05.08


“ Para o Lobo” (Wilderwood #1)
Hannah Whitten
Tradução: Natalie Gerhardt e Helen Pandolfi
Suma – 2022 – 392 páginas

O reino de Valleyda não via o nascimento de uma Segunda Filha há cem anos ― até a Rainha dar à luz Redarys, ou Red, irmã mais nova de Neverah. Seu propósito de vida é um só: o sacrifício.

Ao completar vinte anos, Red se entregará ao temido Lobo em Wilderwood ― a floresta que faz fronteira com seu lar ―, para cumprir o pacto selado há quatro séculos e garantir a segurança não só de Valleyda, mas também de todos os demais reinos.

Carregando o fardo de um poder que não consegue controlar, Red sempre soube de seu destino e está quase aliviada por cumpri-lo: na floresta, ela não pode machucar aqueles que ama.

No entanto, apesar do que dizem as lendas, o Lobo é apenas um homem, não um monstro. E os poderes de Red são um chamado, não uma maldição. Enquanto descobre a verdade por trás dos mitos, a Segunda Filha precisará aprender a controlar sua magia antes que as sombras tomem conta de seu mundo.

Vou começar pelo aviso de gatilho que a própria Editora está dando aos leitores: “Para o Lobo” contem cenas de automutilação. Aproveito o espaço para dizer que as cenas são de momentos no qual se requer sangue para se evocar magia, então se cenas assim são capazes de te causar desconforto, talvez o livro não seja para você. (e há mais de uma cena!) Também há que se deixar claro que não é uma fantasia YA, ou seja, juvenil, e sim uma fantasia adulta, com personagens adultos e que agem como tal. Dito isso, também deixo claro que o livro é um livro dark por causa da magia e da mitologia que contêm, sem cenas de sexo fortes que se fizessem necessário esta denominação. Explicado esses pontos, vamos falar mais sobre o livro e a duologia.

Para o Lobo” é o 1º livro de uma duologia que se chama “Wilderwood”, sendo que cada livro irá contar a vida de uma das gêmeas princesas. O 2º livro, que se chamará “Para o Trono” aqui no Brasil, já foi publicado lá fora e nem preciso dizer que está fazendo bastante sucesso entre os fãs de fantasias dark por ter uma mitologia e construção que beira o impecável, recriando os contos de fadas que tanto já conhecemos – e sim, tem mais de um conto de fadas recriado e remodelado aqui, e confesso que amei cada pequena adaptação que a autora fez porque dá um toque adulto, sombrio e mais atrativo a cada um desses contos, com suas princesas e seus príncipes. Eu já estava esperando um bom livro de tanto que eli sobre, mas confesso que tudo superou minhas expectativas e é realmente um livro que vai fácil pra minha lista de melhores do ano ao final de 2022 – e se você ler, você também vai adorar.

Para escapar da sentença dos Reis, eles fugiram para as longínquas regiões de Wilderwood. Juraram que, se a floresta lhes oferecesse abrigo, a ela dariam tudo o que tinham enquanto suas linhagens continuassem, que a deixariam crescer dentro de seus ossos e lhe ofereceriam socorro. Foi um juramento de sangue dado de bom grado, símbolo de sacrifício e conexão.
Wilderwood aceitou o pacto, e eles permaneceram dentro de seus limites a fim de defendê-la e protegê-la das coisas que sob ela existiam. E toda Segunda Filha e todo Lobo que viessem depois deveriam aderir ao pacto e ao chamado e à Marca.
Na árvore onde fizeram o juramento, as palavras apareceram, e guardei a casca onde está escrito:
A Primeira Filha é para o Trono.
A Segunda Filha é para o Lobo.
E os Lobos são para Wilderwood.

Vou dar somente mais uma informação que não precisaria estar nesta resenha: a sinopse desse livro não chega a entregar nem 20% do livro. Em tempos nos quais tanto entregam já de cara para tentar atrair a atenção do leitor, é sempre muito, muito bom ser pega de surpresa, o que aconteceu comigo. Claro que o que tem na sinopse é parte presente da trama, que segue as irmãs gêmeas Neve e Red. Princesas do reino Valleyda, as irmãs foram uma surpresa para a Rainha Isla, já como o reino vive sobre um acordo feito quatro séculos atrás com a floresta que é exatamente a quote acima: a primeira filha é para o trono, ou seja, será a Rainha, enquanto a segunda será entregue ao Lobo na floresta de Wilderwood. Claro que nenhuma mãe quer entregar uma filha para ser sacrificada, então nenhuma concebia uma segunda filha, mas Red veio como gêmea e nada mais poderia ser feito além de a entregar para o Lobo ao completar os seus vinte anos.

O que a Rainha Isla não sabe é que Red e Neve escondem um segredo: Red tem poderes. E na sinopse não conta como ela tem esses poderes (Nasceu com eles? Os conquistou? Conseguiu? Se sim, como?), e não será eu que irei te contar, mas posso te afirmar que é algo que termina sendo determinante na narrativa e bastante interessante de ver se desenvolver. Lembra que falei no paragrafo acima o quanto a sinopse não entrega toda trama? Então você precisa estar preparado para quando descobrir mais sobre Red (com clara referência ao vermelhos de Chapezinho Vermelho) e seu famigerado Lobo, que pode não ser quem você está sendo levado a acreditar que seja quando a narrativa começa.

Red machucara os lábios de tanto os mordiscar. Quando tentou retribuir o sorriso, sua pele se repuxou. Ela sentiu um forte gosto metálico na língua.
Neve não notou o sangue. Estava de branco, como todos os outros estariam naquela noite, e uma faixa prateada no cabelo preto a identificava como a Primeira Filha. Um misto de emoções cruzou seu semblante claro enquanto ela se ocupava com as dobras do vestido de Red — apreensão, raiva, tristeza profunda. Red conseguiu perceber cada uma delas. Sempre percebia, quando se tratava de Neve. Ela fora um enigma fácil desde o útero que haviam dividido.

Mas, pegando em ordem cronológica e parando de falar em linhas gerais sobre a trama, logo no começo da trama somos apresentados a Redarys, ou melhor, Red, gêmea mais nova por alguns minutos de Neverah (que é chamada carinhosa de Neve. Sim. Faça a ligação hahaha), que será a Rainha, enquanto Red irá morrer – pelo menos é que todos acreditam porque não há registro de nenhuma segunda irmã que foi até a floresta e voltou para contar (e nenhuma que foi entregue há pelo menos 100 anos). Neve tenta de todas as formas convencer Red a fugir, que esta não aceite o destino que deverá está marcado em seu corpo com uma marca ao se aproximar da data do seu aniversário. Só que justamente por ter alguns poderes que não sabe exatamente controlar, Red tem medo de machucar Neve, a pessoa que ela mais ama, e deseja ir para a floresta.

Como se não bastasse viver a vida inteira com o peso de saber que seria sacrificada, Red não é nada próxima da mãe, a Rainha Isla, que parece sempre estar acima de todas essas bobagens sentimentais e entender que a filha seria morta, então por que se apegar? Mas não há nada ruim que não possa piorar, e o casinho de Red, Arick, se tornou o Consorte eleito de sua irmã – sim, o peguete de Red vai se casar com sua irmã, que não poderia se importar menos com o carinha e sim só com a irmã (coisa que amei, é claro), mas a mãe não parece se importar nada com os sentimentos das duas e deixa isso bem claro em certa passagem do livro. Confesso que fiquei curiosa sobre a personagem, mas não acho que haverá aprofundamento sobre ela, conformada e rígida, aceitando todas imposições que a sociedade do seu Reino impõe a ela e suas filhas desde sempre, mesmo que seja entregar uma à morte em prol de um suposto bem geral.

Antigamente, a floresta fora um lugar de verão interminável, um local de conforto em um mundo movido por violência. As amas contavam que ela fora capaz até mesmo de conceder dádivas àqueles que deixavam sacrifícios dentro de seus limites — mechas de cabelo, dentes de leite, papéis salpicados com sangue. A magia existia livremente naquele mundo, acessível a todos que aprendessem a utilizá-la.
No entanto, quando os Cinco Reis fizeram um pacto com a floresta para que esta confinasse os deuses monstruosos — para que criasse as Terras Sombrias como uma prisão para eles —, toda a magia se foi, absorvida por Wilderwood para assim realizar a monumental tarefa.

Se você está se questionando porque Red deve ser entregue ao Lobo, é bem simples: um pacto foi selado entre determinados Reis e as forças ocultas da floresta de Wilderwood. Ao longo dos quatro séculos que este pacto vigora, somente 4 irmãs foram entregues, e Red deverá cumprir seu papel e ir tranquilamente. O que ela faz. E, a partir daqui, é tudo diferente do que você imagina porque entra magia, mentiras, manipulações, personagens que fizeram pactos e o amor entre duas irmãs que terminam não aceitando o papel imposto para ambas. E, pode confiar em mim e me cobrar, você não espera a quantidade de menções e misturas de mitologias que acontecem aqui.

Red é a irmã principal do primeiro livro, mas não pense que temos somente pontos de vista dela: enquanto ela está na Floresta, lutando por sua vida e tentando se adaptar, também temos o ponto de vista de Neve e sua inconformidade com ter perdido a sua irmã, junto com uma trama palaciana muito maior do que esperávamos quando começamos a leitura, já como pela sinopse, a trama estaria somente com Red – de novo, essa sinopse não entregou quase nada!

Agora o rosto estava limpo, e a Marca, escondida sob a manga das vestes brancas que usava sob o manto.
Vestes brancas, cinta preta, manto escarlate. Um grupo de sacerdotisas silenciosas tinha deixado tudo em sua porta na noite anterior. Ela jogara a pilha de roupas no canto do quarto; ao acordar naquela manhã, porém, Neve estava lá, acomodando cada item no assento sob a janela. Desamarrotando os vincos com a palma da mão.
Em silêncio, Neve ajudou Red a se vestir, segurando as vestes brancas para que Red as colocasse pela cabeça e amarrando a faixa preta na cintura da irmã. O manto foi a última peça, pesado, quente e da cor de sangue. Quando terminaram, as gêmeas ficaram imóveis, caladas, encarando o reflexo de ambas no espelho de Red.

Se eu tenho algo para falar mal do livro é a falta de um mapa, porque claro que entendemos muito bem que Valleyda faz divisa com a flores Wilderwood, mas há outros reinos que são mencionados e que confesso que fiquei perdida sobre como era a divisa da floresta. Tirando esse ponto, eu simplesmente não tenho o que reclamar porque li este livro de quase 400 páginas em uma sentada só porque eu estava loucamente shippando Red e o Lobo – mas também preciso avisar vocês que o romance não é o fio condutor da trama. Claro, há uma grande parte da trama destinada a mostrar o envolvimento dos dois e também para mostrar o relacionamento de ambos se desenvolvendo, mas o centro de tudo aqui é realmente a floresta e tudo que acontece a partir dela, inclusive os poderes de Red e como eles podem impactar o futuro de Neve, terminando em um final que lhe deixa ansioso para ler logo o segundo livro e conhecer a jornada da gêmea mais velha.

Se você, como eu, ama uma boa Fantasia e sentia falta de algo que enchesse seu coração com um mundo repleto de novidades e adora também contos de fadas, o livro que vai roubar sua atenção por dias chegou. A forma como a narrativa vai desenvolvendo todos segredos da trama e como esta culmina ainda estão ressoando em minha mente mesmo dias depois de terminar a leitura, tudo porque eu penei para escrever essa resenha sem entregar nenhum dos segredos da trama, pode acreditar em mim. Estou aqui, querendo ler logo o segundo livro, que não pode chegar rápido o suficiente para saciar a minha curiosidade. E ah, uma última coisa que não poderia encerrar sem mencionar: que dedicatória maravilhosa! Eu fui comprada ali, com essas palavras: “Para aqueles que reprimem a raiva tão fundo que ela é incapaz de sair, para os que se sentem afiados demais para tocar em algo delicado, para aqueles que estão cansados de carregar mundos nas costas.” – você, Hannah, é uma escritora que eu vou acompanhar o que escrever, quando escrever. Paro por aqui, afirmando que se uma irmã é para o trono e a outra é para o lobo, ainda bem o livro ficou para nós, leitores. Nossa sorte.

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1 comentário em “Resenha: Para o Lobo (Wilderwood #1) – Hannah Whitten”



  1. Emma Renault disse:

    Estou doida pra ler esse,mas queria muito saber a classificação indicativa antes… Pode me dizer?



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