09.06


“A Contra-história” (A Contrapartida 3)
Uranio Bonoldi
Valentina – 2023 – 248 páginas

O que Uranio Bonoldi tem feito com a sua série “A Contrapartida” é desafiador, questionador e ousado. O autor abraça o thriller na sua mais pura essência e tal como as histórias de Hitchcock, que mergulham num suspense pautado pela urgência de seus acontecimentos e revelações, ou um drama intenso de Almodóvar, onde as escolhas acabam impactando drasticamente todo o curso. Uranio pega qualquer um desprevenido em A Contra-história, terceiro livro da série. E confesso, meus amigos, que, por mais que o título traga uma pista – ou o final do segundo livro dê sinais do que poderia vir por aí –, enveredar dessa vez pela vida de Octávio Albuquerque Jr. será diferente e catártico como nunca. Será quase como caminhar no escuro, mesmo conhecendo a história. O malabarismo com facas do autor, além de jogar com o destino de seus personagens, coloca-os diante do perigo e da imprevisibilidade constante. Mais uma vez, sugados pelas páginas, somos convidados a pensar e nos questionar, enquanto, sentados na ponta da cadeira em busca de respostas, estamos num quebra-cabeça muito mais complexo e intrigante do que imaginávamos. Lucas Maia – jornalista, escritor e criador do canal Refúgio Cult no Youtube

Sempre que fazemos alguma resenha, terminamos entregando um pouco da trama ao falar sobre qualquer coisa do livro, afinal, é impossível falar sobre sem mencionar a evolução dos seus personagens ou ambientação ou ritmo da história. E aqui tenho um trabalho IMPOSSÍVEL para falar sobre “A Contra-história”, o 3º livro da série “A contrapartida” porque TODO O LIVRO é um grande SPOILER. Sim, isso mesmo que você leu. Leia a sinopse acima que você vai ver que basicamente não entrega nada da trama e não é ao acaso: a sinopse não entrega nada porque é mesmo tudo spoiler. E aqui estou eu, quebrando a cabeça como falar sobre a trama.

Para quem não conhece a série, já resenhamos os dois primeiros volumes, “A contrapartida” e “O Contra-ataque” respetivamente (leia as resenhas clicando AQUI), e particularmente gosto bastante do primeiro e segundo volume, então foi obvio que desejava ler o terceiro volume, lançado no início deste ano. Mas, me coloquei em uma pegadinha ao resenhar um livro que não posso falar sobre a trama sem entregar as surpresas que aguardam os leitores. Só vou começar falando que entendi o que estava acontecendo assim que o livro começou – não porque sou especial ou qualquer coisa assim, mas pareceu obvio pelas dicas dadas logo no começo da trama, que também não demora para confirmar o que realmente estava acontecendo.

Klaus, aguenta, aguenta… Daqui a pouco vai chegar ajuda! – Diz, sem muita confiança nas próprias palavras. Ele percebe que já não se trama apenas de uma crise epilética, mas de algo muito mais sério. Sabe que o companheiro está pior do que havia pensado e já começa a duvidar que ele sobreviverá. Soluça, vendo a luz dos olhos do amigo se apagar e a vida se esvair do corpo. Sente-se em uma cena de guerra, amparando um companheiro destroçado por ter pisado numa mina terrestre. Neste caso, porém, não há morfina que possa atenuar a dor que o amigo está sentindo. A analogia é devastadora, porque Otto Jr. conhece bem como costumam acabar essas tristes cenas.

Quando o livro começa, vemos uma banda que fez um show incrível em Manaus, e seu vocalista, Otto Jr., está com os integrantes da banda no backstage, assim como sua mãe e esposa. Só que logo uma verdadeira tragédia explode quando Klaus, seu melhor amigo e baterista da banda, começa a ter uma convulsão – e logo depois o próprio Otto começa a passar mal. Não demora muito para entenderem que a cerveja que estavam tomando não era uma cerveja comum e nem a pedida pelo empresário da banda. Fica claro o que houve: foram envenenados.

É claro que o leitor que veio para ler a continuação do segundo livro fica confuso por que quem é Otto Jr.? Quem é Klaus? O que uma banda que não havíamos lido até ali está fazendo na trama central do livro? Por que essa banda se preocupa tanto com a Amazônia? Todas essas perguntas são respondidas, e, como falei, não demora para o leitor juntar as peças de um quebra cabeças que parece ser tremendamente complexo, mas nem tanto – justamente porque entendemos o que está acontecendo, até porque muitas, muitas pistas mesmo já dadas no prefácio que indica que mudanças estão vindo neste volume.

e – Cristina, são milhões de quilômetros quadrados que dizem ser terras indigenas, mas que são, na verdade, o campo protetor de bandidos inescrupulosos que devastam a mata do jeito que querem. Falta saneamento básico! Faltam escolas, educação de qualidade, saude publica, estradas de ferro, rodovias, polos industriais, provedores de serviços. Aquilo virou uma terra de ninguém. Ou melhor, de alguns. Tomei conhecimento, por exemplo, de um madeireiro que é um bandido travestido de índio bonzinho e que domina toda a região com um exercito sob as suas ordens. Passei a acompanhar a atuação dele e descobri um verdadeiro absurdo. Só de pensar na organização que ele comanda e em tudo que já fez para ter poder, o que ainda faz e o que ainda pode fazer, fico apavorado. Ele dizima todos que ameaçam os seus negócios ou o seu poder. Dizem que a crueldade e esse homem andam de mãos dadas. Como pode, um homem desses, estar solto? Para completar… ele é politico!!! Deputado federal pelo Mato Grosso do Sul!!! Levantei tudo isso. Está no dossiê.

Enquanto os outros dois primeiros livros da série se focam bastante em Iaúna, a indígena sobrevivente da tribo Moxiruna que foi morar com a família de Octávio “Tavinho” Albuquerque Júnior, o personagem principal dos outros dois primeiros livros, este livro foca bem mais em Cristina, mãe do personagem, e deixa de lado Martha, o amor da vida de Tavinho. Claro que Carlos Rodrigues, o grande vilão da série, está aqui presente mais vilanesco do que nunca, com todo seu passado e com toda sua gana de poder.

Só que neste livro temos uma trama bem mais politica do que esperava. Não que isto me incomode, mas toda mitologia da trama, tudo que os personagens escolhem fazer em nome dos seus desejos e que tanto me encantou nos outros dois volumes não estão presentes neste volume. Há ainda a escolha moral, mas aqui temos um intenso “Não” como resposta – porque a negativa não esteve presente nos dois outros livros, e aqui aparece quase como um personagem principal, já como professá-lo pode mudar drasticamente a vida de todos ao redor da trama que estava sendo apresentada até este volume. Na própria capa do livro há a frase: “Um thriller sobre o poder do não. Tem coragem?”.

Perto dali, o deputado federal Carlos Rodrigues, que veio a São Paulo acompanhar o desembaraço e o embarque de toneladas de madeira retidas pelos órgãos fiscalizadores, circula num carro blindado. Com seu jeito peculiar que mais parece o de um mafioso, resolve não perder a oportunidade de fazer uma visitinha à colega parlamentar no hospital. Primeiro como cortesia a uma deputada em inicio de mandato, e segundo porque ele precisa saber das reais condições de saúde do cantor. Por hora, sabe apenas o que lhe foi relatado pela esposa – a linda repórter Nathalia Gouveia. Mas quer ver com os próprios olhos.

A trama não é contada completamente em linha cronológica e por diversas passagens há redundância de acontecimentos, que aparecem em um capitulo e no seguinte a narrativa retroage no tempo e mostra como tudo aconteceu para chegar naquele determinado fato, o que termina arrastando a narrativa. Ainda há diversos paralelos com o primeiro livro e confesso que existiram momentos que realmente gostei do que estava acontecendo ali, me divertindo em uma leitura mais leve do que a do segundo livro em termos de mortes e tramas vilanescas, mas, ao mesmo tempo, me questionei o tempo inteiro o ponto de toda trama, e não me entendam errado, sou muito a favor do que acontece neste livro, mas acredito que poderia ter mais explicações já aqui para não perder os leitores. Entendo que estou soando vaga demais, mas é intencional, podem acreditar.

Não posso dizer que “A Contra-história” é um livro que conquistou meu coração, mas também não posso dizer que o livro não continua com o selo de qualidade do Uranio, que continua sabendo ministrar muito bem os acontecimentos e tem um plano certo sobre onde quer chegar e como quer. No final do livro, em um posfácio escrito por Ricardo Bonacorci, descobrimos que o autor planeja mais dois volumes na série e que todas as respostas que ficam ainda abertas acontecerão, o que acalmou meu coração, já como ficaram bastante perguntas sem respostas. Enfim, se você ainda não conhece a série, sua hora chegou – o primeiro volume está no Kindle Unlimited na Amazon (assine clicando AQUI e aproveite) e caia em uma trama que pode dar nó na cabeça do leitor com a proposta deste terceiro livro.

Para comprar “A Contra-história”, basta clicar no nome da livraria:

Amazon.

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