“O herdeiro inadequado” (A ponte entre reinos #3)
Danielle L. Jensen
Tradução: Guilherme Miranda
Seguinte – 2024 – 544 páginas
No terceiro volume da série A Ponte Entre Reinos, Danielle L. Jensen nos apresenta a um novo casal apaixonante, trazendo outro ponto de vista sobre os conflitos e as intrigas desse universo.
Criada para ser herdeira de um império, Zarrah tem certeza de que a família Veliant assassinou sua mãe, e está pronta para acabar com cada um deles. A oportunidade perfeita surge quando a general é enviada para a fronteira: ela não vai poupar esforços para aniquilar as tropas inimigas ― e matar o príncipe Veliant que as lidera.
No entanto, um encontro às escuras com um belo maridriniano faz Zarrah questionar o sentido da guerra e de tanta violência. Quanto mais encontra esse homem misterioso, mais ela enxerga o conflito entre Valcotta e Maridrina com outros olhos ― e mergulha num romance ardente.
Até que, quando as identidades são reveladas, Zarrah terá que decidir se dá uma chance para a paz… ou se parte para a guerra contra quem roubou seu coração.
Algumas vezes alguns fenômenos literários acontecem dentro da comunidade bookstan que não entendo, e o inverso também acontece: livros que mereciam muita atenção não são tão hypados quanto deveriam, o que me leva a questionar por que geral não está surtando por essa série – e a resposta é um motivo que total me foge a compreensão, sinceramente. Mas abrirei esta resenha confirmando uma informação que dei na resenha do livro 1, “A Ponte entre Reinos”: os livros 3 e 4 da série tem realmente outro casal no centro, mas o papel dos protagonistas dos dois primeiros livros é bem maior do que imaginei porque temos aqui os acontecimentos do livro 2, “A Rainha Traidora” (e você pode ler nossas resenhas SEM spoilers clicando AQUI), sob a perspectiva de outro personagem que lá era coadjuvante, mas aqui toma o centro da trama: Keris, o único irmão por parte de mãe e pai de Lara.
E aí preciso gritar pro mundo todo ouvir que eu AMO Keris Veliant. Amo. Amo de todo meu coração. Amo porque ele vive com só trauma de ter visto o pai assassinar sua mãe em sua frente e se recusar a ser o herdeiro que o pai gostaria que fosse, mesmo inicialmente estando no final da fila para assumir o trono. Keris se tornou um verdadeiro playboy da era medieval que odiava armas, odiava o pai e queria mais era beber e aproveitar a vida, mas em uma reviravolta do destino, seus irmãos mais velhos foram perecendo na Guerra sem Fim (guerra entre o Reino do seu pai, Maridrina, contra o Reino de Valcotta), até que a coroa caiu em seu colo, mesmo ele sendo o nono nesta fila que só permitia herdeiros masculinos. E é por isso que ele é o herdeiro inadequado: não é um guerreiro e tem fama de intelectual, sarcástico, difícil e com uma alma torturada porém gentil, tudo do jeitinho que a gente ama. E é impossível não o amar. E é impossível não amar a personagem par dele também. E quem é a personagem par dele? Zarrah Anaphora. Apenas a herdeira de Valcotta. Sim, a herdeira contra qual o reino de Keris está lutando contra na Guerra sem Fim. Sério.
Lara. A irmã mais nova de Keris, a única irmã por parte de pai e mãe no mar de meias-irmãs e meios-irmãos gerados pelo harém do rei. Fazia dezesseis anos que não falava com ela, desde que havia sido levada para ser criada em segredo. Keris pensou que a jovem estivesse morta até o dia em que ela passou por Vencia a caminho do casamento com o rei de Ithicana como parte do Tratado de Quinze Anos. Uma noiva em troca da paz, diziam.
Keris não havia acreditado nisso nem por um segundo.
Como explicar Zarrah? Vamos do começo: princesa que teve a mãe morta pelo Rei Silas (pai de Keris e Lara) e amarrada ao corpo da mãe, deixada para morrer, a jovem cresceu ODIANDO (em caps mesmo) todos Maridrinos, se tornando uma verdadeira máquina de matar a ponto de se tornar a General do exército de sua tia Imperatriz Petra, que a escolheu em detrimento do filho, Bermin. Zarrah tem uma sede de sangue que parece nunca ser saciada, a lembrança do sangue da mãe morta caindo em seu corpo muito vivida, a necessidade de infligir sofrimento alimentada pelos ideias da tia, a quem passou a ter como mãe. E nós entendemos a personagem e suas motivações.
Em contrapartida, temos Keris jogado no centro de toda trama ao se tornar o herdeiro em acontecimentos ainda nos dois primeiros livros. Temos uma cena bastante emblemática entre ele e Aren no livro 2 que aqui toma outra dimensão e contorno porque vemos o ponto de vista de Keris e o que o levou a falar o que falou, e enfim entendemos que o príncipe herdeiro está jogando um jogo mental contra seu pai: sendo Rei, esperando que o filho morra por qualquer mão e outro filho tome o lugar na sucessão, Silas parece mais vilanesco do que nunca, mas talvez, só talvez, possamos conhecer alguém mais inescrupuloso do que ele e não estou falando de Corvus, que já sabemos desde o primeiro livro que é uma verdadeira serpente, infernizando Lara, a protagonista dos dois primeiros volumes, e que aqui odeia nosso protagonista por todos motivos do universo.
arrah ainda conseguia se lembrar, como se tivesse acontecido na véspera, da mãe implorando que a filha fosse poupada. Dizendo que faria qualquer coisa para deixarem a filha dela viver. E os sonhos de Zarrah eram assombrados pela risada do próprio rei Silas Veliant ao concordar. Ao cortar a linda cabeça da mãe, os homens dele pendurando o corpo dela numa cruz no meio dos jardins sob os gritos de Zarrah.
Mas ele cumpriu com sua palavra.
Amarraram Zarrah à base da cruz com a cabeça da mãe em seu colo. Por dois dias, ela chorou, gritou e se debateu contra as amarras enquanto sangue e coisa pior pingava em seu corpo, enquanto o sol quente apodrecia sua mãe.
Até que a imperatriz chegou.
Como já deixei claro, “O herdeiro inadequado” se passa quase todo durante “A Rainha Traidora”, só que lá acompanhamos Lara em sua jornada para se redimir e salvar Rei Aren do Reino de Ithicana, enquanto aqui temos Keris lutando contra o seu pai com sua maior arma: a inteligência. Mas antes desse jogo começar, somos apresentados ao momento que Keris e Zarrah se conhecem, tão diferentes entre si: ele escondendo quem é, usando um capuz, e ela também sem declarar quem é, nós telhados da cidade. A “amizade” que surge entre os dois começa a partir da visão de Keris de que aquela guerra precisa acabar. O Rei Silas, nessa altura dos acontecimentos, está em vantagem porque Aren está preso e a famosa ponte de Ithaca está sob seu comando, mas nem mesmo isso faz com que a Imperatriz Petra abaixe a guarda do seu reino Valcotta. Os encontros de Keris e Zarrah, que ficam se chamando pelos nomes de seus pais, Maridrina e Valcota, respectivamente, são eletrizantes e por mais que já tenhamos lido essa trope de “personagens que não sabe quem o outro realmente é”, funciona e funciona MUITO bem porque os personagens são quebrados, teimosos e aceitam que podem estar errados sobre suas visões sobre o mundo na qual vivem, principalmente da Guerra sem Fim entre Maridrina e Valcotta, na qual Zarrah teve um papel muito mais decisivo até ali, com mortes nas costas, do que Keris – mas que ele passará a ter, já como se tornou herdeiro do Rei Silas.
Claro que os Keris e Zarrah vão se apaixonando nesses encontros clandestinos e claro que tudo vai explodir na cara dos dois quando entenderem que são inimigos Mortais. Ao redor de ambos, flutuam personagem coadjuvantes que tem papel importante no desenvolvimento dos dois, como a melhor amiga de Zarrah, Yrina, uma mulher da guarda que algumas feridas podem ser curadas em nossa protagonista; e não posso deixar de falar de Otis, outro meio-irmão de Keris, guerreiro forte e destemido que sempre aceitou o irmão não querer lutar, mas que agora se encontra em um lugar no qual precisa obedecer e respeitar o mais velho como um herdeiro sem merecer. Otis também perdeu a esposa em um naufrágio causado pelo exercito de Valcotta, então imaginem o ódio que ele tem do outro povo. Destaco ainda Coralyn, a mais antiga esposa de Silas e que cuida do Hárem, quase uma rainha, dominando bastante as intrigas que correm pelo lugar. Todos personagens importantes, então não se engane quanto ao desenvolvimento desta trama que é absurdamente grande.
— Quantos homens e mulheres você acha que morreram na guerra por esta cidade?
— Quem pode dizer? — Na verdade ela podia: dezenas de milhares.
Era surpreendente que a própria terra não estivesse manchada de vermelho, de tantos que haviam sido abatidos ali.
— Mesmo que fosse apenas um, já seria demais — ele disse. — Porque essa é uma guerra alimentada não pelo desejo de melhorar a vida das pessoas, mas pela ganância e pelo orgulho de reis e imperatrizes, e ninguém deveria ter que dar a vida por isso.
Ela bufou com repugnância.
— Talvez pela ganância da parte de Silas Veliant, mas a imperatriz luta por honra e vingança.
— Tenho certeza de que é isso que ela quer que seus soldados acreditem que a impulsiona. Talvez seja, também, o que eles dizem a si mesmos, afinal é muito mais palatável enfrentar a morte em nome da honra do que para cumprir sua obrigação. É assim que os soldados maridrinianos se convencem a lutar, ao menos; isso posso dizer com certeza.
O que temos aqui é outro livro de Danielle L. Jensen repleto de ação e reviravoltas – e é um camalhaço. Sério. Os outros livros já são grandes, mas esse aqui tem mais de 500 páginas na versão física e mais de 600 no Kindle, então tenha ciência que ler essa série é se comprometer, mas tudo de maior e melhor que um leitor pode querer porque as intrigas palacianos nesta trama não são para amadores. E não se preocupe, também temos bastante ação e como já afirmei, desenvolvimento de personagens.
Quando terminei a leitura, só fiquei desesperada por “A Guerra Infinita”, o quarto volume, que ainda não teve seu título confirmado mas é a tradução literal da versão original e todos títulos se mantiveram assim. Não me surpreendeu quando descobri quem será a protagonista do livro 5 e 6, mas não falarei por motivos óbvios de spoilers, mas fiquei triste. Fiquei triste porque só terei mais um livro de Keris e Zarrah, e se o primeiro casal neste universo já havia me conquistado, este aqui os superou com facilidade. Se você gosta de fantasias, universos próprios, muita traição, ação e um casal com uma química insana e cenas quentes, pode se jogar nesta série que você não irá se arrepender. Eu prometo.
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