30.06


“Daqui a cinco anos”
Rebecca Serle
Paralela – 2020 – 291 páginas

Uma história de amor — mas não como você imagina.

Onde você se vê daqui a cinco anos? Dannie Kohan sabe exatamente o futuro que deseja e o que deve fazer para conquistá-lo. Depois de arrasar na entrevista para seu emprego dos sonhos em um dos maiores escritórios de advocacia de Nova York e de ser pedida em casamento pelo namorado, ela vai dormir com a certeza de que está no caminho certo para realizar todos os seus planos.

Quando acorda, entretanto, ela está em um apartamento diferente, com outro anel de noivado no dedo e um homem que nunca viu antes ao seu lado. A televisão mostra que é a mesma noite — 15 de dezembro —, mas cinco anos no futuro.

Depois de uma hora intensa e chocante nesse cenário, Dannie acorda de novo, de volta ao presente, como se nada tivesse acontecido. Profundamente abalada e sem entender o que houve, ela decide acreditar que foi apenas um sonho, por mais realista que tenha sido. E parece funcionar. Isto é, até quatro anos e meio depois, quando  Dannie encontra o homem que viu naquela noite inusitada.

Ao mesmo tempo divertida e emocionante, Daqui a cinco anos é uma história sobre lealdade, amor, amizade e a natureza imprevisível do futuro.

Livros são como pessoas, eu acredito. Algumas funcionam com você, outras não. Assim como relacionamentos de amizade e românticos, toda sua vida interfere para o sucesso daquela parelha, ou, no caso de livros, para o livro lhe acertar diretamente em seus sentimentos. Parece algo bem aleatório para se começar uma resenha, mas eu sinto que preciso explicar isso antes de começar a deixar claro a forma como esse livrou me pegou. Também preciso dizer que, como a protagonista da estória, eu sou formada em direito e sempre, sempre, absolutamente sempre, amei o direito. Eu também acredito que existem outros tipos de amores tão fortes que podem ser “o amor da sua vida” e não ser exatamente seu par romântico: acho que você pode amar profundamente uma pessoa e ela ser sua melhor amigx ou estar presente de outra forma em sua vida. E minha mãe faleceu de câncer há quase 7 anos.

Como comecei falando, quem eu sou implicou diretamente na minha leitura de “Daqui a cinco anos” porque minha própria vida me levou a isso, minhas experiências me fizeram sentir esse livro diretamente em meu coração e a jornada de Dannie entrou em mim de um jeito que ficou difícil terminar a narrativa sem chorar – e não, eu não consegui segurar o choro (e eu odeio chorar). Terminei de ler o livro ontem e normalmente resenho no mesmo dia que terminei de ler para tudo estar bem fresco em minha mente, mas eu não consegui aqui. Eu simplesmente precisei de algumas horas para acalmar meu coração e não fazer uma resenha que terminaria sendo pessoal demais e acredito que posso afirmar com toda certeza de que estou falhando miseravelmente. Mas chega de enrolar e vamos direto para o ponto: Dannie, a personagem principal.

Chegou a hora. É por isso que me esforcei tanto nos últimos seis anos. Na verdade, nos últimos dezoito anos. Cada simulado para o vestibular, cada aula de história, cada hora estudando para o exame de admissão na faculdade de direito. As incontáveis noites indo dormir às duas da madrugada. Todas as broncas que levei no trabalho por alguma coisa que não fiz, todas as broncas que levei no trabalho por alguma coisa que fiz, todo o esforço que empreendi serviu para me trazer até aqui e para me preparar para este momento.

Danielle Ashley Kohan, ou melhor, Dannie, é uma advogada que mora em New York. Assim que a narrativa começa, descobrimos que ela sempre quis ser advogada e aos 12 anos sofreu uma grande perda em sua vida: seu irmão mais velho faleceu em um acidente de carro, a deixando como filha única. Dannie cresceu junto com sua melhor amiga, Bella, estando juntas desde os 7 anos de idade. Enquanto Dannie é razão, guiada por números e objetivos, Bella é por arte e sentimentos, o que faz as duas serem o contraste que realmente funciona, já como Dannie acredita que cuida da amiga que se apaixona facilmente, viaja bastante e nunca teve a presença dos pais em sua vida.

No primeiro dia da estória, Dannie vai ter a entrevista de emprego dos seus sonhos, no lugar que ela tanto quer também desde jovem, e, para coroar aquele dia, ela simplesmente sabe que seu namorado de 2 anos e meio, David, irá lhe pedir em casamento naquela noite depois de reservar uma mesa no Rainbow Room (o qual realmente existe!), um restaurante caro. David e Dannie são o tipo de casal que parecem perfeito um para o outro: nenhum dos dois é romântico e não esperam que o outro abra mão de sua profissão para passarem tempo juntos e ainda fazem pequenos gestos afetuosos e de apoio, como deixar comida quando o outro chega tarde do seu trabalho. A vida de Dannie parece nos trilhos e certeira, com a sensação de que vai dar tudo certo a medida que ela continuar sendo a boa garota que é. Até aquela noite.

Mas isso é o que sei fazer; é nisso que sou boa. Quanto mais eu falo, mais o zumbido vai diminuindo. Fatos. Documentos.

Depois daquela noite naquele dia que beirou a perfeição, com todos planos saindo muito bem, Dannie se deita para descansar um pouco enquanto espera comida com David, no apartamento que dividem. Mas, quando ela acorda, ela não está lá: ela está em 15 de dezembro de 2025. Por vários segundos, ela pensa que está sonhando, depois que está louca, mas, para piorar aquele sonho maluco, ela não está sozinha: um homem chamado Aaron está com ela naquele apartamento que ela acredita que não tem nada a ver com ela, aonde ela aparentemente agora mora. Como já falei, Dannie é muito racional e não dá um ataque, ela tenta juntar as peças daquele quebra-cabeças louco, mas parece estar sobrecarregada de sentimentos por aquele homem que nem conhece. E por ser tão racional assim, ela se culpa por tudo que acontece naquele tempo com ele, até enfim dormir e acordar novamente em seu apartamento, com seu noivo David.

Como toda pessoa racional, Dannie procura ajuda médica porque acredita que teve um pequeno surto naquele sonho tão vivido assim, mas depois chega a conclusão que não pode se guiar por algo assim e continua sua vida. Algo bom, você pensa enquanto lê. E então o livro dá um salto de 4 anos e meio no tempo, mostrando o que a personagem conquistou até ali – e o que não conquistou também, já como ela nunca chegou a realmente se casar com David, com quem ainda continua em um longo noivado, sempre postergando uma data. Nessa altura, eu tinha certeza absoluta do que vinha pela frente, até pelo que a sinopse deixa claro: ela encontraria o tal Aaron e a vida dela iria virar de ponta cabeça com um amor avassalador. Eu sei que você está pensado isso. Eu também pensei.

Somos como constelações que se cruzam, observando a luz uma da outra à distância. Parece inacreditável o espaço pessoal que existe nesta intimidade, a privacidade. E acho que talvez o amor seja isso. Não a ausência de espaço, mas o reconhecimento dele, o que existe entre as partes, o que torna possível não ser uma coisa só, e sim duas pessoas distintas.

Você lê a sinopse do livro e você pensa que sabe aonde tudo vai levar. Eu sei que porque eu cai nesse erro. Fui ler realmente acreditando ser uma comédia romântica, e acredito que vocês já notaram que normalmente eu não resenho romances e nem comédias românticas justamente porque eu sei que não sou uma pessoa romântica, assim como Dannie, mas eu também gosto de ler alguns títulos algumas vezes porque bem, eu gosto de ler de tudo um pouco. Mas eu incorri em um erro bem grande, que foi ignorar a primeira frase desta sinopse: “Uma história de amor — mas não como você imagina” e é exatamente isso que você precisa ter em mente sobre esse livro. Sério. Porque a partir do momento que Dannie “reencontra” Aaron, você fica com a sensação de que a narrativa vai por um caminho – e então um caminhão te atropela. Sem dar nenhum spoiler porque não há menor intenção de estragar a experiência de leitura de vocês, Dannie começa a enfrentar a coisa que ela não sabe lidar: o imprevisto. Não da forma como você pensa assim que ela reencontra Aaron – nessa altura, eu confesso que, mais uma vez, pensei que o livro iria pelo caminho da boa e velha comédia romântica sobre se apaixonar por um cara estando em um relacionamento e ele não podendo ficar com você também por vários motivos que são spoilers, mas eu novamente errei. Ainda bem que errei. Que bom que errei. E confesso isso com a maior sinceridade possível.

A essa altura, quase na metade do livro, você já entendeu sobre o que o livro fala. Você já entendeu que por mais que Dannie seja racional, goste de números e controlar tudo ao redor dela, ela se tornou assim porque ela não pode controlar a grande tragédia que aconteceu na vida dela quando ela tinha 12 anos e agora vai aprender, mais uma vez, de uma forma muito, muito dolorosa, que ela não pode controlar o destino e as coisas que acontecem em nossas vidas. A lógica e a razão dela são desafiadas e, mais uma vez, não é uma comédia romântica. Não, ela não vai lutar contra quem é pelo amor de um homem. E isso é tão, tão maravilhoso.

“Você está confundindo amor com outra coisa. Acha que o amor precisa ter um futuro para fazer diferença, mas não é assim que funciona. É a única coisa que não precisa evoluir para nada. Enquanto existir, faz toda a diferença. Aqui e agora. O amor não precisa de um futuro.”

Quando você entende o grande amor do livro, quando você se dá conta o grande relacionamento do livro e todas as coisas que estão acontecendo para levar aquele o fatídico dia 15 de dezembro de 2025, você sente o coração apertar porque se você for racional como Dannie (e, diabos, como eu), você terá a mesma reação que ela em determinadas partes. No meio do livro, quando ela reage a pior noticia possível, eu me peguei de volta no tempo porque eu tive a mesma reação que ela anos atrás, com a minha mãe. Não vou entrar em detalhes porque seria entregar uma grande parte do livro, mas eu quero acreditar que outras pessoas ai pelo mundo também teriam essa mesma reação porque ser racional às vezes é ser confundida com ser fria – mas não, a gente só quer encontrar uma resposta para nossas perguntas, até mesmo as mais difíceis.

E justamente por ter falado tanto de mim e de minhas experiências que comecei falando que livros são como pessoas que eu não sei se “Daqui a cinco anos” vai funcionar para todas as pessoas, nem pra você, que me lê. O que eu posso te afirmar, com toda certeza do mundo, é que se você quer um livro sobre lealdade e amor, um livro forte e intenso, capaz de fazer seu coração doer, capaz de te deixar de luto e entender um pouco da dor que é perder alguém que você tanto ama em algum ponto de sua vida, eu te indico o livro. Gostaria de dizer com toda certeza do mundo que você precisa ler esse livro, mas eu não sei se isso é verdade: o que eu sei, depois de ler, é que ainda bem que existem livros que não entregam nada em sua sinopse e te enganam bastante, como aconteceu aqui comigo. É a tal da imprevisibilidade da vida, não é mesmo? E ainda bem que a vida continua assim. Ainda bem.

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