Resenha: Sussurros do passado – Charlie Donlea
“Sussurros do passado”
Charlie Donlea
Tradução: Carlos Szlak
Faro Editorial – 2024 – 320 páginas
TRINTA ANOS ATRÁS, UM BEBÊ DESAPARECEU. AGORA, ELA QUER RESPOSTAS.
No primeiro dia de aula no Instituto Médico Legal, Sloan Hastings é designada a uma investigação na área da genealogia forense ― a ciência dinâmica em constante evolução, responsável por solucionar inúmeros casos arquivados complexos envolvendo serial killers e homicídios. Empolgada para dar início ao trabalho com uma extensa pesquisa das provas, Sloan começa enviando o próprio DNA para análise. Sua intenção é conhecer mais a fundo o potencial de informações genéticas presente nos registros de seus antepassados. No entanto, os resultados obtidos a conectam a um passado perturbador. Criada por pais afetuosos e solidários, Sloan guarda memórias de uma infância feliz, mas sempre soube que era adotada. E agora o resultado do perfil genético indica sua verdadeira identidade. Ela é Charlotte Margolis, também conhecida como a bebê Charlotte, que captou a atenção do país quando ela e os pais biológicos desapareceram misteriosamente em junho de 1995.
Mesmo diante de uma grande investigação policial e meses de intensa cobertura midiática, o caso foi arquivado nas décadas seguintes devido à falta de pistas. Sloan parte em busca de respostas que a conduzem para uma pequena cidade onde o poder e a influência da família Margolis permeia em todos os cantos e, embora os parentes biológicos de Sloan sejam acolhedores, eles são enigmáticos e reservados. Nem todos parecem satisfeitos com a presença de Sloan e, muito menos com suas perguntas. À medida que ela faz novas descobertas, torna-se cada vez mais claro que as respostas que Sloan procura estão ocultas em um cemitério de enigmas familiares. Seu passado está tentando sussurrar as respostas de que ela precisa, mas há alguém disposto a tudo para manter o segredo…
Sou fã de Charlie Donlea e se você já esteve por aqui lendo nossas resenhas, sabe disso, afinal, já resenhei vários outros livros dele, tudo sem spoiler (você pode ler clicando AQUI) e é recompensador ler desde o começo e agora ver que ele está investindo no seu DonleaVerso, já como em “Sussurros do passado” temos a participação de várias outras personagens de seus livros, o que faz qualquer fã dar risadinhas de satisfação.
É muito, muito bom ver um autor que tem o domínio sobre suas narrativas da forma como Donlea tem e gosto mais ainda que ele escreve o tipo de mulher que pode ser tudo: uma grande cientista forense que faz crossfit e é muito bem resolvida com tudo em sua vida, inclusive seu passado. Sim, estou falando da nossa protagonista da vez, Sloan Hastings, que desde sempre sabe que foi adotada e tem zero problema com isso, inclusive decidindo que nunca iria procurar por sua família biológica.
Sloan Hastings entrou no prédio do Instituto Médico Legal às oito e quarenta e cinco da manhã, quinze minutos antes do início do seu curso de especialização em patologia forense. Ela e outros três colegas estavam prestes a iniciar um curso desafiador, com dois anos de duração, que terminaria com cada um deles sendo diplomado como médico-legista. Isso, é claro, se conseguissem lidar com as provações e as dificuldades que os aguardavam. Sloan tinha certeza de que conseguiria. Tornar-se patologista forense era tudo o que ela sempre havia sonhado.
Formada em criminologia e ciência forense pela Universidade Duke, Sloan tinha cursado a faculdade de medicina sem enfrentar maiores dificuldades e, em seguida, havia concluído uma residência de quatro anos em anatomia patológica e patologia clínica. Agora, aos vinte e nove anos, tudo o que a separava de realizar o seu sonho eram dois anos intensos de um curso de especialização. O primeiro ano, financiado por uma bolsa de pesquisa, exigia que Sloan investigasse uma área da patologia forense, aprofundasse o assunto de forma significativa, e escrevesse uma monografia sobre o tema. Depois do ano dedicado à pesquisa, ela iniciaria um programa clínico de doze meses no Instituto Médico Legal, estudando sob a orientação da renomada dra. Lívia Cutty. Lá, ela realizaria centenas de autópsias a caminho de se tornar médica-legista. Sloan estava apreensiva. Estava animada. E estava com fome.
Mas (claro que haveria um “mas”!) Sloan deseja muito se tornar patologista forense e foi justamente fazer sua pós com a maior de todas (deixo no ar quem pode ser esta pessoa!) e lá, ao ter um encontro para saber como funcionaria aquela especialização, foi informada que durante o primeiro ano deveria acompanhar um do segundo ano em uma autopsia e ao final do primeiro ano deveriam apresentar um famigerado TCC sobre um tema que a equipe do IML decidiu para aquele estudante.
Sloan tem a “sorte” de pegar genealogia forense e investigativa, atualmente área muito em alta em casos frios (os famosos cold cases) lá nos Estados Unidos – em uma explicação bem rapida: quando há um crime lá nos EUA e não há pistas, eles não arquivam e sim deixam o caso em aberto, mas “parado”: por isso o “frio”. Muitos crimes foram cometidos em uma época que o DNA ainda não imperava como prova de peso e praticamente conclusiva (que começou por volta de 1992) mas amostrar de DNAs dos criminosos foram coletadas, seja atravez de uma roupa descartada ou sangue colhido na cena do crime. E atualmente há tecnologia suficiente para se processar este material e extrair DNA. Como sei tudo isso? Claro que sou cria de true crimes, gente! Mas, voltando ao livro, é um tema bastante atual e que faz o livro se tornar mais dinâmico e atual ainda, coisa que Donlea sempre tenta trazer em cada trama escrita sua.
— Aqui no iml, a equipe escolheu quatro temas em patologia forense, e os designamos aleatoriamente para cada um de vocês. Pronta para ouvir qual será o foco do próximo ano da sua vida?
— Pronta — Sloan respondeu.
Era uma oportunidade única fazer um curso de especialização de dois anos sob a orientação da dra. Lívia Cutty em comparação com outros cursos de patologia forense do país, constituídos por apenas um único ano de formação. O ano adicional com a dra. Cutty prometia um currículo mais sólido para aqueles que buscavam cargos tocantes à criminologia e segurança pública. O sonho de Sloan era trabalhar em conjunto com uma importante unidade de homicídios, e ela tinha mirado o curso de Lívia Cutty desde o primeiro dia de sua residência, quatro anos antes.
— A sua área de estudo será genealogia forense e investigativa — Lívia informou.
Surpresa, Sloan assentiu.
Pensado friamente, Sloan decide colocar seu DNA em um site para encontrar ancestrais, não porque queria encontrar sua família, mas só tentando entender como aquilo funcionava na pratica para sua própria tese. E ao fazer amizade, por acaso, com o dono de um desses sites, que também era um famoso cientista, ela tem um resultado que a tira do chão: há uma tia sua no site, mas não por parte biológica e sim, pela parte do casamento dela. Porém o mais chocante ainda está por vir, já como Sloan descobre que ela é, na verdade, a famosa bebe Charlotte Margolis, que sumiu com seus pais da casa deles há 30 anos atrás. Sem entender, Sloan faz todos os passos que uma pessoa racional faria, as ações pautadas pela lógica (e esse é sempre um ótimo ponto nos livros do autor), a fazendo perguntar sobre sua adoção aos pais, sendo surpreendida ao descobrir que o casal basicamente pagou por ela para uma mulher que se dizia sua mãe – e não era Annabelle Margolis, a mãe da bebê Charlotte. Claro que os pais dela também fazem o lógico e entram em contato com a policia e, a partir dai, tudo acontece com uma rapidez insana.
Sua surpresa também chega com a novidade de que sua família biológica é rica – muito rica – e basicamente controla quase tudo na cidade de Cedar Creek e tenta dominar até mesmo na politica. Quando o delegado da cidade, Eric Stamos, aparece para nossa protagonista, temos a sensação de que já vimos o sobrenome dele em algum lugar – e então lembramos que é a morte do seu avô, também Xerife, justamente na época do desaparecimento da bebê Charlotte e seus pais, que abre o livro. Todas as setas indicam para a cidade e Slogan decide que está mais do que na hora de ir até o lugar conhecer sua tia Nora, casada com seu tio Ellis, que era o irmão biológico do seu pai, Preston Margolis.
Margot pegou o dinheiro do pote de café e desceu da cadeira. Nos últimos anos, ela tinha começado a acreditar que o destino era algo fictício inventado por pessoas que tinham uma boa vida. Margot percebeu que o destino nunca era discutido por pessoas com empregos sem futuro e vidas miseráveis. O destino só entrava em cena quando coisas boas aconteciam para sortudos em ascensão. A vida de Margot nunca tinha entrado em contato com a coisa mítica chamada destino. Desde o nascimento, ela estava em um declínio constante.
Quando mais Sloan tenta entender quem poderia ter sido caso continuasse com os pais biológicos, mais ela se envolve na pequena cidade e com a complicada relação familiar que os Margolis tem entre si, principalmente com Reid e Tilly Margolis, os pais de Preston e Ellis. Claro que como patriarcas de uma família neste nivel, há sim um controle sobre comprotamento e até mesmo estilo de casas que vivem, coisa que não duvido acontecer na vida real. No passado, Preston casou contra a vontade dos pais, deixando uma noiva aprovada pela família para se casar com a jovem Annabelle, o que parece ter causado um problema no ambiente familiar. Descobrir isso e mais sobre essa família começa a provocar um efeito modificador em Sloan, a fazendo desconfiar de tudo e todos, mas nunca a ponto dela perder a mente analítica que sempre teve.
O que vem ai é uma clássica história do Donela: reviravolta sobre o que aconteceu com os pais da bebê Charlotte (que adivinhei, confesso), quem é a mulher que a entregou para seus pais, até onde o poder da sua família vai e, principalmente, um olhar amargo sobre relacionamentos familiares e a extensão do poder e preconceito de famílias ricas e poderosas, tudo isso em um ritmo intenso, sem enrolação, bem no jeitinho do autor – e quem já o leu sabe que nenhum personagem dele está a salvo. Sei que o livro mais conhecido dele é “A Garota no gelo”, mas este livro é justamente o que menos gosto do autor, que também é u seu primeiro livro publicado, então se você leu o livro e não gostou, eu te indico seriamente a ler este livro e cair no DonleaVerso de cabeça – e você pode ler na ordem que quiser porque uma trama é independente da outra, apesar de sempre vermos as personagens ali e aqui.
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