17.01

História de Um Casamento (2019)

Direção: Noah Baumbach

Elenco: Adam Driver; Scarlett Johansson; Laura Dern

Gênero: Drama

Sinopse: Nicole (Scarlett Johansson) e seu marido Charlie (Adam Driver) estão passando por muitos problemas e decidem se divorciar. Os dois concordam em não contratar advogados para tratar do divórcio, mas Nicole muda de ideia após receber a indicação de Nora Fanshaw (Laura Dern), especialista no assunto. Surpreso com a decisão da agora ex-esposa, Charlie precisa encontrar um advogado para tratar da custódia do filho deles, o pequeno Henry (Azhy Robertson).
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Com tantas indicações a prêmios que fica difícil colocar no papel sem ficar cansativo, tendo como destaque a mais recente ao Oscar de ‘Melhor Filme’, História de Um Casamento não poderia ter uma narrativa mais comum. Comum, ordinária, corriqueira, usual, recorrente. Absolutamente nada é original. Temos um casal que após alguns anos se separam e entram numa disputa judicial pela guarda do filho. Nada que já não tenhamos visto diversas vezes, especialmente na vida real. Mas eis aí que reside a genialidade do longa.

 

O filme é uma linda história sobre o lado feio do amor. Traz a parte do ‘felizes para sempre’ que ninguém quer lembrar que existe, escancara o fato de que aqueles que mais amamos são os que deixam mágoas mais profundas, discute a forma banal como muitos encaram um divórcio, ignorando totalmente os sentimentos mais doídos do processo. Mostra como o ser humano é incentivado a “superar” antes mesmo de ter conseguido assimilar dores profundas e como enxergar o outro é tão complicado quanto simples. Aborda tantos subtemas que escrever sobre ele faz correr o risco da crítica se tornar uma tratado de sociologia ou uma poesia ruim em forma de prosa.

 

E o roteiro faz tudo isso aí com a maestria de uma narrativa calma, que segue um fluxo oposto aos personagens que o tempo inteiro se vêem numa situação nova sem saber direito como lidar com ela. Calmo, mas nunca parado. Apesar da maior ‘reviravolta’ do filme acontecer logo no início da projeção, a narrativa leva o espectador o tempo todo no fogo brando, com algumas explosões pontuais mas nada que afete o ritmo estabelecido desde o início.

 

Percebam que tinha tudo pra dar errado mas Noah Baumbach estende toda sua sensibilidade pra provar a grande mágica do Cinema: transformar atos cotidianos em histórias magistrais em sua simplicidade. Aqui ele coloca a essência do que é ser humano da forma mais pura: não somos uma coisa só. Um marido infiel pode ser o melhor pai do mundo. Uma mãe insegura pode ser uma profissional impecável. Uma advogada fria pode ser a melhor amiga num momento de necessidade. Duas pessoas que se amam podem fazer de tudo pra destruir um a outra. Um pai e uma mãe querendo o melhor pro seu filho pode, inevitavelmente, fazer absolutamente tudo errado.

 

Mas é claro que roteiro e direção não estão sozinhos aqui. A escalação desse filme foi feita com precisão cirúrgica. Adam Driver se mostra mais uma vez incapaz de errar. A construção é precisa e tocante. Do olhar mais sutil de reprovação pelos excessos cometidos por sua ex-mulher na criação do filho aos gritos mais eloquentes de alguém que se encontra em desespero total, ele carrega todas as nuances de Charlie com mas certeza invejável – e o roteiro em nenhum momento facilitou a vida do ator pois a carga emocional negativa é toda dele, que carrega o tempo todo um ar cansado de alguém que de uma hora pra outra parou de ter o controle de sua vida e está apenas tentando reagir da melhor maneira possível a tudo que lhe acontece.

 

E se Charlie reage, a ação vem de Nicole. A personagem de Scarlett Johansson é o motor da narrativa, mesmo que suas ações o tempo todo sejam pautadas numa tentativa de assumir o controle da própria vida, de achar sua própria voz no meio de tantas vozes que sempre tentam lhe dizer o que é melhor pra ela. Com uma postura que beira a indecisão, ela é ao mesmo tempo determinada e teimosa. E se o monólogo no escritório da advogada reflete o brilhantismo da atriz numa atuação exímia e profunda. É impossível ser mulher e não se identificar com as angústias de Nicole.

 

Não sei se sobraram elogios o suficiente para falar do elenco coadjuvante. Alan Alda e Ray Liotta montam personagens diametralmente opostos mas com essências curiosamente parecidas. Julie Hagerty e Merritt Wever são a família que ninguém quer ter, todo mundo tem e não trocaria por nada. E Laura Dern, bem, é Laura Dern. Sua Nora é energética e inteligente mas com um olhar muito mais sensível sobre o outro do que se poderia esperar (E seu próprio monólogo sobre como a sociedade enxerga a mulher é um espetáculo a parte).

Enfim, o filme é um retrato de uma relação que não acabou e não existe mais. É feio, errado, triste mas impossível de evitar. Porque é a vida. Mas tá tudo bem. Eventualmente, tudo se resolve. Inexoravelmente.

 

 

 

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