12.01


“A Contrapartida: O Contra-ataque”
Uranio Bonoldi
Valentina – 2021 – 400 páginas

A vingança está entre nós. Sempre esteve presente em diferentes domínios e contextos das relações humanas. Na filosofia, talvez um dos ensaios mais completos sobre a essência da vingança pertence ao alemão Friedrich Nietzsche. Segundo ele, o gatilho do revide é acionado quando o ressentimento, alimentado cadenciadamente pelo ódio e a inveja, é canalizado para uma ação prática para punir o outro.

Um novo olhar sobre esse tema está sendo proposto pelo autor com a mesma intensidade do volume 1, esta sequência colocará o leitor diante de situações em que a maldade, motivada pela vingança, desencadeia uma série de acontecimentos que fogem ao controle dos envolvidos na trama.

Você pode ler minha opinião sobre o livro 1, “A Contrapartida”, clicando AQUI. Você também pode assistir um bate-papo que tive com o autor Uranio Bonoldi em clicando AQUI.

Quando li “A Contrapartida”, eu sabia que estava diante de um livro que seria difícil de esquecer: com uma trama ambientada no Brasil muito bem amarrada envolta em uma mitológica criada a partir de elementos indígenas e com cenas intensas, o livro foi, para mim, uma das melhores leituras do ano passado, muito ainda acentuada pelos personagens moralmente duvidosos, sem uma linha clara e reta sobre quem são os mocinhos e aonde estão as intenções das personagens. Amei. Realmente amei.

Por isso, quando surgiu a oportunidade de ler “A Contrapartida II – O contra-ataque”, nem mesmo hesitei em aceitar e me entregar à leitura, então segue o aviso: se segurem porque o livro 2 é repleto de ação embrulhado no retorno a mitologia impactante do 1º livro, personagens tomando decisões que os levam ao limites, retorno de personagens que não esperávamos, apresentação de novos e ainda mais dúvidas sobre até aonde podemos ir para alcançar o que queremos – ou, aqui, até onde somos capazes de irmos para nos vingarmos.

No seu devaneio, imagina um mundo no qual interpretou a mensagem erroneamente e está tudo bem, mas a realidade é mais insuportável que os pequenos golfos que ainda sobem em espasmos e escapam como coriza.

Mas, recapitulando um pouco para os que não conhecem a trama (vocês precisam conhecer, sério!), Dr. Octávio Albuquerque, mais conhecido como “Tavinho”, é um médico que cresceu acreditando ser pouco inteligente, a sombra da inteligência do finado pai (um grande professor universitário morto em um assalto) e sua mãe (uma inteligente executiva). Por mais que tentasse e se esforçasse, Tavinho não conseguia ter o desempenho intelectual que desejava, até que Iaúna, uma índia que teve sua tribo dizimada e morava com sua família desde que a mãe de Tavinho, Dra. Cristina, esteve no Amazonas e a trouxe consigo, apresenta ao garoto uma opção: ele poderá ter toda inteligência que deseja através de um elixir. Mas, claro, que isso requer uma contrapartida que o garoto logo se pega mais do que disposto a pagar para ter tudo que sempre sonhou. Claro que esse é um resumo do resumo e a trama é muito, muito maior do que isso, mas só essa premissa já levanta a questão do que estamos dispostos a entregar para termos o que queremos, e, principalmente, faz o leitor questionar se merecemos o que queremos.

Pegando praticamente do momento no qual o livro 1 encerra com uma grande tragédia, vemos Tavinho lidando com as consequências de suas escolhas, tanto para conseguir o que queria (sua venerada inteligência), quanto as escolhas feitas para tentar se livrar da trama na qual se envolveu. Se você leu o livro, você sabe que há alguém mais naquela última cena, alguém que enfim somos apresentados neste novo livro, e olha, preciso falar: que vilão, leitores! Além de apresentar este “novo” personagem, que tem sua presença pairando em diversas cenas na narrativa do livro 1, também temos novos pontos de vista de ações que acreditávamos que já estavam consolidadas e já sabíamos o que tinha acontecido, mas o autor, sabiamente, faz diversas inversões que o leitor não esperava mesmo tendo lido o livro anterior, o que é bastante satisfatório, afinal, quem não gosta de ser surpreendido?

O celular vibra na mão do médico que, ainda perplexo com tudo aquilo, olha para o aparelho. O número desconhecido enviou outra mensagem:
“XEQUE-MATE.”

O livro não tem uma construção de narrativa linear, então você precisa realmente se atentar às datas quando o capítulo começa, remontando novamente ao fatídico ataque à tribo Moxiruna (ou, talvez, até mesmo antes), passando pela construção de um vilão que tem uma ligação com tudo que acontece com Tavinho, até bem mais do que acreditamos quando a narrativa começa. Ainda temos antigos personagens de volta, como Martha, o grande amor de Tavinho, e Oswaldo, o melhor amigo do personagem principal e delegado, que realmente acredita no amigo e está disposto a ajudar como for possível. No início, por mais que Tavinho esteja realmente de luto e enfrentando as consequências de suas ações, ele começa a demonstrar que está tentando ir por outro caminho, tomando decisões esperadas de um “mocinho”. Mas… (claro que há um “mas”: todo bom livro necessita de um bom e grandioso “mas”), claro que as decisões tomadas por Tavinho não se sustentam em toda narrativa, logo desencadeando a entrada de Carlos em sua vida e uma grande trama começa a se desenrolar. Carlos? Mas quem é Carlos?

Confesso que me surpreendi com o tamanho da trama desta continuação, que vai da mitologia já criada e estabelecida no primeiro livro, passando também pela politica – sim, pode esperar aqui uma trama politica capaz de causar nojo em qualquer pessoa simplesmente porque sabemos que isto acontece realmente, todos os dias. De fiscais tentando subornar empresários até grandes políticos e suas influências, Uranio constrói uma trama que torna praticamente impossível de se deixar (tanto que li as 400 páginas do livro em apenas 2 dias de tanta curiosidade de saber como tudo iria terminar), amarrando narrativas ainda em abertas do primeiro livro com novas tramas exploradas neste segundo, passeando por todo Brasil. Foi bastante prazeroso de ler e ver o tamanho que a trama toma aqui.

Sem saber dos planos um do outro, naquela noite, ambos fazem uma promessa que, no futuro, apenas um conseguirá cumprir…

Eu sei que estou sem entregar quase nada sobre a trama, mas estou fazendo isso propositadamente: não quero entregar as reviravoltas que estão vindo neste livro, nem os choques que tive ao descobrir determinadas coisas que se encaixaram muito, muito bem, tanto a ponto de me fazer ter vontade de perguntar ao autor se a trama já estava toda na cabeça dele ou se foi algo que foi construído, desdobramentos que nem ele mesmo esperava. Não quero também terminar sem citar as fontes Shakesperianas deste livro (eu vi que você fez, Uranio, eu vi e peguei a dica, e mais de uma vez, hein!), que realmente casaram perfeitamente.

Termino indicando tanto “A Contrapartida” para quem não leu ainda, quanto “A Contrapartida II – O contra-ataque” para quem já leu o livro 1 e deseja saber como Tavinho reagiu ao que aconteceu e como ele está atualmente, além de ser o tipo de leitura que você conclui muito, muito rapidamente, levado pela vontade de saber aonde aquela narrativa irá levar o leitor, sendo uma ótima ideia para um presente para aquela pessoa que você ama e adora o gênero de suspense. Uranio, o autor, na dedicatória do livro, o faz para todo grande público que leu o 1º livro, então aproveito este espaço para, na verdade, agradecer a ele pela oportunidade de acompanhar essa saga – e dizer que espero que ela não pare aqui e que estou esperando para uma possível continuação. Nós, leitores de suspense, esperamos.

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