21.10

“À beira da loucura”
B. A. Paris
Record – 2018 – 350 páginas

Em quem mais confiar quando não se pode confiar em si mesmo?

Cass está sendo consumida pela culpa desde a noite em que viu uma mulher dentro de um carro parado na estrada perto de sua casa, durante uma terrível tempestade, e tomou a decisão de não sair para ajudá-la. No dia seguinte, aquela mesma mulher foi encontrada morta naquele exato lugar. Cass tenta se convencer de que não havia nada que pudesse ter feito. E, talvez, se tivesse ido ajudá-la, poderia ela mesma estar morta agora. Mas nada disso é o suficiente para aplacar a angústia que sente, principalmente considerando o fato de que o assassinato aconteceu ali do lado, bem perto de sua casa isolada — e que o assassino ainda está à solta.

Então, depois da tragédia, Cass começa a ter lapsos de memória: não consegue se lembrar de ter encomendado um alarme para casa, não sabe onde deixou o carro, muito menos por que teria comprado um carrinho de bebê quando nem filhos tem. A única coisa que ela não consegue esquecer é Jane, a mulher que poderia ter salvado, e a culpa terrível que a corrói por dentro.

Tampouco consegue esquecer as ligações silenciosas que vem recebendo, nem a sensação de que está sendo observada. Seria possível que o assassino a tivesse visto, parada no acostamento, enquanto decidia se ajudaria a mulher ou não? Será que ele está tentando assustá-la para que ela não conte nada à polícia? Mas como alguém poderia acreditar em seus temores quando nem mesmo ela é capaz de saber o que é verdade e o que é mentira? E como Cass pode acreditar em si mesma quando tudo ao seu redor parece provar que está ficando louca?

Um dos maiores prazeres da vida é quando estamos com a expectativa bem alta com um livro, e quando o pegamos, ele supera tudo aquilo. Contudo, o que acontece com “À Beira da Loucura” é justamente o oposto: com uma sinopse que vende o livro que casa completamente com o nome do livro, passando a ideia de ser um thriller psicológico muito bem amarrado, o livro é uma decepção de tão previsível.

De repente, fico assustada. Eu estava lá, naquele mesmo local. Será que o assassino também estava? À espreita, escondido nas moitas, esperando uma oportunidade para matar alguém? A ideia de que poderia ter sido eu — de que eu poderia ter sido a pessoa assassinada — me deixa tonta. Tateio em busca do suporte de toalha, me forçando a respirar fundo. Eu devia estar louca quando decidi pegar aquele caminho ontem à noite.

Não pensem que eu sinto prazer de escrever algo assim: gosto de ser surpreendida, gosto de amar personagens que são moralmente duvidosos e gosto de pegar um livro e sentir remorso ao ter de parar de ler, então quando eu pego um livro e vejo que me foi prometida tantas coisas que nunca chegaram, eu fico triste. De verdade. Não é bom ter de falar algo assim de um livro.

Mas, vamos os fatos: o livro começa muito bem com Cass indo para casa nessa grande tempestade. Ela vê um carro parado e uma moça lá dentro do carro, mas resolve continuar sua vida, com medo de algo acontecer com ela e principalmente porque prometeu pro marido que não pegaria aquele determinado caminho pra casa. Fiquei bem confusa de cara porque a Cass parecia ser alguém bem independente – era professora, estável financeiramente, já com 33 anos, então por que ela deixaria seu marido controlar até isso? Enfim, a gente sabe que quando estamos em um relacionamento, temos de abrir de algumas coisas, mas não achei saudável o marido querer até isso. Continuando, no dia seguinte, a morte da mulher no carro à beira da estrada acerta Cass com força porque ela se sente culpada, mas quem não se sentiria? A partir dai, ela começa realmente a ficar à beira da loucura, exatamente como já esperamos. Cass tenta esconder o fato de estar confusa com a linha do tempo e coisas que acontecem ao seu redor porque tem medo de ter uma determinada doença mental, e por mais que confie em sua melhor amiga Rachel, elas não podem conviver todos os dias porque Rachel e Mattthew não se dão bem. Matthew é o marido perfeito, simples assim.

Rachel é cinco anos mais velha do que eu e é a irmã que nunca tive. Nossas mães eram amigas, e, como a dela trabalhava muito para sustentar as duas, desde que foi abandonada pelo marido — logo depois do nascimento da filha —, Rachel passou grande parte da infância em nossa casa. Não era à toa que meus pais se referiam a ela, afetuosamente, como sua segunda filha.

Preciso assinalar que os personagens sofrem de uma falta de total carisma. Acho que a melhor personagem é a Cass, mas a falta de inteligência dela (ou talvez fé cega) a transforma em uma vitima da situação até certo ponto do livro. Então, tentando criar uma reviravolta, a autora faz justamente a Cass se tornar muito mais inteligente do que pareceu até aquele ponto do livro, o que não me fez torcer por ela e muito menos comprar toda a trama que aconteceu a partir daquele ponto do livro.

Confesso que eu adivinhei toda trama do livro na página 150 – e não estou brincando. Talvez as “pistas” que a autora quis deixar aqui e ali foram mais do que obvias ou talvez todos leitores de thrillers (assim como eu) já leram esse enredo tantas vezes que faz a gente ficar meio apático pro que vai continuar acontecendo, e por isso que veio a “reviravolta” que falei no paragrafo acima, que não empolga e nem faz a gente torcer tanto assim.

Alguma coisa em sua voz me faz parar de falar. Quando noto quão cansado Matthew parece, me sinto péssima por nunca ter me colocado no lugar dele, por nunca ter parado para pensar em como deve ser me ver desmoronar desse jeito.

Os sentimentos finais de Cass me fizeram ter vontade de entrar no livro e sacudir a personagem porque você precisa ter empatia e tentar ser uma boa pessoa, mas você não pode ser cega. Acho que a autora pecou muito nisso, nessa instabilidade da personalidade da personagem principal, já como Cass começa crédula, depois se transforma em uma deusa da vingança e no final volta a sentir muito pelo que aconteceu. Ela não conseguiu se decidir e muito menos eu sobre o quanto eu fiquei frustrada com o desenrolar do livro.

Mas, um aviso: o livro não funcionou pra mim e talvez funcione pra você. Talvez o que eu tenha achado fraqueza na personagem soe como uma pessoa com compaixão para outras, mas eu não consegui realmente me apegar ao livro. Se dou duas estrelas, ainda é pelo começo que me fez acreditar que a história poderia deslanchar. Poderia ter sido um bom livro de suspense, mas que me deixou à beira do desespero (desculpa o trocadilho, não resisti) pra terminar e confirmar que eu estava certa sobre tudo. E estava. Pena.

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