“Depois do sim”
Taylor Jenkins Reid
Paralela – 2020 – 320 páginas
Depois do sim é uma leitura leve, divertida e ao mesmo tempo tocante e profunda sobre a complexidade dos relacionamentos que dão sentido às nossas vidas.
Após onze anos de casamento, Lauren e Ryan chegam à triste conclusão de que não estão felizes juntos.
Esse poderia ser o fim, mas para os dois é só o começo. Eles vão passar por um ano diferente de tudo aquilo que já viveram, no qual aprenderão muito mais sobre si mesmos do que seriam capazes de imaginar.
Depois do sim é uma história sobre o que acontece quando a paixão parece não estar mais lá. Sobre as várias facetas do amor. Sobre aprender a mantê-lo, perdê-lo, redescobri-lo e aceitá-lo como ele é. Acima de tudo, é a história de um casal preso nas armadilhas de seus hábitos e manias, mas disposto a buscar um novo e inusitado caminho para fazer dar certo.
Para quem não está associando o nome da autora à outros títulos, Taylor Jenkins Reid é a autora de dois grandes livros (na minha opinião e de todas pessoas que leram): “Os sete maridos de Evelyn Hugo” e “Daisy Jones and the six” (e ainda de “Amor(es) Verdadeiro(s)”), o que, definitivamente, lhe dá credito para me fazer ler qualquer coisa dela. Acho que a escrita de Taylor é uma das melhores da atualidade e ela tem a habilidade de pegar histórias que parecem corriqueiras e transformar em algo que potencialmente tocará todos leitores e fará eles se conectarem, em algum nível, com os personagens.
E sim, é o que acontece aqui: “Depois do sim” é mesmo algo bastante usual: Lauren e Ryan se conhecem, se apaixonaram loucamente, decidiram passar o resto de suas vidas juntos – que é o que acontece quando você se apaixona pra valer. Mas a vida foi fazendo com que crescessem separados, amadurecessem e se tornassem pessoas diferentes, porque é isso mesmo que também pode acontecer durante a vida, mesmo se estando casado. Se dando conta que não estavam mais felizes e que, apesar de ainda se respeitarem bastante, o relacionamento estava sofrível para ambos, eles decidirem o impensável: ficarem um ano sem se verem de forma alguma, sem nenhum contato.
“Deixa pra lá, Lauren”, Ryan diz. Ele caminha até a porta da frente, pronto para sair. Thumper está sentado nos meus pés, sem saber no que está metido.
“A gente não pode deixar pra lá, Ryan”, respondo. “Eu não vou. Nós estamos ‘deixando pra lá’ já faz meses.”
Isso é o que mais me preocupa na nossa situação. Não estamos brigando por causa do aquecedor de água ou pela vaga do estacionamento no estádio. Não estamos brigando por dinheiro, por ciúme ou por falta de comunicação. Estamos brigando porque não sabemos o que fazer para ser felizes. Estamos brigando porque não estamos felizes. Estamos brigando porque não fazemos mais o outro feliz. E, falando pelo menos por mim, estou irritada com isso.
Toda conversa dos dois protagonistas é de partir o coração. Você entender que falhou em algo que deveria ser pra sempre, que você parou de se importar se magoa ou não a outra pessoa, que você precisa ficar longe da outra pessoa em prol da sua própria sanidade mental… toda essa parte da conversa deles foi definitivamente a melhor parte do livro para mim, junto com a jornada que Lauren inicia para aprender a se virar sozinha depois de 11 anos tendo alguém em sua vida.
Talvez esse tenha sido o grande ponto fraco do livro para mim: o fato de Lauren e Ryan decidirem, de cara, passarem um ano sem se verem ou terem qualquer contato. Para mim, pareceu pular algumas possíveis etapas para uma já mais drástica. Isso é ainda antes do terço inicial do livro, então obviamente ainda havia muito o que vir pela frente e eu sabia, então confiei na autora e embarquei na jornada dos personagens, mesmo deixando de lado a minha própria opinião pessoal – afinal, era a história deles.
O que aconteceu com a gente?
Dá para ouvir uma voz na minha cabeça, falando num tom bem claro e direto. Eu não o amo mais. É isso que ela diz. Eu não o amo mais. E, talvez, a pior parte seja o fato de que, no fundo, sei que é recíproco.
Todas as peças se encaixam. Então, tudo o que está acontecendo é por isso, né? O motivo de todas as brigas. O motivo para eu discordar de tudo o que ele fala. O motivo para eu não suportar mais as coisas que costumava suportar. O motivo para a gente não transar mais. O motivo por que não tentamos mais agradar um ao outro. O motivo por que nunca estamos satisfeitos um com o outro.
Ryan e eu somos duas pessoas que se amavam.
E um dia isso foi muito bonito.
Mas agora é apenas triste.
Mas, voltando ao ponto da história, Lauren começa todo um processo de começar a se curar de toda mágoa e dor de ver o marido ir embora, deixando o cachorro adorado deles com ela, em sua guarda, assim como na casa que moravam. Lauren nunca quis ter filhos até aquele ponto e achei isso absurdamente válido, afinal os dois se conheceram na faculdade, estavam juntos desde os 19 anos de idade e precisavam dar prioridades às suas carreiras também, além de aproveitarem a vida, o que fazia sentido dentro da vida e perspectivas dos personagens, mas eles tratavam o cachorro deles como um filho e brigaram pela “custódia” dele.
Claro que Lauren toma algumas decisões absurdamente erradas, mas que precisam ser tomadas para sua própria sanidade mental e servem como uma espécie de empurrão na direção certa. Não a culpo porque acredito que quase todas as pessoas terminariam fazendo algo do tipo, e isso também vai guiando suas próximas decisões. Não julgo a personagem por decidir, de alguma forma, entender o que o marido (ou será ex? Até o final do livro a gente descobre, prometo) está fazendo em sua ausência. É de partir o coração o sofrimento que ela passa, mas é justamente ai que o livro realmente começa a se desenrolar.
“Mas tenho saudade da minha mãe”, ela continua. “E do meu pai. E da minha irmã mais velha. E da minha melhor amiga. E do meu marido. Já vivi tempo demais sem ele.”
“Mas você estava bem”, digo. “Estava saindo da cama. Estava levando a vida sem ele.”
Minha avó sacode a cabeça de leve. “Só porque dá para levar a vida sem uma pessoa não significa que a gente queira isso”, ela rebate.
Quando Lauren começa a reaprender quem era, o que queria, seus sonhos, suas vontades, tudo que foi começando a anular para continuar vivendo aquele relacionamento que ela queria estar – até que deixou de querer – é quando começou realmente a ficar uma leitura que prende a atenção do leitor. Lauren é bastante próxima de sua irmã, Rachel, mas nem tanto do seu irmão,Charlie. A medida que vai tendo de assumir para sua família que seu casamento está em uma espécie de pausa, com todos já tão habituados com a presença de Ryan, Lauren vai ao mesmo tempo se aproximando mais e mais deles, vendo outra faceta do irmão, que vai começando a amadurecer e encontrar seu próprio caminho. É interessante ver a dinâmica familiar mudar a medida que Lauren também vai mudando, a presença de sua avó em sua vida se destacando mais ainda, a forma como ela vai se abrindo e conhecendo David, um cara também recém-separado que passa a ter um papel em sua vida.
Acho que depois de ler dois livros tão intensos como “Evelyn Hugo” e “Daisy Jones” da autora, eu esperava mais do livro. Esperava algo na medida do que me acertou com as outras narrativas e torci por determinadas coisas que não aconteceram (pausa para explicar que “Depois do sim”, apesar de ter sido publicado agora aqui no Brasil, foi escrito e publicado antes dos outros dois livros mencionados da autora). Foi um problema de expectativas mesmo, mas não sou tão critica a ponto de não dar os elogios que a trama merecem por ser tão bem escrita e conduzida.
Não sou tão fã de romances, mas esse livro foi uma leitura prazerosa e rápida e li de uma vez só, em uma tarde e adentrando a noite. Você não vai se arrepender de dar uma chance para “Depois do sim” – e se você não conhece os livros da Taylor, sua hora chegou, porque eu vou continuar lendo tudo que ela escreve, até porque às vezes precisamos de algo mais leve com personagens que precisam se reencontrar e segundas chances: e isso, todos, absolutamente todos, precisam em algum ponto da vida.
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