10.07


“Os Olhos da Escuridão”
Dean Koontz
Citadel Editora – 2020 – 272 páginas

Uma busca por um filho desaparecido… E um mistério tóxico que ameaça o mundo! Um ano se passou desde a morte do pequeno Danny. Um ano desde que sua mãe iniciou o doloroso processo de aceitação. Mas Tina Evans poderia jurar que acabou de vê-lo dentro do carro de um estranho. Na última perturbadora noite sonhou com seu filho. Ao acordar, foi até o quarto de Danny e para sua surpresa lá estava uma mensagem. Três palavras perturbadoras rabiscaram no quadro-negro: NÃO ESTÁ MORTO. Foi uma piada sombria de alguém? Sua própria mente lhe pregando peças? Ou algo mais? Para Tina Evans, era um mistério que ela não podia escapar. Uma obsessão que a levará até as últimas consequências para descobrir a verdade por trás da morte de seu filho. Um terrível segredo que não foi visto por ninguém, apenas pelos olhos da escuridão.

A resenha a seguir é fruto da Leitura Coletiva que participamos ao sermos escolhidos pela LC Agência de Comunicação e o exemplar fornecido pela Editora Citadel. Agradecemos profundamente a oportunidade e estamos ansiosos para novas leituras coletivas e eventos futuros juntos.


Você ainda pode concorrer a um exemplar de “Olhos da Escuridão” lá no sorteio em nosso Instagram! Corre que está valendo até dia 12/07 – clique AQUI.

Vamos começar essa resenha primeiro lembrando vocês que já falei desse livro na coluna de lançamentos literários do mês de Maio (leia clicando AQUI), e na época eu falei sobre como as redes sociais estavam falando como o livro, que é de 1981, tinha previsto um vírus. No final das contas, o que eu já adianto é que não, o livro não previu o covid-19 – mas ele previu muito do cenário politico que estamos passando atualmente. Durante a leitura, me assustei diversas vezes com determinadas passagens que poderiam ser perfeitamente aplicada nos dias atuais (e em uma entrevista recente, o autor Dean Koontz deixa claro que não previu o vírus, ele simplesmente pesquisou bastante (leia clicando AQUI), o que me faz pensar que o mundo já tinha tanta coisa errada antes e nunca tentamos mudar e fazer daqui um lugar melhor. A humanidade erra, mas o pior é que continua no erro em um loop infinito.

Outra coisa que preciso deixar claro é que o livro é de 1981, e apesar de ter sido editado posteriormente, ainda assim faz referência a coisas de 4 décadas atrás, só que livro bom não perde sua essência e não faz diferença em sua trama quando foi escrito: posso te assegurar que a falta de celulares é sentida, assim como nos modelos dos carros que nem ao menos conhecemos, mas é somente isso que datou no livro, porque a trama central é atual. Bastante atual. Tão atual que assustou, como já falei.

Depois do choque inicial e do funeral, ela começou a lidar com o trauma. Gradualmente, dia a dia, semana a semana, ia deixando Danny para trás, com tristeza, culpa, lágrimas e muita amargura, mas também com firmeza e determinação. Tinha dado vários passos adiante na carreira no último ano, fazendo uso de sua intensa rotina de trabalho como uma espécie de morfina, com intuito de amortecer a dor até a ferida cicatrizar por completo.

Deixando as introduções de lado e indo para a trama, “Os Olhos da Escuridão” começa com Tina Evans, a personagem principal, ainda lidando com o luto da morte do filho que aconteceu há ano atrás dentro da narrativa, e assim descobrimos que Danny, seu filho de 12 anos, morreu em um acidente de ônibus enquanto viajava com os amigos em uma excursão dos escoteiros. Trabalhando como produtora de espetáculos na cidade de Las Vegas, palco da trama, Tina se considera uma mulher bastante racional, se cobrando excessivamente para superar a perda tão trágica e fatal que vivenciava.

Tina e Michael, o pai de Danny, haviam se separado justamente no ano passado, mesmo ano no qual o menino havia morrido. Tentando encontrar consolo e rumo para sua solitária vida aos 33 anos, Tina caiu de cabeça em seu novo e desafiador trabalho: cuidar da produção do musical “Magyck!” em um grande hotel na cidade, e foi isso que manteve a sanidade e o foco da mulher naquele último ano. O papel de produtora é tão grande que pode elevar sua carreira completamente e ainda lhe render milhões – ou também a destruir, caso o show falhe.

Quando recolheu os bastões de giz e o apagador e os devolveu à base da lousa, ela percebeu três palavras rabiscadas de forma grosseira na superfície escura:
NÃO ESTÁ MORTO.

Justamente por acreditar que não está superando a morte do filho, Tina escuta barulhos dentro de sua casa, e na noite da véspera da estreia do seu espetáculo, quando a ansiedade já estava alta, ela escuta um barulho e descobre vir do quarto do filho, o qual nunca teve coragem de desmontar e muito menos de doar as coisas que o garotinho gostava e suas roupas, mantendo o quarto ainda do mesmo jeito de quando ele estava vivo. Indo até o lugar, encontra um misterioso recado no quadro que o garoto gostava de desenhar: “Não está morto”. Claro que isso somado ao fato dela mesma desconfiar de sua capacidade de superação, já como fica vendo o pequeno em outros garotos, Tina começa a questionar sua própria sanidade.

Disposta a se focar no que realmente necessita e no trabalho, Tina vai cuidar dos últimos detalhes necessários no dia seguinte, deixando sua casa para a diarista Vivianne Needler fazer a faxina durante a noite enquanto assistirá a primeira apresentação do espetáculo. O que ninguém esperava é que justamente enquanto a idosa e bondosa senhora estivesse fazendo seu trabalho, um fenômeno estranho tivesse como centro o quarto do falecido garoto: uma camada de gelo na porta, o ar frio dentro do quarto, portas do closet abrindo e fechando e até mesmo a cama se movendo, tudo embalado ao som de estática vindo do rádio de Danny. A mulher obviamente se apavora, mas, tão inesperadamente como começa, logo tudo acaba – e a mulher decide jamais contar a alguém o que viu ali, já como ninguém acreditaria nela. Enquanto o espetáculo de Tina se inicia e Vivianne vai embora, o mesmo fenômeno acontece novamente no quarto do garoto, fazendo o leitor se questionar o que está acontecendo ali realmente e jogando a leitura entre o fantástico e o horror.

Uma ave passou voando lá em cima. Elliot não conseguia vê-la, mas ouviu o bater das asas.
Tina tossiu para limpar a garganta.
— É como se… a própria noite estivesse nos observando… a noite, as sombras, os olhos da escuridão.
O vento bagunçou o cabelo de Elliot, sacudiu um pedaço solto da estrutura de metal da lata de lixo, e a grande placa do restaurante rangeu entre os dois postes de sustentação.
Rapidamente, ele e Tina entraram na lanchonete, tentando não olhar para trás.

A trama continua no dia seguinte, dia 31 de dezembro, bem na virada do ano, com Tina encontrando o quarto de Danny completamente fora do lugar do 2ª fenômeno que aconteceu na noite passada e decidindo ainda ir confrontar seu ex-marido Michael, o qual acredita que seja quem está fazendo tudo aquilo para se vingar dela, já como a culpava pela morte do filho por tinha sido ela a autorizar que Danny fosse naquela excursão. Michael foi um personagem odiável desde o primeiro momento e não senti qualquer empatia por ele, chegando a ser clichê de tão “cilada” que ele é.

Em contrapartida, Tina terminou conhecendo o advogado Elliot Stryker na noite anterior, com quem teve uma imediata conexão e tinha um encontro naquela noite, mas, ainda assim, decidiu ir pro emprego. E lá, para seu pavor – e do leitor, porque a coisa começa a ficar realmente tensa – mais fenômenos acontecem, com direito a pedido de ajuda e diversos “não está morto” sobre Danny. Acho que agora eu paro de falar sobre a trama do livro sem dar nenhum spoiler porque, a partir daqui, tudo começa a andar muito, muito rápido em uma trama de perseguição bem ao estilo gato-e-rato a ponto de você não querer parar de ler para entender logo o que está realmente acontecendo com Tina, Elliot e a verdade sobre Danny.

Tudo tem seu tempo, Tina disse a si mesma.
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar.

A escrita é muito, muito rápida, tanto que a trama em si se passa em 4 dias, e o autor não se prende em detalhes demais ou construção de um relacionamento que te faça perder o ar de tanto querer Tina e Elliot juntos porque o grande amor do livro é, definitivamente, de Tina por Danny. E talvez esse seja o ponto que mais tenha me incomodado no livro porque quando tudo isso começa a acontecer, Tina chega a uma conclusão contra a lógica que a personagem sempre demonstra querer que seja o principal traço de sua personalidade. Entendo que o amor de mãe é o tipo de amor acima de todos os outros sentimentos do mundo, mas não consigo entender muito como alguém aceitaria uma explicação não-natural para algo que esperava ser natural. No final das contas, eu não digo, de forma nenhuma, que isso interferiu na minha experiência de leitura porque toda trama sobre o Projeto Pandora (não vou nem falar nada além disso) me pegou pra valer e adorei tudo que veio dai em diante. Marquei diversas passagens do livro aos quais não posso compartilhar com vocês justamente porque seriam spoilers.

A indicação para quem gosta de tramas que misturam suspense e fantasia está mais do que dada, com ênfase para todos vocês porque o livro realmente te prende a ponto de você nem se dar conta da quantidade de páginas que leu (e confesso que foi difícil manter o ritmo da leitura coletiva e o terminei antes do prazo. Ansiedade que chama, né?), sem contar as partes que fala de politica e agências secretas – e pronto, parei de dar dicas sobre o que poderia ter acontecido. E então você entende que a trama do livro realmente te pegou quando você termina a leitura da última página e fica se perguntando o que aconteceu com os personagens porque foi exatamente o que aconteceu comigo. Seja como for, “Os Olhos da Escuridão” é o livro que vai ficar comigo por um tempo por muitos motivos secretos – bastante secretos.

Ah, o livro estreou em 1º lugar na lista de mais vendidos do Jornal do Globo, então fica de novo aqui a indicação pra vocês que curtem esse tipo de livro (leia mais sobre clicando AQUI).

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