não consegue negar, não mais do que pode negar sua paixão crescente por Conor.
À medida que as tensões latentes em Castellane atingem um nível febril, Lin e Kel devem decidir em quem confiar quando qualquer movimento em falso significa morte – ou pior.

Virna: Você sabe, eu sei, o mundo todo sabe o que Cassandra Clare é capaz de fazer em suas histórias e como basicamente encanta seus fãs ao redor do mundo durante leituras de seus livros. Quando anunciou o futuro fim da série de livros sobre os Caçadores de Sombras, muito se questionaram o que a autora iria escrever, já como sua série era tão consolidada e forte entre os jovens leitores, então foi com surpresa que o anúncio de “Sword Catcher” chegou: o livro seria uma alta fantasia completa, com personagens adultos. Entre o anúncio, em 2017, e a publicação efetiva do livro, em 2023, muito se imaginou e especulou sobre o universo novo que Cassie desbravaria, com um dublê de corpo e uma médica como personagens centrais. A resposta é que muitos amaram o mundo, mas muitos não se adaptaram ao universo da alta fantasia, que tem por regra uma escrita mais lenta, somada a uma construção de um mundo no qual havia magia adormecida, lutas e muitas, muitas traições.
“As Crônicas de Castellane” ganhou um número final de livros (quatro!) e seu primeiro livro entrou na lista de mais vendidos do mundo, para surpresa de absolutamente ninguém. Um ano e meio depois, a alta fantasia retorna em seu segundo livro, “The Ragpicker King” (“O Rei dos Ladrões”, título confirmado pela Editora Galera Record) trazendo mudanças no tom da escrita e uma agilidade que não se fez presente no primeiro – e foi publicado em inglês semana passada, 04 de março, ficando com a publicação no Brasil para o segundo semestre. E sim, esta resenha terá elementos com spoilers do primeiro livro, “O Portador da Espada”, porque é impossível resenhar esta trama sem mencionar fatos ocorridos no livro 1, então o aviso está dado a partir daqui.
“Her own experience with her grandfather had taught her you could easily hate and love someone at the same time. Especially someone who was supposed to love you.”
Ju: Eu não sei nem como começar a explicar o quanto esse livro mexeu comigo. Digo, o primeiro livro em si já tinha sido absurdamente bom na minha opinião – e eu sei que muita gente não se sentiu assim sobre ele, mas realmente foi um dos melhores livros que a Cassie já escreveu (para mim). Então eu estava já muito ansiosa quando chegou março e eu sabia que o livro sairia lá nos Estados Unidos porque eu precisava, mas PRECISAVA mesmo saber o que ia acontecer. Mal sabia eu que acabaria o segundo com ainda mais ansiedade para o terceiro que só vem em 2027.
Virna: Preciso deixar claro que amei o primeiro livro, então obviamente já esperava ansiosa por este volume, mas me surpreendi com o que encontrei. Aqui temos capítulos no qual se dividem os pontos de vistas, alternando as vozes de Kel e Lin em cada capítulo, não mais sendo exclusivo de uma única voz. Ainda há interlúdios entre os capítulos que trazem pontos de vistas de outros personagens – e sim, temos do Conor, mas calma que vou chegar aí. O que mais me espantou nessa grande mudança foram as consequências reais para a trama, que se tornou mais dinâmica e o grande desenvolvimento dos personagens e de seus relacionamentos. Não houve uma ruptura de tudo que já conhecemos e sabíamos sobre o universo e não há nenhum enredo mudado ou ignorado, com Cassandra Clare mostrando que sabe exatamente onde quer chegar com esses personagens e o quanto podemos esperar dela e de Kel, Lin, Conor, Antonetta, Merren e do próprio Rei dos Ladrões. Quando terminei a leitura, estava completamente triste, e não porque o livro me decepcionou, mas pelas escolhas feitas por personagens que tanto me apeguei e pelo que alguns sofreram. Enfim, se você já gosta deste universo como todos por aqui gostam, se preparem porque você vai sim, sentir bastante.
Pegando 3 meses após os acontecimentos finais de “O Portador da Espada”, onde Lin afirmou que era a Deusa renascida, algo que seu povo, os Ashkar. Mas o desenho do livro começa com já nos mostrando que Lin se tornou a médica – e por que não chamar de amiga? – de Antonetta, que está noiva de Artal Gremont, exatamente também como sabemos ainda no livro antecessor. A amizade, que parece tão difícil de acreditar, é sólida e realmente existe, ao mesmo tempo que sabemos que Artal é um crápula, coisa que fica clara desde a abertura da trama. Kel e Conor estão exatamente como conhecemos, com Conor ainda escondendo coisas dele, mas Kel também esconde agora, principalmente seu relacionamento com o Rei dos Ladrões, também conhecido como Andreyen Morettus.
“The thought had a bitter taste; to love someone you could not trust felt like standing unprotected in the freezing cold.”
Ju: Eu não sabia exatamente o que esperar depois do massacre na Galeria Brilhante, mas eu realmente ganhei ainda mais do que eu esperava. Kel, como sabemos já no primeiro livro, se une ao Rei dos Ladrões para descobrir quem está por trás de algo tão horrendo que resultou na morte da princesa noiva de Conor, algo que nós vemos pesar bastante nele nesse segundo livro.
Claro que Kel sempre guardou seus segredos – principalmente seus sentimentos por Antonetta, mas ele nunca precisou mentir tanto para Conor sobre as coisas que tem feito. E vemos o outro lado também: Conor escondendo de Kel seus sentimentos cada vez maiores por Lin enquanto ao mesmo tempo tenta ser o homem que o reino precisa que ele seja: justo, responsável, leal e, principalmente, que consiga encerrar a possível futura guerra com Sarthe.
“People dying of thirst, when they were given water, sometimes drank until they died, unable to assuage the need that had become part of them. She could understand it now, how you could have something and still not have enough of it, ever.”
Virna: A chegada do príncipe Aron Amon Benjudah, o Exilarca do povo Ashkar, que vem para descobrir se Lin diz a verdade sobre ser a Deusa, coloca uma nova e intensa pressão em Lin, que se vê envolvida em mais e mais mentiras, enquanto tudo que ela realmente desejava era salvar Mariam Duhary, sua melhor amiga. Como nada neste universo vem sem custo, Lin está tendo de trabalhar efetivamente em Mariam enquanto se vê novamente às voltas de Conor, que clama por sua ajuda para tentar curar seu pai, o Rei Markus, que vive basicamente catatônico desde o final da trama que apresenta o universo. Ao mesmo tempo que a trama que gira em torno da casa Aurelian, que parece ter o desejo de derrubar Conor e seu pai, se intensifica, vemos Kel lutando com tudo que pode para tentar fortalecer o melhor amigo – o problema é que Kel aprendeu a esconder tudo de Conor, e talvez alguém vá usar tudo isso para apontar ao príncipe de que Kel não seja lá tão confiável assim enquanto temos de tentar descobrir quem está manipulando tanta coisa ao redor deles, vendo Antonetta em real perigo ao se casar com um homem perverso e Conor e Lin começarem a entender que não há como fugir do que sentem, com Kel entendendo que pode confiar plenamente em Merren e no pequeno grupo que formaram. Ou não também.
Ju: Nós podemos ver também durante o livro toda a luta que Lin trava dentro de si sobre os possíveis sentimentos que tem por Conor, o quanto ela não quer aceitar e junto com isso, tem como a Vi falou ali acima, o peso dela ter que se preparar para o começo dos testes que vão dizer se ela é a Deusa Renascida ou se ela está apenas fingindo ser.
E, ao mesmo passo que nós temos uma olhada maior nos pontos de vista de pessoas que não são Lin e Kel, ainda assim tem ações muito dúbias acontecendo a todo momento, que deixam a gente se perguntando o que exatamente isso vai representar para toda a trama.
“Anger was better than despair—even anger against someone you loved. Anger was fire, and despair was darkness. And he had for years been afraid of the dark.”
Virna: A trama vai crescendo largamente até explodir em consequências finais que são previsíveis no tom de desastre, mas você não espera as traições que se apresentam aqui, muito menos as decisões que acontecem sobre essas traições. Conor é o personagem que mais teve desenvolvimento emocional, enquanto Antonetta rouba a cena (o nome do livro pode ser “O Rei dos Ladrões”, mas desculpa, Adrien, o show foi todinho da loirinha aqui. Sério!) em absolutamente todos os sentimentos que vocês possam pensar, enquanto Kel se afunda em sua própria escuridão e escolhas erradas, terminando em uma dor para o leitor que se apegou a ele – e se você não gosta do Kel, você precisa rever suas escolhas de vida.
“Kel almost envied her. It must be freedom, he thought, to care little what others thought of you.”
Ju: Eu lembro de ficar meio apavorada antes de ler quando vi uma leitora que Cassie postou em seu instagram falando que teve que largar o livro quanto faltava apenas 20% para terminar a leitura porque não conseguia ver nada de bom vindo ali e, realmente, essa é toda a sensação que deixa. A forma como o livro termina, que deixa muitas questões em aberto sobre como tudo será dali para a frente, traz uma imensa sensação de tristeza e ao mesmo tempo trás um contentamento: Cassie está na sua melhor forma de escrita e, dá para ver, que ela põe todo seu coração nas Crônicas de Castellane, que ela também ama os personagens tanto quanto nós.
Muita coisa é deixada assim, sem respostas, algumas que não posso mencionar por puro spoiler de coisas momentâneas, mas também coisas como os relacionamentos que ficaram em aberto e alguns que começaram nesse livro, muito da magia da história nós ainda estamos descobrindo e vamos descobrir ainda mais nos próximos, porque o terceiro livro já está confirmado e já está nomeado: “The Bones Conjurers”.
Virna: Por mais que peque, pelo menos para mim, na grande reviravolta que aponta para o Rei dos Ladrões (e por isto o nome deste livro), por ser um tanto quanto esperada, todo resto e as consequências não são. Por mais também que a trama sobre os Ashkar deixe inúmeras perguntas para serem respondidas nos próximos volumes, fica claro que Lin vai continuar tentando acertar, mesmo quando não veja mais saída, afinal, é tudo que lhe resta. Para o leitor, o que realmente fica, ao terminar a leitura, é aquela dor no coração de ler sobre personagens com as quais você tanto estima estarem quebrados e sofrendo, mas também a antecipação de que virá um terceiro livro por aí que pode consertar tudo – ou terminar de explodir tudo. Clássico de Cassandra Clare.

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