“Deuses Americanos”
Neil Gaiman
Intrínseca – 2016 – 576 páginas
Obra-prima de Neil Gaiman, Deuses americanos é relançado pela Intrínseca com conteúdo extra, em Edição Preferida do Autor.
Deuses americanos é, acima de tudo, um livro estranho. E foi essa estranheza que tornou o romance de Neil Gaiman, publicado pela primeira vez em 2001, um clássico imediato. Nesta nova edição, preferida do autor, o leitor encontrará capítulos revistos e ampliados, artigos, uma entrevista com Gaiman e um inspirado texto de introdução.
A saga de Deuses americanos é contada ao longo da jornada de Shadow Moon, um ex-presidiário de trinta e poucos anos que acabou de ser libertado e cujo único objetivo é voltar para casa e para a esposa, Laura. Os planos de Shadow se transformam em poeira quando ele descobre que Laura morreu em um acidente de carro. Sem lar, sem emprego e sem rumo, ele conhece Wednesday, um homem de olhar enigmático que está sempre com um sorriso no rosto, embora pareça nunca achar graça de nada.
Depois de apostas, brigas e um pouco de hidromel, Shadow aceita trabalhar para Wednesday e embarca em uma viagem tumultuada e reveladora por cidades inusitadas dos Estados Unidos, um país tão estranho para Shadow quanto para Gaiman. É nesses encontros e desencontros que o protagonista se depara com os deuses — os antigos (que chegaram ao Novo Mundo junto dos imigrantes) e os modernos (o dinheiro, a televisão, a tecnologia, as drogas) —, que estão se preparando para uma guerra que ninguém viu, mas que já começou. O motivo? O poder de não ser esquecido.
O que Gaiman constrói em Deuses americanos é um amálgama de múltiplas referências, uma mistura de road trip, fantasia e mistério — um exemplo máximo da versatilidade e da prosa lúdica e ao mesmo tempo cortante de Neil Gaiman, que, ao falar sobre deuses, fala sobre todos nós.
A estória de Shadow poderia ser confundida com a de Percy Jackson: um descendente de deuses antigos, que não tem ideia de sua linhagem e muito menos de seu poder e importância. Mas é claro que seria absurdo sequer tentar comparar as aventuras do semideus adolescente com essa road trip criada por Neil Gaiman.
Antes de continuar essa resenha é necessário pontuar que ela está sendo feita a partir da leitura da ‘Edição Preferida Pelo Autor’, que basicamente é o livro que todos conhecem lançado após a edição original, sem os cortes e ajustes dos editores e revisores. Uma espécie de “versão do diretor”, caso fosse um filme de Hollywood.
Bom, a narrativa de Deuses americanos é contada ao longo da jornada de Shadow Moon, um ex-presidiário de trinta e poucos anos que acabou de ser libertado e cujo único objetivo é voltar para casa e para a esposa, Laura. Os planos de Shadow se transformam em poeira quando ele descobre que Laura morreu em um acidente de carro. Sem lar, sem emprego e sem rumo, ele conhece Wednesday, um homem de olhar enigmático que está sempre com um sorriso no rosto, embora pareça nunca achar graça de nada.
Claro que esse não é o nome do deus misterioso – ou nem tão misterioso assim caso você tenha um mínimo de conhecimento sobre mitologias. Aliás, grande parte da diversão do livro está em tentar adivinhar quais personagens se remetem a quais deuses a partir das dicas que o autor vai espalhando (algumas visuais, outras fonéticas, outras em forma de trocadilhos e falas).
Ambientado em grande parte no interior dos EUA, onde as surperstições antigas e velhas histórias ainda são fortes entre os moradores, as capitais e grandes centros também têm sua participação porém atrelada aos novos deuses. Afinal, o livro retrata de maneira bem menos alegórica que muitos outros, como antigos valores e hábitos: se isso é bom ou ruim, cabe ao leitor decidir.
Talvez por ser essa versão estendida, o romance de fato é bastante inconstante. Varia entre trechos onde a narrativa flui e mostra um objetivo a partes cansativas e arrastadas tão desnecessárias quanto chuva em terra molhada. A pesquisa de base foi claramente muito ampla e muito bem-feita. Todos as mitologias – inclusive as nativo-americanas – foram devidamente apresentadas com o respeito devido. Porém, em determinados momentos, alguns cruciais, o autor se perde na mescla entre elas e quebra as regras do universo: afinal, essas mitologias, deuses e crenças coexistem mas não se fundem de maneira arbitrária e mesmo os sincretismos devem seguir uma lógica pré-estabelecida, e não apenas servir às necessidades da trama.
Com um final longo e anti-climático (a trama central se desenvolve de forma muito clichê com os suspeitos óbvios sendo de fato aquilo que são), os personagens salvam a narrativa por suas multifacetadas e complexas personalidades, envolvendo o leitor em seus dramas e questões de forma orgânica, fácil e lúdica.
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