“Cinco lâminas partidas” (As Lâminas Partidas 1)
Mai Corland
Tradução: Carlos César da Silva
Galera Record – 2024 – 462 páginas
Uma ladra, um capanga, um espião, uma assassina, um nobre e um príncipe exilado. Todos mentem. Mas apenas um chegará à coroa. Cinco lâminas partidas é a nova fantasia épica da Galera Record, em um mundo onde não há mocinhos, apenas o seu vilão favorito. Escolha o seu mentiroso e torça para que ele seja o primeiro na disputa pela coroa.
Que o melhor mentiroso vença.
O rei de Yusan precisa morrer. Os cinco mentirosos mais perigosos do reino foram convocados para matar o deus-rei Joon. Uma morte encomendada — e merecida, por sinal. Sob sua imortal mão de ferro, os nobres prosperam enquanto os pobres e os inocentes são presos, arruinados ou vendidos.
E agora cinco lâminas irão atrás dele. Uma donzela venenosa, um mercenário rabugento, um príncipe exilado, um espião ardiloso e uma ladra habilidosa. E nenhum deles consegue resistir à doce e letal sede de vingança.
Todos concordam com assassinatos.
Todos concordam com traições.
No entanto, para esses cinco mentirosos, mestres em trapaças, mentiras e deslealdades, o objetivo em comum não é o suficiente para uma aliança. Afinal, não há compaixão quando se trata de traição.
Chegou aquele tipo de resenha que preciso me controlar pra escrever pouco pra não ficar maçante para vocês e é o que tentarei fazer aqui, mas saibam que é difícil porque “Cinco lâminas partidas” traz uma história tão bem executada que se torna quase impossível não tentar convencer o mundo ao meu redor a lê-lo imediatamente. Não estou brincando: como já falei em algumas redes sociais do Idris, este livro tem representação, ação, reviravoltas, romances, história muito bem executada e construção de um novo mundo baseado na mitologia coreana, tudo junto com personagens tão carismáticos que o leitor não tem a menor vontade de largar o livro nem mesmo por um instante.
A trama parece ser bem simples com um grupo de 5 pessoas completamente desconhecidas que se encontrarão em uma missão quase impossível: matar o supostamente imortal Deus-Rei Joon, do país de Yusan. O que sabemos pela sinopse é que: “Uma donzela venenosa, um mercenário rabugento, um príncipe exilado, um espião ardiloso e uma ladra habilidosa” estão indo na missão para assassinarem o Rei – mas não é exatamente assim que as coisas acontecem por aqui porque até a sinopse e o título do livro confundem o leitor. Como? Temos 5 assassinos atrás do Rei, certo? Mas a primeira frase da sinopse diz que: “Uma ladra, um capanga, um espião, uma assassina, um nobre e um príncipe exilado” – mas aqui temos seis personagens, então temos 5 pessoas quebradas ou serão 6? Ah, gente, sério, consigo nem explicar o quão maravilhosamente incrível a trama e suas surpresas se desenrolam, mas vou tentar sem dar spoiler nenhum porque acredite em mim, quanto menos você souber, melhor.
Ouro em troca de sangue — esse é meu slogan e meu lema de vida.
O mercador conta lentamente muns de ouro. Suas mãos envoltas em luvas tremem a cada moeda que cai em sua palma. Ele é um pouco mais alto do que eu, mas meus ombros têm o dobro da largura.
– Anda logo. Não tenho a noite toda – digo.
Temos 6 pontos de vistas neste livro – olha só a pegadinha e não, não falarei sobre todos. Começamos com Royo, um homem de 25 anos que trabalha como capanga vendendo seus punhos e força para juntar dinheiro suficiente para tentar corrigir um erro do passado que coloca sob sua responsabilidade. De cara já vemos que a trama não é lá muito adolescente pela cena que Royo está protagonizando – não, espera, estou errada: sabemos que a trama não é tão juvenil quando lemos o aviso de gatinhos deixado pela autora antes da trama começar. Royo é descrito basicamente como um brutamontes de cabelo raspado com uma cicatriz atravessando o rosto e outra que também atravessa sua mão, mas claro que já esperamos que haverá muito mais nele e é justamente o que é entregue no final do primeiro capítulo.
O segundo capítulo começa em outra cidade de outro lugar e o mapa que vem na contracapa do livro me ajudou junto a me situar porque sou daquelas pessoas que fica conferindo para ver o caminho que estão tomando. Aqui somos apresentados a Euyn, o príncipe exilado por motivos ainda desconhecidos, mas que está fugindo do Rei Joon, seu irmão mais velho, depois de ter sobrevivido após ser literalmente enterrado vivo em uma sentença. Só que agora alguém o encontrou e Euyn acredita que sua vida chegou ao fim, mas quem está atrás dele é Mikail, o espião chefe do Rei que o procura com uma ideia que parece um plano para o suicídio. Entretanto, há muito no passado dos dois e o sentimento entre eles é real, levando os dois a voltarem a Yusan em uma jornada repleta de perigos. E então conhecemos Sora.
Estou sendo caçado.
Com o rosto coberto pela barba, rio baixinho da ironia do destino enquanto atravesso o centro comercial de Outton com agilidade. Antes eu era um caçador primoroso — melhor em Yusan, de acordo com o rei. E agora aqui estou, nas terras baldias, em Fallow, e eu sou a presa.
Antes de falar da personagem, preciso apontar uma das coisas que mais gostei neste livro: as mulheres são muito bem escritas. Temos duas personagens femininas principais e as duas são criveis em seus crimes, motivações e personalidades de um jeito que faz muito sentido para a trama. Sora foi vendida pelos pais para o Conde Seok ainda criança e se você pensa que ela foi vendida para ser escrava sexual ou algo do tipo, você está enganado: a garotinha foi colocada junto com outras 16 meninas em uma escola criada para transformá-las em assassinadas – e não assassinas comuns e sim assassinas que usam venenos, ou seja, elas conhecem todos os tipos de venenos e são imunes a eles. “Como elas são imunes?”, você pode se perguntar, e respondo que se tornaram ingerindo quantidades pequenas diariamente nessa “escola”, ou seja, foram basicamente torturadas. Claro que muito poucas garotas completaram o treinamento – somente 3 e uma já morreu. Mas, além disso, Seok mantém a irmã mais nova de Sora, Daysun, como refém, sempre ameaçando vendê-la e mantendo nossa assassina muito bem controlada e a usando para se livrar de seus desafetos. O Conde é um homem muito poderoso, já como abaixo do Rei Joon, há os 4 condes do Note, Sul, Leste e Oeste, que seriam tipo “Governadores” que controlam parte de Yusan, sendo Seok o Conde do Sul e tendo somente um herdeiro, Tiyung. Então chega o dia que o Conde faz uma proposta para Sora que beira a loucura: se ela matar o Rei, ela e sua irmã serão libertadas sem deverem nada a ele. Não preciso falar mais.
E, por fim, somos apresentados a Aeri Soon, uma jovem que parece ter algum tipo de poder e que é errática. Não há como precisar o que há de diferente nela no começo porque a jovem se reveste com uma capa de frivolidade e felicidade que não faz o menor sentido para o leitor, mas é ela que dá o ponta pé inicial para o futuro encontro de todos protagonistas ao contratar Royo como seu guarda-costas para a acompanhar até a cidade estado onde afirma que tirará a coroa do Rei e assim ele ficará suscetível a uma tentativa de assassinato. Não temos como saber se as informações são verdadeiras e nem Royo parece acreditar e confiar na jovem, mas o valor que ela oferta para ele aceitar o trabalho é tão grande que não há qualquer outra alternativa para o capanga além de aceitar. E assim, em 3 núcleos diferentes, que os destinos das lâminas é traçado e eles eventualmente se encontrarão, e o leitor torce para isso acontecer porque são todos ótimos e queremos ver a dinâmica do grupo quando estiverem juntos – e quando acontece, não decepciona.
Faço questão de deixar o batom vermelho-sangue perfeito em meus labios, limpando os cantos da boca com um guardanapo de seda. E claro que é de seda, tudo nesta mansão é de cetim e de ouro. O lugar tem cheiro de limpeza, com o aroma de cravo e sândalo, a nobreza sempre tem salas de banho privativas, enquanto os plebeus têm que se contentar com casas de banho publicas imundas e com o rio. Mas não nesta mansão. Não para esta gente. E não há como negar que somos nós contra os ricos. Eles têm liberdade. Nós, não.
Tirar vidas se torna muito mais fácil quando odeio minhas vítimas.
O ponto alto de “Cinco lâminas partidas” é que todos tem motivos para quererem a morte do Rei Joon e todos tem motivos para mentir e enganar uns aos outros, então temos um ponto chave ai: como essas pessoas, que já são quebradas por suas vidas, irão conseguir confiar umas nas outras a ponto de cometerem um crime quase impossível? A resposta está na convivência. Alguns dos nossos protagonistas são mais dóceis, outros mais endurecidos, mas nenhum é confiável e acredite quando dito isso: todos mentem, todos enganam, todos escondem informações uns dos outros e também de nós, pobres leitores. Confesso que essa narrativa trouxe uma reviravolta que não esperava – sabia que tinha algo sendo escondido, sabia que estavam tentando nos enganar, mas realmente não esperei aquela revelação. E é isso que falarei sobre.
Mas também quero apontar, sem dar grandes spoilers, como foi meio decepcionante determinado protagonista se apegar a outra com um tanto de facilidade. Não tirou o brilho da trama pra mim, mas a construção dos outros 2 casais (sim, temos 3 casais centrais aqui) foi tão bem fundamentada e construída (até mesmo antes da trama começar e que tomamos ciência atraves de flashbacks) que este casal específico ficou o mais fraco – mas, também sem falar muito sobre, no final ficou ótimo e entendi a escolha da autora porque o peso foi maior… e não posso explicar.
– Sei lá. Etherum.
Ele parece perplexo.
– Etherum? Mas não há magia em Yusan.
É o que as pessoas acham, e, fora as relíquias do Lorde Dragão, não tem mesmo. Todos sabem que o Lorde Dragão uniu o povo de Yusan e aqui governou por cem anos, mas só os mais próximos da coroa sabem que cinco relíquias foram deixadas para trás — a Coroa sendo uma delas. A lenda diz que o Lorde Dragão deu sua coroa ao primeiro rei Baejkin, mas seu anel, o seu cetro, sua espada e seu amuleto caíram nos outros reinos quando ele ascendeu aos Céus. Acho que a lenda só serve para explicar por que Yusan não está em posse desses outros itens.
Uma das coisas que mais li as gringas falarem sobre “Cinco lâminas partidas” é como há um clima de “Six of Crows” e não gosto dessas comparações, mas aqui confesso que quando fui falar com a Ju sobre, falei e apontei isso. Só que não havia terminado a trama é agora posso afirmar que sim, há essa inclinação a se comparar os dois grupos de foras da lei dispostos a completarem missões por dinheiro, liberdade ou qualquer que seja a motivação, mas também só confie em mim quando afirmo que não é tão parecido quanto parece a princípio.
Primeiro livro da autora coreana Mai Corland, adotada por pais Estadunidenses, e primeiro da trilogia chamada “As Lâminas Partidas“, “Cinco lâminas partidas” foi publicado aqui no Brasil apenas 3 meses de sua publicação original em inglês e está chamando bastante atenção entre as gringas e com toda razão. O segundo livro, “Four Ruined Realms” (“Quatro reinos arruinados“, em tradução livre) será publicado em inglês em 7 de janeiro de 2025 e não há informações sobre o terceiro e último livro, mas confesso que já quero o segundo e o terceiro, ainda mais depois do final deste primeiro volume. Pode ler sem medo, mas não diga que não avisei: você ficará viciado em um grupo de ladrões, assassinos, mentirosos – e vai adorar.
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