26.03


“O problema dos três corpos”
Cixin Liu
Tradução: Leonardo Alves
Suma – 2016 – 320 páginas

 Primeiro livro da trilogia que inspirou a série O Problema dos 3 Corpos , da Netflix ― dos mesmos criadores de G ame Of Thrones. Principal obra do autor chinês Cixin Liu, vencedor dos prêmios Yinhe (nove vezes), maior prêmio de ficção científica da China, Hugo e Locus, consagrando-o como o primeiro autor não anglófono a vencer o prêmio Hugo de melhor romance.

China, final dos anos 1960. Enquanto o país inteiro está sendo devastado pela violência da Revolução Cultural, um pequeno grupo de astrofísicos, militares e engenheiros começa um projeto ultrassecreto envolvendo ondas sonoras e seres extraterrestres. Uma decisão tomada por um desses cientistas mudará para sempre o destino da humanidade e, cinquenta anos depois, uma civilização alienígena a beira do colapso planeja uma invasão. O problema dos três corpos é uma crônica da marcha humana em direção aos confins do universo. Uma clássica história de ficção científica, no melhor estilo de Arthur C. Clarke. Um jogo envolvente em que a humanidade tem tudo a perder.

A terra está sendo invadida. Digo, ela já foi invadida ou esta enfrentando um grande plano para vida inteligente extraterrestre invadir o nosso planeta. O grande problema? Nós, a raça humana, é claro. Parece somente o enredo inicial de mais um filme de ficção científica, mas aqui é um mistério não revelado no começo de “O Problema dos três corpos“, o primeiro livro de um autor não anglófono a vencer o prêmio Hugo de melhor romance no ano de 2015. Primeiro livro de uma trilogia, publicado originalmente em 2008 na China, o livro foi traduzido para o inglês em 2014, ganhando o mundo e todos prêmios que merecia.

Já mencionei em outras resenhas que sou cria de filmes de scifi (abreviação de ficção cientifica) e realmente sou, gênero que também sou fã na literatura. Como não poderia deixar de ser, com a série prestes a chegar na Netflix, fiz como toda boa bookstan e corri pra ler o livro, e olha, confesso que foi um tanto quanto difícil a física é presente neste livro – e quando falo presente, é realmente presente, a ponto de me fazer pesquisar sobre a real teoria da física que leva o título do livro. É um Hard Scifi em sua absoluta glória, então entre sabendo o que te espera, mas prometo que vai valer a pena porque temos uma trama complexa pautada no pessimismo sobre os rumos da raça humana, com um nota de esperança de que talvez, só talvez, os humanos não sejam tão horríveis assim.

À medida que avançava em suas reflexões, uma dedução lhe deu calafrios: É possível que a relação entre a humanidade e o mal seja semelhante à relação entre o oceano e um iceberg que flutua em sua superfície? Tanto o oceano quanto o iceberg são feitos do mesmo material. O iceberg só parece diferente porque tem outra forma. Na realidade, é apenas uma parte do vasto oceano…
Era impossível esperar um despertar moral da humanidade assim como era impossível esperar que os humanos movessem a Terra com seus próprios cabelos. O despertar moral exigia uma força externa à raça humana.

Esse pensamento determinou o rumo da vida de Ye.

A trama se passa na China em 1967, durante a Revolução Cultural, e a ciência está sendo tratada com desprezo. É neste cenário de perseguição que o professor Ye Zhetai está sendo julgado em frente a uma multidão, sem saber que sua filha, Ye Wenjie, observa tudo. Levada pelo Exército Vermelho, uma traumatizada Wenjie é traída várias vezes por pessoas próximas e passa a ver a vida de uma forma sombria, muita sombria: qual seria o destino de nossa espécie? Personagem multifacetada, densa e profundamente sombria, Wenjie é o tipo de personagem que você pode até não concordar com, mas você entende o que a motivou e porque age e pensa como faz.

Voltando a trama, por também ser uma cientista, Wenjie termina sendo levada do campo onde está trabalhando para um centro de pesquisa no topo de uma montanha, de onde nunca mais poderá sair. Sem pensar duas vezes, se joga no trabalho metódico da Base Costa Vermelha, onde conhece Yang Weining e Lei Zhicheng, os quais, depois de um tempo, revelam o real objetivo do lugar: comunicação extraterrestre. Tudo no lugar parece ser mecânico, até que um dia, imprevissivelmente, durante o turno de Wenjie, a mensagem é respondida: não o estamos sozinhos no universo. Mas o que deveria ser uma mensagem cordial de “recebemos sua mensagem” é, na realidade, um grande aviso: “Não respondam“. E termina nas mãos de uma desesperançada Wenjie a decisão de responder ou não esta mensagem, decidindo o futuro de toda raça humana.

Todos os físicos nessa lista cometeram suicídio nos últimos dois meses — disse o general Chang.
Wang ficou chocado. Aos poucos, as paisagens em preto e branco se desvaneceram em sua mente. As fotografias já não possuíam a figura dela no primeiro plano, e seus olhos foram riscados do firmamento. Aqueles mundos estavam todos mortos.
Quando… isso aconteceu? — perguntou Wang, em tom mecânico.
Nos últimos dois meses — repetiu Chang.

Quarenta anos depois (sim, o livro não deixa clara a data exata, deixando o leitor precisar ser por volta de quando o livro foi lançado), o cientista e pesquisador de nanomaterias Wang Miao se vê diante de um mistério: cientistas ao redor do mundo estão se matando. Logo conhecemos o Detetive de polícia Shi Qiang, também conhecido como Da Shi, que apesar de ter uma personalidade nada charmosa, é extremamente competente no que faz. E aqui temos um problema, porque Wang não cativa tanto o leitor por ser um personagem completamente unidimensional perto da complexa Wenjie. Mas se você precisa de motivações para continuar a trama, ela mesma lhe entrega: a medida que mais personagens vão sendo introduzidos, fica claro que há uma organização secreta por trás de tudo quando Wang se depara com um jogo online tão bem produzido e cuidado que é óbvio que há um grande investimento responsável.

Acredite quando digo que não mencionei nem mesmo 10% da trama do livro. Ao mesmo tempo que experiencias cientificas começam a dar errado de formas bizarras, levando os personagens a uma conclusão obvia: além está tentando sabotar a ciência. Por que? Claro que está relacionado a um jogo que vai sendo introduzido, as mortes e uma organização secreta. Com pontos intensos sobre física na narrativa, “ Problema dos três corpos” peca quando introduz o tal jogo que mencionei e Wang começa a jogar, que tem por objetivo salvar uma suposta civilização imaginária da destruição. Dentro do livro, o jogo é imensamente importante para explicar com mais didática e calma o problema real do planeta Trissolaris, mas que também o tornou arrastado. E este é o único problema no livro todo pra mim, nem Wang e sua falta de carisma, mesmo a quantidade de física me deixou entediada porque mesmo tentando entender, somos levados por uma narrativa que é lenta, mas inegavelmente crescente, explodindo em seu quarto final de uma forma avassaladora. E foi assim, apaixonada por essa trama, que fui assistir o seriado que acaba de estrear na Netflix, e, por isso, vou deixar a Ju comentar e dar suas impressões primeiro, já como ela não leu o livro e eu claramente estou em um caso de amor com ele.

Tudo que está acontecendo é coordenado por uma pessoa que está nos bastidores e tem um objetivo: arruinar completamente as pesquisas científicas.
Quem?
Não faço ideia. Mas consigo pressentir o plano, um plano muito amplo e bem complicado: danificar complexos de pesquisa científica, assassinar alguns cientistas e enlouquecer e levar outros, como você, ao suicídio… Mas o objetivo principal é desorientar os cientistas até que vocês pensem que são ainda mais ignorantes do que as pessoas comuns.
Essa sua última observação é muito perspicaz.
Ao mesmo tempo, querem arruinar a reputação da ciência na sociedade. É claro que sempre teve gente envolvida em atividades contra a ciência, mas agora é algo coordenado.

Ju: Bom, eu não li o primeiro livro, então entrei de cabeça direto na história que o seriado apresenta e eu não posso negar que é uma história BOA. A maior parte dos episódios, principalmente os primeiros, são muito bons que é quando a gente não tem ainda uma “noção” de qual é o inimigo declarado ali, sempre deixam bons ganchos para fazer a gente querer assistir o próximo e o próximo e o próximo até acabar todos.

Juntando uma história boa (e, veja bem, digo uma história, porque por tudo que a Vi me contou enquanto a gente assistia, como adaptação deixou bastante a desejar) com atuações incríveis – e eu preciso mencionar aqui a Eiza, que até então sempre fez personagens em que o que focavam mais (pelo menos nas coisas que eu vi) era na beleza dela do que na inteligência, estava irretocável nesse papel mais sério.

Alguns pontos é que: é muito fácil gostar dos personagens e torcer pra eles, assim como também ficar com raiva com as decisões precipitadas que eles tomam em alguns momentos e até mesmo os humanos que escolhem “se aliar” aos aliens (pelo menos os mais importantes pra história, porque tem alguns que você não tem nenhum background do porque eles escolheriam algo assim), você consegue entender de fato o que os leva a chegarem na situação em que chegaram.

Num quadro geral, a nota da série pra mim vai em 4,5/5, porque tem coisas que realmente são apressadas ou cortes mal feitos que deixam a gente sem ver algo que seria importante para o desenvolvimentos de alguns personagens, mas num quadro geral é uma ótima série que não deixa nada a desejar nos efeitos especiais e na nossa ansiedade de saber quando (e se) terá uma segunda temporada!

Todos no Centro de Comando em Batalha viram a mensagem nos próprios olhos, tal como a contagem regressiva de Wang Miao. A mensagem piscou por apenas dois segundos e desapareceu, mas todo mundo entendeu. Era uma única frase:
Vocês são insetos!

E o que achei do seriado foi que teve o primeiro livro bem adaptado – nem digo absurdamente bem adaptado porque mudou algumas coisas na história de Wenjie (Rosalind Chao) que me incomodou. Wang também foi “dividido” em 3 personagens: Jin Cheng (Jess Hong), Auggie Salazar (Eiza González) e Jack Rooney (John Bradley), enquanto Da Shi (Benedict Wong) se torna um policial britânico com ascendência chinesa. Há grandes alterações em termo de ritmo, mas não os elencarei por motivos óbvios de spoilers, então o que afirmei é que parte da trama foi bem adaptada, como já falei, outra nem tanto. O ritmo do seriado também muda depois do quinto episódio e divido a temporada nesse episódio: até ali, considero uma série muito boa de ficção, a ponto de prender o telespectador, com reviravoltas e bastante tensão. A partir daí, os episódios apresentam um problema de construção: tudo parece apressado, momentos que deveriam estar em tela (como dois personagens se despedindo pra sempre!) e não estão, além de algumas mudanças bobas, como a mudança do planeta de Trissolaris para San Ti, mas tudo levando para eclodir justamente com um final muito parecido com o do livro, o qual amei. As atuações são boas, convenientes, os efeitos bem executados e tem tudo para agradar os fãs de Hard scifi, mas ainda acho que poderia ter sido melhor ainda, já como o último episódio é melhor do que os anteriores imediatos. Você poderá assistir o trailer do seriado no final desta resenha.

Dito isso, fico com a máxima de que o livro é sempre mais profundo que a série, mas não deixo de indicar a série original Netflix para quem gosta de invasões extraterrestres e principalmente de pura ficção. E, para quem se aventurar pela série, também indico ler o livro e conhecer mais e melhor deste universo que deixa qualquer pessoa de queixo caído, e mesmo que você não anime assistir a série, leia o livro – leia o livro por sua história, por sua personagem maravilhosa, pela humanidade e até mesmo pela questão filosófica que a trama termina levantando: a humanidade vale a pena? Nós mentimos, matando, maltratamos, não cuidamos do planeta como devemos – merecemos uma segunda chance? Não sei responder esta pergunta, mas continuarei lendo e assistindo tudo sobre até o dia que tivermos uma segunda chance. Ou não.

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Magalu.


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