30.08


“Árvore Inexplicável”
Carol Chiovatto
Arte de Capa: Bruno Romão
Suma – 2022 – 328 páginas

Diana está terminando o curso de história na USP e mal vê a hora de deixar para trás a rotina cansativa entre Guarulhos, a cidade onde mora, e São Paulo, onde estuda, trabalha e encontra os amigos.

Desde jovem, a universitária testemunha fenômenos peculiares que só ela enxerga: breves aparições de uma névoa colorida, próximas a determinadas árvores. Certa noite, diante do quiosque de salgados da faculdade, ela vê uma ocorrência e percebe que não foi a única a presenciar o estranho fenômeno.

Quando seus amigos mais próximos revelam segredos que jamais poderia imaginar, Diana descobre que suas visões fazem parte de um ecossistema complexo, alvo de conspirações e jogos de interesse. Agora, ela terá de lutar para proteger espécies ameaçadas ― e garantir a segurança daqueles que ama.

Esse livro me deu tantos sentimentos e foi uma experiência tão intensa que precisei respirar para escrever essa resenha. Foi uma experiência forte em todos sentidos porque “Árvore Inexplicável” é um livro tão maior do que a sinopse entrega. Um livro que se passa em uma cidade que eu particularmente adoro (sim, eu adoro São Paulo) e que tem alguns pontos altamente fortes, mas também tive um pouco de problema com o ritmo da leitura. O que eu quero que você tenha em mente, já ao abrir esta resenha, é que a escrita da autora, Carol Chiovatto, é realmente muito, muito boa – boa a ponto de você não conseguir parar de ler, além de desenvolver bastante os relacionamentos. Quando a Editora Suma me ofereceu a leitura do livro antecipadamente, eu vibrei com a oportunidade e me programei para lançar esta resenha hoje, o dia que o livro é oficialmente publicado.

Ainda entrego uma coisa que foi bastante importante para mim e que causou impacto direto na minha leitura: o livro se passa no começo do confinamento da pandemia. Eu não sabia disso antes de me jogar por completo na narrativa e senti um aperto no peito ao relembrar o começo de tudo que ainda estamos passando com a pandemia. Carol ainda apresenta a cidade para quem não a conhece e fiquei fascinada pela cidade que já existe e o livro me apresentou, e mais ainda ao entender que as localidades do livro são reais, o que me faz pensar em visitá-las quando estiver em São Paulo uma próxima vez. Dito essas linhas gerais, vamos ao que realmente interessa: a trama de Diana!

Precisa descobrir o que eram esses fenômenos. Nos seus anos desde que tinha começado a registrá-los, não encontrei padrão algum, a não ser a proximidade de árvores grandes e antigas. Nem sempre era uma névoa, nem sempre brilhante. Em algumas das ocasiões, havia só uma certa mudança difícil de descrever.

Diana é uma jovem que luta por uma chance de ter uma vida melhor. Vindo de uma família não estruturada, ela está prestes a se formar em história na USP e mesmo eu, que não moro em São Paulo, entendo que a USP está terrivelmente longe de Guarulhos, cidade da grande capital. Ela ainda trabalha e passa horas por dia em conduções públicas, a transformando em uma jovem como tantas outras que batalham e acordam muito cedo todos os dias em busca de um futuro estável. Nesta procura por uma vida melhor, Diana mal tem tempo de conviver como gostaria de com seus amigos – entre eles Tiago, sua namorada Yoko e o irmão dela, Tadashi. Logo no começo da trama, Diana vê algo que ninguém mais vê: mais uma experiência de névoa próxima de árvores antigas, os quais aprendeu a chamar de “ocorrências”. Com o tempo, já como vê essas aparições desde sempre, a jovem começou a anotar todas aparições – e é assim que vê um jovem que também aparentemente viu o mesmo que ela, em um quiosque da USP. Logo depois, ela descobre que o jovem se chama Miguel é o irmão mais velho de Tiago, seu amigo.

Sentindo que enfim pode ter a confirmação de que mais pessoas viam o que, até ali, somente ela via, ela aceita uma carona dos irmãos para conseguir conversar com o rapaz, que, para sua total decepção, parece não ter visto nada. A vida continua acontecendo e o envolvimento dos dois parece inevitável, já como Miguel é um cara aparentemente legal e que está afim dela. O grupo de 5 amigos parece firme e forte, até que Diana descobre que, na verdade, todos estão mentindo para ela – e é aqui que eu paro de falar da trama porque obviamente entregaria demais e seria spoiler. Aqui se encerra a primeira parte do livro, que temos somente o ponto de vista de Diana, deixando a parte introdutória para trás, com quase nenhuma resposta para o leitor.

Nem sempre a misteriosa névoa brilhante aparecia perto de teias, embora geralmente sim. Às vezes, surgia em meio às folhagens de uma árvore ou num tronco coberto por líquens. De vez em quando, não era nem uma névoa uma nevoa colorida, mas uma espécie de embaçamento no ar, como quando o asfalto está quente demais e vemos gases transparentes por causa da distorção que causa na vista.

Até essa parte do livro, eu confesso que estava completamente entregue e curiosa sobre o que seriam essas ocorrências que Diana descreve que aconteceu de forma diferente a cada aparição, e estava gostando muito de todos personagens – e aqui preciso fazer uma parênteses para a representatividade na trama. Tiago, um dos personagens principais que mais pra frente tem ponto de vista (falarei sobre isso adiante), é um homem trans – ele simplesmente é porque é assim que o assunto é tratado, com toda naturalidade possível. Ele está em um relacionamento desde os 15 anos com a já mencionada Yoko, e são apaixonados um pelo outro, sendo o relacionamento saudável e é isto. Tadashi, o irmão de Yoko, é gay e está em um relacionamento complicado com seu ex-atual-ex Benjamin – e o motivo para tal é algo bastante real. A mãe de Tiago e Miguel é separada do pai deles e está em um relacionamento com outra mulher, e até mesmo uma ex-esposa da madrasta dos garotos aparece na trama, tudo com bastante naturalidade, exatamente como deve ser.

Entretanto, depois dessa pequena reviravolta na trama, Diana entra em um vórtex de raiva e mágoa. Eu entendi a personagem e não acho que eu reagiria diferente, mas, dentro da trama, isso faz com que voltemos algumas casas, já como ela se desliga de tudo que pode lhe dar respostas. Claro que sendo a mulher determinada que é, ela se junta com Mayara, sua melhor amiga, e Nati, sua irmã mais nova, para investigar tudo por conta própria, iniciando logo com o pé na porta a parte 2 da trama depois de um salto temporal de 3 meses. Agora morando sozinha em uma pequena kitnet, Diana está repleta de duvidas sobre o que aconteceu, se seu breve relacionamento com Miguel foi real e principalmente em quem deveria confiar. Acreditei em sua reação e achei crível, mas, como já falei, voltamos atrás da trama. Mas, de certa forma, tudo explode pra Diana nessa altura da trama de uma forma um tanto quanto violenta a ponto de me pegar de surpresa – de verdade, há cenas de violência neste livro: lembrem-se que Diana é uma mulher jovem adulta toma decisões, e enfrenta problemas e passa por preocupações de uma.

A vida tinha de ser mais do que um emprego meia-boca, transito, cansaço, choro no banho e contas a pagar. Embora o mistério não passasse de uma distração, ao menos investigá-lo me levaria a caminhar por lugares verdes da cidade cinza e a respirar um ar um pouco menos poluído.

Se você está me perguntando porque eu mencionei um determinado problema do livro com o ritmo, é justamente essa quebra entre a parte 1 e 2 do livro. Quando a parte 1 termina, como também já falei, é uma parte introdutória que termina sem nenhuma explicação, o que é frustrante, por mais que o leitor entenda que ainda não chegou a hora das respostas. Só que quando a parte 2 começa, há como se fosse uma espécie de retrocesso da trama sem as respostas das perguntas que já temos desde o começo do livro e estas não começam a simplesmente aparecerem. Porém, quando elas chegam, mostram uma trama muito, muito maior do que esperávamos: não é só uma trama sobre uma garota que pode ver uma névoa em torno de uma árvore que ninguém mais vê, é uma trama que envolve ecologia, até mesmo o ecossistema brasileiro e grande parte da politica nacional, tudo com um certo tom sombrio que eu também não esperava. A trama é adulta e quando a Parte 3 do livro começa, fica cada vez mais claro, já como há novas cenas de violência, com uma ameaça de morte tanto para nossa personagem principal quanto para seus amigos e outros pontos de vistas (que começam na parte 2) também abrem mais a trama, mostrando mais do que está acontecendo em torno de Diana e ela não tem ciência.

E um problema, pelo menos para mim, é o jeito que o Miguel trata Diana em circunstâncias… excepcionais. Enquanto a protagonista passa por um grande momento de dúvida e mágoa, seu par romântico parece escolher ser meio… grosseiro demais em terminadas situações, por duas vezes. Novamente, eu entendo as motivações das personagens, mas confesso que depois da reação dele em um determinado momento, parei de querer os dois juntos romanticamente, mesmo a própria falando para ele que não iria mais aceitar qualquer atitude naquele sentido. Mais uma vez, deixo claro: eu entendi o Miguel, só que a mulher que habita em mim ficou braba com a atitude dele. Sim, ele se redime, mas eu sou do tipo de pessoa que não esquece fácil, então foi difícil para mim “perdoar” – mas isso são minhas experiências pessoais e você, que me lê, pode não entender assim, então leia e tenha a sua opinião.

Ri da ideia absurda e do alivio de ter compreendido uma verdade fundamente, embora sem receber nenhuma resposta contundente. As respostas não se apresentam assim; precisamos procurar.

Eu não brinco quando eu digo que a trama fica mais adulta e mais sombria a medida que vamos tendo as respostas que tanto queríamos, e em uma determinada altura da narrativa, já perto do final, me peguei refletindo sobre tudo que estava lendo e isso causou um impacto em mim: o que aconteceria se descobríssemos… bem, se descobríssemos uma árvore inexplicável com uma névoa e tudo que vem com ela? Eu acredito que alguma jovem mulher passaria pelos mesmos perigos que Diana passou e que precisa de muitas pessoas para a ajudar, exatamente como na trama. Termino afirmo que “Árvore Inexplicável” é um livro bem maior do que eu acreditei quando o peguei para ler e que você deveria ler também e tirar suas conclusões sobre quais segredos seriamos capazes de suportar e lutar por ele. E sim, eu vou visitar o laguinho em Interlagos.

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