24.06

Hoje vamos falar sobre uma leitura muito especial que eu fiz recentemente. O livro é lançamento de ninguém menos que David Levithan, autor de “Todo Dia”, que, aliás, é um dos meus livros preferidos no mundo. Com ele, Jennifer Niven, autora de obras como “Garota em Pedaços” e “Juntando os Pedaços”. Os dois, juntos, criaram uma leitura completamente diferente das coisas com as quais estamos acostumades. E você precisa ler.

Nesta história emocionante narrada através de e-mails, dois dos maiores nomes da literatura YA contemporânea nos apresentam a dois irmãos em busca de um lugar seguro no mundo.

Beatriz e Ezra são irmãos e o principal apoio um do outro. Desde que a mãe deles se casou novamente, a vida dos dois ficou bem mais complicada. Mas Bea sempre fez questão de ocupar o posto de encrenqueira da casa e dar tudo de si para proteger Ez dos adultos. Até agora.
Quando Bea vai embora sem avisar ninguém, a situação do garoto muda complemente — ainda mais dentro de casa. Dividido entre a saudade, a raiva e a preocupação, Ez agora só pode contar com a irmã à distância, já que tudo que ela deixou para trás foi um endereço de e-mail secreto para se corresponder com ele.
Enquanto Bea vai em busca de segredos do passado na esperança de mudar seu futuro e Ez tenta encontrar seu lugar no mundo sem a irmã, os dois vão precisar aprender a confiar em si mesmos até poderem se reencontrar.

Ok, quando eu li essa sinopse, já fui fisgada. Primeiro porque o livro é narrado através de uma troca de e-mails, e eu, por algum motivo, adoro esse tipo de leitura. É o tipo de leitura que na maioria das vezes sempre apresenta mais de um pov, o que, na minha opinião, deixa a história mais completa. Segundo porque, como a própria sinopse já diz, é uma história sobre duas pessoas perdidas, que devem encontrar a si mesmas.

O relacionamento principal do livro é um laço entre dois irmãos, Bea e Ezra. Ás páginas de “Me Leve Com Você”, aliás, me fizeram pensar muito nas minhas irmãs. É impossível não pensar. É impossível não me colocar hipoteticamente em uma das situações da história.

O que a sinopse não fala, entretanto, é sobre a situação em que os dois irmãos vivem. Os dois são abusados pelos pais, e por pais quero dizer a mãe biológica e o padrasto que os criou. E eu sei, quando paramos para pensar em abusos, a primeira coisa que nos vêm na mente é algum tipo de abuso físico. Mas na história não é assim. É aquele abuso emocional. Que é tão horrível e pesado quanto. Como a própria Bea fala algumas vezes ao longo do livro, é aquele tipo de abuso onde as pessoas te dizem algo um certo número de vezes até que você passa a acreditar que aquilo é verdade.

Embora eu soubesse que eles não me amavam, eu estava com medo de que me amassem menos.
Entrei e fui direto pra seu quarto.
Minha cabeça estava rodando, e o meu lado mais esperto sabia que, nessas condições, era melhor ir até você.

Esse para mim, aliás, foi um ponto importantíssimo que o livro levantou! Muitas vezes as pessoas acreditam que as situações em que se encontram não caracterizam abuso porque não apanham, ou são abusadas sexualmente. Mas isso não quer dizer nada sobre. Existem diversas formas de abuso, e diversas personalidades de abusadores. É importante saber que se te faz sentir mal, diminuíde, de qualquer forma que seja, você deve buscar ajuda de alguém. De qualquer um! Não se deixe ser oprimide.

É um pouco difícil falar da história do livro em si sem dar spoilers, mas o que posso dizer sobre é que Bea parte, ou melhor dizendo, foge, sem nenhuma explicação, no meio da madrugada, para buscar respostas que ela não encontra na vida que tem. A única coisa que seu irmão, Ezra, encontra, ao buscar pela irmã, é um endereço de e-mail que ela deixou para trás. E até aí eu achava que o livro era sobre isso.

A narrativa flui muito, muito bem. David Levithan e Jennifer Niven tem o dom de manipular as palavras de uma maneira extremamente profunda. De realmente nos fazer entender o que querem dizer. Digo, realmente ENTENDER, e não apenas saber sobre o que se fala.

Os personagens também tem características e personalidades muito próprias. Eu amei o Ezra desde os primeiros e-mails, e devo dizer que, mesmo que eu compreenda muito o lado da Bea, eu não consegui gostar muito da personagem dela, só porque, mesmo entendendo, eu ainda achei ela muito egocêntrica. E mesmo assim, extremamente corajosa. A Bea é muito, mas muito corajosa. E autêntica, também.

Outra lição muito presente em “Me Leve Com Você” é que nem sempre as coisas acontecem como a gente espera. Quer dizer, muita gente acredita que se não acabou bem é porque ainda não acabou. E na verdade não é assim. A realidade, muitas vezes, é completamente diferente na prática. Esse livro fala sobre pessoas muito reais, e experiências muito reais. Que poderiam acontecer com você, ou o seu vizinho, ou o colega que se senta ao seu lado todos os dias e você nem faz ideia.

O que percebi quando finalmente levantei a cabeça: durante todos esses anos eu venho carregando uma pontinha de esperança, enterrada em algum lugar lá no fundo, de que talvez não estivéssemos levando a vida que deveríamos, de que talvez outra vida, uma vida melhor, esperasse por nós em algum lugar. Quer dizer, quem não tem esse desejo pelo menos uma vez na vida? Em todos os piores, podres momentos com o Darren e a mãe, aquela pontinha de esperança era meu refúgio onde eu me encolhia e dizia a mim mesma: “Está tudo bem. Aqui não é o seu lugar. Tem algo melhor para você em algum lugar. Aqui não é o seu lugar”.


“Me Leve Com Você” tem um plot twist sensacional. E tudo o quê posso dizer sobre é que eu definitivamente não estava esperando por isso! E foi tão difícil para mim quanto para os personagens, tenho certeza. Doeu em mim também.

Lembra quando eu disse que achava que o livro era a história dos dois irmãos? Pois é, no final, descobri que é sobre muito, muito mais. É sobre liberdade. Sobre o vazio que sobra quando nos libertamos do que nos prendia. E como isso pode ser assustador. Esse livro, para mim, fala muito sobre liberdade. E coragem, também. A coragem de dizer adeus para o que te faz mal. E como, ás vezes, não tem uma maneira de fazer isso devagar. Ás vezes é preciso fechar os olhos e ir de uma vez. Coragem para ser quem queremos ser. E coragem para descobrir quem somos quando não sabemos.

Então o que eu aprendi foi o seguinte. Um: Não tem motivo para esconder o que aconteceu com você, porque esses maus-tratos que você sofreu são vergonha para eles, que te agrediram, não para vocês. Dois: Fazemos parte de um grupo que nunca quisemos estar, o grupo das pessoas que quase foram destruídas e que descobriram que têm força para sobreviver. Temos de estender a mão uns para os outros sempre que pudermos. E três: Sempre que você estiver no fundo poço, tem como sair. Seu agressor não vai querer que você saiba disso, mas outras pessoas podem te ajudar a sair.

Eu amei “Me Leve Com Você”. É uma leitura que recomendo demais!

Para comprar “Me Leve Com Você”, basta clicar no link da loja que você preferir:
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Submarino.
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