31.01


“Mil batidas do coração”
Kiera Cass
Tradução: Cristian Clemente
Seguinte – 2023 – 496 páginas

Annika sempre viveu rodeada pelos confortos da realeza, mas nenhum luxo é capaz de mudar o fato de que ela não pode tomar decisões sobre a própria vida. Afinal, depois que o rei, seu pai, perdeu a esposa, ele se tornou um homem calculista, insistindo para que Annika aceite um casamento arranjado. O amor, para ela, virou uma questão política.

Enquanto isso, longe dali, qualquer mínimo conforto é um milagre na vida de Lennox. O jovem dedica sua vida ao exército de seu povo na esperança de um dia retomar o trono que foi roubado deles e vingar a morte do pai. Para Lennox, o amor não passa de uma indesejada distração na sua luta por justiça.

Mas quando o destino desses jovens inimigos se cruza de maneira inesperada, despertando um amor imprevisível, será que eles serão capazes de resistir a esse sentimento em nome de seus reinos? Ou vão se entregar ao som de mil batidas do coração?

O que me fez realmente querer ler “Mil batidas do coração” foram duas coisas: a primeira de todas é que eu adoro qualquer romance relacionado a realeza e afins – realmente gosto, e se for enemies-to-lovers, como a sinopse prometia, eu iria me divertir bastante. A segunda é que é um standalone – um livro único, coisa rara nos dias de hoje. Pensei que mesmo tendo uma quantidade “grande” de páginas, seria algo para ler e aproveitar uma sexta-feira à noite, me divertir com um romance, sofrer um pouquinho e ficar satisfeita no final porque já li “A Seleção” e sei que Kiera pode escrever bem. Tinha tudo pra dar certo. Tinha.

Outro dia respondi um comentário no nosso IG com uma frase que já falei em diversas resenhas por aqui, que é a minha crença forte de que livros são como pessoas em nossas vidas: algumas funcionam, outras não; com algumas pessoas você tem uma troca certa no momento certo, e outras só entram e saem de sua vida, com algum impacto ou não. E bem, acho que está claro que o impacto de “Mil batidas do coração” em mim foi mínimo e não tenho prazer nenhum em dizer isso, mas, como já falei a frase que acredito que melhor define nosso relacionamento com livros, já deixo claro agora que não funcionou pra mim, mas pode funcionar pra você, então o meu conselho é que se você se interessou pela sinopse, leia, faça seu próprio juízo de valor e volte aqui pra me falar sua opinião. Dito isto, vamos ao que interessa: a história de Annika e Lennox.

Caminhei de volta para o castelo tentando decidir onde pararia primeiro: no meu quarto ou no refeitório. Conferi meu casaco e minhas botas, esfreguei a bochecha. As costas da minha mão estavam manchadas de terra, sangue e suor, e a minha camisa também tinha respingos dessas três coisas.
Então eu passaria pelo refeitório, para que todo mundo pudesse ver.

O livro começa de uma forma confusa porque Lennox está de luto pela primeira pessoa que matou (e já faz tempo que ele matou essa pessoa especifica) e você não entende do que ele está falando, pra quem ou por quê. Jovem e muito intenso, Lennox é um soldado forte e basicamente imbatível do povo Dahrain. Este povo não tem um lugar para chamar de seu e moram no castelo abandonado Vosino porque basicamente foram apagados da história do agora reino de Kadier, justamente o reino do qual Annika é a princesa. A vida de Lennox é complexa e repleta de tristeza, já como ele é o grande soldado do seu povo, mas, ao mesmo tempo, se distanciou completamente de sua mãe desde que seu pai foi julgado e assassinado pelo Rei de Kadier. Além disto, o jovem não tem a chancela do seu padrasto, o truculento, violento e vilão Kawan, que deseja retomar o reino de Kadier para seu povo na boa e velha batalha sangrenta, pra matar mesmo todo mundo que puder.

Annika está sofrendo com o sumiço de sua mãe há 3 anos atrás e também com o distanciamento do seu pai, o Rei Theron, que agora insiste em casar a filha mais nova com outro herdeiro do ramo da família, o chatinho Nikolas. Escalus, o irmão de Annika, ama a irmã, mas, no decorrer da história, se mostra um imbecil e egoísta que não dá a mínima pra ninguém a não ser ele mesmo – mas sério, ele ama a irmã ou, pelo menos, a narrativa quer que você acredite nisso. Um dia, saindo para dar um passeio com seu noivo, a princesa é basicamente largada para trás, caindo nas mãos de malfeitores de um povo que ela nunca sequer ouviu falar, e você já entendeu que é de Lennox.

A morte dele pode iniciar uma guerra civil. Não arrisque tudo por causa do meu cabelo. Eu vou sobreviver.
Aí estava a minha nova meta. Não florescer. Não ser feliz.
A meta era sobreviver.

O ponto alto desse livro é, sem sombras de dúvidas, a personalidade de Annika. Ela é a princesa forte que aprendeu a lutar e que está disposta a tudo pelo seu povo e país. Tentando fazer seu casamento dar certo com o engomadinho do Nikolas, sente que pode ser infeliz pra sempre ao contrário dos contos de fadas e romances que lê da grande biblioteca do castelo. Porém a jovem descobre a verdade sobre o sumiço da mãe e a participação de Lennox na trama, já como está refém dele.

A partir dai temos enfim a descoberta sobre o povo Dahrain e todas as implicações que isso pode trazer, mas também temos uma grande batalha que era basicamente bastante previsível como aconteceria – não vou dar spoilers, não é a intenção desta resenha, vocês sabem – e então temos Annika e Lennox presos em uma caverna (sim) onde todos sentimentos que um nutre pelo outro começam a mudar: de um ódio no qual um deseja matar o outro para o bom e velho amor. E eu preciso dizer que juro que tentei comprar, tentei embarcar no relacionamento dos dois e todo presságio de amor que eles sempre tiveram um sobre o outro e como o amor é igual a mil batidas do coração, mas falta algo nesse romance e a culpa recai toda em cima do Lennox. Ele não é um personagem ruim, é só um personagem básico, que não tem nada além de uma moral rígida para tentar fazer o leitor amá-lo.

Então já é Matraleit.
Matraleit?
Um feriado. Do meu povo.
Ah — Annika desviou o olhar, quase como se sentisse culpa. — E o que vocês comemoram?
O primeiro casamento — respondi, com um sorriso triste. — A história é que nosso povo veio do primeiro homem e da primeira mulher que existiram sobre a terra. Eles surgiram em lugares diferentes e caminharam sozinhos pelo mundo. Quando se encontraram, não tiveram medo nem tremeram. Eles se apaixonaram e se casaram no topo de uma rocha tão perfeita e redonda que parecia um sol de pedra nascendo do chão. Todo o nosso povo descende deles.

Tudo que vem a partir dos personagens enfim admitirem o seus sentimentos é o puro suco de romance bobo e eu nem sequer vou falar sobre a resolução de toda treta envolvendo o reino e quem seria o herdeiro de direito porque eu só passei raiva. Eu não consigo acreditar que em pleno 2023 ainda temos de colocar personagens masculinos no centro do que quer que seja e muito menos que as mulheres tenham nascido para serem princesas ou só rainhas porque – ARGH – elas podem mais. Nós podemos mais. Eu quero que mulheres sejam mais do que só interesse amoroso e toda esse lugarzinho que por muitos anos nos enfiaram.

Deixo claro que entendo que este livro é uma fantasia bastante apoiado no romance, mas, ao contrário de alguns que li ano passado e gostei bastante, aqui tudo se perde em uma trama aonde o AMOR ESTÁ ACIMA DO REINO porque, caramba, não está, não da forma como Annika e seu irmão foram criados, mas essa chavinha vira e nada mais importa além do amor. Eu sei que todo mundo deseja um amor épico e verdadeiro e todas as coisas que lemos em histórias que amamos, mas não acho que você precisa deixar de lado a construção de um mundo ao qual você se propõe pra chegar no final e resolver de forma rápida (sim, a conclusão do livro se dá em 40 páginas, no meio de toda essa confusão pelo trono e famílias apagadas e afins) para poder fazer com os protagonistas o que você deseja. Enfim, essa é minha opinião pessoal e, como já falei acima, você não tem que tomá-la como verdade única e se guiar por mim porque você pode adorar o romance e o casal – eu sou time “Annika go solo”.

Disse a mim mesma que o som que tinha ouvido era da chuva. Que algo tinha acertado a montanha, que uma árvore tinha caído ou qualquer outra coisa. Considerando nossa situação, faria todo sentido. Mas a cada vez que Lennox sorria, ou me tocava, ou mesmo quando me olhava de um jeito, eu escutava de novo.
O som de mil batidas do coração.

Como também já falei em dezenas de outras resenhas, não sinto o menor prazer de falar mal da trama ou da construção de livro algum – eu quero mais é ler livros e amar cada página deles porque são LIVROS –, mas sinto que aqui temos uma tentativa frustrada de criar um romance épico, ao som de mil batidas no coração (sim, de novo, porque isto é falado diversas vezes na trama) mas que se perde em se apegar a perdões que beiram o impensável, as mulheres sendo relegadas a serem somente companhias mesmo com personalidades fortes e momentos feitos para fazer o leitor se emocionar, mas que passam longe. De resto, todas as escolhas estão com você, leitor.

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