31.01


“Guia para Assassinos sobre Amor e Traição”
Virginia Boecker
Plataforma21 – 2019 – 416 páginas

Na Inglaterra do século XVII, praticar a fé católica era um pecado mortal. E, por essa razão, Sir Richard Arundell foi considerado traidor e assassinado a mando da rainha Elizabeth I. Por isso, Lady Katherine ‒ a filha do acusado ‒ precisou fugir da Cornualha. Sem família e com os bens confiscados, ela foi para Londres à procura dos antigos aliados de seu pai… e de vingança. Assim, a jovem se vê envolvida em um plano para assassinar a rainha.

Mas, para que a artimanha funcione, Katherine precisa virar Kit Alban e fazer com que todos acreditem que ela é um garoto. E, o mais importante, deverá entrar para o elenco da peça Noite de reis. Dirigida pelo famoso William Shakespeare, a peça estreará exclusivamente para Sua Majestade, a rainha. O que Kit não sabe é que a montagem não passa de uma armadilha articulada por Toby Ellis, um jovem e astuto espião que trabalha para a Coroa, com a intenção de prender conspiradores.

Kit e Toby irão dividir não apenas o palco, mas também uma atração inexplicável um pelo outro. No entanto, essa relação poderá pôr em risco seus disfarces. Quando os verdadeiros papéis que interpretam forem revelados, eles saberão manter-se fiéis aos próprios planos ou o amor falará mais alto?

Assim que eu terminei de ler “Guia para Assassinos sobre Amor e Traição” o meu único questionamento foi: “Por que não estão falando desse livro?”. Não sei a resposta para a minha pergunta, mas posso fazer o que está dentro dos meus poderes: levar a palavra dele para todos que eu posso. Misturando ficção e fatos históricos, eu posso afirmar categoricamente que o livro é um dos mais representativos com um personagem bissexual que já li. Como a sinopse já mostra, a própria trama do livro se mistura com a trama de “Noite de Reis”, de Shakespeare (para quem não conhece, em linhas gerais: há uma personagem, Viola, que também se transveste de homem), que aqui é um personagem da trama de assassinos de Virginia Boecker, assim como outras grandes figuras histórias, como a própria Elizabeth I.

O livro começa em uma data depois dos acontecimentos da noite da apresentação da peça, com um Toby, agente da Rainha, sendo interrogado de uma forma bastante dura sobre tudo que saiu errado na apresentação. O ponto de vista do personagem imediatamente me fez apaixonar pela história, já como ele é extremamente sarcástico e nem mesmo sua condição de preso o faz mudar. A medida que ele fala quem está lhe interrogando, fui reconhecendo alguns nomes históricos, o que aqueceu meu coração e vai, definitivamente, aquecer de quem também adora história. Logo a narrativa volta no tempo, voltando para apresentar a outra personagem principal do livro: Katherine.

Meu pai me explicou assim: nossa rainha protestante, Elizabeth, temia que o papa quisesse reclamar sua autoridade religiosa sobre a Inglaterra, tal como era antes, quando o próprio pai da rainha a removera. A rainha temia que, para recuperar essa autoridade, o papa unisse a Itália católica com os inimigos católicos da Inglaterra, França e Espanha; que eles formassem uma aliança e, com a ajuda da confabulação de famílias católicas inglesas importantes para derrubá-la, colocassem um católico no trono e restaurassem o catolicismo na Inglaterra. Ela temia tanto isso que fez com que todos nós fizéssemos um juramento afirmando nossa lealdade a ela, à sua autoridade e sua religião. Qualquer família que se recuse a comparecer aos ritos protestantes é suspeita. Qualquer família que celebre missas católicas secretas é suspeita. Qualquer família que abrigue padres católicos é suspeita.
É mais que suspeita: é culpada de traição.
Mas meu pai não admite a culpa com tanta facilidade.

Como a própria sinopse já deixa claro, Katherine precisa se passar por Kit, um jovem ator que entra para o elenco de “Noite dos Reis”, tudo depois do grande trauma de ver seu pai ser morto em sua frente por causa da fé da família. Fugindo com Jory, que morava na propriedade do seu pai e queria ser padre, e indo ao encontro de amigos do seu pai que tinham grandes planos para a Inglaterra, Katherine jura vingança contra a mulher que destruiu sua família e sua vida, mas ela é bastante ciente de que algo assim será muito, muito difícil – e nem assim desiste.

O destino está do lado da garota, que consegue chegar até os amigos de seu pai, que, juntos, acreditam que há um plano fácil para chegarem ao seu desejo maior: Katherine poderia ajudar no plano contra a Rainha e ter a sua vingança, tudo bastando se juntar a peça de Shakespeare como o ator Kit, já como não poderia ser uma mulher em uma companhia de teatro. Claro que lá, Kit ganha o papel da personagem principal, Viola – a personagem que é uma mulher se passando por homem, exatamente como Kit/Katherine. Parecia simples, mas deixou de ser.

– Ela fala de uma trama sendo engendrada atualmente por oito nobres ingleses, nobres católicos, e um padre da Espanha recém – chegado à Inglaterra.
– E qual é essa trama?
Eu hesito.
– Não pago a você para ser frágil, Tobias. – A rainha acena com uma mão impaciente. – O que diz a carta?
Não há como suavizar isso, portanto digo apenas:
– Matar Vossa Majestade, colocar a arquiduquesa Isabella dos Países Baixos no trono em seu lugar e restaurar o catolicismo na Inglaterra, tudo com o apoio financeiro do rei da Espanha.

O que Kit não imagina é que a peça é justamente um ardil de Toby, um espião da Rainha, para descobrir conspiradores que desejam tirá-la do seu trono. O desejo de Toby é parar com aquela vida dupla que leva, mas, como ele mesmo pensa em certa altura do livro, ele não confia em ninguém, e por isso continua servindo a Rainha esperando conquistar a recompensa de entregar aqueles conspiradores e sair do seu “encargo”. Parece algo simples para ele, e seria, se ele não conhecesse justamente Katherine (agora Kit), e a química entre os dois explodisse desde o primeiro segundo.

Com Tobias no papel principal da peça, já como esse foi um requisito da Rainha, Kit logo se dá conta que está contracenando e convivendo com alguém que está se apaixonando, mesmo ainda disfarçada de homem. Lembre-se que estamos em 1601, na virada para 1602, ou seja, um romance gay não era algo aceito pela sociedade, por isso o romance entre Tobias e Kit parece proibido em todas as formas, mas quem pode ser contra o amor verdadeiro, não é mesmo?

E, é claro, há Kit.
Apesar da promessa que fiz a mim mesmo de não pensar nele, apesar do relatório à minha frente e de Alard às minhas costas, e das outras cem coisas que podiam me ocupar além disso, volto a pensar sobre ontem à noite, uma luta de espada encenada, falas esquecidas sussurradas na escuridão e um garoto.

O livro me ganhou por toda trama de intriga e tensão que há, já como os personagens estão mentindo o tempo inteiro um para o outro até certa altura do livro. Os dilemas internos dos personagens e a coragem de Katherine, que é uma garota criada e protegida para ser uma lady e, ainda assim, decide vingar seu pai, realmente ressoa em mim (gosto de personagens que se tornam destemidas, sempre). Enquanto Toby sofre com todas as consequências de suas escolhas, o livro realmente não deixa margem para o conforto do leitor, que continua temendo pelo desfecho dos personagens e da trama – que eu amei, a propósito. Mas sem spoilers ou dicas!

Alternando os pontos de vistas e assinalando as datas, a trama de “Guia para Assassinos sobre Amor e Traição” prende o leitor que ama história e um bom livro de época com muita, muita intriga, além de ter um dos casais mais inteligentes que li em algum tempo. A inteligência individual dos personagens principais rende cenas deliciosas de se ler, e, acredite, você vai querer mais desses personagens quando o livro termina – e acredite, é um livro único!

– O que você queria quando começou tudo isso? – digo. – O que pensava fazer quando tudo terminasse?
Kit franze o cenho, como se sua resposta fosse uma memória que ela não está disposta a resgatar.
– Liberdade – diz ela por fim. – Não servir ninguém além de mim mesma. Fazer, pensar e dizer o que me dá vontade e não responder a ninguém. – Ela dá de ombros. – Egoísta, não é? E tolo. Todos respondemos a alguém, não é?

Livro mais do que indicado para quem quer algo leve, com referências histórias e muita conspiração: este é o guia exato que você precisa.

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